Herdeira da Lua

Capítulo Vinte e Quatro – Arrêter à temps


Itália

Pessoas vão embora.

Maria Alice foi tão rápido quando chegou. E levou com ela o cheiro de perfume de chocolate misturado com giz de cera.

As coisas não mudavam de repente só na vida de Itália. Mudavam em desenhos animados também.

Um dia você tem pais, no outro, não tem.

Um dia você está na França, no outro, no Brasil.

Um dia você tem cabelo colorido, no outro, castanho.

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Um dia você é só a Marinette, no outro, você ganha uma coisinha chamada kwami e é a Ladybug.

—Ah, Mali, que voz irritante. Por que você não assiste em francês?

—Porque é um episódio novo, e eu preciso entender o que eles estão dizendo.

—Certo... Come a sua sopa antes que esfrie.

Quando ela voltou pros braços das mães, o apartamento pareceu menor. Sem vida. Como se Mali fosse toda a força vital dali.

Tchau tchau, borboletinha, ela dissera.

Logo, Itália iria embora. E uma nova pessoa chegaria como se ela nunca tivesse estado ali.

—Eu estive aqui. – Ela disse para Cheshire no dia de volta ás aulas. – Essa foi a minha casa. Certo, Cheshire? Foi a nossa casa.

O gato miou. Entendia o que ela dizia.

—Não vou poder levar você. Mas prometo te conseguir um bom lugar, ok? Prometo.

(...)

—Ah, Henri, é sério?

—Desculpa, Itália. Eu já tô quase trancando a faculdade e...

—Não, não, não, não faz isso. Vou achar alguém pro Cheshire.

Henri suspirou, secando as mãos.

—Acho que vou ter que voltar pra casa dos meus pais até o curso acabar. Isso é tão ridículo.

—Mas...Será que você não segura a barra até ano que vem? O pessoal da banda vai pra faculdade ano que vem, você podia dividir o apartamento com algum deles. Você se dá bem com a Lucy.

—Contigo também. – Ele sorri de canto. Itália jogou o pano de prato nele. Sentira falta disso nas férias. – Mas, sério, não sei se daria certo. A Lucy é mais nova e tudo mais.

—Não faz diferença, Henri. Ela é uma pessoa incrível pra se ter por perto, e ela tem planos, sabe o que vai fazer, o que vai estudar, onde vai trabalhar... Diferente do Matteo ou do Téo, por exemplo.

Ele suspirou novamente. Haviam olheiras bem marcadas debaixo de seus olhos.

—Vou pensar nisso.

—Vou pensar em alguém pro Chesh.

Eles se olharam e riram.

—Itália, tem um pessoal lá fora com o qual acho que você deveria lidar. – Amanda apareceu na porta da cozinha.

Itália franziu o cenho.

—Eu? Por quê?

—Você é como a agente de publicidade daqui, não? – Amanda deu um sorrisinho travesso, o que só fez com que Itália ficasse mais confusa.

Ela aproveitou para deixar um café na mesa de um cliente enquanto caminhava até o lado de fora.

Uma garota de longos cabelos azuis estava esperando com um sorriso cheio de expectativa. Atrás dela havia mais quatro pessoas. No total eram três garotas e dois garotos.

—Oi, meu nome é Fernanda! – A garota estendeu uma das mãos.

—Itália. – Respondeu, apertando. Mas o que está acontecendo?

—Bom, nós viemos aqui negociar contigo. – Fernanda anunciou. – Somos a Morgana, uma banda indie e estamos juntos faz um ano.

Itália estava começando a entender.

—Estávamos pensando – Ela continuou -, na possibilidade de tocarmos aqui. Uma vez por semana, como fazem com a Lua. Vocês podem decidir o dia, e ficamos sabendo que têm uma negociação de salário com a Lua...

—Por show, sim. Negociamos no fim de cada show dependendo da quantidade de público. – Itália explicou. – Se estão juntos há um ano, já devem ter um certo público estabelecido?

—Sim, nós temos! – Aquela garota lembrava muito Itália a si mesma. – Podemos passar todos os nossos contatos pra você, se quiser ter certeza de que as pessoas vão vir nos ver.

—Eu ia gostar, sim. – Itália sorriu quando Fernanda tirou um bloquinho do bolso, ao invés de simplesmente digitar no celular. Já adorava aquela garota! – Que tal fazermos um show teste no sábado? Dependendo do resultado, discutimos o resto das coisas.

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—Sim, sim, acho ótimo! – Ela lhe entregou o papel. – Começamos as oito, tudo bem pra vocês?

—Tudo certinho. – Itália sentiu que a menina estava quase pulando de alegria.

—Obrigada! – Ela se virou para o grupo e todos começaram a andar. – Podemos anunciar que vamos tocar no Café da Lili. Que incrível! – Itália pôde ouvi-la dizer.

(...)

O futuro.

—É estranho para Itália pensar no futuro estando ali. É como se... eu tivesse parado no tempo por um ano inteiro. Como pensar em fazer algum curso sem saber se ele seria válido na França? Como pensar no que faria ao voltar, quando eu não sabia se iria voltar? Talvez por isso eu tenha vivido em função das outras pessoas quase que esse ano todo, sabe, porque não tinha nada que eu pudesse fazer por mim além de me preocupar. Será que eu vou voltar? Tenho pensado na França todos os dias desde que cheguei, mas, e se eu nunca mais voltar pra lá? O que eu vou fazer se não tiver como correr pra alguém? É isso que eu disse pro Leo esses dias, Amanda, que eu estou cansada das surpresas, que eu não quero mais não saber o que fazer...

De todas as conversas que tivera com Amanda, Itália nunca falara tanto quanto naquela.

—Certo. – Amanda se pronunciou quando ela finalmente parara de falar. –Então, antes de vir pra cá você não tinha o costume de roer as unhas?

Itália balançou a cabeça negativamente.

—O que você tem sentido, é medo de que, exatamente?

—De algo inesperado.

—Mas, você sabe que algumas coisas estão fora do seu controle, não sabe? Algo inesperado sempre pode acontecer.

—Eu sei, mas não quero que aconteça algo pro qual não estou preparada.

—Você tem dormido bem? A Maria Alice me contou que tinham dias em que era ela quem te acordava. – Amanda fazia mais anotações do que de costume.

—Eu não diria bem, mas tenho dormido bastante.

—Você me disse uma vez que não consegue prestar atenção na maioria das aulas. – Ela voltou algumas páginas no arquivo em se tablet.

—Ás vezes eu simplesmente desligo, sabe? E, quando vejo, se passou mais de uma aula.

—Entendo. – Ela finalmente voltou seu olhar para o rosto de Itália. – Bom, eu vou ter que verificar algumas coisas, mas vamos voltar a falar disso ainda esta semana, pode ser?

Trés bien. – Ela colocou a mochila nas costas. – Obrigada, Amanda.

A professora sorriu e Itália saiu da sala.

Naquela semana, Itália havia propositalmente pego o mesmo horário de orientação que Matteo, então ela e Amanda estavam numa sala de aula comum enquanto Matteo e Jorge, na orientação.

Ela levou um susto quando duas mãos apertaram sua cintura.

—Olá, gatinha do banheiro. – Ele disse, a fazendo rir.

—Falando em gatos... O Pedro adora o Cheshire, né?

—Minha mãe é alérgica. – Matteo a abraçou de lado enquanto Itália soltou um suspiro. – Não se preocupe, vai achar um lugar pra ele. Como foi com a Amanda?

—Longa conversa. E você com o Jorge?

—Longo silêncio. Ele também só está me atendendo porque é obrigado, sabemos que eu não tenho problema algum.

—É... Bom. – Ela decidiu desviar do assunto. – A Lua tem concorrência!

—Quê?

—Contratei uma banda pra tocar no Café, sábado. – Itália sorriu, tirando o celular do bolso e entrando em seu instagram. – Se chama Morgana. Eles são indie e fazem poucos covers, são mais autorais.

Ela entregou o celular pra ele, aberto num vídeo em que tocavam uma música da banda The Neighbourhood.

—Caralho. – Fora exatamente a mesma reação de Itália diante da voz de Fernanda. – Eu quero casar com essa garota. Deixa eu casar com essa garota?

—Só se você me deixar casar com ela.

Ele apertou o braço ao redor dela.

—Acho que vou pro café hoje. Mamãe está em casa e eu não tenho nada da escola pra fazer. – Matteo passou a andar de frente para ela. Itália posicionou seus pés em cima dos dele, e era certo que eles iam cair.

—Você não cansa de olhar pra essa minha cara?

—Não, é a carinha mais linda do mundo.

Eles sorriram um para o outro e Matteo a beijou. As mãos de Itália na nuca dele e as de Matteo na cintura dela, segurando como se ela pudesse escapar a qualquer momento, abraçando como se dissesse por favor, não vá.

E era em momentos como esse que Itália pensava: parar no tempo talvez não fosse tão ruim.