Green Eyes - Jily

O Casório


O mês de janeiro havia voado e eu nem tinha visto. Passei todo o período dentro do meu quarto tocando, mais uma vez a música salvando vidas. O violão que meu pai me dera no natal era melhor ainda do que eu tinha, decidi batizá-lo semana retrasada de Chudley, obviamente em homenagem ao meu time.

Tinha progredido muito no que se refere a minha afinação nas cantorias, até tenho deixado Remus e Sirius me filmarem para assistir minhas performances depois – e tenho de admitir que eu estava realmente me superando cada vez mais. Música era a minha praia, então não era tão difícil aperfeiçoar minhas habilidades.

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Apesar de totalmente imerso e focado na música, a cena que se passara há pouco mais de um mês atrás não me saía da cabeça. Tinha falado poucas e boas para Lily e nada tinha acontecido desde então. Talvez fosse a hora de eu desistir dela de uma vez por todas, quer dizer, é o que o universo sempre veio tentando me dizer, não era? Se ela realmente tivesse com alguma outra intenção com relação a mim, ela com certeza já teria feito alguma a respeito, sendo Lily determinada do jeito que é.

Bem, não importava mais. Só iria falar com ela no dia do casamento, que a propósito não estava nem um pouco longe de acontecer, e depois tornaria a viver a minha vida normalmente tentando superar o amor platônico por minha vizinha ruiva. Isso bem que me renderia boas composições, eu poderia fazer muito sucesso e...

Foi então que a ideia apareceu.

Eu fissurado em música como sou poderia me dar muito bem seguindo uma carreira musical. É sabido que subir na vida como cantor é uma das coisas mais difíceis em todo o mercado, mas por que não arriscar? E pelo jeito que meus pais me criaram, não seria problema para eles me apoiarem nesse processo.

Estiquei-me na cama e alcancei o meu celular que se localizava no criado mudo, entrei no WhatsApp e, ao correr os olhos por ali, notei a conversa minha e de Lily. Ela tinha visualizado o meu “obrigado” e não tinha dito mais nada. Apesar de ela ter me respondido pessoalmente naquele dia que a encontrei na companhia de Ranhoso no hall do sétimo andar.

Meneei a cabeça.

Está pensando nela de novo, Pontas. Esqueça isso! falei sozinho e cliquei no grupo que tinha com os meus amigos.

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Os Marotos

[11/02/17 – 12:17]: Galera, tive uma ideia brilhante agora.

[11/02/17 – 12:40] Almofadinhas: Fala, Pontinhas.

[11/02/17 – 12:41]: Com essa demora aí até desanimei a contar... ¬¬

[11/02/17 – 12:41] Aluado: Cheguei! Pode falar, James.

[11/02/17 – 12:42] Rabicho: Também estou aqui.

[11/02/17 – 12:47] Almofadinhas: Quer parar de idiotice e abrir essa boca?

[11/02/17 – 12:48]: Bem, se vocês viessem aqui seria mais fácil pra eu contar tudo direito.

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Pedi comida por delivery e passei quase uma hora falando dos meus motivos e anseios para querer me tornar um músico. Meus amigos inicialmente acharam que seria difícil demais, mas acabaram aceitando e jurando total apoio a mim, na qual eu me senti imensamente grato.

– Ótimo, pessoal. Obrigado mesmo, significa muito! – falei enquanto limpava a bagunça da sala com os restos de comida que foram deixados cair.

– Credo, desde quando você virou o James meloso? Pensei que ficar longe da Lily amenizaria o efeito, mas parece que não... – Six comentou e eu o fuzilei com os olhos.

– Seria ótimo se evitasse falar esse nome na minha frente – falei bufando entrementes lavava minhas mãos na pia da cozinha.

– Que nome? Lily? – Remus disse e sorriu malicioso.

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– Caramba... Até você, Aluado? – queixei-me estressado.

– Foi mal, foi mal... Mas isso foi só o troco por você ter tomado o celular da minha mão e ler minhas conversas em voz alta. Isso não se faz, cara... – ele disse e eu suspirei.

– Tudo bem, eu mereci – gargalhei, murchando o meu sorriso milésimos depois.

– Qual é, Pontas! Não dá pra ficar nessa vibe pra sempre, parceiro. A vida que segue, não tem que ficar dependendo de mulher nenhuma não... – Sirius reclamou e eu dei de ombros. Afinal, o que eu ia fazer?

– Quer saber? Por que a gente não passa na Dedos de Mel pra comprar uns doces pra ver se o James espairece? – arriscou Rabicho, aproveitando o momento.

– Pra mim parece ótimo – falei pegando meu celular em cima do balcão da cozinha e saindo na frente de todo mundo, tentando evitar com todas as minhas forças que meu olhar pousasse sobre a porta de número 5972.

Entrei logo no elevador e esperei que os marotos viessem comigo. Quando eu menos esperava, adivinha o que acontece? Isso mesmo, a porta 5972 se abre e a mulher que eu tentei passar um mês sem pensar apareceu do lado de fora, me encarando com uma expressão indecifrável. Eu, me mostrando o maravilhoso James Potter que sou, apertei o botão T e deixei que as portas do elevador quebrassem a nossa conexão visual.

Meus amigos me olharam admirados.

– Gostei de ver, James. Está se saindo ótimo. Não tem quem diga que ela ainda é o motivo da sua insônia – caçoou e eu relevei, contudo me sentindo orgulhoso de mim mesmo pelo feito.

Tinha que mostrar a Evans que a minha vida não se define a ela.

Acompanhei meus amigos até a Dedos de Mel e comprei uma porrada de coisas, o que incluía sapos de chocolate, feijõezinhos de todos os sabores, varinhas de alcaçuz e mais um saco cheio de guloseimas. Se minha mãe visse isso ela com certeza apostaria que eu morreria de diabetes no final do dia, digo, é óbvio, não é?

Deixei a loja com a boca cheia de varinhas de alcaçuz, enquanto Remus contava sobre a parceria que ele tinha iniciado com Tonks no mês passado para nós, e Peter assaltava a minha sacola.

– Ela e eu agora estamos postando em turnos, eu no período da noite e ela no da manhã, fica bem organizado. Estou feliz que agora eu tenha alguém para me ajudar com o Profeta Diário e ainda mais... Servir de inspiração – Remus tinha um brilho nos olhos que eu sabia muito bem onde toda essa história iria dar.

– Você não é muito velho pra Tonks não, Aluado? – Peter disse com a boca toda cheia de açúcar.

Meu amigo corou como um morango e abriu a boca diversas vezes sem conseguir falar nada.

– Não acho que idade seja um problema... – falei tomando a frente da conversa, atraindo pra mim os olhares dos três. – Que foi? Só estou dizendo... Já vi gente namorar com 10 anos de diferença.

– Verdade, mano. Você já passou por essa experiência, tinha esquecido. Só que no seu caso foi uns 30 anos de diferença, não é? – Sirius intrometeu-se, lembrando-me de Izzy. Revirei os olhos.

– Você sabe o que eu quis dizer... – conclui e achei melhor ficar quieto na minha, antes que o Almofada começasse a falar mais merda do que já estava.

– Bem... Falando em garotas... – Sirius começou. – Holly foi chamada para uma entrevista ontem e ela parecia bem confiante. Acho que em breve ela estará trabalhando num escritório aqui perto.

– Fico feliz por ela – Remus sorriu abertamente enquanto caminhava.

Estávamos quase chegando ao Três Vassouras para tomarmos alguma coisa quando meu celular toca. Era Frank. Franzi o cenho. O que será que ele queria?

Deslizei o meu dedo pela tela e atendi a ligação.

– Frank?

Hey, Pontas! Sou eu mesmo — ele respondeu animado.

– E aí, cara, tá tudo bem? – perguntei começando a ficar preocupado.

Tudo ótimo. Então, vocês estão chegando? Pedi uma pizza aqui pra gente e...

Droga.

Tinha me esquecido completamente que hoje era o último dia de ensaio antes do casamento. Estava tudo saindo como o planejado, tirando o Peter que era o mais lerdo de todos os quatro e sempre conseguia delay nos movimentos, o que estragava a sincronia. Coloquei a mão por cima do celular, de modo que o microfone fosse tapado e encarei os marotos.

– Tem ensaio hoje! – sussurrei esperando que eles entendessem por leitura labial, e agradeci internamente por assim terem feito.

Os marotos imediatamente mudaram de rota e pararam em uma esquina. Sirius se encarregou de chamar um Uber.

– Ah, sim... Claro, claro! Estaremos aí em poucos minutos. Até mais... – falei e desliguei a chamada. – Cara! Eu estou me sentindo muito mal agora... Esqueci completamente do ensaio!

– E eu que sempre tenho tudo marcado... Me sinto inútil – Remus disse meneando a cabeça. Dei-lhe uns tapinhas nas costas.

– Não se culpe, Aluado... Não foi só você que se esqueceu.

Esperamos mais uns cinco minutos – que provavelmente teriam sido muito mais bem gastos indo para a casa de Longbottom a pé – até que o cara do Uber chegasse. Sirius foi no banco da frente e eu e os outros dois garotos fomos atrás, nos contentando com os bancos desconfortáveis, visto que dentro de instantes já estaríamos no nosso destino.

Assim que descemos do carro, Sirius pagou o motorista com uma nota de vinte libras e nos apressamos a chegar até a porta, tomei a frente para tocar a campainha. Frank não demorou a atender, embora tivesse um semblante um pouco abatido, provavelmente por saber que nós tínhamos nos esquecido do combinado.

Ensaiamos por uma tarde inteira, até às sete da noite. Finalmente a coreografia tinha sido sincronizada e com certeza faríamos bonito no dia do casamento que, a propósito, estava a uma semana de acontecer. Peter finalmente tinha caído na real e conseguira acompanhar-nos nos passos. Bem, a coreografia era realmente difícil, mas já tínhamos repassado milhares de vezes.

Logo depois de comermos alguma coisa e repassarmos a coreografia mais uma última vez, decidimos jogar uma partida de basquete no mesmo estádio que fomos há meses atrás, onde nos encontramos com os garotos. Suspirei me lembrando de Harry, em breve faria uma visita a ele no hospital.

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Fomos no carro de Frank e ao chegarmos lá, montamos times de dois, visto que Remus preferira ficar sentado para não bagunçar a quantidade equilibrada de cada time.

– Boa, Longbottom! – gritei para Frank ao vê-lo saltar e acertar a bola no aro mesmo com o visível esforço vindo de Sirius para que ele fizesse o contrário.

– Sabe como é, Pontas... – ele falou convencido e bateu em minha mão.

– Se o Aluado estivesse jogando no lugar desse ruim do Rabicho, talvez as coisas estivessem mais simples pro meu lado – Sirius reclamou. Vi que aquilo era só mais uma desculpa para não admitir que estava perdendo para mim.

– Verdade, Aluado? – perguntei a Aluado que dera uma risada alta. Franzi o cenho e encarei brevemente os garotos. Remus estava rindo sozinho enquanto mexia em seu iPhone.

Francamente... Quando não era no iPad era no iPhone. Tonks estava levando um de nossos soldados.

Ele pareceu embaraçado ao perceber que todos o encaravam pelo simples motivo de não responder aos nossos chamados e começar a rir do nada. Aluado coçou a cabeça sentindo-se totalmente envergonhado e guardou o celular no bolso.

– Ah... O que vocês diziam?

– Deixa pra lá... – Sirius revirou os olhos.

– O que foi? Você pode ter namorada e eu não? – Aluado se defendeu, arrependendo-se no instante seguinte, sabendo que seria zoado pelo resto do dia, ou talvez até da semana.

– Ah! Então quer dizer que você e Tonks estão namorando mesmo, huh? – Peter concluiu com um sorriso malicioso.

– Eu não namoro a Holly... Ela é só... – Sirius pigarreou. – Estamos só saindo.

– Ah, cara! Não acha que já tinha que ter pedido ela em namoro? Vocês sabem melhor do que ninguém que ficam bem juntos... – aconselhei-o e suspirei, nem me dando oportunidade de zoar a cara do Remus, temendo que num futuro próximo ele fosse querer se vingar, o que certamente ele o faria.

– Ah, sei lá, Pontas. Não sei se eu estou pronto pra assumir relacionamento sério com Holly. Sabe que sou Sirius Black, vulgo cachorro e pode ser complicado... – ele comentava com um sorriso maroto no rosto, mas parou de súbito, desejando verdadeiramente que morresse ali mesmo, pelo menos eu em seu lugar iria querer que isso acontecesse.

Holly e o restante das garotas tinham acabado de chegar ao ginásio. Pareciam dispostas a realizar o último ensaio antes do casamento, já que Alice segurava uma grande caixa de som nos braços. Lily estava lá também – essa poderia ser a razão pela qual nos encontramos no hall do nosso prédio algumas horas atrás –, segurava uma pasta, que pelo seu formato pareceu ser do seu violoncelo.

Ao ver que a parceira escutara tudo o que ele acabara de dizer, Sirius pareceu entalar em suas próprias palavras, nada que ele tentasse falar seria, de certo modo, compreensível.

– Não estamos namorando... Ótimo! – ela comentou assentindo com a cabeça enquanto comprimia os lábios.

Hall estava lacrimosa quando Almofadinhas fez menção de se aproximar dela.

Não. Chegue. Mais. Perto — advertiu-o segurando as lágrimas enquanto fuzilava-o com os olhos. As amigas passaram um olhar de desaprovação não só para Black, mas para o restante dos garotos e se retiraram do lugar.

Encarei Sirius e logo depois passei a mão pelo rosto, sinceramente não tendo a menor ideia do que dizer para consolá-lo. Ele sabia que tinha feito besteira, agora ele teria de se virar para consertar, assim como fiz nas centenas de vezes que acabei errando.

– Estou vendo que essa festa vai ter um clima maravilhoso entre os padrinhos – Peter comentou rolando os olhos.

– Calado, Pettigrew! – Sirius rosnou.

Se quiser saber se Sirius Black está com raiva de alguém é só esperar ele te chamar pelo seu sobrenome. Se Rabicho continuasse o importunando, certamente ele estaria morto até o final do dia.

Remus tentou ir atrás de Tonks, mas quando ele chegou do lado de fora, ela já tinha sumido, levando suas amigas junto.

Todos nós decepcionados, despedimo-nos e fomos cada um para sua casa, estávamos confusos demais para ir a qualquer outro lugar.

***

A semana se passou mais lenta do que qualquer outra da minha vida. Minha rotina resumia-se em: acordar, comer, tocar e dormir – tirando algumas vezes que eu ia dormir assistindo Prison Break, que era a minha série preferida –, ou seja, muito monótona.

A sexta-feira havia chegado e estávamos a um dia antes do casamento, portanto, era hora de irmos buscar os trajes na Madame Malkin. O tempo estava um pouco frio do lado de fora, ainda mais que já era noite. Vesti um sobretudo que guardava em meu armário há séculos e saí de casa andando, não tinha combinado de me encontrar com ninguém na loja, então estava mais tranquilo quanto ao tempo que eu demoraria para chegar lá.

Foram precisos apenas vinte e cinco minutos na minha caminhada morta para chegar ao meu destino. Adentrei o ambiente climatizado e deixei o meu sobretudo no cabideiro antigo perto a porta, que fazia um sininho tocar quando alguém a abria.

A senhora, dona da loja, estava absorta em uma partida de xadrez no computador, certamente estava vencendo a máquina, já que murmurava alguma coisa como “toma essa”.

Pigarreei e aproximei-me do balcão.

– Boa noite...

A mulher demorou-se ainda uns segundos antes de se virar para mim e me saudar com um sorriso no rosto.

– Ah, boa noite Sr. Potter. Receio que tenha vindo a minha loja buscar o seu traje para a festa de casamento dos Longbottom— ela disse largando a mão do mouse e puxando uma agenda de aproximadamente vinte centímetros de espessura folheando-a em seguida em busca uma página específica.

– Correto – ela acrescentou, supondo que eu tivesse afirmado antes mesmo de o fazê-lo.

Enquanto isso, a pequena televisão antiga que se apoiava em um suporte na parede transmitia o noticiário.

Duas mulheres morreram hoje em Londres, vítimas de assassinato do grupo mais procurado de todo o Reino Unido...

— Esses Cobensais da Morte estão com tudo, não estão? – a madame comentou, deixando claro que não sabia muito sobre os Comensais, notando que nem ao mesmo o nome sabia pronunciar corretamente. Sem ao menos esperar uma resposta minha, ela deslizou a agenda sobre o balcão e me deu uma caneta. – Assine aqui, filho.

Fiz uma rubrica de meu nome e ao erguer os olhos a procura de Malkin, ela já voltava com o cabide em mãos. Verifiquei se estava tudo em ordem e sorri simpático.

– Obrigado.

– Tem até terça-feira para a devolução – ela disse com firmeza e eu assenti com a cabeça, me retirando da loja depois de vestir meu sobretudo mais uma vez.

Na volta para casa, suspirei pelo menos umas cinquenta vezes até chegar na Dedos de Mel. Minha cabeça não parava de pensar um minuto como seria dançar com Lily amanhã, sendo que nem chegar perto dela eu suporto. Os últimos dias foram de longe complicados: eu e Lily nem amigos não éramos (por minha causa, aliás); Holly tinha dado um tempo com Sirius; Izzy não parava de me ligar pedindo ajuda com as coisas do bebê e...

Parei de súbito ao ver uma figura encapuzada atravessar a rua e entrar no beco logo ao lado da loja de doces que os marotos mais visitavam. Tentei ser o mais discreto possível – já que não tem muito como ser discreto com uma farda do tamanho de minhas pernas em minhas mãos.

A silhueta caminhava com enorme desconfiança, olhando para a rua deserta do Beco Diagonal e tomando atalhos para o que pareceu ser a Travessa do Tranco, a rua conhecida como a mais delinquente e clandestina de toda a região. Ver pessoas fumando e traficando drogas por ali era perfeitamente normal, pelo menos era o que diziam.

Fui me escondendo por trás de postes de iluminação e vi que o desconhecido se desvencilhara para uma das ruas vizinhas. Após subir um barranco íngreme de calçamento, a figura aproximou-se de um casebre que portava uma chaminé velha e bateu na porta três vezes seguidas. Aproximei-me até onde achei mais seguro para ouvir melhor sem ser flagrado.

Senha? — uma voz abafada soou por detrás da porta de madeira.

– Gota de Limão – o ser encapuzado respondeu prontamente e um rapaz loiro abriu a porta rapidamente, admitindo-o para o lado de dentro.

Fui sorrateiramente até a janela do casebre e fiquei a observar a cena do lado de fora. A brisa era mais forte por ali, portanto, mais frio se instalava pelo ambiente, mas não me importava, estava curioso para saber o que acontecia por ali.

Não me surpreendi totalmente ao ver que a figura que antes estava encapuzada se materializara como Severo Snape, ele estava tramando alguma coisa e era hoje que eu o pegaria na mentira.

– Boa noite, milorde – Snape disse com respeito a alguém sentado em um bergère cor negra de frente para a lareira acesa.

– Severo... Receio que tenha chegado na hora certa, estávamos prestes a começar a reunião – uma voz fria e indiferente soou pela sala de estar do casebre.

– Sinto-me honrado por ter esperado por mim, milorde. Com licença – Ranhoso pronunciou-se e tomou um lugar no sofá estofado empoeirado ao lado de um casal e uma mulher sombria de cabelos negros embaraçados. Todos olhavam para as costas do bergère de seu suporto lorde, esperando que ele começasse o seu discurso.

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O homem ignorou completamente o comentário de Snape e demorou-se mais alguns segundos observando atentamente a lareira antes de se levantar e encarar os presentes. Ele não precisou dizer nada para que a mulher de cabelos embaraçados se precipitasse em deixar o seu assento no sofá para girar a suposta poltrona para que ficasse de frente para os convidados.

– Bellatrix... – o homem disse em sinal de aprovação e a mulher se curvou diante dele.

– É sempre um prazer servi-lo, milorde – ela disse satisfeita e voltou a se sentar no sofá mofado.

O tal lorde sentou-se e encarou as pessoas que estavam ali junto dele. Tinha cabelos lisos e brilhosos, um olhar mortífero e sempre mantinha uma expressão de inabalável desprezo. Estalou os dedos e aguardou um instante.

Um suposto criado aparecera na sala segurando uma garrafa e serviu o homem com uma dose de gim, fazendo uma profunda reverência antes de se retirar do cômodo.

— Espero que todos tenham feito o dever de casa... – ele disse sem mudar a expressão facial, entrementes cruzava os dedos das mãos e os mantinha um pouco abaixo do busto. – Lestrange, você pode começar.

A mulher de cabelos embaraçados levantou-se confiante antes de começar a falar:

— Consegui o diário que o senhor me solicitou – disse ela e tirou de dentro do capuz um diário com uma capa de couro preto. Quando o homem pegou-o em suas mãos foi legível o nome Tom Marvolo Riddle escrito em dourado na parte inferior da capa.

— Excelente, Bellatrix – ele deu uma última olhada e depois colocou o diário em cima da mesinha onde também descansara o seu copo com gim. – Malfoy...

A mulher loira que antes estava sentada ao lado do rapaz que abrira a porta para Snape se levantou e olhou para os lados antes de começar a falar:

— Lúcio e eu procuramos em sessões reservadas do palácio e acabamos por descobrir o padrão de senhas do Pastor Office que o senhor me solicitou procurar, milorde – ela entregou a ele e voltou a se sentar, parecendo desmanchar-se ao lado do marido.

— Impressionante, mas como saberei se não estão me dando padrões falsos? – Riddle os encarou parecendo desafiá-los.

— Temo que tenha que confiar em nós. Com todo o respeito, milorde... Queremos o dinheiro tanto quanto o senhor – o homem loiro na qual supus que fosse o tal Lúcio retrucou, sendo totalmente ignorado por seu mestre que se dirigiu ao próximo convidado.

— Snape... O que conseguiu com a filha do policial?

Ranhoso se levantou e umedeceu os lábios antes de proferir com suas informações.

— Sei que há tempos o senhor me pediu para trocar o exame de sangue do garoto no hospital, mas se o senhor me permite... Gostaria de saber o que isso tem haver com o plano.

— Isso era para testar a sua lealdade a mim...

Tom continuou falando, mas eu não conseguir ouvir mais uma palavra sequer. Tinha um sentimento de fúria tão gigante por Snape naquele momento que eu poderia invadir aquele casebre agora mesmo só para arrancar o intestino dele para fora de seu corpo. Sabia desde a primeira vez que o vi que Ranhoso não prestava, mas não sabia que ele conseguiria chegar a um extremo desses. Ele, que se dizia melhor amigo de Lily, fora a causa para a quase destruição de sua carreira. Era provável que em questão de alguns meses Lily fosse processada pelo feito, quando na verdade ele era o real responsável por toda essa discussão.

Desci o barranco e fui caminhando a passos rápidos até a avenida. Não podia esperar, tinha que contar a Lily sobre isso, mesmo que não estivesse facilitando para o lado dela, eu não podia me dar pelo luxo de saber de uma informação tão importante como essa e não dizer para ela, que era a mais afetada da história.

Usei a minha mão desocupada para procurar o celular em meus bolsos e assim que o encontrei, desbloqueei a tela e disquei o número de Lily (sim, eu sabia de cor), mas nada de ela me atender.

— Vamos, Lily... Atenda – implorei em voz baixa.

Oi, aqui é a Lily, deixe seu recado...

— Droga! – fechei meus olhos tentando controlar a minha raiva.

Ao suspirar e ficar mais calmo continuei andando e vi que um táxi se aproximara. Acenei para ele e depois de parar, adentrei no banco de trás do táxi e passei o endereço do meu prédio.

Ainda estava totalmente incrédulo diante a situação. Tentei ligar para Lilian mais umas cinco vezes, mas todas caíam na caixa postal. Paguei o taxista depois de chegarmos à fachada do edifício e subi apressado até as escadas por não ter um pingo de paciência para esperar o elevador, que agora indicava que estava no décimo segundo andar.

Senti meus batimentos tão acelerados que imaginei que o sangue que era bombeado pelo meu corpo jorraria pela minha boca a qualquer minuto. Bati na porta da casa de Lily, toquei a campainha, mas nada adiantava. Ela não estava em casa. Ótimo.

Bufei frustrado e entrei em casa, jogando o terno de qualquer jeito no sofá e encaminhando-me direto para a cozinha, peguei uma garrafa de uísque de fogo que guardava na prateleira mais alta do armário e um copo. Talvez beber até cair desmaiado pudesse me fazer esquecer o que tinha acabado de descobrir. Eu sabia que era errado fazer tal coisa, mas isso me atormentaria tanto por um dia só que eu simplesmente poderia sofrer taquicardia aqui e agora.

***

Não saberia dizer a quem quisesse saber o tanto de tempo eu tinha passado ali, mergulhado em minhas próprias descobertas e angústias, mas eu tinha acordado em cima do frio piso de madeira da minha sala de estar ao lado de uma garrafa de vidro seca. Sentei-me estreitando meus olhos com a claridade extrema que vinha do vidro da sacada, senti minhas têmporas palpitarem de dor ao sentar-me encostado aos pés do sofá.

Gemi baixo e tentei me levantar, falhando ao menos duas vezes antes de conseguir me erguer por completo. Forcei a minha vista e olhei no visor do celular: 14:48.

— Droga... Dormi demais! – rosnei para mim mesmo e fechei meus olhos por mais alguns minutos antes de me dirigir ao banheiro.

Não tinha reparado, mas o registro de chamadas estava lotado de ligações não só de Frank, mas de Sirius e Remus. Eu estava ferrado. Entrei no WhatsApp e a mensagem de Frank enviada às 10:01 dizia que os padrinhos tinham que chegar as 16:00 no lugar em que ocorreria o casamento, não só para serem informados como funcionaria tudo, mas também para tirarem fotos para o álbum.

Entrei no banho rapidamente e tomei um banho de vinte minutos, a bebida tinha me feito ficar com uma ressaca das fortes, e apesar de me arrepender muito por cada gole ingerido, agora não adiantava mais.

Respirei fundo e, enrolado na toalha, caminhei até o quarto passando a olhar meu reflexo no espelho. Tinha cortado o cabelo no começo desse mês de fevereiro e estava bastante satisfeito com o tamanho que ele assumira de uns dias pra cá. Não eram mais aqueles cachos enormes que caíam para todos os lados, agora os fios se ajeitavam de maneira harmoniosa, me deixando com um ar... Sexy— quando é que deixei de ser sexy mesmo?! –, digamos assim. Sorri para a minha própria imagem, acariciando os fios repicados da parte traseira de minha cabeça, dando visão ao gesto herdado de meu querido pai, que a propósito não iria poder comparecer ao casamento devido a uma reunião de suma importância na central das empresas Potter. Minha mãe iria acompanhá-lo.

Procurei o que vestir e lembrei-me que tinha deixado o traje alugado em cima do sofá da sala. Numa ida rápida, trouxe-o para dentro do quarto e comecei a me arrumar. A dor de cabeça ainda não havia cessado, embora a água do banho tivesse ajudado bastante a aliviar a dor. Vesti-me por completo e fui ao encontro da caixa de primeiros socorros no balcão da cozinha, optando por tomar uma aspirina antes de partir.

Lembrei-me de última hora sobre o presente. Tinha comprado um pacote de viagem para os dois irem ao Brasil, visto que o sonho dos dois – mais de Alice – era assistir ao desfile de carnaval no sambódromo. Peguei os envelopes com as passagens e com o convite, respectivamente, e deixei meu apartamento tentando não lembrar o que vi na noite anterior, caso contrário, eu poderia ter um ataque psicótico a qualquer momento.

Desci até o térreo de elevador mesmo e logo que abro a porta dou de cara com a senhora Figg. Ela, logo que me viu, abriu um sorriso enorme.

— Ah, James... Está bonito, rapaz. Espero que ela goste! – ela disse animada e entrou em casa radiante.

Suspirei meneando a cabeça por um instante e retomei o meu caminho. Senti meu celular vibrar no bolso interno do meu smoking e me assustei com a hora 16:19, não tinha tempo para ver mais nenhuma mensagem, aposto que se fosse minha mãe a minha espera ela estaria surtando.

Não sabia o motivo da escolha do local do casamento, nunca ninguém tinha dito nada sobre o tal de largo Grimmauld, mas estava ansioso para saber como era o lugar. Entrei no meu Thunderbird 1955 e dirigi por aproximadamente meia hora até avistar um arco gracioso de flores na entrada de uma casa estreita encaixada no meio de outras onze de cada lado. Estacionei o carro na esquina e andei até a entrada, reparando nas enormes variedades de luzes de diversas cores que já estavam acesas e iluminavam o caminho, mesmo que o dia ainda estivesse claro.

Na hora em que me aproximei da porta de entrada avistei um homem trajado em um smoking preto, que assim que me viu abriu um sorriso simpático e disse:

— Boa tarde, Sr... – ele ergueu a mão esperando o envelope do convite. –... Potter – disse ele após conferir meu nome atrás do envelope. Ele retirou o convite de dentro do envelope, e agregou-o aos demais. – Seja muito bem vindo.

— Obrigado – disse sorrindo de maneira singela entrementes dava uma breve ajeitada na gravata.

A casa era encantadora e enganadora ao mesmo tempo. Do lado de fora era totalmente óbvio que não caberia nem quarenta pessoas ali dentro, mas quando se adentra o ambiente, é possível ver um corredor estreito que levava a dois enormes cômodos iluminados a luz de lustres e candelabros – o que deixava tudo mais aconchegante – e uma porta que dava a um gramado bem aparado e uma fonte, onde mais ao fundo, se localizava os lugares para os convidados que assistiriam à cerimônia.

Quando consegui ver toda aquela casa – ou pelo menos o que eu pensei ser toda ela – ouvi um barulho de conversa no que pareceu ser o piso superior. Retornei à sala e subi dois lances de escadas, dando de cara com uma fila de meninas posando para um fotógrafo, Tonks foi a primeira que notou a minha presença.

— Olha só, o modelo chegou! – ela disse num tom de impaciência. – Já fizemos um ensaio inteiro, pensei que ia chegar só quando a cerimônia começasse...

Ela falava mais alguma coisa, mas eu sinceramente não consegui ouvir, tendo meus olhos pousados na garota mais atraente dali.

Lily tinha seu cabelo encaracolado abaixo dos ombros e um vestido tomara que caia – tomara que caia mesmo— azul, que ia até o chão. Seus olhos se demoraram um pouco nos meus antes de ela suspirar e abraçar os próprios braços preferindo concentrar-se em qualquer outra coisa.

— Vamos tirar foto ou não? – Tonks disse por fim. Seu cabelo tinha uma cor mel. Estreitei os olhos.

— Por que pintou o cabelo? – perguntei por estar muito mais habituado com cores mais chamativas que ela costumava usar, tipo um rosa, azul ou roxo.

— Ah... Ficou bom? Eu decidi ficar mais comportada pro casamento e além do mais...

— Dora! – Holly chamou impaciente.

— Ok, ok! Estou indo! – ela resmungou e me puxou, fazendo-me seguir o seu encalço até a fila onde estavam não só as meninas, mas também um Peter animado até demais, um Remus avoado e um Sirius bem amuado. Alice e Frank não estavam ali, talvez só tirassem fotos depois da cerimônia de casamento.

Passamos das cinco e pouco até as seis, já que os convidados tinham começado a chegar e nós, como padrinhos e madrinhas – apesar de que nem todos os deveres de padrinho nós estávamos cumprindo, tendo em conta que Frank não quis de maneira alguma uma festa de despedida de solteiro e nós nem fizemos esforço para obrigá-lo a não desistir da ideia –, tínhamos que ajudar os convidados a se acomodarem antes da cerimônia se iniciar.

Frank agora conversava com os pais. Aproximei-me sorrateiramente, e ele, assim me vê, abre um sorriso largo e me abraça.

— Bom te ver, Pontas! – ele deu um tapinha nas costas.

— Eu que o diga! Eu disse que essa gravata era a melhor... – disse de maneira convencida encarando a gravata borboleta presa a seu colarinho. – Estou muito feliz por você, Frank, por isso que eu acho que você merece o melhor presente... – comentei sorridente e entreguei-o o envelope das passagens, que ele ao abrir, ficou sem reação.

— Wow, James! Isso é... Incrível, cara! Não precisava de tanto! Quer dizer... A Alice vai amar! Obrigado mesmo! – ele apertou a minha mão com firmeza e sorriu.

Vi um senhor atravessando o tapete vermelho com uma batina e segurava uma Bíblia. Voltei meu olhar para o noivo.

— Não precisa agradecer... E ah, o padre acabou de chegar. Boa sor-

— Eu ah... Queria que você... – ele apontou para o altar – recebesse as alianças das damas de honra. Pode me conceder essa honra?

— Nossa... Quem é que está surpreendendo quem aqui? – perguntei me sentindo imensamente lisonjeado. – É claro, cara! Poxa... Estou muito feliz por isso – sorri ainda mais abertamente e apertei a mão dele uma última vez antes de me retirar para me preparar para a entrada.

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Ao voltar para o interior da casa, avistei uma mulher, na qual reconheci como mãe da noiva, chegava às pressas com uma enorme caixa da Dedos de Mel. Suspirei ao me virar para a sala, notando uma mulher desesperada vir ao meu encontro e me puxar pelo pulso.

— Venha aqui, senhor Potter. Estamos organizando a entrada dos padrinhos... – ela falou depressa e me empurrou para próximo do restante do pessoal.

A fila foi organizada e quando Lost It All da Jill Andrews começou a tocar – o que fora ocorrer somente uns quarenta minutos depois – começamos a entrar.

Os primeiros da fila eram Holly e Sirius; seguidos por Tonks e Lupin, Mary e Peter, deixando por último Evans e eu.

Lily se encontrava ao meu lado esquerdo, com seu braço entrelaçado ao meu. Por incrível que pareça, ainda não tínhamos trocado uma só palavra. Agora também, obviamente, não seria a hora, visto que ambos estávamos concentrados demais nas notas que o piano emitia. Era realmente uma música linda, ainda mais sendo tocada ao vivo.

Apesar de nada dizer, Lily parecia se comunicar bastante, visto que ela mudava a força com a qual segurava meu braço. Era como se ela estivesse tocando seu violoncelo. Ambos sabíamos como a música mexia com nossas mentes, o que deixava tudo isso mais natural. Lily eu fomos para o lado esquerdo do altar, juntamente com Holly e Sirius e os outros dois casais de padrinhos se acomodaram do lado direito.

Logo depois, seguiram-se a entrada da mãe de Alice e o pai de Frank, que se mostravam grandemente felizes e simpáticos; Frank com sua mãe, que subiu até o lado destro do altar à espera de sua futura mulher. As daminhas estavam lindas nos seus pequenos vestidinhos brancos, assim como os pajens em seus terninhos de gala – aqueles eram provavelmente algum dos primos ou sobrinhos do casal. – que a este ponto já entravam ao final do cover magnífico de Conor Maynard de Cold Water.

Diferente de todos os demais casamentos que já tinha presenciado, a noiva não entrou ao som da marcha nupcial, mas sim ao instrumental de Take Me Church, o que só deixava todos mais encantados com a beleza que se tornara aquele ambiente. As portas para o tapete vermelho se abriram e Alice mostrou-se, caminhando lentamente até o altar com um buquê de rosas brancas e alguns copos de leite na cor rósea, segurando o braço de seu pai, ela não tardou a se juntar a seu noivo e a cerimônia se iniciou.

— Ela está linda, não está? – Lily disse poucos minutos depois que sua amiga subira ao altar, parecendo um pouco avoada.

— Está sim – sorri singelamente ao finalmente ouvir a voz da ruiva. – Ainda espero pelo dia de ver você vestida assim... – acrescentei sentindo um estranho frio na barriga.

Ela corou.

A cerimônia se passou de maneira tranquila, até que chegara a hora que uma das damas de honra me entregara uma pequena caixinha. Separei-me de Lily e fui de encontro aos noivos, o ato foi estranhado por muitos, mas pela naturalidade de Frank, ninguém protestou.

Entreguei as alianças e retornei ao meu lugar. Agora era hora dos votos.

Frank mal começara a falar e Alice já estava com os olhos marejados.

— Ah... – ele parou suspirando. – Assim você vai me fazer chorar também! – ele brincou, arrancando dos convidados umas poucas risadas e se concentrou mais uma vez. – Eu sei que nessa parte é a parte onde tradicionalmente os noivos juram amar, respeitar sob qualquer circunstância, mas a grande questão é que eu não quero fazer parte desse tradicionalismo. Eu quero dizer o que eu digo a você todos os dias e o que eu quero que você continue ouvindo – ele fraquejou por um momento, nervoso. – Eu te amo tanto e... Depois de quatro anos mais alguns meses juntos, você ainda me faz contar cada minuto esperando você chegar – ele parou sentindo que não aguentaria mais e todos aplaudiram. Ele terminou de colocar a aliança de ouro no dedo de sua amada e esperou ela se recompor para que prosseguissem.

Alice passou a mão pelo rosto, secando parte de suas lágrimas e voltou-se para o microfone.

— Eu... Eu nunca pensei que esse dia chegaria... Quer dizer, eu sempre sonhei em entrar em uma igreja por um tapete vermelho, vestida de branco, mas isso aqui parece tão perfeito que nem parece que foi feito pra mim, principalmente você— ela sorriu olhando brevemente o dedo anelar antes de prosseguir. – Eu te amo, Frank Longbottom, e por isso, eu sou eternamente grata – ela deixou mais umas lágrimas caírem e depois concluiu com a voz chorosa. – Muito obrigada, Frank... Pela vida que eu nunca imaginei ter um dia, pelo amor que eu nunca imaginei que fosse capaz de sentir... – ao término do seu discurso, Alice colocou a aliança no dedo de seu noivo e os dois entrelaçaram as mãos.

— Bem, depois disso eu nem preciso mais perguntar se um aceita o outro. Pode beijar a noiva... – o padre comentou e todos riram levantando animados, acolhendo o casal com uma salva de palmas.

A saída dos recém-casados do jardim florido de copos de leite róseos foi acompanhada por diversas bolhas de sabão, o que contribuiu ainda mais para a originalidade do casamento em si.

— Que história foi aquela de você entregar as alianças pro Frank? – Lily perguntou aos múrmuros enquanto entrávamos na casa.

— Nada demais... – sorri de canto. – Foi só um gesto de gratidão às passagens que eu comprei para eles irem ao Brasil esse mês... – passei a mão pelos cabelos ao ver os olhos da minha Lily se arregalando.

Você o quê?!— ela parou totalmente chocada.

Vi Alice e Frank cumprimentando os convidados.

— Vem, vamos dar os parabéns para eles... – puxei ela pela mão e aproximamo-nos do casal.

Alice, logo ao ver a amiga, deu um gritinho de excitação.

— Você está casada! – Lily exclamou, tomando-a num abraço.

— Mal posso acreditar! Eu ainda tenho que voltar lá pra cima. Fui inventar de chorar em plena cerimônia e acabei borrando metade da maquiagem!

— Parabéns, cara. Estou muito feliz por você – disse a Frank me poupando de escutar as conversinhas entre as meninas há poucos centímetros dali.

— Obrigado, Pontas. Fico muito feliz por você ter vindo também, de verdade! – ele agradeceu apertando minha mão com firmeza. – E mais grato ainda pelo presente imenso que você nos deu. Nem sei como posso compensar isso...

— Não precisa compensar nada, Longbottom... – dei um tapinha em suas costas. – Se apronte que já já é o nosso momento, huh? – falei me referindo à abertura da balada.

Cumprimentei Alice, dando os parabéns e depois de retocarem sua maquiagem, fizemos uma breve sessão de fotos com os noivos antes de iniciar o jantar. Encontrei-me com Sirius na fila para o self-service.

— E aí? Como foi com a Holly?

— Não sabia que os Longbottom tinham chamado você para entregar as alianças... – Sirius comentou numa óbvia tentativa de mudar de assunto.

— Não me venha com conversa furada, Sirius. Fala logo – fui direto ao ponto. Servi-me de pouca coisa, ainda estava sem fome.

— Ah, cara. Você não desiste mesmo, não é? – ele suspirou. – Ela ainda está com raiva de mim, o que você acha? Ela não iria mudar de opinião de um dia pro outro, não é?

— Realmente... – meneei a cabeça. – Pelo menos Remus e Ninfadora parecem estar se dando bem.

Há alguns metros dali, Lupin e Tonks conversavam – alguma coisa que parecia estar engraçado demais para qualquer um que estivesse a observar – enquanto tomavam uma taça de vinho próximo ao bar. Estava feliz pelos dois estarem se entendendo, isso contribui para não deixar o clima entre os padrinhos totalmente tenso.

— Só o Remus? Peter também está progredindo pra caramba com a Mary ali... – Sirius comentou enojado só de pensar em erguer a cabeça para ver o casal se beijando insanamente no jardim, agora vazio.

— Cruzes... – sibilei e me dirigi à mesa onde já estavam sentadas Lily e Holly.

Sirius seguiu-me e ao se sentar, Holly se retirou da mesa.

— Ela ainda tá chateada com você, Sirius... – Lily comentou.

— Ah, jura? Acho que não notei... – ele revirou os olhos. – Perdi a fome... – ele falou e saiu da mesa, levando o seu prato junto.

Suspirei.

— Não liga pra ele, está estressado... – comentei. – Não tem sido fácil pro Sirius lidar com o próprio ego para ficar com a Holly. Acredite, ele realmente gosta dela.

— É, mas se ele continuar assim, as coisas entre eles dois nunca vão se acertar... – Lily suspirou.

— É só uma questão de tempo. Ele vai ver que agora a vida dele sem compromisso não tem mais graça, pelo menos não quando ele perceber que já achou a pessoa certa... – acrescentei e os olhos de Evans se encontraram com os meus.

Ela sabia que isso tinha sido uma indireta pra ela. Sabia que ela era pessoa certa desde a primeira vez que ela me disse que me odiava – o que pode parecer estranho, mas sempre gostei das mais difíceis – e mesmo que eu tentasse esquecê-la com a Izzy ou com qualquer outra garota que beijei por aí, nenhuma chegava à sensação do toque de Lily Evans, ela era simplesmente a única que eu teria olhos para o resto da vida.

Estávamos tão conectados que mal escutamos quando Remus e Tonks chegaram.

— Vamos, James. A gente vai se apresentar primeiro... – Remus apressou-se e pigarreei me aprumando.

— Claro... Vamos – comentei e me levantei indo até a sala vizinha.

Tudo já estava preparado, nos acomodamos a um canto e aguardamos. Primeiro de tudo os noivos teriam de dançar. A melodia começou e eles dançaram uma valsa lenta e apaixonante – que deixava qualquer valsa de contos de fada no chinelo – entretanto, quando todos pensaram que tinham acabado o seu número, Alice puxa a saia do vestido longo, deixando-o curto e o dj começa a tocar Company, do Justin Bieber (cantor favorito de Alice).

Aquele ato arrancou gritos excitados de todos os convidados, levando em conta que eles agora pareciam estar mais ousados, arriscando passos bastante profissionais. Os movimentos realizados coincidiam tão bem quanto a letra coincidia com a situação do casal.

(Coreografia: https://www.youtube.com/watch?v=coD1V5oWtiM)

Ao fim da música, todos aplaudiram por um bom tempo, até que Frank foi até o microfone e ainda ofegante disse:

— Eu sei, eu sei... Impressionante – todos riram. – Agora... A hora dos garotos, por favor – ele acrescentou e posicionou-se no meio da sala.

Os marotos instantaneamente compareceram, exceto Peter...

— Cadê o Peter? – Frank perguntou apreensivo, mas não era tempo de discutir esse assunto, teríamos de começar sem ele.

Para a surpresa de todos, Needed Me, da Rihanna começou a tocar e apesar de um pouco desconsertados pela falta de um integrante, visto que ficaria Frank no meio e outros dois de cada lado, mas não tínhamos tempo para chamar mais ninguém, então continuamos a dançar. A coreografia estava realmente contagiante – até umas senhoras da limpeza começaram a dançar nos fundos do cômodo – e os passos perfeitamente sincronizados, o que me deixou satisfeito.

“Pelo menos não teremos risco de errar nenhum passo”, pensei mais aliviado.

(Coreografia: https://www.youtube.com/watch?v=OeCOiIho91I)

Logo ao término de nossa apresentação, as meninas apareceram com vestidos mais curtos e Upgrade U, da Beyoncé começou a tocar. Percebi Holly encarar Sirius durante toda a coreografia, talvez fosse um modo mais brega de dizer a ele um “olha-o-que-você-tá-perdendo”. De qualquer maneira, qualquer coisa que pensávamos que fosse complexo não chegava aos pés da coreografia delas – não que a nossa não fosse difícil, certamente que era –, onde os movimentos eram extremamente rápidos e precisos. Nunca passaria pela minha mente que elas poderiam dançar tão bem assim. Alice se encontrava no meio delas, Lily e Mary à esquerda e Tonks e Holly à direita.

(Coreografia: https://www.youtube.com/watch?v=d3y17D_K9Zw)

Os gritos tomaram o ambiente por vários segundos, todos começaram a dançar e assim a balada se iniciou. O dj só tocava músicas animadas e tudo parecia estar as mil maravilhas, mas o motivo de Peter ter sumido daquele jeito, sem avisar ninguém, me atormentava demais.

— Não sei quanto a vocês, mas eu vou curtir... – Remus comentou e desencostou-se da parede indo de encontro a Dora.

Ergui minhas sobrancelhas e olhei para Sirius. Lupin estava deixando a sua personalidade tímida de lado e fora para a pista, eu só teria a perder em ficar pensando no por que do Rabicho ter ido embora sem avisar ninguém, quando minha ruiva de olhos verdes estava dançando ali, tão animada. Mesmo que eu tivesse a evitando nas últimas semanas, nós poderíamos dar uma... Trégua.

— Eu também... – acrescentei à fala de Aluado e fui até Lily.

Quando estava prestes a me manifestar, avistei um rosto familiar no corredor.

— Aquela ali é a Petúnia ou eu estou ficando bêbado? – perguntei a Lily em voz alta para que ela me ouvisse naquela barulheira.

— É... Meus pais também vieram, devem estar por aí tomando um drinque e... Você já bebeu? – ela perguntou um pouco surpresa.

— Nah, só um drinque aqui e ali... – dei de ombros e ela revirou os olhos e Closer começou a tocar. Encarei-a com o canto do olho e abri um sorrisinho. – Você vai dançar comigo.

— Eu não... Não sei dançar – ela ficou ali parada de braços cruzados.

— Hahaha. Essa desculpa não colou, sinto muito. Você arrasou agorinha a pouco, senhorita – falei me recordando da coreografia muito bem elaborada, talvez depois pedisse para os fotógrafos me descolarem uma cópia da filmagem.

— Certo, mas aquilo ali foi preciso meses de treino, ok? – ela falou e se encaminhou ao barzinho, pegando um drinque.

— Olha só... Quem é que está bebendo agora? – ergui as sobrancelhas e ela virou o copo rapidamente fazendo uma careta ao engolir. Aproveitei o momento de fraqueza e a puxei pelo pulso até a pista mais uma vez.

— Pensei que estivesse me evitando! – ela gritou para que fosse ouvida e começou a se mexer ainda um pouco tímida.

— E estava... Mas para quê existem tréguas, huh? – falei. Ela estreitou os olhos.

— E por que eu concordaria com uma... Trégua?

— Porque eu sei que você não quer perder a diversão dessa festa aqui – provoquei-a.

— Você está certo, mas quando isso tudo acabar, a trégua também acaba, entendido? – ela me encarou com cara de mandona e eu sorri.

— Por mim maravilha... – falei sorrindo de canto e puxei-a para perto de mim e começamos a dançar.

Olhei em volta e Remus e Tonks estavam dançando juntos também.

— Sabe de alguma coisa desses dois aí? Acho que vai dar namoro muito em breve...

— De acordo com os planos de Tonks, essa noite vai – Lily comentou.

— O que você quer dizer com “essa noite vai”? – sorri com malícia.

Ela ruborizou.

— Q-Que eles vão se beijar – ela gaguejou e eu ri.

— Ah sim, mas e a gente? Essa noite também vai? – perguntei ainda com o mesmo sorriso estampado no rosto.

Ela arregalou os olhos e me bateu.

— É uma trégua e não uma declaração de que estamos juntos! – ela reclamou.

— Ok, ok! – me dei por vencido. – Tem razão... – abaixei meu olhar passando a mão direita pelos meus cabelos. – Pelo menos posso ter a liberdade de dizer que você está deslumbrante esta noite? – disse com um balanço diferente, mais... Galanteador.

— Obrigada... Você também não vai nada mal, Potter – ela comentou ousada. – Ah, queria saber o porquê do Peter não ter se apresentado com vocês... – ela perguntou, obviamente tentando se esquivar do assunto constrangedor (para ela).

— Ah, isso... Também queria saber. Ele nos pegou de surpresa, entende? Num instante vi aos amassos com a Mary, mas no outro ele já tinha sumido... – suspirei.

— Depois vou perguntar a Mary, então...

Passamos umas duas horas jogando conversa fora enquanto suávamos de tanto dançar. Quando a pista tinha se esvaziado um pouco, as músicas mais lentas começaram a tocar e eu, achando uma maravilhosa oportunidade de me encontrar mais próximo de Lily, a envolvi pela cintura ao som de Thinking Out Loud. Lily pareceu um pouco desconfortável no começo, mas à medida que fui puxando assunto, ela pareceu se soltar mais.

Take me into your loving arms.

— Confesso que me surpreendi... – ela comentou tirando uma de minhas mãos da sua cintura e entrelaçando nas minhas num claro gesto mandão.

— Com...? – perguntei rolando os olhos em referência à mudança de posição.

— Não sabia que você dançava... – ela comentou um pouco receosa. – Quer dizer... Você tem talento para muitas coisas e... – fiquei totalmente ocupado em admirar não só os seus olhos incríveis, mas também seus lábios, que há essa hora já estavam me provocando mais do que o normal.

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People fall in love in mysterious ways.

Acabei não resistindo e roubei-lhe um beijo. Lily não teve muita reação, talvez por causa do susto, mas eu tentei fazer aquele momento valer a pena, e, ah! Como valia... Lily Evans estava mais uma vez ali, nos meus braços, com os lábios grudados nos meus, sem poder dizer uma palavra para discordar.

O beijo não demorou muito a se findar, justamente porque eu sabia que Lily provavelmente iria agir de maneira estranha depois disso, mas não dei importância e retomei ao assunto que estávamos conversando.

— Lily Evans me elogiando? Sinto-me lisonjeado... – falei próximo aos seus lábios.

— Você... É um idiota, James Potter – ela acrescentou com uma cara de difícil. – Melhor assim... – ela sorriu de canto e me soltou. – Ah, e se me beijar de novo eu juro que não vou controlar minhas mãos e alguma coisa me diz que elas querem voar na sua cara! – ela concluiu e pegou uma taça de champanhe ao ver o garçom passar ao nosso lado segurando uma bandeja.

— Tudo bem... – sorri. – Estou satisfeito – olhei para ela, que soltou um sorriso. – Bem... Ah... Lily?

— Hm? – ela bebeu um gole da bebida e ergueu o seu olhar para mim, suas bochechas rosadas eram visíveis mesmo que em presença de pouca luz.

— Onde estava ontem à noite? – perguntei achando que já tinha enrolado demais para contar o que vim querendo contá-la desde o instante que deixei o casebre.

— Na casa da Alice ajudando ela com o restante dos preparativos, por quê?

Abri a boca para falar e quando fui o fazer, a música cessou e os Longbottom se aproximaram do microfone, onde Alice tomou a iniciativa de segurá-lo.

— Discurso! Discurso! – os convidados gritavam excitados.

Ela riu e esperou a barulheira diminuir para começar a falar.

— Ah sim, sim... Quero agradecer a todos vocês imensamente pela presença e quero que saibam que estamos muito felizes por passar esse dia tão especial com vocês. Espero que estejam se divertindo, mas antes de voltarmos à festa e tudo mais... – ela fez uma pausa para olhar o marido, que lhe retribuiu com sorriso. – Muitas pessoas têm me perguntado o porquê de aqui ser o lugar escolhido para o casamento e... Bem... Frank e eu... – ela suspirou sem saber como continuar.

— Não acredito! Você está grávida? Eu já sabia! – a maluca da Holly, agora bêbada às quedas, gritara no meio da galera, que riu.

— Não é nada disso – ela riu e Frank pegou o microfone rapidamente.

— Agora essa casa é nossa – ele sorriu. – Vamos morar aqui! – ele mal terminou de falar e todos aplaudiram.

Todos os convidaram pularam para cima dos dois para desejar-lhes os parabéns pelo grande passo que tinham dado e coisa e tal. Lil’s estava prestes a fazer o mesmo quando a puxei pelo braço.

— O que foi, Potter? – ela perguntou franzindo o cenho e eu, travado, não consegui dizer nada.

— Nada... – soltei-a e ela deu de ombros indo de encontro à muvuca.

Eu tinha de criar coragem e dizer a ela com as palavras certas que Severo era um mentiroso de merda e fora ele quem tinha estragado tudo.

Achei um lugar vazio no jardim e fui me sentar, enquanto observava a fonte jorrar água graciosamente, ao mesmo tempo em que os meus neurônios queimavam dentro do meu cérebro à procura de uma maneira mais agradável – se é que existia – para se contar aquela notícia.

Vi Mary sair da casa e vir se sentar também, estava bem mais fresco aqui fora, a brisa da madrugada gélida era estonteante.

— Hey... – ela falou ao se sentar. – Mandou bem na coreografia.

— Obrigado. Vocês também foram ótimas – umedeci os lábios e suspirei antes de continuar. – Você viu o Peter? Ele devia ter dançado com a gente também, mas eu não o encontrei na hora.

— Ah... Eu também não sei – ela corou. – A gente estava junto no começo da festa, mas ele recebeu uma mensagem no celular e disse que era urgente.

— Estranho... Se fosse urgente ele devia ter falado pra gente. Ele simplesmente desapareceu sem nenhuma satisfação – suspirei e olhei em volta percebendo que Lily pegava o seu casaco no cabideiro próximo a porta e deixava o largo Grimmauld. – Ah... Foi bom te ver, Mary, mas eu preciso ir agora. A gente se fala – falei sem nem ao menos olhá-la e saí em disparada para o lado de fora da casa.

Lily andava pela calçada e acabara de guardar alguma coisa no bolso interno do casaco. Apressei o passo até alcançá-la.

— Lily! – chamei-a e ela virou-se impaciente.

— O que você quer-

— Onde está indo? – perguntei preocupado.

— Snape está precisando da minha ajuda com um-

— Você não pode ir – falei com a voz e expressões firmes.

— Como? – ela estreitou os olhos.

— Eu vi uma coisa ontem e eu tenho tentado te contar desde então, mas você não estava em casa e também não atendia o celular...

— É... Eu tinha sido furtada no natal, mas eu fui buscar uma aspirina para a Holly na minha bolsa e acabei encontrando ele lá.

O quê? Você foi furtada? – perguntei abismado. – Quando?

— No ano novo... – ela suspirou nervosa. – Será que dá pra me contar isso outra hora? Eu estou com pressa e...

— Não. Tem que ser agora, porque isso envolve o Snape e...

— Olha, se você vai discutir comigo por causa dele mais uma vez eu não estou afim – ela me interrompeu e eu a segurei pelos ombros fazendo com que ela focasse no que eu estava prestes a lhe contar.

— Só me escute! Por favor... – implorei e suspirei tentando não me embaraçar nas palavras. – Eu sei que eu e Snape não temos uma relação muito amigável, mas eu preciso te contar uma coisa, e agora é sério. Eu posso ter te enrolado por muitos anos com a minha conversa furada, mas, por favor! Só preciso que me escute essa vez e então você pode ir pra onde quiser e fazer o que você bem entender... Eu juro que não vou te impedir – suspirei.

— Potter, você está me assustando...

— Eu fui ontem pegar a roupa na Madame Malkin e me demorei um pouco na Rua da Dedos de Mel na volta, ali perto do beco, sabe? – ela afirmou com a cabeça. – Então eu vi um homem encapuzado entrar ali, e como eu já tinha visto atitudes suspeitas para aqueles lados, nada que mereça ser mencionado agora, eu o segui. Ele me levou a um casebre lá em um barranco...

— Dá pra ir direto ao ponto, por favor? Estou com pressa e... – ela me interrompeu, mas eu a ignorei continuando o meu discurso.

— E nesse casebre acontecia uma reunião. Clandestina, para falar a verdade. Fiquei do lado de fora escutando e vendo tudo o que acontecia pela janela e descobri que... – respirei fundo.

— Descobriu?

— Que a figura encapuzada era o Snape.

— E? O que tem demais nisso? – ela perguntou antecipadamente.

— Deixe-me terminar! – falei irritado e ela se calou. Suspirei mais uma vez. – Droga, Lily... Ele estava trabalhando para um tal de Tom Riddle que era o suposto homem a quem ele servia. Eles e mais três pessoas planejavam um roubo e para provar a sua lealdade ao seu mestre... – fechei meus olhos fazendo uma pequena pausa. – Foi o Snape quem trocou o laudo dos exames do Harry, Lily – concluí com pesar.

Evans me olhou nos olhos com desconfiança e riu.

– Olha, Potter. Eu não sei de onde você arranjou tanta criatividade para inventar essa história toda, mas... Snape nunca faria uma coisa dessas, somos melhores amigos e...

— Espera, vocês não eram colegas? – meneei minha cabeça. – Tá... Isso não importa agora, mas Lily, essa é justamente a questão! Eu nunca teria criatividade para bolar nenhuma história parecida e por que eu faria isso? Se você quisesse ser feliz com outra pessoa eu não te prenderia, mesmo que isso me consumisse pelo resto da vida. Mas com o Snape é diferente, Lily! Eu ouvi as palavras saírem da boca dele! – suspirei desesperado. – Eu imploro a você que acredite em mim!

Ela comprimiu os lábios e passou a mão pelo rosto e se virou caminhando rapidamente.

— Lily... – falei com uma voz de arrependimento.

Juro que eu não queria ter-lhe lembrado daquele dia, justo aquele que trouxe a ela tanta dor, mas era preciso. Não podia viver com o fato de que eu sabia quem tinha feito aquilo com a vida dela e ela mesma não.

— Não fale comigo, Potter! Vá embora! – ela disse com a voz chorosa.

– Lily, por favor! – a segui implorando para que ela se virasse para mim.

Uma sensação estranha correra o ambiente. Lily atravessava a faixa de pedestres e eu varri a minha mente à procura de minhas memórias e acabei por encontrar uma em especial. O meu pesadelo estava acontecendo, de verdade. Meu peito apertou quando me lembrei do que estava prestes a acontecer.

Déjà vu: pronuncia-se Déjà vi, é um termo da língua francesa, que significa “já visto”. Déjà vu é uma reação psicológica que faz com que o cérebro transmita para o indivíduo que ele já esteve naquele lugar, sem jamais ter ido, ou que conhece alguém, mas que nunca a viu antes.

Não! Isso não pode estar acontecendo”, murmurei mentalmente e fechei e abri os olhos brevemente para me certificar que eu não estava no meio daquele pesadelo mais uma vez. A grande questão era que... Estando nos meus sonhos ou não, eu não podia deixar que aquele roteiro continuasse a acontecer.

Corri o mais rápido que pude e o carro não tardou a virar a esquina. Lily se virou para olhar o veículo que agora estava tão próximo, mas já tinha a alcançado. Na hora em que o carro ameaçou encostar-se a ela, eu a empurrei para a calçada, tirando-a do caminho, mal sabendo que as consequências continuariam graves da mesma forma. O carro me atingira e a última coisa que consegui enxergar fora os olhos desesperados de Lily Evans.