Ascensão dos Mortos

Capítulo 12


— O que faremos com eles? — perguntou o rapaz, falando baixo o suficiente para que apenas seu parceiro escutasse.

Dois homens cochichavam no corredor. Ambos eram grandalhões e continham traços parecidos, porém a diferença de idade era gritante. O mais novo possuía em torno dos vinte anos e ainda não possuía muita experiência. Já o mais velho beirava os cinquenta, possuía mais experiência e era bem menos paciente com os forasteiros que invadiam sua cidade.

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— Matamos o cara e levamos as mulheres — instruiu o mais velho sem escrúpulos.

— Vamos matar o rapaz? — perguntou o jovem assustado. Apesar de já ter feito coisas ruins para sobreviver, não tinha sangue-frio o suficiente para matar aquele homem enquanto dormia.

— Vamos apenas o livrar dessa vidinha de merda.

Nicolas escutou a conversa e percebeu que eles se referiam a ele. Estava se controlando, não poderia tomar atitudes erradas. Sem fazer barulho, procurou por seu revólver em cima da cômoda. Obviamente, ele não estava mais lá. O desespero tomou conta de si, precisava fazer algo, não deixaria que aqueles homens levassem sua sobrinha e as outras garotas. Então, lembrou-se que havia deixado um facão na gaveta. Se conseguisse pegá-lo, talvez tivesse alguma chance. Com cuidado levantou-se, mas antes ele alcançasse a gaveta, foi interrompido por um dos homens.

— Ei, parado aí — ordenou. — Mais um passo e eu atiro.

Não poderia morrer, não antes de matar aqueles rapazes. Se morresse, as mulheres ficariam em perigo. Já falhou tentando proteger seu sobrinho, não poderia falhar novamente. Ele sabia que voltar a Piracaia era uma péssima ideia.

Elevou os braços, com as mãos abertas em sinal de rendição. Tentaria enrolá-los com um bom discurso e ganhar tempo para pensar em algo, mas foi surpreendido pelo barulho de algo quebrando. O homem que segurava a arma pendeu e quase caiu, mas a batida não foi forte o suficiente para fazê-lo desmaiar. Apenas para despedaçar um dos vasos da casa.

— Temos uma garotinha corajosa — disse o homem agarrando o braço da garota, com um sorriso debochado.

Clarisse debateu-se, tentando inutilmente se soltar. O homem ria do esforço da garota, enquanto apertava seu punho esquerdo que ainda não havia se recuperado bem da “cirurgia” improvisada feita por Emily.

— Solte ela!

Nicolas tentou não parecer autoritário, mas aquilo soou como uma ordem. Aqueles homens odiavam ordens! O homem continuou a rir. Nicolas se controlou, respirando fundo, estava prestes a fazer uma loucura. Porém, antes que ele atacasse aquele velho e travasse uma luta corpo a corpo com ele, o homem colocou a arma na cabeça de sua sobrinha.

— Não pretendemos machucar a garota, mas é melhor não bancar o herói.

Nicolas não poderia arriscar a vida de sua sobrinha. Controlou-se. O homem algemou o braço direito de Clarisse ao pé da cama.

— Tem mais três mulheres no quarto, acha que dá conta? — perguntou ao jovem, que apenas consentiu e se retirou.

O homem mais velho caminhou até Nicolas. Possuíam quase a mesma altura, porém o mais velho era mais experiente em lutas corpo a corpo. Além disso, ele tinha uma arma. Nicolas não se mostrou intimidado, o encarou com raiva.

— Acho que até poderíamos ser bons companheiros, mas você não aceitaria minhas práticas. É, uma pena! — lamentou-se falsamente, com um sorriso torto nos lábios.

Nicolas aproveitou aquele momento de distração e tentou roubar a arma que o homem apontava para a sua cabeça. Porém, o homem foi mais ágil. Acertou a cabeça de Nicolas com o cabo da pistola. A força da pancada o fez esvaecer. O homem agachou-se e o prendeu com uma algema à pia do banheiro, como prevenção também amarrou seus pés.

— Bons sonhos, Cinderela — zombou.

Foi até o quarto das garotas e seu amigo terminava de amarrar Ester. As mulheres estavam todas presas, porém Emily estava também amordaçada. Havia tentado mordê-lo duas vezes, na tentativa de arrancar alguns de seus dedos.

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— Temos uma cadela aqui — disse o jovem ao seu amigo, rindo. — Essa garota tentou me morder duas vezes.

— Sabe como cadelas devem ser tratadas, não é? — perguntou rindo com certa malícia.

— Vou avisar o chefe.

O jovem pegou seu walk-talk e mandou uma mensagem para o líder de seu grupo, oferecendo algumas informações sobre o grupo que haviam encontrado e algumas outras informações de localização. Desligou, em seguida.

— O chefe disse que não é pra matar ninguém enquanto ele não chega — explicou o rapaz.

— Poderíamos nos divertir um pouco, enquanto ele não chega — propôs o mais velho, com segundas intenções. — Temos duas loirinhas.

Emily sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Nem os zumbis foram capazes de fazer seu estômago embrulhar tanto como aqueles dois homens. Deveria ter seguido o conselho de Nicolas, voltar a Piracaia era uma péssima ideia. Se eles fizessem algo a Clarisse ou matassem Nicolas, como haviam falado, ela nunca se desculparia. Estava desesperada!

Vendo Emily ofegante, Ester teve uma ideia arriscada, porém que poderia salvar suas vidas.

— Ela precisa de ajuda — murmurou se referindo à jovem. — Ela não está conseguindo respirar, ela tem asma.

Emily nunca imaginou que Ester fosse ajudá-la desta forma. Ainda não havia entendido o plano de Ester, mas sabia que com isso ganharia tempo, portanto fingiu estar ainda mais ofegante.

— Não me importo com sua amiga e suas crises de asma — respondeu o mais velho, indiferente.

— Ela vai morrer! — bradou Ester.

— Talvez devêssemos ajudá-la. Se ela morrer, o chefe pode… — opinou o jovem.

— Onde caralhos está essa bombinha? — perguntou irritado com a situação.

— Está na lavanderia, no terceiro andar — informou Ester. — Ela está morrendo! Por favor…

Ester sabia mentir como ninguém e o rapaz acreditou facilmente no teatro das duas. Não estava disposto a ajudar, mas sabia que seu chefe não ficaria nada feliz em saber de sua atitude. Irritado com a situação, o homem mais velho arrastou Ester pela escadaria. Chegou ao terceiro andar e observou a sua volta, procurando pela lavanderia.

— Onde está? — perguntou sem paciência.

— Naquele cestinho — indicou Ester, olhando para a varanda.

A grade de proteção provavelmente fora feita apenas para crianças não caírem, pois era bem baixa. O homem caminhou até a varanda e ficou nas pontas dos pés para conseguir pegar o cestinho que ficava no alto de uma prateleira. Em um momento de distração, Ester acertou-lhe um chute na barriga com força, que fez com que ele desequilibrasse e despencasse do terceiro andar. Se aquilo não fosse o suficiente para que ele morresse, seria o suficiente para que ele desmaiasse e as deixasse em paz por um bom tempo.

Seu companheiro escutou o barulho, preocupado que ele houvesse feito alguma besteira e correu até o andar de cima. Ester tentava livrar suas mãos, mas o rapaz chegou antes que ela planejasse algo.

— O que você fez?

O jovem se aproximou e viu seu colega caído do terceiro andar. Ele não podia acreditar que aquela senhora aparentemente amigável havia empurrado seu companheiro daquela altura. Enquanto seu cérebro ainda recebia a informação, Ester aproveitou para correr. Desceu as escadas, empurrando a porta em seguida. O rapaz saiu disparado atrás dela e por ser mais rápido, conseguiu alcançá-la em poucos minutos.

O rapaz estava transtornado. Suas mãos estavam trêmulas, mas seguravam a arma apontada para Ester.

— Por favor… — suplicou a ex-detenta. — Não era minha intenção. Foi um acidente.

Ester tentava justificar-se, mas o rapaz não se importava com suas súplicas. Então, ele apontou a arma para Emily. Se ela havia matado seu amigo para proteger a garota, era porque se importava com ela. Queria atingi-la justamente naquele ponto.

Todas ficaram atônitas. Nancy, que ainda não havia se manifestado, tentou convencê-lo a não fazer isso, mas o rapaz não se importou com suas súplicas. Ele destravou a arma e preparou-se para atirar. Emily fechou os olhos, esperando pelo pior.

De repente a porta se abriu bruscamente. As três mulheres ficaram surpresas. Emily imaginou que tudo aquilo fosse um sonho, mas era bem real. Com uma arma em mãos, ali estava Luísa.