Memórias do Outono

Capítulo 1


Cem dias me fizeram mais velho
Desde a última vez que vi seu lindo rosto
Milhares de mentiras me fizeram mais frio
E eu não acho que possa olhar para isso da mesma maneira
Mas toda a distância que nos separa
Ela desaparece agora, quando estou sonhando com seu rosto

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Here without you – 3 Doors Downs

Aaron Carter estava, às 6h da manhã, em seu escritório, encarando o porta-retratos de Annie. Estava lembrando-se de como ela estivera tão linda no dia de seu casamento. Era outono, uma das estações preferidas dela, e dizia que era tempo de renovação. Porém, foi o seu último. Do mesmo jeito que as folhas caem e vão embora junto ao vento, ela se foi, e no momento que era para ser o mais feliz de suas vidas, Annie faleceu dando à luz a sua filha Abigail, apelidada de Abby, e então o gentil Aaron perdeu seu chão e se tornou o frio Senhor Carter.

— Olá? — Scott, seu melhor amigo e advogado da empresa de arquitetura, disse, entrando e despertando o amigo.

— Oi. O que faz aqui tão cedo?

— Sério? Esse é o meu horário, você que deveria chegar mais tarde hoje, não é?

— Eu? Por quê?

— Reunião na escola da Abby.

E então os sinos tocaram em sua mente. Ele esquecera-se da reunião escolar de sua filha, e na carta dizia “Urgente”.

— Eu tinha esquecido. O que será tão urgente que meus empregados não possam ir? — resmungou.

— Não sei, e é por isso que estou aqui, afinal são muito assustadoras as reuniões escolares, ainda mais com a Senhorita Margareth — disse piscando.

— Nossa, a sua ironia vai te matar um dia

— Seu mau humor vai fazer você ir primeiro, cuidado! — retrucou enquanto pegava seu casaco. — Vamos?

Do escritório até a escola eram cinco minutos de carro. Quando chegaram, viram que algumas crianças estavam brincando no jardim. Aaron já havia estudado ali juntamente com Annie, e as olhar lhe trazia lembranças.

Foram até a recepção, e a moça de olhos castanhos e cabelo bem escuro lhes deu um sorriso encantador e indicou a segunda porta à esquerda no corredor ao lado. Logo avistaram a Senhorita Margareth, diretora e dona da escola. Na época de Aaron, ela ainda era professora e filha dos donos. Seus cabelos quase grisalhos davam traços de sua idade.

Ela pediu para que os dois se sentassem.

— Bom dia, Senhor Aaron. Sente-se. Vejo que veio acompanhado pelo Senhor Scott.

— Bem observado, vejo que a idade não prejudicou sua visão — Scott debochou enquanto se sentava jogado na cadeira. Aparentemente se sentia à vontade.

— E vejo que seu humor não mudou também — a mulher disse, séria, como se não gostasse de seu modo. — Victoria está bem?

— Sim, muito bem — ele disse, encarando-a.

— Senhor Aaron, o motivo pelo qual requisitei sua presença é o fato de sua filha estar muito distante.

— Como assim?

— A Senhorita Janet, da recepção, é professora dela e a encontrou chorando no corredor em um canto. Ela disse que não era nada, mas estava bastante sentida com alguma coisa. — Ela respirou fundo e parecia procurar palavras para explicar tal situação. — Ultimamente sua filha não presta atenção nas aulas, não brinca e nem faz nada.

— Em casa ela fica normal, não há nada de estranho.

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— Então eu acho que o senhor precisa prestar mais atenção em sua filha. Embora eu não queira julgar o modo como cria a Abby, vou aconselhá-lo. — Ela colocou suas mãos em cima da mesa e cruzou seus dedos. — Ela precisa de alguém com ela, e não me diga um empregado, porque não é isso que eu quero ouvir. Ela precisa de uma amiga, alguém que realmente esteja com ela não de um modo robótico, como seus empregados.

— Está pensando em uma mãe?

— Não, Senhor Carter, estou pensando em uma babá.

— Meus empregados a conhecem há bastante tempo, são de minha total confiança. Não posso pôr em minha casa uma babá que nem conheço.

— Senhor Carter...

— Que tal o anjo? — indagou Scott, interrompendo-a.

— Oh! Sim, ela seria ótima! — Aquele momento foi o único em que eles sorriram um para o outro. Aaron não estava entendendo nada.

— Então assunto encerrado. Hoje à tarde ou amanhã, você vai conhecer a babá de sua filha, mas antes terei que contatá-la. — Scott se levantou, dando o caso por encerrado.

— Mas...

— Quer continuar com a velha ou quer resolver do meu jeito? — ele sussurrou no ouvido de Aaron. — Então só me siga.

— Está bem. — Levantou-se para se despedir.

— Só mais uma coisa, Senhor Aaron: se o senhor não melhorar, eu vou ter que contatar o juizado.

— O que a senhora quer dizer com isso?

— O que o senhor ouviu. Infelizmente eu não sou a pessoa certa para dizer isso; ou descobre sozinho, ou a pessoa certa te dirá.

Aaron voltou ao escritório e mergulhou no trabalho. Remoeu aquelas palavras durante todo o dia. Não havia entendido o que a Senhorita Margareth quisera dizer. Abby só tinha seis anos. Como ele desejava que Annie estivesse ali ao seu lado... A cada dia que passava, a menina ficava mais parecida com ela, seus cabelos loiros, seus olhos verdes e seu jeito meigo de ser. Ele ficava imaginando como seriam suas tardes se ela tivesse a mãe por perto. Provavelmente Aaron nem estaria trabalhando ali.

— Ainda pensativo? — Scott perguntou sentando-se na cadeira em frente à mesa.

— Não, na verdade estou bem — disse se arrumando em sua belíssima cadeira de couro acolchoada e continuou: — O que está fazendo aqui? Não é seu horário de almoço?

— É, mais eu trouxe os papeis sobre sua nova babá, ops, da Abby, desculpa.

— Sempre engraçadinho. Não entendo por que tem que ser uma babá, e você a conhece de onde?

— Ela é a melhor amiga da minha filha, eu a conheço desde que ela tinha 11 anos, e se ela não fosse capaz, eu não lhe pediria para fazer isso. Ela leva jeito com crianças e gosta de ajudar, vai ser ótima para a Abby. Se quiser conhecê-la, vá hoje à noite jantar lá em casa, e a apresentarei a você.

— Vou confiar em você e ver se consigo ir.

— Bem... Você indo ou não, ela vai. Então, qualquer coisa, é só aparecer. — Ele se levantou. — Vai almoçar agora?

— Não, pode ir, obrigado.

Scott pegou seu casaco e saiu. Tinha seus 37 anos, era bem alto, moreno e gostava de usar barba cerrada. Seu cabelo era curto preto, e ele só usava ternos para trabalhar, pois se sentia mais sério assim, e as garotas sempre iam atrás dele. Seu corpo era atraente, e isso chamava a atenção de muitas mulheres.

Aaron resolveu que não almoçaria no restaurante de sempre, porque não estava com cabeça para conversas.

Eu não preciso de uma babá e também não preciso que uma velha irritante me ameace. Eu só precisava que Annie estivesse comigo, pensou.

Parou em uma cafeteria no centro da cidade e se sentou em uma das mesas afastadas, pediu um café gelado, e esse seria o seu almoço. Enquanto esperava pelo seu pedido, pegou o celular e ficou verificando os seus e-mails. Eram tantos compromissos e reuniões que ele estava ficando maluco. Ficou tão distraído que não percebeu as horas passarem. Só notou que tinha passado tempo quando o sino da porta tocou, chamando-lhe a atenção.

Uma garota de pele branca e cabelos tão negros como ônix entrou com um buquê de flores amarelas na cafeteria e se dirigiu até uma das mesas ao fundo, onde uma mulher com o semblante chateado tomava um café sozinha. Aaron ficou curioso para ver o que ela faria ali, e sua atitude o surpreendeu. Ela entregou as flores para a mulher, e a mesma começou a chorar. A garota se sentou na cadeira ao lado, e as duas conversaram por alguns minutos. Em seguida ela saiu, deixando Aaron totalmente confuso.

Porque ela fez aquilo? Será que ela a conhece?

Observou atentamente a reação da mulher depois que a morena saiu, e o que antes era tristeza em seu semblante, agora era felicidade. Um sorriso enorme estava estampado em seu rosto, e as lágrimas continuavam caindo. A curiosidade e a dúvida o estavam corroendo, e ele não se conteve e teve que se levantar e ir até à mesa da sortuda com o buquê de flores e perguntar se ela conhecia a moça.

— Eu nunca vi aquela garota. Eu estava sentada pensando em algumas coisas que me aconteceram, e de repente ela apareceu aqui com essas flores.

— Tem certeza de que a senhora nunca a viu? — indagou pasmo.

— Certeza absoluta.

— Está bem, obrigado.

E então voltou ao escritório e passou o restante do dia pensando no porquê de aquela garota ter feito aquilo, até que sua secretária apareceu em sua sala e disse:

— A reunião foi adiada, Senhor.

Já eram 4h30. Pegou suas coisas, foi até o estacionamento pegar seu carro e foi para sua casa se arrumar para o jantar de Scott.

Colocou um jeans escuro, blusa branca com blazer preto e tênis pretos. Não estava muito a fim de ir, mas como havia prometido a Annie que daria tudo a Abby, criou coragem e seguiu em frente.

A casa de seu amigo era a meia hora de carro. Pelo caminho havia flores brancas às margens da estrada, às quais Annie adorava. Ao chegar ao destino, ficou parado em frente à porta, pensando se devia ou não chamar. Virou-se de costas para a casa, e nessa hora Scott abriu a porta.

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— Onde está indo, Aaron? — questionou ao ver a tentativa de fugir do amigo.

— Lugar nenhum, e você? — mentiu com um sorriso forçado.

— Verificando se você já tinha chegado e se já estava indo embora. — Puxou-o para dentro e sussurrou, piscando: — Conheço seu cheiro.

— Até parece.

A casa estava levemente distinta da última vez em que a vira.

— Se não reparou, a casa está um pouco diferente.

— Sim, reformou? — perguntou enquanto entravam na bela cozinha revestida em madeira

— Mais ou menos, só dei uma ajeitada.

— Ora, ora... Olha quem saiu da toca — Victoria, filha de Scott, ironizou.

— Quanto tempo, Malévola.

Victoria nunca gostara de Aaron, sem motivos aparentes. Pareciam duas crianças que brigavam o tempo todo.

— Nossa, é tão lindo a família reunida e o amor predominante — Scott disse sarcástico, e nessa hora a campainha tocou.

— Eu atendo. — Tori, nome pelo qual Victoria era apelidada, foi pulando até a porta da frente, e Aaron conseguiu ouvir uma voz doce indo em direção à cozinha.

— Oi, Tori.

— Ainda bem que chegou, tem alguém que eu não sabia que viria. Desculpa. Pai, ela chegou.

Quando Aaron viu a garota, ficou surpreso. A menina que havia visto mais cedo na cafeteria com as flores estava bem ali a sua frente, com suas bochechas rosadas por causa do frio. A garota estava com um sobretudo cor-de-rosa claro e uma calça preta justa.

— Então, Aaron, essa é minha segunda filha, Debra Bennet. Debra, esse é meu melhor amigo, Aaron Carter, o presidente da empresa onde trabalho.

— Prazer em conhecê-lo. — A garota estendeu a sua delicada mão, e ele a apertou com toda a delicadeza para não a machucar. Respondeu:

— O prazer é meu.

— Sentem-se, a comida está servida — anunciou Scott.

Sentaram-se, e o anfitrião se sentou ao lado do amigo para que Debra se sentasse em frente a Aaron. A comida estava muito boa, macarrão com queijo como entrada, vinho e vários outros acompanhamentos, o tipo de refeição que Aaron amava.

— Debra aceitou cuidar da Abby — Scott revelou, bebericando um pouco do vinho. Sabia que Victoria não iria gostar nem um pouco.

— Por isso você está aqui? Para fazer minha melhor amiga trabalhar? — Tori inquiriu, encarando-o.

— Tudo bem, Tori, seu pai me explicou tudo, e como eu não estou fazendo nada importante, decidi aceitar o trabalho.

— O trabalho vai ser diário. Você vai ter um motorista para redirecioná-la aos lugares e vai ter um cartão de crédito para comprar o que for preciso. — Ele sentiu o aroma de seu vinho seco e continuou: — Você já cuidou de alguma criança, Senhorita Bennet?

— A Tori serve como referência? — brincou, mas percebeu que ele não lidava bem com brincadeiras como Scott. — É brincadeira, eu fiz trabalho voluntário em um orfanato há um tempo. Fora isso, nunca.

— Mas ela é ótima. — Scott se aproximou do ouvido do amigo e sussurrou: — Lembra-se da época em que Victoria teve problemas? Ela que me ajudou.

— Scott te recomendou, e gostaria de contratá-la.

— Quando começo? — indagou ansiosa.

— Amanhã, se puder. — Ela assentiu com a cabeça. — Ah, mas só se seus pais permitirem, então eu quero uma autorização deles.

Ela deu um sorriso constrangido, e todos na sala pareciam desconfortáveis com o assunto. Ninguém mencionara que eles haviam falecido quando ela era bem mais nova.

— Com isso eu não posso ajudar, eu moro sozinha. Meus pais faleceram em um acidente de carro.

— Ah... Sinto muito — desculpou-se, totalmente constrangido.

— Sem problemas. — Ela deu um sorriso singelo que chamou sua atenção.

— E para terminar... quantos anos você tem?

— 19.

Conversaram por um tempo, falando sobre o futebol de Scott, a faculdade de Victoria e as fotografias e obras de arte que encantavam Debra.

No fim da noite Aaron foi embora, e Debra decidiu ficar por lá.

No caminho para casa, ele pensava. Sentia-se um doido por deixar uma criança cuidar de seu maior tesouro e mais doido ainda por seguir a cabeça de seu amigo Scott. Por mais que ele fosse mais velho que Aaron, sua mentalidade era de alguém na faixa dos vinte.

Quando finalmente chegou a casa, estava tudo apagado. Como em todas as noites, ele foi direto para o quarto de Abby, que já estava dormindo como um anjo em sua confortável cama. Ele puxou o cobertor rosa até perto de seu rosto e deu um beijo terno em sua pequena testa, como fazia todos os dias. Por mais que ele não estivesse presente no seu dia a dia, era feliz por tê-la consigo.

Já eram 8h horas, e Aaron andava de um lado para o outro. Devia estar em seu escritório, mas queria ver a menina chegar. Logo escutou um barulho de carro. Olhou pela janela, e Debra chegava de táxi. Aaron desceu as escadas rápido.

O empregado abriu a porta para ela, que estava com um cachecol branco e um vestido preto. Seus cabelos soltos pareciam tão leves.

Abby estava lá embaixo, e a empregada colocava na garota sua mochilinha. Seu vestido cor-de-rosa chamava atenção. Aaron sorriu ao vê-la parecendo uma pequena adulta.

— Bom dia, Senhorita Bennet — cumprimentou indo ao encontro da jovem.

— Bom dia, Senhor Carter. — Ela lhe dirigiu um olhar brilhante e intenso.

— Bem-vinda a minha casa. Aqui você terá um quarto, caso prefira ficar aqui. Poderá mudá-lo à sua maneira, mas antes de te mostrar tudo, quero lhe apresentar uma pessoa.

Ela assentiu, e foram em direção a Abby.

— Essa é a Abby, minha filha.

Abby era tímida e, como não estava acostumada a pessoas diferentes, encontrou refúgio nas pernas de seu pai. Debra deu um sorriso terno e se aproximou da pequena. Abaixou-se em frente a ela e disse:

— Olá, eu me chamo Debra Bennet, e se você deixar, serei sua nova amiga. — A morena então abriu os braços, e para a surpresa de Aaron, Abby a abraçou.