Alfabeto do Amor

A - Amaldiçoado


Lá estava eu no jardim do castelo, meu vestido negro ocultava minha presença e a chuva intensa qualquer vestígio meu. Eu precisava vê-lo. Sei que eu deveria estar em outro lugar, mas quis tomar uma atitude corajosa, tinha que o avisar.

Adentrei o castelo sem dificuldade, uns diziam ser o portal do inferno, um lugar para pratica de rituais. Poucos sabiam que era habitado por um bruxo solitário. Mas eu o conhecia, ele não era nada parecido com as especulações da vila.

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Ele estava no segundo andar, meu coração bateu descompassadamente, então ele desceu ao meu encontro enquanto eu subia ao seu, nos encontramos no topo da escada do primeiro andar.

— Você não deveria estar aqui! – Ele disse sério e inexpressivo.

— Estão vindo, todos eles. – Eu lhe avisei, mas ele já sabia.

Os camponeses estavam subindo com tochas, iam atear fogo no castelo, uma grave doença estava se espalhando e ignorantes como eram, achavam ter algo a ver com Sasuke.

— Você precisa ir. – Ele pediu com sua voz autoritária e cansada.

— Eu não vou, não sem você. – Cruzei os braços e um meio sorriso surgiu no rosto dele, algo raro de ver.

— Acha então que eu sou inocente? – A pergunta foi enigmática, ele queria saber que tipo de resposta eu daria.

— Jamais. – Respondi e ele arqueou uma sobrancelha. – Sei que foi obrigado pelos anciões. – Eu me aproximei para cortar a distancia e sentir a sua respiração pesada. – Eu posso lidar com isso.

Não levantei o rosto para encara-lo, não era necessário. Ele não foi o responsável, mas com certeza como um dos bruxos ele tinha sua parcela.

Aquele feitiço matou dezenas de pessoas na vila e por mais que não implorasse perdão, eu sabia do seu arrependimento e o fardo que ele levava.

— Então você morreria por um bruxo? O que sua família diria sobre isso? – Ele levantou meu queixo com delicadeza, e eu encarei os olhos cansados e negros dele sobre mim.

— Não diriam nada. – Respondi e ele passou a mecha do meu cabelo molhado para trás da minha orelha. – Não posso deixar que te matem. – Completei.

— Não posso deixar meu erro ser o seu erro. – Ele sussurrou no meu ouvido e o barulho dos camponeses já era capaz de se ouvir, as tochas iluminavam o jardim, estava só garoando. – Eles não me deixaram viver. – Ele se referiu aos anciões então fechei os olhos com força.

— Não viverei feliz. – Segurei o capuz que lhe cobria o rosto, sabia que era um adeus.

— Mas viverá e será o meu maior consolo na hora da morte...

Seu abraço quente me cobriu e beijo na testa foi a ultima coisa que eu me lembro daquela noite. Acordei em um banco qualquer da vila, e ao me dar conta do que houve, minhas lágrimas pesaram nos meus olhos e rolaram intensamente.

Com o coração apertado me vi longe do castelo que agora está em cinzas. Ele me deixou, me poupou. Fui tola ao imaginar que ele me ouviria e me deixaria morrer com ele.

Hoje ele é pó e ouço boatos de que em meio a chamas, depois de berros de dor, ele abaixou a cabeça e sorriu. Meu coração pulou um batimento e me lembrei de sua ultima frase.