A Thousand Years

Capítulo 08


Mas no fim, essa discussão com Will me levou a um completo nada.

Por mais que eu tentasse, meus pensamentos só pareciam seguir uma direção: a de que eu estava certa. Não havia reflexão alguma além da do meu ego falando mais alto, pelo menos até agora. Eu estava com raiva de verdade de Will, mas ao contrário de explodir de verdade, ir atrás dele e tudo mais, eu só havia me sentado na cama enquanto minha cabeça pensava rápido demais.

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De início, meus pensamentos foram coisas ruins, como sussurros me dizendo o quão certa eu estava e como um ser humano como Will nunca entenderia a magnitude de minhas responsabilidades e de meu conhecimento da vida em geral. Depois, veio o peso na consciência. Esse não durou muito, mas pôs em pauta algumas questões como: “Você está sendo egoísta. Está tentando manipulá-lo. Ele é humano, não uma marionete sua”, coisas assim.

Como disse, não durou muito até meu ego inflar tudo isso. Depois de um tempo de pensamentos tão contraditórios, sobrou o silêncio e a reflexão de que pensar demais não me levaria a nada, mas agir precipitadamente também não.

Era algo difícil de acontecer, mas no momento eu não queria ser impulsiva. Isso não me faria bem.

Acho que para Will também não.

O que me resta, então?

Cara, não faço ideia.

Suspirei, encarando o teto.

Meu celular vibrou com um toque na minha bunda. Tirei o celular do bolso. Klaus sobre a tela. Ignorei a ligação; ele era tudo que eu não precisava. Pus o celular no silencioso porque sabia que o demônio podia ser insistente. Perdi o pouco humor para ter qualquer tipo de socialização humana ou sobrenatural no momento.

Deixei minhas costas encostarem na cama, pensando que esse poderia ser um dia onde Isabella Mikaelson não está disponível para ninguém.

Um belo dia seria esse, fechei os olhos, procurando descanso.

Pareciam minutos apenas, mas faziam algumas horas quando ouvi a porta ser aberta abruptamente, me acordando de um sono sem sonhos. Ah, adeus, paz interior.

— Isabella! — a voz grave de Will me fez abrir os olhos, soltando um resmungo.

— Estou aqui, certamente. Não grite em meus ouvidos — disse enquanto me sentava na cama, sonolenta.

— A Cassie, ela… — suas mãos agarraram meus ombros, desesperados, conseguia sentir sua respiração ofegante. Levantei meu rosto, mais desperta, encontrando os olhos cristalinos cheio de lágrimas.

— Will, o que-

— Ela foi levada, Isa — seu tom era falho. — Seu irmão, ele… ele a enviou para um lugar ruim. Eu tentei te ligar várias vezes, você não atendia. Por que você não atendia? Você precisa tirá-la de lá, é horrível, horrível…

Franzi o cenho, confusa com as informações.

— Como assim? Explica direito. — pedi seriamente.

Ele passou a mão pelo cabelo, nervoso.

— Após a nossa discussão, chamei Camille, a psi-

— Eu sei quem ela é, pode pular — o cortei, sem paciência. Ele me encarou mais nervoso que estava, mas continuou.

— Eu fui com ela visitar a Cassie, e chegando lá, Cassie estava sendo levada por uns homens. Vestiam roupas de médico. Cami conhecia seu irmão, Klaus, e eu questionei…

— Will, me mostre suas memórias — ordenei e ele parou de falar.

— O quê? — estava confuso.

Me ergui da cama, segurando seu rosto com as mãos.

— Abra sua mente — pedi, encarando seus olhos conflituosos. — Assim verei as memórias. Vai ser mais fácil. — sua expressão era um tanto descrente. — Por favor, só fecha os olhos e relaxa, depois de tudo isso a gente se mata na porrada. Agora é de Cassie que estamos falando. — ele suavizou minimamente o rosto e fechou as pálpebras. Logo as memórias passavam por mim.

— Will, é aqui que ela vive? — o tom inseguro da mulher loira, relativamente parecida com Will, surgia com ele ao seu lado, frente ao lar de meus irmãos.

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— Sim. Eu nunca entrei antes, mas tenho certeza de já ter visto a Isa entrar aqui. É que eu sempre ficava esperando na esquina…

Eles entraram no local e pela visão de Will pude ver supostos médicos carregando Cassie, adormecida, pelas escadas.

— O que está acontecendo? Para onde estão a levando? — Will questionou de maneira rápida, sem receber nenhuma resposta.

— Camille, o que faz aqui? — a voz de Klaus se fez no pátio junto de um vulto. Ele encarava a mulher.

— Não vim aqui por você. Meu amigo quer saber para onde está levando essa garota, responda — ela inquiriu, nervosa.

— Amigo? — Klaus olhou para Will, que estava mais confuso que tudo.

— Você conhece ele? — indagou Will, surpreso, para Camille.

— É complicado — ela replicou baixo.

— Quem é você? — em um segundo Klaus levantava Will pelo pescoço, parecendo analisar seu rosto.

— Klaus, solte-o agora! — ordenou Camille, os médicos passavam com Cassie por eles, ainda sem dizer nada.

— Cassie… — Will soltava o nome com dificuldade pelos lábios, seu rosto vermelho enquanto via a garota sendo levada.

Klaus franziu o cenho, o soltando. Camille correu em direção ao Will, tentando ampará-lo.

Do chão, recuperando o fôlego enquanto massageava o pescoço, ele encarou Klaus.

— Para onde estão a levando?

— Não acho que seja da sua conta. — disse indiferente. — Agora, o que faz com esse humano aqui, Camille? — se direcionou a ela. — Já o teria matado, mas como é um pedido seu...

— É da minha conta! — Will se intrometeu novamente. — Me diga para onde está mandando ela. Isabella permitiu isso? — havia fúria em seus olhos.

Klaus semicerrou os olhos por meio segundo.

— Você é o humano que Isabella tem como protegido? — ele umedeceu o lábio, sorrindo sagaz com a própria retórica. — Avise ela que tem que redobrar sua segurança. Já sobre sua amiga Cassie, bem, ela está sendo levada para um hospício numa velha casa de bruxas. Não aguentava mais seus gritos durante a noite — revirou os olhos. — Tentei contatar Isabella, mas parece que ela anda ocupada.

— O quê?! — ele levantou abruptamente, desviando de Klaus e indo para fora.

Mudei para uma cena onde Will caminhava apressadamente pelo French Quarter. Camille surgia logo atrás, o chamando.

— Por favor, me escuta — ela pedia.

— Você o conhece, não é? Parecem bem íntimos, estava bom demais para ser verdade…

— Willian, não é o que está pensando. — ela o alcançou e o segurou pelo braço, fazendo-o se virar. — Klaus e eu temos um relacionamento complicado, mas não é nada conveniente como pensa. Por favor, me escuta. Eu só quero te ajudar, ok? Explico minha relação com Klaus se quiser.

Will desviou o olhar do dela, meneando a cabeça para o lado. Quando retornou a olhá-la, suspirou.

— Ok — aceitou e Camille sorriu, soltando seu braço.

Will é fácil demais.

— Klaus deu a dica de onde ela está, mas ele não vai ajudar. Vamos tentar recuperá-la nós dois — Will assentiu.

— Vou tentar ligar para a Isabella — ele pegou o celular no bolso, mas apenas pulei o restante da memória, porque aquela parte era inútil; eu não iria atender.

Agora eles conversavam com um homem em frente a um portão de um casarão. A conversa era rápida e evasiva.

— Não há nada aqui que os interesse. Os pacientes que vêm para cá não estão em condições de viver em sociedade. Se sua amiga parou neste lugar, é porque mereceu. Ela estará melhor aqui do que livre.

— Ela foi carregada adormecida até aqui, não escolheu por isso! Eu quero ela de volta, me deixe vê-la! — exigiu Will, puto.

— Podemos processá-lo por causa disso — intrometeu-se Camille, seriamente.

O homem sorriu mordaz, o perigo exposto em seu olhar.

— Tente e lide com não só com o governo dessa cidade, mas seres fora do normal. Não há nada que possam fazer e visitas não são permitidas. Se me dão licença, tenho coisas mais importantes no momento a lidar — ele disse arrogantemente. Will parecia prestes a socá-lo, mas Camille o puxou para um canto.

— Precisamos nos acalmar e pensar, não agir por impulso — ela repreendeu-lhe. O homem já fechava o portão e se afastava em direção da casa.

Will passou a mão pelo cabelo.

— Tem como invadir? — perguntou, tentando achar uma saída.

— Não acho que seja uma boa ideia. Podemos conseguir entrar, mas não sair. Se as bruxas que estão aí não conseguem escapar deste lugar, imagine nós. Precisamos de alguém que consiga quebrar o feitiço em volta deste lugar que as prende. Mas seria perigoso também se tiverem pessoas aí que realmente precisem de tratamento. Temos que ter cautela.

Will suspirou.

— Se Isabella me atendesse… deve estar com raiva de mim. Preciso ir atrás dela e explicar a situação.

— Quer que eu espere aqui? — ela indagou.

— Não precisa, Cami. Eu sei que você quer ajudar, mas não quero que se envolva nisso. Desculpa por ter sido grosso com você mais cedo, sei que não tenho nada a ver com o seu relacionamento com o irmão da Isa…

Pulei o restante da memória e a outra era apenas ele vindo para o hotel com desespero, mas não fazia sentido porque enquanto conversava com Cami ele estava apenas agitado e nervoso. Me concentrei em voltar para a memória dos dois juntos, e realmente, a parte que eu pulei foi a decisiva.

Enquanto Will aparentemente me ligava de novo, Camille esperava. O momento silencioso foi quebrado por um grito vindo da casa. Atento e assustado, Will olhou para o casarão.

— É a Cassie — constatou, visualizando pela janela de vidro, no primeiro andar da casa, a garota ter o rosto tampado por uma mão coberta por um pano, antes de observá-la, com pavor, desmaiar. Ele foi percebido junto de Camille, pois o suposto médico o olhou pela janela antes de puxar a cortina, cobrindo sua visão da garota.

— Ela estava me olhando antes de ser apagada, não estava? — sua voz vacilou levemente. — Estava me pedindo socorro, não estava? — olhou desamparado para Camille. Estava atônito.

— Vamos tirá-la desse lugar, Will — Camille tentou acalmá-lo, tocando em seu ombro.

— Sim, nós vamos — Will engoliu em seco, claramente prestes a ter um colapso. — Eu preciso ir atrás dela… — sua respiração era ruidosa, pesada. Ele olhou para o celular em sua mão e o dedo deslizou pela tela para realizar a ligação com meu nome. Esperou chamar três vezes antes de frisar os lábios, os olhos lacrimejantes. Desistiu da chamada. — Ela não atende, como eu esperava. — disse baixo para Camille, ou talvez para si mesmo. — Preciso ir atrás dela, só ela pode reverter isso. — se referia a mim, tirando a mão de Camille de seu ombro. — Vá para casa, eu resolvo isso.

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— Você não tem condições de sair assim, Will…

— Não, Camille — balançou a cabeça, amargurado. — Essa criança precisa de mim mais que nunca e eu não posso falhar. Preciso de Isabella, não consigo sem ela. Não preciso de você. Não quero você. Por favor, vá embora, — o rosto surpreso não fez Will voltar atrás. Na verdade, ele nem ao menos se dignou a olhá-la de verdade antes de virar de costas e ir embora, certamente em minha direção.

Agora sim, o andar e olhar desesperado dele fazia sentido. Soltei seu rosto e ele abriu os olhos. Toquei minha testa com a palma da mão, pensando no que eu poderia fazer.

— Precisamos libertar Cassie — ele disse.

— Eu sei — murmurei em resposta.

— Agora, Isabella — sua voz era séria, suas mãos firmes apertando meus ombros.

— Eu sei, Will. Eu só não…

— Sério? Para ajudar seus irmãos você vai correndo, deixa tudo para trás e quando se trata de Cassie é “eu não sei”? — a risada dele me fez olhá-lo. — Você-

— Will, por favor, não me enche com isso de novo. — pedi, exausta.

— Não! Você tem que rever suas prioridades aqui.

— Precisamos de um plano. — tentei de novo, não querendo insistir no assunto.

— Sim, óbvio.

— Para de grosseria, caralho — me irritei, me recuperando de meu torpor. — Preciso pensar. A casa é grande, não é? Então precisamos localizar a Cassie, não quero envolvimento com as outras bruxas do lugar. Poderia me materializar lá com um feitiço, mas pra manter aquele tanto de gente provavelmente a magia é bloqueada. Vou precisar fazer uma magia de interferência. Vai durar poucos minutos, mas vai ser o suficiente para poder localizar Cassie. Localizando ela, posso avisá-la via projeção astral¹ que vamos resgatá-la… — fui montando meu plano e o aperfeiçoando enquanto falava sozinha, sem ouvir as sugestões desinteressantes e menos inteligentes de Will. Pelo menos até parar por poucos segundos meu falatório e ouvir algo absurdo.

— Quê? — indaguei incrédula, finalmente lhe dando atenção, franzindo as sobrancelhas.

— Eu resgato ela. — repetiu a fala. — Ao invés de você tentar tapar os buracos do seu plano me ignorando dele, me inclua.

— Não mesmo. — neguei automaticamente.

— Deixa eu terminar! — insistiu. Cruzei os braços, impaciente. — Você avisa a Cassie com sua magia que vamos resgatá-la, apenas para deixá-la atenta, ou improvisamos mesmo, essa parte é o de menos. Só precisamos arranjar uma maneira de eu entrar na casa sem ser percebido, talvez camuflado entre os médicos. Precisamos arranjar um local onde você possa nos ajudar com sua magia e daí saímos de lá são e salvos. Você pode, por exemplo, retirar o véu de magia ou algo assim que cobre a casa, apenas o suficiente para eu e Cassie sairmos de lá sem eles perceberem. Cinco ou dez minutos, no máximo.

— Que otimista, você — sorri sarcasticamente.

— Eu ainda não terminei — revirei os olhos.

— Aham, Claúdia, fale.

— Tem outra opção, ok? Uma que eu tenho certeza que você não cogitou porque sei lá, tem medo. É a mais fácil de todas e não me envolveria.

— Qual? — semicerrei os olhos, desconfiada.

— Falar com Klaus.

— Quê? — mais uma vez a cara de incrédula. — O que ele te… — deixei a fala morrer.

Klaus.

Sim! Meu Deus, como eu não lembrei disso? Klaus era o culpado de tudo em primeiro lugar.

— Engraçado como o seu subconsciente protege seu irmãozinho de qualquer culpa — o tom irônico de Will veio como um tapa. — Vai negar agora?

— Eu realmente não pensei nisso. — confessei, revelando uma surpresa que deveria ter escondido.

E não só Cassie que foi parar no hospício, entre as memórias de Will, Klaus quase o matou quando este foi visitá-lo. Se não fosse a Camille e seu ligamento estranho com Klaus…

— Will… — o olhei penalizada, finalmente ligando os pontos. Ou melhor, lembrando deles.

— Ah, você percebeu — ele riu amargo. — Pode rezar por eu estar vivo depois, se quiser, mas agora precisamos nos focar na nossa maior responsabilidade: uma garota de 16 anos. — engoli em seco. — Você vai fazer o quê?

Desviei meu olhos do seus, tentando não sentir a culpa martelar em meu peito. Realmente, não é hora para sentimentalismo, mas meu Lúcifer, como fui capaz de não pensar em Will em momento algum… de nem depois de meu irmão quase matá-lo, eu ter sentido ódio ou raiva. Quais são minhas prioridades aqui?

Salvar Cassie, proteger Will, mentalizei.

Repeti isso mais vezes que posso contar, sem pensar em um plano de verdade. Essas eram minha prioridades, ou se tornariam, como sempre deveriam ter sido. Inspirei e soltei o ar.

Preciso de raciocínio.

Como me vingo por tudo que aquele ser denominado Klaus fez? Ele merece isso, certamente. Eu deveria estar com raiva dele, certamente. Certamente, é.

A imagem dele segurando o pescoço de Will surgiu. E de novo. E de novo. Cassie sendo levada, o grito dela na casa…, o desespero de Will. Os boatos eram verdadeiros, de certa forma. Klaus era um egoísta egocêntrico de merda.

E meu irmão. Meu irmão fracote que chorava por causa de meu pai e que eu curava com ervas, sermões e carinho embutido. Que eu brincava e me irritava desde que era gente. Que eu fodidamente me…

Isso importa agora?

— Você não precisa se preocupar, Willian — ele me olhou estranho; era raro chamá-lo pelo nome em um tom mais sério. — Vamos unir o útil ao agradável — estalei o pescoço, sorrindo abertamente. Já havia decidido o que faria.

— O que planeja? E para de sorrir assim, tá esquisito.

Ri de sua fala. Não de alegria, entretanto, mas ri.

— Arrume as malas, vamos partir.