Mini-Capítulo 3

Mais amuada do que alguma vez tinha estado, Chloé seguia Marinette, que até ali já tinha apanhado a bola depois de a ajudar a levantar, em direção à praia. Não tinha outra opção a não ser fazê-lo, uma vez que Adrien também ia. Portanto, era deixá-lo ir sozinho com ela, ou sacrificar-se a acompanhá-los.

Olhou para Adrien, que ia ao lado dela, mas ainda não tinha tirado os olhos de Marinette. Chloé olhou para o chão e piscou os olhos para afastar as lágrimas. Estava tudo bem. O senhor Agrest tinha-lhe garantido que ia ficar tudo bem.

— Chloé?

Ao ouvir o nome dela, olhou em frente e viu Marinette a olhar para ela, com um ar preocupado. – O que foi? Já chegamos?

Marinette levantou uma sobrancelha. – Estás a ficar para trás.

Marinette fez um gesto com a cabeça para que Chloé fosse para o lado dela. Relutantemente, Chloé juntou-se a Marinette. Talvez assim, Adrien também olhasse para ela.

— Desculpa pelo que a Alya fez. – disse Marinette, alto suficiente para Chloé perceber, mas não o suficiente para que Adrien conseguisse ouvir – Ontem não correu bem. Ela deve estar indisposta.

— Oh, por favor! – exclamou Chloé – É óbvio que ela fez aquilo de propósito. Mas não é surpresa nenhuma.

Marinette suspirou, enquanto continuava a ouvir Chloé a dizer o quanto estava habituada que as pessoas tivessem inveja dela. Se Marinette não tivesse visto os seus olhos vermelhos, tinha a certeza que já estaria a imaginar várias maneiras para a afogar.

— Chloé, nós já nos conhecemos há algum tempo, certo? – perguntou Marinette, interrompendo Chloé.

— Infelizmente. – foi a resposta de Chloé à pergunta de Marinette – Porquê?

— Quando nos conhecemos, já conhecias o Adrien? – perguntou Marinette.

— Porquê o questionário? – perguntou Chloé, um bocado chateada por Marinette a estar a fazer lembrar a sua infância – Sim, eu e o Adrien somos amigos desde pequenos. A minha mãe era amiga da mãe do Adrien quando andavam na faculdade, por isso…

Marinette sentiu um aperto no peito quando viu Chloé parar de falar e a olhar para o chão. – Estás bem?

— Estou ótima! – exclamou Chloé, olhando para Marinette – Para quê as perguntas? Queres saber mais sobre o meu Adrien?

— Se eu quisesse saber mais sobre ele, perguntava-lhe. – ou seguia-o, pensou Marinette, pensando na maneira como se tinha comportado no passado – Estou a tentar saber mais sobre ti.

— Porquê? – perguntou Chloé, genuinamente confusa.

— Porquê? – Marinette também teve de pensar um bocado no assunto – Porque somos colegas…

Chloé riu-se e, francamente, Marinette não podia culpá-la.

— Colegas não têm de saber tudo umas sobre as outras. – disse Chloé, vendo o mar ao longe – Pudemos parar, agora? Já chegamos.

Marinette encolheu os ombros e começou a estender as toalhas que Alya tinha levado e que também estava a estender. No entanto, teve de parar quando uma das suas fitas desprendeu-se e o totó desfez-se.

— Deixa. – disse Alya, aproximando-se de Marinette – Eu ajudo-te com isso.

Marinette deu um passo e riu-se nervosamente. – Não…hum…

— Tch! Deixa que eu faço isso. – disse Chloé, aproximando-se por trás de Marinette.

Quando pegou no seu cabelo, Marinette agarrou-a pelo pulso, mas já foi tarde demais.

Ao ver a cicatriz que Marinette tinha na parte detrás do pescoço, franziu as sobrancelhas. – Eh?

Marinette limitou-se a fechar os olhos e a suspirar.

Se tivesse sorte, ela não faria mais perguntas.

…

Infelizmente, Marinette não teve essa sorte.

Tinha que dar alguns pontos por Chloé não ter dito nada em frente aos amigos mas, quando se viu sozinha com ela, as perguntas começaram a jorrar como água de uma fonte.

— Os teus pais batem-te? – perguntou Chloé.

— O quê…claro que não! – exclamou Marinette – Olha, se não perguntares mais nada, eu mostro-te uma coisa que nunca mostrei a ninguém.

A curiosidade desapareceu ao pensar que iria deter uma fraqueza de Marinette, por isso calou-se e esperou. Ficou um bocado surpreendida quando Marinette começou a tirar a t-shirt. Mas não foi nada comparado ao choque que sentiu quando ela se virou, mostrando-lhe todas as cicatrizes e marcas que tinha nas costas.

— Mas o que… - pálida, Chloé deu um passo em frente, sem saber muito bem o que fazer – Estás…alguém está…

Marinette voltou a vestir a t-shirt e virou-se para Chloé. – Prometeste que não ias perguntar mais nada.

— Mas… - Chloé deu mais um passo em frente e agarrou-lhe as mãos, chocando Marinette – Se alguém estiver a abusar de ti, podes dizer-me. Eu posso ajudar-te.

Marinette sorriu, um pouco comovida pelo gesto. – Ninguém anda a abusar de mim. Faz parte de…hum…do trabalho que faço depois da escola.

Marinette congratulou-se a si própria mentalmente por ter pensado numa mentira daquelas tão rapidamente e parecia mesmo que Chloé tinha acreditado.

Mas não tinha e, por isso, por estar genuinamente preocupada com Marinette, decidiu contar aos amigos dela, para que eles fizessem alguma coisa.

Felizmente para Marinette, Adrien também estava presente e, quando percebeu o que Chloé estava a tentar dizer à Alya e ao Nino, aproximou-se, agarrou-a pelo braço e disse que tinha de falar com ela a sós. Um assunto de família.

— Adrien, eu…

— Vais ficar calada. – interrompeu Adrien, chocando Chloé – Esse tipo de coisas…não podes contar tão facilmente.

— Como é que podes dizer isso? – perguntou Chloé, soltando-se de Adrien.

— Acredita, se ela estivesse a sofrer qualquer tipo de abuso, eu seria o primeiro a ajudá-la. – garantiu Adrien – Mas, infelizmente, há limites para o que eu posso fazer para protege-la.

— Não percebo. – disse Chloé extremamente confusa.

Foi quase ridículo o deja vu que sentiu quando Adrien começou a despir a t-shirt e mostrou-lhe dezenas de cicatrizes e marcas parecidas com as que Marinette tinha. Espalhavam-se pelo seu peito e abdominais, fazend-a imaginar se Marinette também as teria.

— Por muito que a tente proteger. – disse Adrien, depois de voltar a vestir a t-shirt – Pessoas Akumatizadas são imprevisíveis.

Nesse momento, o mundo como Chloé o conhecia, foi destruído.

…

Chloé não apareceu mais, durante o resto do dia, fazendo com que Alya fizesse perguntas sobre o que tinha acontecido e porque é que a rapariga parecia tão perturbada ao despedir-se.

Mas as perguntas pararam imediatamente quando Marinette disse que eram assuntos privados, ao contrário de Chloé.

Adrien era o único que sabia qual era a verdadeira razão pela partida súbita de Chloé. Marinette pensava que ela tinha partido por causa das suas cicatrizes. Se tivesse sorte, no fim das férias de Verão, ainda ninguém saberia de nada.

A preocupação de Marinette, do ponto de vista de Adrien, era uma perda de tempo. Chloé era agora uma das poucas pessoas que sabiam que eles eram os heróis de Paris e, se esse sentimento de poder não a impedisse de contar a alguém, tinha a certeza de que Jin impediria.

Por isso, iria tirar Chloé da cabeça e aproveitar as poucas horas que lhe sobravam para estar ao lado de Marinette sem ninguém o chatear.