Cinco semanas antes da contaminação.

Parei o meu jipe nas cancelas do Fort Benning enquanto recebia permissão para entrar, depois que um soldado conferiu o meu carro e me saudou com uma continência. Quando estacionei o meu jipe na minha vaga não fiz hora para sair do carro, pois estava com o tempo apertado.

— Bom dia, chefe! - Um dos soldados me saudou com a continência assim que eu entrei no prédio principal, ele carregava alguns papeis, os quais me entregou depois de mostrar respeito - O General Lopes espera vê-la em sua sala, disse que o assunto é urgente.

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Quase retruquei dizendo que para ele, as coisas sempre eram urgentes. Mas mesmo assim afirmei com a cabeça ao soldado e caminhei até o elevador, o chamando.

— Bom dia, Tenente. - Uma voz grave soou atrás de mim, eu não precisava me virar para saber quem era, já que poucas pessoas me tratavam com tanta falta de respeito dentro do quartel - Está radiante hoje.

— Bom dia, Major White. - Respondi cordialmente, virando meu rosto para ele, sorrindo de um jeito que eu achava não ser forçado - Agradeço o elogio, mas agora o senhor deve se dirigir a mim como Primeira-Tenente Lopes.

— Oh sim, - ele disse falsamente, sorrindo também - a sua promoção foi ontem... Parabéns.

O elevador não demorou muito para chegar e para a minha infelicidade, o Major me acompanhou para dentro do elevador. Permanecemos em silencio durante os poucos minutos que estive no elevador e assim que cheguei no andar que queria, pedi licença e saí.

— Mandou me chamar, senhor? – Perguntei ao abrir a porta de vidro da sala do General

— Sim, entre e feche a porta.

Obedeci e depois caminhei até a sua mesa, me sentando na poltrona em sua frente. Meu pai não era lá um homem muito carismático, ele sempre mantinha uma expressão séria.

— Aconteceu algo? - Perguntei, olhando para o rosto dele

— Seu irmão Andrew não pode vir hoje, - meu pai me contou, juntando as mãos por cima da mesa - parece que Lisa passou a madrugada no hospital.

— O bebe está bem? - Perguntei me mexendo desconfortavelmente na poltrona - Ela está bem?

— Não se preocupe com isso. - Ele me disse, sério - Preciso que ocupe o lugar dele hoje, novos soldados estarão chegando daqui vinte minutos e você precisa estar lá.

— E os meus soldados? - Perguntei resmungando

— Seja criativa.

Quando ele me contou que eu estava dispensada, eu me levantei e bati continência, querendo ou não, meu pai continuava sendo meu General.

Alcancei meu Segundo-Tenente já do lado de fora do Quartel, o qual estava jogando papo fora com uma das secretárias do governo. O olhar dela passou do rosto dele para o meu e então ela me deu um sorrisinho forçado e educado. Harris sempre estava acompanhado de alguma mulher quando eu lhe via, o que fazia parte, pois como homem, ele chama muita atenção pelo seu porte físico e aparência, descendente de alemães e americanos.

Uma bela mistura.

— Bom dia, senhora. – A voz da secretária saiu tão forçada quanto o seu sorriso, eu já estava acostumada, já que as pessoas costumavam me tratar com tanta falsidade que deixava fácil o trabalho de saber quem era os amigos em meio à tantas cobras – Estava comentando com o Segundo-Tenente Harris sobre os nossos novos recrutas.

— Que ótimo que estão justamente nesse assunto, - comentei, olhando para o meu amigo e colega de profissão – pois temos que botar ordem neles. Me acompanha, Segundo-Tenente Harris?

Jason Harris me olhou e afirmou com a cabeça, se despedindo da secretária. Ele arrumou sua postura e caminhou ao meu lado pelo pátio, colocando as mãos para trás.

— O que você manda, chefe? – Me perguntou, inclinando levemente as sobrancelhas

— Busque nosso batalhão e os leve até os novos bundas moles do pedaço em dez minutos, que eu estarei esperando lá. – Dei a ordem, um pouco mal-humorada

Com um resmungo sobre o quão divertido isso seria ele mudou seu caminho, enquanto eu continuei andando em linha reta, atravessando o enorme pátio em direção ao lugar onde o ônibus com os novos recrutas pararia, chequei a hora no relógio em meu pulso e respirei fundo, faltava uns nove minutos.

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— Senhora, - uma voz desconhecida me chamou, andando com pressa na minha direção e quando parou perto o suficiente de mim, mostrou respeito com uma continência – aqui está a lista com os nomes dos novos soldados.

— Ótimo, - comentei por comentar, enquanto pegava a lista da sua mão e colocava na frente dos papeis que eu já estava segurando – está dispensado.

Ele bateu continência mais uma vez e refez o seu caminho para sei lá onde, abaixei meu olhar para a lista de nomes e patentes. Tinha desde soldados novatos, sem insígnia à soldados de primeira classe. Todos para a escola de Blindados, a área do meu irmão. Bem, mas meu pai mandou eu ser criativa e sendo que sou chefe de Infantaria, vou mudar um pouco as coisas por um dia. Vai ser moleza.

Uma cantoria de várias vozes misturadas me avisou que meus soldados estavam chegando cada vez mais perto, sendo liderados pelo Harris.

— Vamos dar uma recepção calorosa para as novas moças, meninas. – Eu lhes contei, depois de escutar Harris dar a ordem para descansarem

Não que eu estivesse esperando alguma resposta, mas fiquei contente por ver o ônibus entrar no meu campo de visão antes de algum deles se aventurar em falar sem a permissão. Harris se posicionou ao meu lado e colocou as mãos para trás, imitando os outros soldados atrás de nós.

Assim que o ônibus parou e o primeiro soldado desceu, olhando ao redor eu dei uma pequena olhada para meu companheiro, a qual já bastou para ele entender o que eu queria.

— ANDEM LOGO COM ISSO! – Harris berrou, assustando alguns – SE ALINHEM DE UMA VEZ!

Observei calmamente os soldados do meu irmão imitarem os meus e olhei novamente para a lista, antes de encara-los.

— Moças, houve um pequeno contratempo. – Contei séria, do mesmo jeito que eu sempre tratava meus soldados – O Chefe Lopes, dos Blindados, está muito ocupado para lidar com as senhoras hoje e vocês deram sorte de tirar um dia inteiro comigo.

— Permissão para dar boas-vindas francamente, senhora? – A voz rouca e familiar de um dos meus soldados soou atrás de mim, como uma pergunta

— Permissão concedida, - aceitei, sem olhar para trás - soldado Turner.

— Bem-vindos ao inferno.

O refeitório sempre estava lotado, mas era um saco ter que tirar a força soldados novos que se sentam na minha cadeira. Anderson e Harris praticamente se jogaram nas cadeiras à minha frente com suas bandejas e começaram a comer.

Cabo Sam Anderson fazia o do tipo calado e assim como eu, carregava um pouco de sangue latino em suas veias. Era difícil vê-lo trocar mais do que algumas palavras com qualquer um, mas o engraçado é que ele se enturmou bastante com a gente.

— Aquilo foi um saco. – Harris reclamou, apontando seu garfo para a mesa em que tinha alguns novatos – Ouvi reclamações referentes à que eles não se inscreveram na Infantaria, mas sim nos Blindados.

— Dane-se eles. – Murmurei dando de ombros, enquanto enfiava uma garfada na boca com a gororoba do quartel

— Percebi que seu humor está uma merda, - Anderson comentou, soltando um risinho – devemos nos preocupar?

— Não. – Neguei com um riso – É que o Adrian está um saco ultimamente.

— Por que vocês não terminam logo? – Harris perguntou impaciente – Você está mais chata que o normal.

— É, - Anderson concordou – está todo mundo comentando.

— Oh, nossa. – O olhei fingindo estar impressionada – Deve ser por isso que eu amo vocês dois. – Suspirei pesado, tomando um gole de água gelada – A coisa não é tão simples assim, ele sabe de coisas...

— Te ameaçou? – Harris perguntou baixo, se inclinando para mim

Adrian Jones não era exatamente a melhor pessoa do universo, podia ser bonito, mas não valia o chão que pisava. O Vice-Diretor de uma das grandes empresas do estado da Georgia estava dividindo a mesma cama que a minha fazia um ano. A coisa começou como uma aposta, algo para uma noite. Mas aí o cara se apegou e eu fui levando um dia de cada vez com ele no meu pé. Só que quando eu comecei a ver outros caras, ele pirou e começou a escavar vários podres meus, coisas que se ele contasse para o meu pai, eu poderia ser dispensada do exército e perder o meu posto.

Não que eu fosse uma vadia terrorista e assassina, mas o meu jeito de ensinar os meus soldados a sobreviver em um campo de batalha poderia não ser muito bem visto aos olhos dos meus superiores.

Um cretino manipulador, é isso que Adrian Jones é.

— Devemos... – Anderson também se inclinou e falou baixo, deixando claro e sugestivo de que a pausa não era para pensar em coisa melhor para se falar, não melhor do que “Devemos nos livrar dele? ”.

— Não. – Neguei mordendo os lábios, ergui o pulso e olhei o meu relógio, o nosso horário de almoço estava quase na metade – Eu posso lidar com isso.

— Está dizendo isso há meses. – Harris resmungou

— Jason, nós não somos esse tipo de pessoas. – Falei em um tom baixo e zangado

Ele resmungou algo como “É só dar a ordem” e voltou a comer, pensativo. Tenho certeza de que em sua cabeça ele estaria montando todo um plano para um assassinato parecer latrocínio ou suicídio. Harris podia não ser o homem mais bonzinho que eu tinha ao meu lado, mas era o meu melhor.

Meu celular vibrou em meu bolso e eu me levantei um pouco, para pega-lo. O nome do meu irmão brilhava na tela, juntamente com a sua foto de contato. O cabelo ruivo e perfeitamente arrumado estava enfiado em sua boina, que normalmente usamos em cerimonias, a qual combinava perfeitamente com suas medalhas e sua insígnia.

— Oi, Andy. – Atendi no mesmo instante, segurando o celular contra a orelha com uma mão e comendo com a outra – Está tudo bem com a Lisa?

— É, - sua respiração veio como resposta, antes mesmo de eu ouvir sua voz soando do outro lado da linha – ela passou um pouco mal e eu achei melhor leva-la ao hospital, por conta do bebe. Mas os dois estão bem.

— Eu estava preocupada com vocês.

— Desculpe por deixar o meu trabalho para você, mas tenho certeza que está se divertindo com eles. - Andrew riu do outro lado da linha – Alguém já desistiu?

— Ainda não os treinei de verdade. – Contei a ele – Tive que fazer meus soldados mostrarem a caminha dos seus bundas moles e marquei o treinamento para depois do almoço. Você sabe né, eles vão estar lentos e de barriga cheia, vai ser a melhor hora.

— Deixe apenas os melhores para mim.

— Não prometo milagres, irmão. Mas vou fazer o possível com seus homens.

Anderson e Harris riram como se tivessem escutado o pedido do meu irmão e trocaram piadinhas entre eles durante o resto da minha ligação.

Depois de um longo dia e de quase duas horas para chegar até a minha casa em Atlanta, eu me joguei na minha cama, sem energia para ao menos tirar o uniforme e as botas. Eu estava mentalmente e fisicamente cansada de mais para alguma coisa. Respirei fundo depois de fechar os meus olhos e relaxei o meu corpo, sentindo a maciez do meu colchão e lençóis, isso era tudo que eu precisava.

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— Ah, aí está você. – Uma voz ansiosa e rouca chegou aos meus ouvidos, me fazendo gemer de desgosto – Gabriela? – Resmunguei algo contra o lençol e isso o deixou satisfeito – Certo, eu tenho uma novidade.

— Só conte.

— O lunático do meu chefe parece que finalmente está começando a dar indícios de que vai se aposentar. – Ele contou e depois senti a cama afundar, denunciando que ele havia se sentado perto de mim – Temos uma viagem de negócios agendada em alguns dias e ele me colocou em todos os compromissos que ele vai presenciar durante a viagem à Los Angeles.

— Que ótimo, Adrian.

— Qual é, só isso? – Sua voz soou irritada, mas ele pareceu se conter – Vamos amor, eu vou ser promovido. Uma festinha de comemoração cairia muito bem agora...

— O dinheiro para o clube de strip está em cima da mesa.

— Surpreendente, - ele falou irritado e eu o ouvi respirar fundo – você não vai acabar com o meu humor hoje, então nem tente.

— Ótimo, - comentei me rastejando para fora da cama e me levantei com um pouco de dificuldade – então finalmente eu vou poder tomar um banho e dormir, porque eu tenho que acordar as três e meia da manhã para estar pelo menos às seis no Benning.

Nem devo comentar que passei duas semanas esperando ansiosamente o dia da viagem de Adrian e quando chegou, em um sábado, nada melhor do que ir comemorar em um bar com meus amigos de farda. O bar era conhecido por atender os militares e policiais do nosso estado, um dos melhores.

— OLHA ELA AI! – Anderson gritou ao me ver, visivelmente e levemente alegre de mais – CHEFE SÓ FALTAVA VOCÊ!

— Oi Sam! – Segurei o riso, quando ele me entregou uma garrafa de cerveja e saiu para pegar mais algumas – Até que está cheio hoje.

— Você acha? – Harris perguntou alto, por conta da conversa alta das demais pessoas – Hoje deve estar quebrando um recorde. Ou talvez eles souberam que a Primeira-Tenente Lopes ia comparecer hoje.

— E quantas dessas você já bebeu? – Perguntei, apontando para a sua garrafa de cerveja, que pelo que eu posso ver daqui, estava na metade ou menos

— Só essa, - ele garantiu rindo – alguém tem que dirigir. Mas ainda bem que não tem ninguém aqui que é oficial ou algo assim. – Brincou, apontando ao redor – Só gente boa.

— Bem, eu posso ver alguns comissionados e alguns alistados daqui, mas nenhum policial. – Entrei em sua brincadeira – Então beba à vontade, temos muito a comemorar.

— Nem precisa me dizer.

Ele sorriu para mim e deu um grande gole em sua cerveja, vi que seu olhar passou do meu rosto para algo atrás de mim, eu pigarrei e ele voltou a olhar para mim, com uma expressão divertida.

— Você vai adorar isso. – Apenas comentou, apontando levemente a garrafa de cerveja na minha direção

— Chefe Lopes. – Uma voz desconhecida soou atrás de mim

Dei uma última olhada para Harris e me virei, encontrando um homem branco, com corte e postura militar. Cabelos quase brancos de tão loiros e olhos castanhos.

Um desconhecido para mim, mas não perecia ser para o Jason.

— É, - murmurei juntando as sobrancelhas, incomodada – sou eu.

— Eu sou o Scott. - Ele se apresentou, estendendo a mão para eu aperta-la em um comprimento formal – Iniciei o meu curso nos Blindados à mais ou menos duas semanas.

Fingindo estar lembrando dele, eu apertei a sua mão com um gesto leve e limpo, sem ladainhas. Inclinei minha cabeça para o lado e dei uma olhada novamente em Harris, só para ver um sorriso divertido em seus lábios.

Que merda estava acontecendo?

— Não é uma aposta, é? – Perguntei, voltando o meu olhar para o tal de Scott, segurando a risada

— Meus colegas acham que você é lésbica, - ele contou rindo, encolhendo os ombros – eu acho que não, por isso vim provar para eles.

— Desiste, - eu o aconselhei – posso estar com uma cerveja na mão, mas eu ainda não estou bêbada o suficiente para esquecer o meu lugar no ranking do exército e infelizmente continuo sendo sua superior. Isso aqui, - apontei para nós dois – nunca vai acontecer.

— Não custava tentar. – Ele gargalhou

— Tchau, Scott. – Sorri calorosamente para ele – Aproveite a noite.

Ele sorriu do mesmo jeito para mim e se virou, caminhando para onde os seus amigos estavam, os quais, também eram dos Blindados. Me virei novamente para Harris e balancei a cabeça negativamente, bebendo mais um gole da minha cerveja.

— Eu disse que ia gostar.

— Podia ter me avisado, - comentei – eu teria bolado uma bela bronca.

— Você podia ter dito a ele a cor da sua lingerie, - Jason gargalhou com a sua própria ideia – eu ficaria satisfeito com a informação. Mas não que eu não vá descobrir isso mais tarde.

— Eu poderia cortar sua língua uma hora dessas.

— Nós dois sabemos que você não pensaria nisso, você gosta do trabalho que ela faz.

Eu não deveria estar surpresa, mas Adrian prorrogou sua chegada por mais uns dias. O que era bom, porque minha sanidade mental estava uma maravilha ultimamente, sexo quase todo dia com Jason, o trabalho rendendo com os soldados... tempo de começar a ler um livro, quem diria que algo assim iria acontecer.

Estava tudo muito bom para falar a verdade.

— LEVANTEM MAIS O BOTE MENINAS, NÃO ESTOU VENDO VOCÊS TRABALHAREM DIREITO! – Berrei, não estando realmente satisfeita com o rendimento dos soldados hoje – VAI, VAI, VAI!

Cruzei os braços enquanto observava os times que eu havia montado correrem erguendo botes salva-vidas. Antes de leva-los ao mar, eu tinha que saber se eles sabiam pelo menos trabalhar em equipe. Nós, a Infantaria combatemos em todos os tipos de terreno sob quaisquer condições meteorológicas. Utilizamos vários meios de transporte para ir à frente do combate, em equipe.

— Acha que estão prontos para a próxima tarefa? – Harris me perguntou, olhando com um olhar crítico para os soldados

— É melhor estarem. – Respondi firme – Não vou aceitar atrasos.

Senti um desconforto na região da minha barriga e institivamente coloquei a mão por cima, enquanto observava os soldados.

— Ninguém mais parece que vai desistir, pelo menos eu espero. – Harris comentou baixo

— DAVIS, NÃO ESTOU VENDO O SEU BRAÇO ESTICADO... – parei a minha bronca e olhei para a minha mão, depois de sentir algo liquido entre meus dedos – Que porra...

Minha mão direita estava coberta por sangue, eu olhei assustada para o Harris e mostrei a minha mão para ele, a qual a esta altura estava tremendo. Abaixei o olhar para o meu corpo e vi da onde o sangue estava vindo, do meu flanco direito. Levantei a minha camiseta perto da altura dos seios e fiquei nauseada com a vista.

Eu levei um tiro.

Levei a porra de um tiro em um dos lugares mais seguros para soldados estarem, no Fort Benning.

— Chefe!

— VOCÊS ESTÃO DESPENSADOS! – Harris gritou com força, para os soldados, os quais estavam murmurando entre eles – ADAMS, ACHE O IDIOTA QUE ESTÁ MECHENDO COM UMA ARMA SILENCIADA AGORA!

Minha visão ficou turva e eu me apoiei no ombro do Jason, ele me pegou no colo e começou a correr, provavelmente para a enfermaria. Agora que eu sabia o que estava acontecendo, o desconforto havia ido embora para dar lugar a dor excruciante e contínua. Não era o meu primeiro tiro, provavelmente não era o meu último, mas era o primeiro no Fort Benning.

Eu fechei os meus olhos pelo que me pareceu apenas alguns segundos, mas quando eu os abri novamente, estava deitada em uma cama. O lugar era conhecido, havia uma bandeira dos Estados Unidos pendurada na parede branca da grande enfermaria. Quando me lembrei do motivo de estar lá, eu toquei a minha barriga, para apenas acha-la enfaixada, ela ainda incomodava, mas com certeza não era igual antes. Minha camiseta estava rasgada, ou melhor, cortada. Que maravilha, já não bastava o buraco da bala...

— Já faz dois dias, Chefe. – Um dos médicos do exército apareceu no meu campo de visão, segurando um copo de plástico e alguns comprimidos – A cirurgia foi um sucesso, retiramos todos os estilhaços.

— Quem foi? – Perguntei ressentida, enquanto pegava os comprimidos da sua mão e colocava na boca, antes de sentir o gosto na minha língua, eu bebi a água que estava no copo, para ajudar a descer

— Um dos novos recrutas, aparentemente. – Ele me contou, enquanto examinava meus curativos – A história que foi contada era de que ele estava montando uma arma e ela disparou, não se preocupe, ele foi punido.

Resmunguei para ele e escutei suas recomendações para como eu deveria me tratar quando estivesse sozinha, ele me entregou uma nova camiseta e me ajudou a vestir, já que era uma droga levantar o braço e sentir mais dor. Enquanto calçava minhas botas de qualquer jeito e esperava o médico amarra-las, olhei atentamente ao redor, vendo que eu não era a única paciente no lugar. Das diversas camas da enfermaria, umas dez estava ocupadas, eu não saberia dizer se eram soldados ou tinham patentes maiores, apenas que estavam na pior.

— Segundo-Tenente Harris, que bom que já chegou. – O médico chamou minha atenção, ao fazer uma continência para meu amigo, o qual estava atravessando a enfermaria até a minha cama – Eu estava justamente contando a Chefe Lopes para passar na sala do General.

— Não vai precisar, - Harris contou, e me mostrou o papel que tinha em mãos, o qual possuía a assinatura do meu pai – o General me entregou a sua licença médica, pelo que eu entendi vai poder tirar o resto do mês de folga.

— Não sei se agradeço quem atirou em mim ou dou uma surra.

Ele me ajudou a levantar da cama e fez uma careta quando eu grunhi, por causa do movimento rápido. Isso ia ser uma merda, sempre é. Harris serviu como um apoio durante todo o trajeto até o meu carro, já que estava mais do que na cara que meu pai não queria me ver nesse estado e havia me mandado para a casa por outra pessoa de propósito.

— O que está fazendo? – Perguntei confusa, quando fui barrada ao tentar abrir a porta do motorista do meu jipe

— Acha que ele apenas me deu a sua licença? – Harris me perguntou, rindo descrente – Eu tive que jurar pela minha vida que te deixaria na sua casa em segurança, e por isso, a senhorita vai me fazer o favor de entrar no banco do passageiro para que eu possa fazer o meu trabalho.

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— Uma babá sexy, que maravilha.

Ele resmungou algo como “Não reclama, não. Podia ser um dos seus irmãos e sei que seria um saco” e me ajudou a sentar no banco do passageiro, deu a volta no carro e se sentou ao meu lado, no do motorista. Não fiquei surpresa ao ver que ele tinha roubado a minha chave do meu armário.

— Dois dias... – murmurei rancorosa – eles me apagaram por dois dias.

— A bala se estilhaçou, - ele me contou, enquanto ligava o meu carro e se preparava para sair da vaga – você ia ter uma hemorragia se eles não trabalhassem direito, a cirurgia durou horas, O General queria ter certeza de que tinham tirado todos os pedaços.

Eu fiquei quieta por mais ou menos todo o trajeto até a minha casa, era pelo menos bom levar um pouco de vento no rosto. Quando Harris parou o meu carro na garagem do prédio eu diria que já estávamos na metade do dia e eu estava com fome, muita fome. Ele me ajudou novamente a caminhar, recebi olhares curiosos e alguns não pareciam estar impressionados com o que estavam vendo. Não era a primeira vez que eu chegava com ajuda, nem machucada.

— Você vai cozinhar para mim ou vamos ter que pedir comida? – Perguntei quando chegamos ao elevador e ele apertou o botão, o chamando

— Que pergunta! – Ele riu, balançando a cabeça negativamente – Claro que vamos pedir comida, você sabe que eu sou capaz de explodir a sua cozinha.

Eu sorri com a sua resposta e comentei que eu queria comida japonesa, ele negou e nós ficamos todo o tempo até chegar ao meu apartamento discutindo sobre o lugar que pediríamos a comida. No fim, nós dois concordamos com comida italiana e comemos assistindo um filme aleatório que estava passando na televisão.

— Não Jason, nós não vamos colocar fogo nas roupas do Adrian. – Neguei tentando não rir, pois doía a cada movimento – Pensei que você já tinha superado isso.

— Está brincando? – Harris me perguntou, parecia realmente tentado com a ideia – Se o cara não fosse um saco, se ele aceitasse as coisas numa boa, poderia ser as minhas roupas naquelas gavetas agora.

— Quem disse que eu iria querer as suas roupas nas minhas gavetas? – Perguntei sorrindo para ele e recebi um olhar indignando – Estou brincando, seu idiota.

— Pensa só, - ele disse, passando o seu braço por cima do meu ombro e do sofá – seria ótimo fazer isso toda tarde, assistir um filme, transar...

— Apenas nos seus sonhos que vamos transar hoje, J. – balancei a cabeça negativamente, mesmo sabendo que ele estava brincado – Eu não consigo nem rir, imagina aguentar todo aquele sobe e desce, pressionando a minha barriga.

Ele riu e aproximou seu rosto do meu, me beijando em resposta. Se ele achava que eu nunca pensei nisso, em tê-lo no lugar do Adrian... Nossa, minha vida seria muito mais fácil. Não faríamos nada as escondidas, teríamos sossego a maior parte do tempo e faríamos mais coisas juntos.

Seria maravilhoso.