Dolores
Virgínia
— Mãe…
— Oi?
— Com ou sem batom?
Olhando para o lado com cuidado enquanto dirigia, a minha mãe tentou analisar.
— Depende da mensagem que você pretende passar.
— Hum… A de… Mulher forte?
— Tá me perguntando?
— Não. - ajeitei minha postura no banco do passageiro e repeti com a entonação certa – A de mulher forte.
— Você, então, não deveria decidir sozinha? – ela perguntou achando graça.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Odeio quando ela faz parecer que tá tirando sarro comigo.
— Mãe, por favor.
— Ah, num sei. - ela olhou de novo – Como você achar melhor.
Pensando melhor, sempre zoei essas meninas que tão com a cara cheia de reboco às 7 horas da manhã, então seria no mínimo incoerente chamar tanta atenção assim.
— Drooooga! – minha mãe resmungou dando um tapa no volante – Olha só esse trânsito! Qual é!
Nada de demais. É bom que eu ganho tempo pra pensar, pois essa não tem sido a minha atividade favorita nessas últimas férias? Pois é. E foi pensando que cheguei à conclusão de que um ano é pouco tempo, mas acredito que seja suficiente para o que eu pretendo.
Sabe, as pessoas têm uma visão bastante estereotipada dos adolescentes. Acham que somos dramáticos, inconsequentes e que só damos importância pra coisas supérfluas. Geralmente quem coloca a gente nesse papel de bobo são adultos, que se acham melhores que nós só porque têm uns anos a mais. Mal eles sabem que se agimos dessa forma, é porque eles nos dão carta branca pra que sejamos assim na maior parte do tempo e sem culpa, afinal de contas, “somos só adolescentes”. É uma pena que a maioria dos meus colegas de idade comprem esse produto de nós mesmos, o que transforma essa visão negativa num ciclo eterno, de os adultos chamando a nós de “aborrescentes” e os adolescentes agindo de forma aborrecida, o que só parece comprovar essa teoria.
Claro que não é regra o papel de adulto idiota, que amontoa todos os adolescentes num bolo de pessoas incapazes; minha mãe, por exemplo, acredita muito em mim e em todos os jovens… E não poderia ser diferente, poderia? Ela é professora de muitos desses jovens na universidade. Ela precisa acreditar na nossa geração! E é por acreditar em nós que ela me encara como o seu principal projeto e eu procuro não deixar a desejar enquanto projeto da minha mãe.
A verdade é que eu, modéstia à parte, sou um caso especial como adolescente. Ou virei um, como preferir. Que me desculpem os sensíveis de plantão, mas não me envergonho da minha grandeza. Faço questão de fugir à regra, não sou obrigada a cumprir com o papel social da “típica adolescente”. Não mais.
Se temos um bom motivo para estarmos na Terra, eu sei muito bem qual é o meu e não deixarei que ninguém me impeça de ser grande.
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