Hogsmeade

O terceiro ano havia começado com uma vitória histórica da Grifinória contra a Sonserina no primeiro jogo do semestre. James havia encontrado o pomo de ouro tão rápido que o outro time não conseguiu marcar nenhum ponto.

A festa organizada pelos marotos no salão comunal estava digna de final do campeonato, mal podiam imaginar o que aconteceria quando a Grifinória recebessem a Taça das Casas no fim do ano. O salão estava enfeitado com balões e bandeirinhas com as vermelhas e douradas, todos os alunos bebiam cerveja amanteigada comemorando como se tivesse sido a vitória do ano. Acompanhados de Alice, Frank, Lily, Dorcas e Marlene, os marotos brindavam a grande vitória.

— Vocês foram incríveis garotos! — uma grifana abraçou James e Sirius ao mesmo tempo, quase os fazendo derrubar a cerveja amanteigada. — Quem sabe um de vocês gostariam comemorar comigo quando formos para Hogsmeade...

— Ah, Chang... Nós fazemos o melhor que podemos. — James falou, com um tom até exagerado de humildade.

— E com certeza vamos comemorar com você, eu devo a você uma cerveja amanteigada por torcer tanto no jogo! — Sirius piscou para a garota e serviu sua caneca com a bebida.

— Vocês são impossíveis. — Lily revirou os olhos para a cena. Ela era amiga dos dois, mas achava que a fama estava subindo a cabeça deles.

Para Sirius, o ano mal tinha começado e já estava sendo maravilhoso. No quadribol, aquela vitória incrível. Nas aulas, ele até ganhava pontos para a Grifinória, o que era um resultado dos estudos em feitiços para aprimorar o mapa do maroto. Já no quesito garotas, Black arrasava o coração das garotas e já haviam milhares de pretendentes para acompanhá-lo em Hogsmeade.

— Depois de tantos convites, você não vai querer mais ir comigo não é? — Marlene sorria desconfiada. Os dois eram de famílias puro sangue e já se conheciam antes de irem à Hogwarts, por isso tinham uma amizade próxima. Além disso, Marlene também era bem popular por suas ótimas brincadeiras e por sua beleza, os cabelos ondulados eram pretos e os olhos eram cinza-azulados, ela tinha um sorriso diferente de todos os outros e era uma das meninas mais extrovertidas e atraentes que Sirius já teve o prazer de conhecer.

— Eu vou com você, vou deixar as outras ainda mais enlouquecidas recusando os convites... — Sirius passou o braço sob o ombro da amiga, que havia se sentado ao lado dele num dos sofás da sala comunal.

— Vou levar isso como um elogio, Black! — Ela socou de leve o garoto.

— Vocês não eram só amigos? Acho que estão escondendo alguma coisa de nós hein... — James riu da conversa. — Já que estamos falando nisso, Lily, quer ir comigo? — O garoto deu um olhar esperançoso à ruiva.

— Acho que tem alguém apaixonadinho... — Dorcas riu da reação de James ao esperar uma resposta.

— Acho que não é uma boa ideia, Potter. — Lily estava mais vermelha que seus cabelos e, para disfarçar, disse que ia procurar algo para comer. Ela não queria aceitar. Potter era muito popular e tantas garotas queriam sair com ele, por que ela deveria aceitar? Havia muitas meninas que adorariam passar o dia todo vendo ele incomodar Severus sem reclamar. Se ela aceitasse, ia ter que aguentá-lo se mostrando e reclamando do Snape, não valeria o risco aceitar e estragar o primeiro passeio a Hogsmeade.

Quando estava próxima a uma mesinha lotada de pãezinhos com as cores da Grifinória, uma voz a despertou de seus pensamentos.

— Oi Evans... — tratava-se de ruivo alto, que sorria abertamente para a garota — Está tudo bem?

— Ah, só estava um pouco distraída... Prewett não é? — Lily pegou um pãozinho para disfarçar sua confusão. Ela não lembrava de já ter conversado com ele, mas tinha certeza de que já tinha o visto em algumas aulas.

— Pode me chamar de Fabian. Sabe, eu estava pensando se você não iria comigo a Hogsmeade... — Via-se claramente que o garoto estava nervoso, ele olhava para os lados e arrumava as vestes enquanto falava, dando ao pedido um tom ainda mais meigo. Evans mal conhecia o rapaz, mas se sua irmã era monitora da Grifinória e ele não agia como James, ele não poderia ser tão ruim.

— Claro, então nos encontramos no sábado durante café da manhã?

— Está marcado! — Pelo tom de voz do garoto, ele parecia ter recebido a melhor notícia do mundo, até mesmo seus olhos pareciam sorrir para Lily. Eles conversaram um pouco, mas quando a festa já estava mais vazia Lily viu o olhar de James pairando sobre eles e resolveu que estava na hora de ir para o dormitório.

Parecia que alguém havia conjurado o feitiço Petrificus Totalus no James quando ele viu Lily conversando com aquele rapaz. "Quem ele pensa que é?", não conseguia parar de pensar.

— Ei James, você vai acabar explodindo o Prewett com o olhar, para com isso! — Remus ria da cara emburrada do amigo.

— Quem ele pensa que é? Eu chamei ela primeiro!

— Com tantas meninas loucas para sair com você, eu ainda não sei por que você resolveu chamar justo a esquentadinha ali... — Sirius apontou para Evans, que ria de algo que o novo amigo tinha dito.

— E ela acabou de dizer que não era uma boa ideia ir acompanhada a Hogsmeade... — Potter se queixava.

— Ela disse que não era uma boa ideia ir com você, meu caro... Acho que não tem nenhum problema em ir com o ruivo ali. — Sirius também se divertia da chateação do Potter. Lily começou a andar na direção do sofá em que os amigos estavam, mas desviou deles sem dizer nenhuma palavra e foi para seu dormitório, o que fez James reclamar ainda mais e Sirius e Remus morrerem de rir das queixas.

Assim que Lily cruzou a porta do quarto, Marlene e Dorcas levantaram de suas camas e largaram seja lá o que estivessem fazendo para saber tudo o que tinha acontecido.

— Espero que você tenha uma ótima explicação para ter recusado o James! — Dorcas parecia estar bem chocada.

— Eu só não achei...

— Um dos garotos mais cobiçados da escola te chama para sair e você "simplesmente não acha que é uma boa ideia"? — Marlene a interrompeu, imitando a voz fina de Lily.

— É o Potter, agora que ele está jogando quadribol ele acha que é um astro! — Ela justificou, indignada. — Além disso, ele está irritando cada vez mais o Snape...

— Eu ainda não sei por que você anda com ele, Lily... Aquele garoto é bem esquisito e tem amigos bem piores que os marotos. — Alice se aproximou, sentando na cama de Lily com as outras amigas.

— Ele é diferente dos outros sonserinos, só é um pouquinho estranho...

— Tá, não vamos falar dele. O que realmente importa é... — Dorcas bateu na cama imitando o rufar dos tambores — O que você e o Prewett estavam falando? Ele te chamou para sair, não foi?

Nesse momento, o rosto de Lily mudou do tom habitual para vermelho num piscar de olhos, denunciando a garota antes mesmo dela responder a pergunta.

— Fabian me chamou para acompanhar ele em Hogsmeade. — Lily abraçou um travesseiro, tentando esconder o sorriso. Suas amigas vibraram em alegria e ficaram ainda mais ansiosas para a semana passar.

O sábado amanheceu frio, mas isso não impediu que todos os terceiranistas acordassem cedo, animados para a primeira visita ao povoado de Hogsmeade. Depois do café da manhã, todos seguiram até a saída do castelo, onde o zelador Filch verificava a lista de bruxos com autorização para ir ao vilarejo. Fabian encontrou Lily e eles seguiram com os outros amigos para Hogsmeade, diferente de Marlene e Sirius, que se perderam dos amigos propositalmente.

— E aí, o que vamos fazer? — Marlene perguntou, andando ao lado de Sirius.

— Três vassouras e depois uma volta? — Sirius propôs com um olhar maroto e passou o braço pelos ombros da garota.

— Perfeito!

Assim que chegaram no pub, pediram duas cervejas amanteigadas e sentaram num canto do bar. Os dois estavam próximos, já haviam conversado sobre diversos assuntos enquanto esvaziavam suas canecas. Finalmente, Sirius fitou os olhos da garota, que com a luz fraca do ambiente, estavam mais cinzas que azuis. Ela atreveu-se acariciar os longos cachos que caiam sobre o rosto de Black.

— Eu não acho que a gente devia fazer isso... — Suas ações traiam sua fala e ela continuava brincando com as madeixas negras dele.

— Não parece que você está convencida do que fala — Sirius posou as mãos na cintura da garota, que não protestou.

— Nós somos amigos e isso pode... — Sirius foi se aproximando do rosto de Marlene, impedindo-a de continuar falando com um beijo. Eles não sairiam do Três Vassouras tão cedo.

Fora do pub, Lily tentava manter o encontro interessante. Talvez Prewett estivesse apenas nervoso, mas ele não conseguia manter a conversa num assunto que não fosse quadribol. Assim que a garota avistou Dorcas, Frank e Alice entrando na Honeydukes, disse que já voltava e foi correndo até eles.

— Graças a Merlin vocês apareceram! — Lily entrou na loja cheia de alunos experimentando os mais diversos tipos de doces.

— Lily, o que você está fazendo aqui? — Dorcas estranhou ao ver a amiga.

— Vocês precisam me ajudar, o encontro não está sendo exatamente interessante... Eu não sei nada de quadribol! — A ruiva falava rápido, pedindo uma solução.

— A gente só ia comprar alguns doces e voltar para o castelo, por que não voltam com a gente? — Frank sugeriu, rindo um pouco da garota.

Fabian não se opôs a voltar acompanhado dos outros, na presença de Frank, Alice e Dorcas, o garoto pareceu mais a vontade e até Lily achou mais divertido. Ao chegarem no castelo, a ruiva despediu-se dos amigos e de Fabian e foi para a enfermaria, ver como Remus estava.

Enquanto todos os amigos curtiam um passeio no vilarejo, Remus estava em Hogwarts se recuperando de uma longa e dolorosa noite. Ele já havia tomado suas poções e não parecia tão mal quando Lily chegou.

— Como você está? — Lily sentou-se ao lado dele.

— Melhor... Eu estou tão cansado disso, queria poder sair com vocês hoje! — Remus fitava o chão, evitando os olhos verdes brilhantes que o observavam.

— Eu sei, todos perguntaram de você. Os meninos ficam bem preocupados quando você some assim. Você precisa contar a eles... — Ela colocou a mão no ombro de Lupin, o dando apoio.

— Talvez você esteja certa... Vai ser bem melhor não ter que mentir. — Ele quase parecia estar criando coragem. — Vou falar com eles.

Lily ficou tão feliz em ver o amigo enfrentando seu medo que esqueceu que ele ainda estava fraco demais para um abraço apertado e, por mais que seus arranhões ainda ardessem graças a transformação, Lupin sentiu-se bem naquele abraço. Depois que contasse aos marotos, tudo seria mais fácil e, conhecendo seus amigos, ele sabia que fariam de tudo para melhorar aquela situação.