Death Tricks

The Earring


The Ballad of Mona Lisa - Acoustic - Panic! At The Disco

Capítulo 6: The Earring

Os primeiros passos na pequena vila onde Lyra, Juliet e Angie estavam a morar souberam-lhes tão bem como a primeira vez de um pássaro a voar depois de uma vida inteira preso numa gaiola. A atmosfera era completamente oposta à da capital, pois enquanto que lá tudo era negro, corrupto e imoral, na Vila Verde, tudo era pacífico, calmo, simples e puro. A arquitetura da capital era melhor, porém ali as casas eram recheadas da verdura das plantas que ora trepavam as suas paredes ora enfeitavam os belos e inúmeros jardins que lá havia. A biodiversidade era imensa relativamente à grande cidade, pois ali, mesmo ao longe, se via a quantidade absurda de árvores, animais domésticos e mesmo alguns selvagens que vinham da floresta vizinha. Na capital, tudo era fingido e simulado, enquanto que na vila havia um clima de felicidade pura e completamente genuína. Isso era incontestável. Todos se conheciam, todos se cumprimentavam, todos falavam abertamente sobre o que fizeram naquele dia e todos partilhavam um sorriso único e típico dali. Ninguém se importava se eram piratas, bandidos, ladrões, procurados. O passado não importava, desde que juntos pudessem apreciar aqueles momentos como iguais.

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Depois de finalmente saírem da capital e depois do longo caminho até à Vila Verde, Angie, Juliet e Lyra sentiram um alívio. Angie amava aquela vila incondicionalmente, pois lá nascera e crescera. Juliet mudou-se para lá depois de conhecer Lyra, e logo gostou, uma vez que ela própria nascera e crescera na cidade grande, a capital de Wasserkristall. Já Lyra amava aquela vila, pois o seu pai crescera lá até se mudar para Speranza, país onde Lyra e Leon nasceram e cresceram. Após a morte do pai, ela foi para Wasserkristall, para a Vila Verde, onde viveu durante cinco anos, conhecendo Angélica, até voltar para Speranza e lá morar por mais sete anos.

No caminho para a casa que há muitos anos pertencia ao pai de Lyra, cumprimentaram todos os conhecidos que encontraram. Já dentro do pequeno edifício, descansavam. A madeira de carvalho que constituía a maioria da casa era escura e dava um aspeto antigo e cuidado à casa. As portas, de uma madeira ligeiramente mais clara que o carvalho, rangiam aterrorizantes ao mais ligeiro toque. Havia apenas dois quartos, um espaço de convivência misturado com algo semelhante a uma cozinha. Algumas paredes eram de pedra que deixavam os ventos frios de Wasser penetrarem a casa com certa facilidade, porém as paredes de madeira acumulavam o calor e não era como se qualquer uma das moradoras sentisse frio. Juliet costumava dizer na brincadeira que “nada era mais frio que a própria alma de Lyra”.

Enquanto Angélica dormia tranquila num dos quartos, Lyra lia pela enésima vez o seu livro preferido e já Juliet, que com nada se parecia entreter, andava às voltas pela casa, bisbilhotando gavetas e armários, até vitoriosa encontrar duas fotos que a deixaram curiosa.

A primeira pintura era um retrato familiar constituído por um casal e duas mocinhas, uma de enormes cabelos negros e outra com uns cabelos ruivos como o Sol ardente, porém o rosto desta última era de tal forma semelhante ao de Lyra que chegava a parecer a mesma pessoa. Mostrou o retrato a Lyra que ao constatar quem eram, sorriu.

— Ela é tão parecida contigo... — Juliet comentou, ansiosa por uma resposta.

— Achas? — Lyra questionou, mansa, arqueando as sobrancelhas. — Esta era a minha tia — apontou para a irmã mais nova da pintura.

— E a ruiva é a tua mãe?

A expressão de Lyra não mudou, mas não se ouviu qualquer resposta por parte dela, o que levou Juliet a pensar que ela provavelmente não gostava daquele assunto.

Uma segunda pintura se seguiu, esta tinha um moço de cabelos da cor de um pôr do sol e olhos visivelmente verdes como os campos de alface. Nas suas mãos, estava um cachorro animado, que parecia tentar de alguma forma dar um beijo no dono.

Lyra sorriu nostálgica, agarrando a pintura e afagando a face do irmão.

— Leon... — murmurou, angustiada.

— Irmão...? — Juliet murmurou, vendo a amiga acenar afirmativamente — Nunca me disseste que tinhas um irmão... — a sua expressão era de pena e compaixão, como se se arrependesse daquela pergunta.

— Não me olhes com esse olhar de cachorrinho abandonado! Ele não morreu, apenas... não sei, é complicado... — Lyra tentou explicar, enquanto encostava as costas expostas na parede gelada...

Juliet observou-a por uns bons minutos enquanto ela retornava à leitura, percebendo o quão pouco ela sabia sobre a própria amiga. Quem era realmente Lyra? O que a fez tornar-se alguém tão fria, tão perigosa?

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Num cómodo bastante simples, para variar, do palácio da capital, Jayden e Ace discutiam tudo o que tinham acerca do suspeito ou suspeitos que roubaram a informação confidencial acerca do rei.

— Comecemos por aqueles que têm acesso ao palácio, já que é muito difícil obter esse acesso sem autorização. Sabemos que é cautelosamente bem guardado. — Ace começou, pegando numa folha de papel amarelado onde escreveria tudo o que sabia.

— Todos os membros da guarda real, criados, cozinheiros, aias... — Jayden começou a enumerar, pensativo e caminhando pelo quarto, enquanto Ace escrevia tudo.

— A corte inteira, a Rainha, as amantes... — Ace continuou, suspirando — São demasiadas pessoas e nem sequer sabemos quantas foram...

— Sei que os documentos ainda estavam lá às dez da noite do dia anterior. Eles foram dados como desaparecidos às quatro da manhã e foram divulgados às sete horas da manhã. — Jayden afirmou.

— Então quem tiver um álibi para essas horas está fora da lista. — Ace fez uma pausa — Nesse dia foi o banquete, ou seja quem esteve no banquete desde o início até ao fim, está fora.

— A corte inteira, pelo menos um quarto dos criados, alguns guardas... Temos que os questionar sobre quem ao certo esteve lá.

— Carmen estava fora da cidade, supostamente. Ela foi vista no palácio durante a madrugada. — Ace falou, sorrindo levemente. — Eu sei onde ela estava às três... — ele murmurou maliciosamente.

— Tu sabes... — Jayden revirou os olhos, percebendo logo o que ele queria dizer. Suspirou e continuou — Já escreveste o nome de todos os guardas?

Ace continuou a escrever todos os nomes de que se lembrava.

— E Anne? Ela não estava no banquete. — Ace mencionou, o que fez Jayden corar ligeiramente.

Jayden lembrava-se que a tinha visto nessa noite, pois ele costumava passar pelo quarto dela, mas naquela noite, ele fez mais que isso...

Ela dormia na sua cama, destapada pelos lençóis, naquela noite gelada. A porta estava completamente aberta, então ele entrou e o seu primeiro passo no quarto fê-la abrir os olhos. Ele recuou um passo, assim que a viu levantar-se. O vestido dela não era quente, era fino e sem mangas e nas zonas onde a sua pele estava exposta, ele percebeu que ela sentia algum frio, pelo que estava arrepiada. Não a parecia afetar, como se fosse imune ao gelo, mas não à presença dele, pelo que ele a deixava desnorteada e perdida em pensamentos e desejos... Olhava-o fixamente, provavelmente confusa, porém isso não a impediu de lhe pedir para se sentar perto dela, na cama. Reticente, ele obedeceu. Ele olhou-a e, como sempre, não conseguiu evitar pensar na melancolia que a cingia. Também não conseguiu esquecer aquela outra noite... Aquela noite que ele relembra com todo o pormenor possível, assim como a manhã que a seguiu em que ela lhe pediu para esquecer tudo o que aconteceu... Como poderia ele esquecer o toque suave dela e a sua doçura afável? Como poderia ela lhe fazer aquele pedido impossível e na última noite em que se viram lhe pedir para ele se sentar ao seu lado? Como poderia ela esperar que ele esquecesse a noite em que se pertenceram completamente quando na última noite em que se viram, ela se deitou no seu colo inerte, tranquila e meiga durante horas? Como poderia ele aceitar que ela morreu, quando tudo sobre os dois terminou tão turvo, indecifrável e incompleto?

— Achas que foi ela? — Jayden questionou Ace, tentando fugir dos seus pensamentos.

— Sinceramente, não. A zona é muito bem guardada, uma mulher como ela nunca poderia ganhar acesso àquele lugar e mesmo que conseguisse de alguma forma entrar, seria facilmente descoberta.

— E ela suicidou-se... — Jayden acrescentou.

— Sim... Isso também... — Ace fez uma pausa, percebendo que Jayden ainda se sentia afetado pelo acontecimento — Bem, os guardas que estavam no banquete estão fora, três morreram quando o Rei tentou escapar da capital. Eu estava no bar com Jefferson e Anderson, então eles também estão fora. — Ace enumerou continuando a anotar tudo o que dizia.

— Eu estava a patrulhar a rua com o Michael e o Miller, mas só começámos à meia-noite.

Fez-se um momento de silêncio, enquanto ambos pensavam em como era impossível saber ao certo quem fez o quê.

— Não foi só uma pessoa, de certeza... — Jayden afirmou, já sentindo dor de cabeça.

— Se a pessoa tinha acesso ao palácio, porque não matar o Rei da forma mais prática? — Ace perguntou, pensativo.

De repente, Jayden arregalou os olhos, dizendo:

— Ei! Como é que o Rei morreu mesmo? Foi uma flecha no coração, certo?

— Sim, mas os guardas verificaram a área, ninguém tinha uma arma que pudesse ter atirado aquela flecha. — Ace comentou, não entendendo aonde Jayden queria chegar, até este roubar o papel onde escrevia a lista de suspeitos e começar a desenhar um esboço de um humano com uma flecha perfurada no peito.

— Eu lembro-me do ângulo a que a flecha entrou e se eu tiver razão, ela foi lançada de cima. Ace, vamos ao local onde isto aconteceu! — Jayden levantou-se.

Ace hesitou, até um sorriso surgir no seu rosto e ele obrigar-se a levantar-se e dirigir-se para a saída do palácio.

As ruas estavam cheias, pois enquanto uns vendiam os produtos, outros compravam. Embora as ações da população fossem as mesmas, o clima era mais alegre e mais esperançoso. Todos esperavam pelas mudanças e todos esperavam que estas fossem positivas.

Já no preciso local onde o alvo foi abatido, Jayden pensava e reimaginava a cena, o que era complicado visto que ele não havia estado presente na altura.

— O Rei fugia para o portão Este, a flecha foi atirada de frente, ou seja, o assassino estava algures daquele lado. — apontou para uma zona com umas quantas casas e a grande árvore do centro da cidade.

— Então estava nos telhados? — inquiriu Ace.

— Ou na grande árvore...

— É preciso ser-se muito bom para conseguir atirar dessa distância... — Ace comentou.

— É... E se considerarmos que a pessoa que atirou a flecha é a mesma que se infiltrou no palácio ou que ambas trabalham juntas, isso quer dizer que o objetivo não era apenas assassinar o Rei...

— Eles queriam mandar uma mensagem... Eles queriam matar o Rei e deixar que todos soubessem o porquê...

Sentaram-se num banco que lá havia perto, questionando-se porque estavam a tentar desvendar um caso que era uma completa dor de cabeça e lá ficaram por uns bons minutos, até que perceberam que Miller corria ofegante em direção a eles.

— Capitão, estávamos a investigar o quarto onde os documentos foram roubados, como nos havia requisitado e encontrámos isto. — mostrou-lhes um pequeno brinco com uma pérola branca.

— É um brinco caro de mulher... Da Rainha? — Jayden ponderou.

— Ou de uma das amantes... — completou Miller, tentando recuperar o ritmo normal da respiração.

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Ace estava calado e reticente, até receber o olhar confuso de Jayden.

— Tenho quase a certeza que é da Carmen... — declarou por fim.

— Além disso, agarrado ao brinco estava este cabelo loiro... — Miller afirmou com certo receio.

— É da Carmen, agora tenho a certeza... — Ace confirmou, mais uma vez.

— Como? Investiguem o quarto dela e questionem-na. — Jayden ordenou a Miller que novamente partiu a correr para o palácio.

— Jayden... Ela usou estes brincos na noite em que os documentos foram roubados. Ela estava fora da cidade, mas eu vi-a naquela noite...

— Nunca esperei que fosse ela... Ela é a amante oficial do Rei há anos... — Jayden declarou, enquanto iniciava a sua lenta caminhada de regresso ao palácio.

Assim que lá chegaram descobriram que Carmen ainda estava fora da cidade, contudo no quarto dela encontraram uma carta ainda não enviada dirigida à sua mãe. Nela estavam palavras de ódio acerca do Rei e algumas conspirações, uma pura carta de desprezo em que ela desabafava sobre tudo o que o Rei lhe fazia... Era suficiente. E a menina loira que agora regressava à capital mal sabia o que lhe esperava quando entrasse no grande e belo palácio a que ela chamava de lar...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.