Apenas morna

Freak Wallflower


Freak.

Estranha.

Errada.

Esquisita.

Extraterrestre.

Não-desse-mundo.

Anormal.

Na-contra-mão.

Simplesmente estranha

mente freak

A estranha no meio

de tanto que vivo

A estranha

somente estranha

Jogada em Midgard

Prisioneira

Desmemoriada

da missão

que missão?

Que missão me foi

dada assim?

De onde vim?

Para onde vou?

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O que faço aqui?

Salvadora ou condenada?

Vim para ajudar

ou ser ajudada?

Olho para este mundo

um sufoco

bem daqueles

bem apertados

Um sufoco estranho

estranho que nem eu

Um sufoco me faz questionar

tanta coisa

e sabe de uma?

Sou uma observadora

de fora

Observo tudo

fora do todo

só fico olhando

olhando tudo

Anoto, escrevo, desenho

faço registros imeeeensos

sobre a vida

ao meu redor

mas não me junto

não vivo

não rio

não choro

não amo

não pelo menos

não verdadeiramente

Enviada para registros

uma carimbadora

ou escrivã

condenada a registrar a vida dos livings

ao vê-los dançar

a música do mundo

e eu aqui

somente aqui

uma freak

uma wallflower

que chora segundo a segundo

o choro silencioso

que ninguém vê

porque todos

literalmente todos

são muito ocupados

com seu próprio mundo

sua própria vida

veem um décimo meu

somente as sombras

de uma freak

de uma wallflower

tentando

inutilmente

sair de sua função-casta

que é somente

uma flor de parede estranha

que não combina com a casa

ou seus moradores

Condenada a ver além

além das sombras

de um corpo inútil

Vejo apenas e somente

a áurea

o que faz parte

da luz

de uma alma imortal

Vejo somente

as mentes

pensantes e criativas e artísticas

que iluminam sorrisos

e dançam e cantam

a música tão envolvente

que nunca irei dançar

ou cantar

Escrevo sobre amores

nunca vividos

ou aventuras

nunca travadas

Sonho com um lugar

que tem um mar

que podemos amar

e não-amar

e dançar

e não-dançar

e cantar e chorar

e não-cantar e não-chorar

Sonho com este mundo

que estarei deitada na areia da praia

sob a luz das estrelas

o vento em meu rosto

e ao redor da fogueira

um violão

e ao redor do clarão

poesias declamadas

abraços

sorrisos

sem hora de acordar

sem papéis a cumprir

sem trabalho

sem escola

sem compromisso

sem horário

sem nada

Somente o sol se pondo

e o sol nascendo

e teorias da filosofia

sem nada disso aqui

somente as almas

as luzes

juntas sem julgar

E apenas choro

continuo chorando

até o dia

o certo dia

que não mais ficarei aqui

talvez um dia

que me levem de volta

ao certo lugar que não faço ideia

de onde eu vim

e aí

talvez aí

estarei junto aos demais freaks

às flores de parede

de uma casa tão estranha quanto a gente

talvez dancemos a música dos freaks

dos estranhos e esquisitos

dos errados e extraterrestres

dos anormais e na-contra-mão

de nosso próprio mundo