MELLORY — entre Deuses e Reis

Recrutamento parte 2


Os dias estavam passando bem rápido desde o incidente com Logan e sua família. O garoto se alistara no exército e era o mais novo recruta das tropas de Draken. Serena simpatizava com o rapaz, ele gostava da arte da guerra assim como ela e isso a enchia de orgulho. Apesar de os drakinianos amarem o sangue e a luta, não eram tão ligados a estratégias como os militares de Premin, culpa da personalidade de seus deuses, é claro. Mas, Logan desejava entender os campos de batalha e as artimanhas para evitar-se uma derrota.

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— Leia mais devagar! – Serena o interrompeu, brava. Já era a sétima vez que o garoto repetia a leitura do mesmo parágrafo. A Alfa de Premin apresentara o livro Os segredos da morte para que o menino findoranio começasse seus estudos sobre como lidar com perdas durante um conflito.

Logan assentiu, estava desesperado. A mulher forte a sua frente o fuzilava com os olhos.

Na guerra, não existem sobreviventes. Apenas vítimas. O mistério da vitória não é tirar vidas e sim, poupá-las. Em ambos os lados, lutam inocentes. Pais de família, filhos queridos, solteiros a procura de amadas, órfãos banidos e escravos humilhados. Não levantar a espada contra um destes não é um ato de covardia, mas de extrema coragem e honra. – Repetiu, questionando-se sobre a veracidade prática daquelas palavras.

— Muito melhor. – Serena comentou somente. Para ela, Logan tinha muito a aprender. Todavia, gostaria de não criar um monstro como ela e sim, um humano. Uma vez lhe contaram que professores deveriam apresentar à justiça, bondade e a paz a seus alunos e não, o sadismo. Um bom mestre ensina homens. Um maestro da dor leciona a psicopatas. – A jovem lembrou-se de um dos ensinamentos que Dalila lhe ditara uma vez, durante suas longas conversas no chá da tarde.

— Senhora? – Logan chamou a atenção da esposa de Miguel, que estava um tanto desconcentrada, perdida em seus próprios pensamentos longínquos. Os cabelos platinados do garoto foram cortados há pouco tempo de maneira curta e reta e seus olhos violeta brilhavam vivaz a espera de uma resposta de sua treinadora.

— Encerramos por hoje, pequeno. – A Alfa bagunçou seus cabelos e pediu que retornasse ao setor de treinamento físico, para que ele fosse instruído por Miguel a respeito de seus novos circuitos. Ela chamava Logan por este apelido carinhoso, realmente, adorava a companhia daquele garotinho curioso, embora este já tivesse quinze anos.

Serena pode ouvir um “Ufa...” discreto ser elucidado pelos lábios de Logan, mas fingiu não notar coisa alguma e o dispensou com um aceno com a cabeça. Após a saída do soldado, jogou-se em sua cadeira cansada. Estava desde cedo a conferir rotas para que o exército cumprisse suas missões. Mesmo acostumada com o trabalho, estar longe de seu antigo batalhão fazia-a receosa quanto ao que podia interferir ou não. Bem, Miguel lhe dera certa liberdade, contudo, ela podia sentir a preocupação do marido em seus olhos. Hatori exigira de seu irmão, tropas preparadas em pouco tempo. O Alfa maior tinha grandes planos para o futuro e os novos betas deveriam estar prontos até lá.

O escritório da Alfa de Premin ficava no espaço reservado para os treinos dos militares, ao contrário do de Miguel que se encontrava em sua residência. O chefe da FMR valorizava, realmente, sua pouca privacidade com muito empenho. Kalifas dividia o lugar com sua aliada. Desde que seu pai retornara para a floresta, decidira tornar-se um líder de confiança entre os ciganos. Seu debute como Rei dos Viajantes aconteceria em breve, já havia completado a idade necessária. Revirando alguns papéis, o homem observou a Serena:

— Pensei que gostasse de ação. Não entendo porque não está lá fora, auxiliando nos amistosos dos novos soldados.

A Alfa deu uma risadinha sarcástica.

— E gosto. Mas, não posso me dar ao luxo de batalhar com algum deles e acabar com a expectativa de vida do exército. Você sabe como armas na minha mão são um perigo. – Respondeu irônica.

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O cigano bufou. – A senhorita é realmente impossível.

— É claro. Formidavelmente, eu sou. – Serena completou levantando-se de sua cadeira de vidro polido. – Irei ver meu marido. Tome conta das coisas por aqui, retornarei só pela manhã.

— Como desejar, Vossa Majestade. – Kalifas fez uma reverência e tornou a se sentar.

— Pare de usar pronomes de tratamento comigo. Sabe que detesto. – Ela mandou séria.

— É por isso que o faço. – Brincou Kalifas. Ele e a Alfa eram melhores amigos, companheiros inseparáveis e além de tudo, confiavam nas decisões um do outro. Eram uma dupla notável. O príncipe peregrino devia obediência e fidelidade a Serena, como parte do acordo de aliança entre seus povos.

A Alfa suspirou, entregando os pontos. – Adeus, Kalifas.

*

— Serena! – Miguel gritou ao ver a mulher se aproximando. Will estava aoo seu lado, acompanhando-a até o encontro do Alfa. Eles conversavam concentrados a respeito de algo e a Ômega nem ouvira o chamado de seu esposo. Obrigando-o a ir até ela.

— Não me ouviu ou está simplesmente me ignorando? Creio que esteja envergonhada a respeito daquela noite... – Serena, corando, tapou com a mão a boca falante e insuportável de Miguel. Advertido com o olhar da Alfa, ele se calou.

— Acho que vocês precisam conversar, a sós. Estou a me retirar. - O beta disse, intrometendo-se. Era sempre crítico e adorava provocar seu melhor amigo, Miguel. O Alfa dirigiu-lhe uma piscadela e enlaçando o braço de Serena no seu, afastou-se do colega.

— Realmente, Miguel. Isso é necessário? – A mulher reclamou enquanto caminhavam ao redor dos recrutas. Eles não eram acostumados a ver a Alfa e seu esposo tão próximos e por isso, lançavam olhares questionadores em direção ao casal.

— Claro que sim. Você deveria sentir-se honrada por ter um marido incrível e bonitão como eu. Pode ostentar-me o quanto quiser, não me importo nem um pouco. – O Alfa jamais abria mão de se achar.

Serena cravou as unhas no braço do Alfa, claramente contrariada. Ele sorriu em resposta.

— Isso terá volta. – Avisou a mulher, nervosa. Arquitetando seus planos contra Miguel.

— Aguardo, ansiosamente, sua vingança, madame. – O Alfa respondeu com pomba desnecessária.

— Estou cogitando o divórcio. – Serena provocou. Percebendo a inquietação do Alfa, sorriu satisfeita.

— Como você é engraçada, querida. Seu humor me inspira. – Disse irônico. – Mudemos de assunto. Como vai sua pesquisa?

— No ritmo ideal. Decorei quase todas as rotas de Draken e posso aperfeiçoá-las com meus conhecimentos sobre minas e a floresta. Além disso, duas mentes pensando são melhores do que uma. Kalifas conhece caminhos como ninguém, será de grande auxílio a minha aliança com os ciganos. – A Alfa respondeu, mais calma e ponderada. Observava a sequência de socos que alguns betas mais velhos efetuavam numa das áreas específicas de treinamento. O espaço era dividido em setores. Na verdade, tudo construído por drakinianos era planejado e matematicamente, seccionado. Bem diferente das formas exóticas e austeras do reino do ouro, Premin.

— Não gosto de sua proximidade com este rapaz. Sinto-me ameaçado. – Brincou Miguel, voltando o olhar para os olhos decididos de Serena.

— Adoro que se sinta. Talvez aumente seu amor por mim. – A Alfa riu, deitando por um instante no ombro do Alfa.

— Se toda vez que citá-lo, você ficar mais carinhosa como agora, vou fazer questão de incluir o nome Kalifas como favorito em meu vocabulário. – Miguel comentou, amando a proximidade dele e Serena.

A Alfa concordou com um simples aceno de cabeça e pediu, cansada.

— Podemos ir para casa?

— É para já, minha senhora. – Miguel assobiou, chamando por Pandora. – Uma viagem a cavalo lhe parece confortável? – Questionou, vendo o animal se aproximar.

— É uma égua, querido. Acerte o gênero e depois conversaremos a respeito. – Serena criticou por fim.

Eu vou ficar louco. — Miguel pensou em meio a um suspiro.