Desafio de mini fics Star Wars

Uma Nova Dança (Universo Alternativo)


Eram exatamente nove horas da manhã, e o sol entrava pela janela do salão no segundo andar formando um facho de luz, como se um holofote amarelo iluminasse o palco. Ela já estava lá quando cheguei, fazendo alongamentos sentada no chão, bem debaixo da luz. Eu podia vê-la se movimentando quase em câmera lenta. O corpo dela era esguio, com as poucas curvas de uma bailarina clássica, mas sem o ar mortiço das garotas que ficam doentes de magreza. Ela parecia saudável e forte, a pele branca com um leve bronzeado, as bochechas coradas. Ela costumava prender seus cabelos castanhos em três coques detrás da cabeça, e com a claridade de hoje eles pareciam dourados, brilhantes, cheio de fios soltos ao redor de seu rosto. Partículas de poeira também brilhavam sob o sol, como se ela estivesse no meio de uma nuvem de purpurina.

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Sei que já deu para notar que eu sou um cara dramático, mas acredite quando eu digo que ela era a garota mais linda que eu já tinha visto na vida. E eu poderia passar o resto da minha existência, que já era bastante contemplativa, apenas observando Rey dançar. Juro que meu coração parou quando ela notou minha presença e sorriu para mim, e só voltou a bater quando eu me virei de costas para ela, para ligar os ventiladores. Pois é, ela piorava minha arritmia cardíaca, e se eu não morrer brigando com meus pais, certamente morrerei de infarto no meio de um treino de pliés e jetés.

E hoje o sorriso dela me atingiu como uma espada... tentei sorrir também, mas tenho certeza que ela deve me achar deficiente mental, porque eu nunca consigo rir de volta. É frustrante ter orelhas gigantescas, dentes enormes, e ficar pensando que você pode matar de susto a próxima pessoa para quem sorrir. Às vezes eu até tentava falar algo, mas minha voz morria na garganta antes mesmo que eu conseguisse articular um “bom dia”. Aquela garota, a aluna mais aplicada do pequeno estúdio de dança do meu tio materno, era a criatura que eu mais desejava na Terra (na galáxia, no universo!), e eu simplesmente não era capaz sequer de cumprimentá-la!

Eu nem queria ter começado a trabalhar aqui, para falar a verdade. Mas minha mãe me obrigou. Disse que eu passava tempo demais em casa, que não queria me ver as férias inteiras abraçado ao vídeo-game, e que deveria ter pelo menos alguma experiência além de “especialista em PlayStation” no currículo que enviaria para tentar admissão na universidade. No início não pareceu tão ruim: eu cuidaria da recepção, controlaria as luzes e a ventilação, varreria, providenciaria água, esse tipo de coisa. No fundo, passaria a maior parte do dia atrás do computador do estúdio, e ainda arrumaria uns trocados. Meu tio até já tinha uma garota que fazia tudo isso em troca de aulas mas, com a proximidade de um festival de dança, ela precisaria de ajuda para poder passar mais horas treinando.

Pois é, você adivinhou. Eu só soube que passaria o verão inteiro me sentindo o pior homem do mundo quando ele me apresentou à mocinha pobre que pagava as aulas com trabalho. Eu mal fui capaz de dizer meu nome (uma sílaba, três letras) quando a vi, e provavelmente ela deve se referir à mim como “o sobrinho retardado do professor Luke”.

— Ei, Ben. Será que você pode me ajudar?

Ben? Ela sabe. Meu nome. Continuei imóvel, sem saber o que fazer.

— Ben?

Meu Deus, que coisa terrível, ela deve achar que eu sou surdo, e essas orelhas tornam a coisa tragicômica. Engoli em seco. Seja homem, seu moleque! A força mental necessária para virar meu corpo na direção dela poderia ter movido uma tonelada.

— Senhorita?

SENHORITA? O que estou fazendo? Deus, me mate agora.

Uma risadinha. Ela continuava sentada no chão, as duas pernas estendidas para a frente.

— Pode me chamar de Rey, não tem problema.

Alguém chame uma ambulância, vou ter um ataque cardíaco.

— É... Rey. Sim.... Rey, do que você precisa, Rey?

Quantas vezes você vai repetir o nome dela, estúpido?

— Será que você podia me ajudar com meu alongamento?

Tocar. Em você.

— Hum... Rey... meu tio já está chegando. Você... ah... não quer... então... esperar? Rey?

Olha o que uma vida sofrendo bullying faz com você. Dezessete anos e não consegue conversar com garotas.

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— Já quero estar aquecida quando ele chegar.

Eu não tinha mais objeções, subitamente meu QI tinha caído uns 50 pontos. Era melhor não falar nada, e só fazer. Sentei diante dela, pequena e toda vestida de branco. Eu tenho mais de 1,90m e meu armário só tem roupas pretas, para desespero da minha mãe. Deixei que Rey me guiasse. Eu tinha que segurar seus pés, ajudá-la a flexionar os joelhos, um de cada vez, e a tomar cuidado com sua respiração.

Enquanto fazia sua rotina, ela começou a contar como era bom ter alguém ajudando com o estúdio, ainda que fosse apenas para o festival. Era difícil dançar, trabalhar e estudar. Ela estava sempre com fome, ou com sono, ou as duas coisas juntas. Ela era órfã, mas isso não importava, porque não se lembrava de seus pais. Dançar era a melhor coisa do mundo, e ela sabia que era uma das melhores alunas, e que não iria decepcionar meu tio. Ela iria provar que o patinho feio (você está louca?) do estúdio dançava melhor que qualquer patricinha metida. E que agora que nós éramos amigos (éramos?) eu deveria ir ao festival. Era bom ter com quem conversar, ela explicou. Viver sozinha é muito ruim, e as meninas do estúdio não gostavam muito dela. Talvez porque ela estivesse sempre com fome. Ou com sono. Ou as duas coisas juntas...

Além de passar a vida assistindo Rey dançar, eu também poderia passar o resto dos meus dias ouvindo-a falar, alegre e empolgada.

Quando ela terminou, levantou-se num pulo, ágil e elegante, e me estendeu a mão. Levantei meio sem jeito, e consegui balbuciar com um pouco mais de coerência que iria sim, claro, vê-la dançar no festival.

— Não falte, Ben Solo. Eu sei onde você trabalha!

Ela se ergueu na ponta dos pés, me segurou pelo pescoço e deu um beijo estalado na minha bochecha. Devo ter ficado mais vermelho que um tomate maduro.

— Não quer comer algo hoje, depois que fecharmos o estúdio? – Precisei de toda a coragem do mundo para falar essa dezena de palavras.

Ela já estava rodopiando quando eu perguntei, e respondeu sem parar de girar:

— Sorvete! Achei que você nunca fosse perguntar...