Mudança de Planos

Capítulo III • Como odeio Sophie Dallas


Que vontade de socá-la.

Eu já sabia do gênio sincero e agressivo da esquisitíssima Sophie Dallas, mas negar um convite meu era muito mais que um absurdo. Era uma grande, enorme, falta de senso do ridículo.

Se não fosse a maldita aposta, eu não teria tido o trabalho de mudar de turma para as aulas de Química, e muito menos estaria me importando tanto com o maldito “toco”. Porém eu deveria continuar insistindo nela – mesmo sem sentir um pingo de atração –, e rastejar por uma mulher nunca fez o meu estilo.

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Depois que Sophie me deu as costas, eu me segurei para não chutar a máquina de refrigerantes mais próxima e segui para as aulas seguintes. Quando o último sinal tocou, recebi uma mensagem avisando sobre uma festinha organizada às pressas na casa de Samantha, minha ex-diversão de final de semana. Infelizmente pra ela, eu costumava me cansar muito rápido das coisas e logo decidira que queria dar um tempo na nossa relação.

Rooooob! Você veio! Adorei essa camisa, é nova? – foi o que Sam disse ao abrir a porta da sua casa, com seus cabelos ruivos ensopados e usando um biquíni vermelho, que realçava as suas curvas e seios fartos.

Nessas horas, admito, eu costumava repensar seriamente sobre a minha decisão.

— Claro que vim, Sam. E é sim. O pessoal já está aí? – perguntei, enquanto passava pela porta. Ela assentiu, informando logo em seguida sobre ter cerveja na geladeira externa e, que se eu precisasse de mais alguma coisa, ela poderia me ajudar. A malícia nos olhares e no tom de voz da ruiva me fizeram dar um sorriso de satisfação e pensar em como ela gostaria de me ajudar.

Talvez eu aceitasse.

Chegando à parte de trás da casa, vi que realmente todos marcaram presença. Dylan bolava um baseado, enquanto Josh bebia tequila nos peitos de Vanessa, a melhor e mais rodada amiga de Sam.

Os caras da equipe de natação e do time de futebol se encontravam espalhados pela área da churrasqueira, piscina e quadra – bebendo, fumando e falando alto. Todas as garotas da equipe de torcida estavam presentes também, o que sempre tornava as festas de Samantha inesquecíveis.

— Esse é bom? – perguntei a Dylan, que confirmou – Tô precisando relaxar.

— O que rolou?

— Sophie.

— Seja mais específico, não sou vidente – ele falou, parando o que estava fazendo e me encarando.

Contei que ela se recusara a sair comigo e até mesmo Josh deixou sua bebida bastante interessante de lado para rir da minha cara. Eu queria matar aqueles dois. E Sophie Dallas. Especialmente ela.

— Ah cara, não desanima – Dylan disse, após cansar de tirar onda comigo – a esquisita vai cair no seu papo, beleza? Vamos aproveitar hoje.

Concordei e, logo que o baseado ficou pronto, dei algumas bolas e parti para a bebida e cigarros. A música estava alta, o pessoal estava cada vez mais louco e, quando dei por mim, já era noite e eu estava num quarto.

No quarto de Sam.

Ela vestia apenas uma calcinha, rebolava em cima de mim, e vez ou outra nós nos beijávamos. Seus peitos eram hipnotizantes e eu podia sentir algo acontecer dentro do meu jeans. Não estava mais tão desnorteado, porém ainda não sabia como chegara ali e nem o quanto havia bebido. E, muito provavelmente, eu sequer descobriria.

— Você não quer esquentar mais as coisas, Rob? – ela perguntou ao pé do meu ouvido, quase ronronando. Sua voz macia e seu hálito quente de cerveja eram capazes de levar qualquer homem a loucura e eu pretendia aceitar, quando meu celular começou a dar um show.

— Que merda – era minha mãe, totalmente insana do outro lado da linha – Eu já estou indo, só parei aqui na casa da Samantha – falei ao atender.

— Eu já cansei de falar sobre quando você some, Robert! Você tem um celular: use-o!— ela gritou – Quero você em casa em dois tempos!

E desligou. Simplesmente.

A ruiva fez um bico, pois sabia que eu tinha de ir. Demos mais alguns amassos e logo desci para ir embora. Era tarde e eu tinha aula no dia seguinte – e muito provavelmente dormiria na maior parte dela.

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Liguei o carro e dei a partida. A noite estava fria e bem tranquila. Tocava algum hip hop na rádio quando, virando numa das ruas para sair do bairro de Sam, vi um carro parado e uma garota xingando nomes que jamais serei capaz de interpretar. Resolvi reduzir para ver o que estava acontecendo e, se eu pudesse, daria algum auxílio a ela. Abaixei o vidro e, quando encarei a garota em questão, meus olhos queimaram.

Sophie?

Ela estava com a mesma roupa que usara mais cedo, o que me fez deduzir que ainda não passara em casa. Quando falei seu nome, ela ergueu o olhar e logo bufou. Com certeza eu era a última pessoa que ela gostaria de ver naquele momento.

Não diria isto a ela, mas eu compartilhava do mesmo sentimento.

— O que houve? – perguntei curioso.

— Meu carro resolveu não mais ligar – ela contou, cruzando os braços e fazendo uma cara de eu não posso pirar.

Não sou um bom samaritano e muito menos o cavalheiro do ano, mas ali, naquele momento, eu vi a oportunidade perfeita para conquistar o coraçãozinho daquela maluca. Ou, pelo menos, ganhar a sua confiança.

— Eu posso te ajudar, você quer? – falei e, antes que ela respondesse, prossegui – Vou só estacionar o carro, espera aí.

— Não, não, não! – ela começou a dizer e eu pude ouvir enquanto seguia um pouco mais para frente e estacionava. Segurei o riso e respirei fundo antes de sair do meu Mustang e ir enfrentar a fúria.

— Você pode, por favor, relaxar? Só quero te ajudar – falei, no tom mais convincente e educado possível. Ela bufou novamente e começou a tagarelar sobre eu não valer nada, como o restante dos meus amigos.

— Eu não preciso da sua ajuda. – ela concluiu e seguiu até o capô aberto, checando o motor e tudo o que lhe parecesse fora do lugar. O carro dela era um Sonata preto e estava impecável: limpo, sem nenhum arranhão e reluzindo. Ela sabia como cuidar do brinquedinho e era estranho que ele não estivesse querendo funcionar.

Andei até onde ela estava e Sophie parecia querer rosnar de tanta raiva.

— Está tudo em perfeito estado, eu não consigo entender – ela falou para si.

— Você já checou a gasolina?

— O painel está registrando como tanque cheio. – ela me respondeu e, encostando-se ao carro, suspirou fundo com os olhos fechados – Minha mãe vai me matar.

Ela parecia realmente chateada e nervosa e, admito, eu fiquei comovido com aquilo. A Dallas podia ser esquisita, motivo de piada pra muita gente – inclusive pra mim –, mas precisava mesmo de alguma ajuda. Então, sem avisar, corri até o banco do motorista e chequei o painel.

Estava mesmo cheio.

Pensei por um momento que talvez ele tivesse travado. O painel do meu carro uma vez teve um defeito do tipo e isso podia ter acontecido com o dela. Saí dali rapidamente e segui até o meu porta-malas. Eu havia guardado alguns materiais de limpeza do meu pai e aquilo podia ser bem útil naquele momento.

— O que está fazendo? – ela perguntou, seguindo-me.

— Vou testar uma coisa.

Eu só saberia se o carro haveria parado por falta de combustível se ele reagisse diante a minha doação. Pretendia passar um pouco da minha gasolina para o carro dela, por meio de uma mangueira, pressão e muita inteligência acumulada.

Sophie, felizmente, fez o favor de permanecer calada dessa vez. Ela parecia perplexa com a minha atitude e eu sabia que aquilo ia deixar ela um pouco menos arisca com relação a mim.

Ou, pelo menos, era o que meu otimismo esperava.

— Prontinho, vamos testar – falei, sorrindo para ela, que se recuperou e, depois de rolar os olhos, foi tentar arrancar com o carro. No entanto, enquanto ela caminhava até o banco do motorista, percebi algo estranho, que até então eu não tinha notado – talvez por estar à noite, ou talvez por eu ter bebido um bocado antes de estar ali.

De qualquer modo, eu descobri que o carro dela estava mesmo com o tanque vazio, e que mesmo ela conseguindo ligá-lo, como felizmente conseguira, logo o tanque voltaria a ficar vazio e seu Sonata tornaria a dar defeito.

— Sophie, desliga o carro – falei, tentando entender o que tinha sido aquilo. Havia um baita vazamento na parte traseira e aquilo não tinha cara de ser algum defeito casual. Os tubos pareciam terem sido cerrados.

— O que houve? Ele funcionou, ué – ela falou, sem entender o motivo de eu tê-la chamado. Fiz um gesto com a mão para que ela visse os tubos e, nesse momento, a única coisa que ela parecia querer fazer era chorar. Literalmente mesmo.

Ela se virou, escorando nas rodas e se sentando no asfalto, olhando para um ponto fixo. Eu não entendi direito o que ela estava fazendo, até o momento em que ela começou a falar que me odiava.

E que odiava todo o colégio.

— Vocês não prestam.

— Ei, eu não fiz nada disso! – eu disse em minha própria defesa, erguendo as mãos em sinal de redenção. E, sinceramente, eu não havia feito. E sequer ficara sabendo dessa brincadeira de mau gosto. Teria sido engraçado se eu não estivesse ali, vendo o resultado de tão perto.

Ela sacou o celular e mandou uma mensagem. Depois disso, ela pediu para que eu me afastasse do carro. Relutante, obedeci e continuei falando que eu não tinha nada a ver com aquilo. Sophie nunca confiaria em mim. Eu ia perder a maldita aposta e a culpa seria minha por ter amigos tão sacanas. Não que eu não fosse um sacana também.

Eu só conseguia pensar no que fariam com o meu carro.

— Sophie, é sério! Eu não tenho nada a ver com isso! – não sei quando, mas, de repente, comecei a falar num tom muito mais alto do que estou acostumado.

— Foda-se! Foda-se você e toda a sua turma – ela respondeu a altura e se colocando de pé – Vocês não gostam de mim por eu não ser como vocês, então o que você quer comigo? Me deixa em paz!

Ela pegou sua mochila e depois fechou o carro, trancando e ligando em seguida o alarme. Ignorou o restante da minha insistência em fazê-la acreditar em mim e começou a andar em direção à avenida mais próxima.

Falei que podia levá-la em casa, falei que podia ajudá-la e de nada adiantou. Peguei meu Mustang e a segui, lentamente, pedindo para que ela entrasse na droga do carro. Eu precisava ganhar a aposta.

Eu precisava que ela confiasse em mim para ganhar a maldita aposta.

— Não vou entrar no seu carro, Robert – ela falou, sem nem olhar para mim.

— É perigoso! Está tarde! – eu dizia e repetia, enquanto ela andava tranquilamente sem deixar de me ignorar – Entre no carro, Sophie! Você vai sair por aí sozinha e eu vou me sentir culpado se alguém fizer algo com você.

Foi então que ela parou, respirou fundo e me olhou finalmente.

— Vocês já fizeram algo comigo. Na verdade, já fizeram muitas coisas. – ela disse friamente e depois abriu sua mochila, tirando dela um molho de chaves, com um chaveiro dourado e outros coloridos. Caminhou para dentro de uma casa grande e bonita e eu demorei a perceber que ela morava ali.

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A poucos metros de onde o seu carro estava.

Ah, como eu odiava Sophie Dallas.