As Sete Ameaças

Parte II: O Reencontro – A vila.


Tinham montado acampamento pela noite, mas Clyde não conseguia dormir. Disse que ficaria acordado, alerta, porém Imad garantiu que ficaria acordado, Eagle precisava dormir e estar pronto caso tivessem uma batalha no meio da noite. Saulo propôs-se a ficar em alerta com o outro e assim ficou acordado.

Todos dormiram, Clyde demorou mais que os outros a relaxar, mas também pegou no sono e logo até mesmo os cavalos roncavam.

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Imad e Saulo estavam em pé, cada um em uma extremidade do pequeno acampamento, alertas. Os grilos gritavam em algum lugar por perto e uma coruja piou, mas os dois mantiveram silêncio. Até Saulo não aguentar mais.

— Você sumiu.

— Eu estava no exército.

— Eu também, mas isso não me impediu de enviar sinal de vida.

— Você não estava infiltrado, ninguém podia saber minha identidade. Eu precisava ser Sam Loyid.

— Você acha que não tomei esse cuidado?

— Eu precisava ser Sam Loyid, o soldado sem passado.

— Todo mundo tem passado, até mesmo Sam Loyid deveria ter um.

— Não com um soldado do Exército de Libertação.

— Você me irrita.

— Você também me irrita. Quase comprometeu minha missão.

— Você comprometeu a própria missão. Seu pai não vai ficar nada feliz ao saber que você saiu do posto.

— Eu estava guiando Clyde.

— Eu poderia fazer isso, nós iríamos encontra-lo, se você tivesse enviado uma maldita carta.

— Você nem ao menos sabia que Ananya era uma integrante dos Sete.

— Você também não sabia sobre Clyde.

— Ele não usava a ameaça dele, diferentemente de Ananya.

— Você está novamente tentando me convencer o quão inútil e patético eu sou.

Imad suspirou pesadamente.

— Não é nada disso, Saulo.

— É sim. Você sempre faz isso como se eu fosse uma mulher.

— Você age como uma mulher.

— Mas eu não sou. Tenho provas que sou bem homem.

Sophie remexeu-se e abriu ligeiramente os olhos.

— Está tudo bem? – perguntou, a voz rouca de sono.

— Sim – respondeu Saulo tranquilamente – Sinto muito, volte a dormir.

Ela, porém, sorriu e sentou-se, bocejando.

— Vocês parecem um casal discutindo.

— Não somos um casal – apressou-se Saulo.

— Quê? – falou Imad.

— Como assim “quê?”

— Nós somos um casal.

Saulo riu, primeiro alto, depois controlou-se e gargalhou silenciosamente.

— Você sumiu – argumentou – Por três anos. Três malditos anos, sem nem ao menos uma carta. Sabe o que eu passei nesses três longos anos?

— Sei sim. Você falou sobre cada sentimento seu em todas as suas cartas.

Saulo travou.

— Você disse que não as recebia.

— Não disse isso, só disse que não respondia.

Sophie piscou.

— Vocês falam rápido demais. Deixe-me ver se entendi. Os dois tinham um relacionamento, mas, quando Imad foi para o exército disfarçado, ele cortou o relacionamento e agora que vocês se reencontraram, ele quer voltar, mas você reluta, é isso?

— Você leu todas as minhas cartas? – perguntou Saulo ignorando Sophie completamente.

— Sim, eu lia. Tinha muita vontade de responder, mas você sabe que meu pai não aprovaria.

— Desde quando você liga para o que seu pai diz? Nós começamos um relacionamento sem o consentimento dele!

Imad deu de ombros.

— Acho que depois que ele desapareceu, deixa-lo orgulhoso, pelo menos seu espírito, tornou-se uma missão secreta para mim.

Saulo sorriu.

— Isso é lindo, mas ainda assim, você me ignorou completamente.

— Não era o que eu queria. Eu juro.

— Mesmo?

— Mesmo. Me perdoa?

O outro deu de ombros.

— Se você parar de dizer que eu pareço uma mulher, sim.

— Impossível, você é uma mulher em um corpo masculino.

— Idiota.

— Você também é.

Sophie então deitou ao som daquela discursão acalorada sobre quem era mais idiota. Ela sorria, sabendo que eles, no fundo, não se importavam com isso.

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Acordaram ao amanhecer. Comeram um pouco dos mantimentos que tinham na sacola de Clyde, que acabaram naquele mesmo momento com o aumento de pessoas.

— Precisamos comprar mantimentos.

— Não – disse Saulo – Estamos perto da vila.

— Não estamos, não.

— Sim, nós estamos.

— Não.

— Parem com isso – falou Imad para os dois – Clyde, Saulo é o nosso geógrafo, ele entende de espaço geográfico.

Clyde olhou para o outro, desconfiado.

— Quantos anos você tem?

— Minha idade não é relevante quanto ao meu conhecimento. Chegaremos à vila no final da tarde.

— Você quer que passemos o dia inteiro sem comer? – falou Pamela assustada.

— Tenho certeza que Nat...

— Ananya.

— Ananya aguentaria. Imad, Clyde e Logan também.

— E eu e Sophie?

— A única aglomeração populacional perto daqui – continuou – É em alguns metros, mas é uma vila militar de Paladium, não podemos nos arriscar.

— Você está falando de Trépadus – falou Clyde – Estamos perto de Trépadus?

— Relativamente perto. Diria que em algumas horas de cavalgada seria suficiente para chegarmos lá.

— Impossível.

— Clyde, nós cavalgamos quase a noite inteira. Demos o máximo dos cavalos. Cavalos não andam a vinte quilômetros por hora, eles são rápidos.

— Se o que você estiver dizendo estiver certo...

— Está certo.

— Então estamos bem perto da vila.

— Estamos.

— Então vamos testar essa teoria.

— Não é uma teoria.

— Vamos cavalgar!

Saulo revirou os olhos e montou no cavalo malhado atrás de Imad, enquanto os outros também montavam e davam partida.

Cavalgaram durante o dia inteiro, com Pamela reclamando e gemendo de fome, mas acompanhando mesmo assim.

No final da tarde, quando todos estavam realmente com fome, o terreno deu um declive súbito e eles encontraram o rio Eradis, que separava os três reinos.

Do outro lado do rio, bem abaixo de onde estavam, uma clareira mostrava a vila dos Sete, cercada por soldados e completamente vazia se não pelos militares. Um pouco ao longe, um aglomerado de rochas que pareciam medianamente organizadas e um terreno batido onde havia uma fogueira e uma gaiola aparentemente vazia.

— Bem... – começou Saulo um pouco chocado com a quantidade de soldados ali – Como eu disse, no final da tarde.