Ela teve um pesadelo aquela noite, mas este era diferente do que tinha normalmente. Invés de sonhar com o acidente de carro, ela sonhou com um homem alto e sombrio, ele sussurrava algo e seus gestos pareciam tão mecânicos quanto a sua fala. Estava de noite, podia distinguir a silhueta do homem pela penumbra vinda de algum lugar, ele parecia estar coberto pois a única coisa que conseguia ver era os seus olhos azuis vivos.

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Então ele avançou sobre ela e Emma teve certeza que iria morrer naquele momento, por isso gritou e foi isso fez Caitlin acorda-la.

—Emma.

—Mãe? - Caitlin a envolveu em seus braços.

—Você está queimando.

Emma se sentia fraca, seu corpo todo doía e a cabeça latejava. Caitlin correu para fora do quarto e voltou em segundos com uma toalha molhada, o choque da agua gelada contra a sua pele quente a fez relaxar. Fechou os olhos mesmo com os pedidos de Caitlin para ela se manter acordada, queria dormir para ver se a dor passava. Mas só conseguiu dormir por alguns minutos ou pelo menos foi o que pareceu para ela, abriu os olhos se deparando com a escuridão que reinava no quarto de Caitlin, as cortinas estavam fechadas, mas ela tinha certeza que já era manhã.

Com um grande esforço jogou o corpo para fora da cama. Seus pés tocaram o chão frio, mas ela não se importou, caminho para fora do quarto.

—Mãe? - chamou em um gemido baixo, nem sabia como havia conseguido falar algo já que sentia que estava cacos de vidros pregados na garganta cada vez que engolia a própria saliva.

—Não Joe, ela não sabe de nada. - Caitlin falava ao telefone de costa para o corredor que levava aos quartos, Emma se encostou na parede. – Posso garantir que tudo isso é apenas um mal-entendido. – apoiou o celular e se virou dando de cara com ela. -Emma o que você está fazendo de pé? Joe te ligo depois. - Caitlin correu até ela, desligando o celular e o jogando no sofá. - Deveria estar deitada, a febre ainda não passou.

—Que horas são?

—Quase oito.

—Você não devia estar no trabalho? - aceitou de bom grado a ajuda para se sentar no sofá.

—Devia, mas não vou deixar você sozinha aqui nesse estado.

—Você é uma boa mãe.

—Tentou fazer o meu melhor.

—Me sinto fraca. - sussurrou.

—Claro, você está doente. - Caitlin puxou o celular do meio das almofadas. - Barry deveria trazer seu remédio, mas nem sei se ele recebeu a minha mensagem.

Emma se encolheu contra a doutora. Caitlin passou a mão pelo cabelo dela, Em fechou os olhos deixando tudo se acalmar. Ela deve ter dormido, pois quando acordou uma figura familiar a encarava.

—Você é dorminhoca, sabia? – sorriu com o comentário, então espirrou.

—Você sempre diz isso, dinda. - Íris a encarou confusa, Emma fechou os se xingando mentalmente e então acrescentou rapidamente. - Bom dia Íris.

—Bom dia. Caitlin teve dar uma saída e pediu para que eu ficasse com você. – explicou ignorando seu pequeno deslize.

—Pra onde ela foi? - se sentou, dando espaço para Íris.

—Teve que ir resolver um problema no laboratório. - respondeu semicerrando os olhos.

Emma mordeu o lábio inferior, conhecia Íris tempo suficiente para saber o que aquela cara significava.

—Você quer me perguntar algo Íris?

—Não, apenas me passou algo pela cabeça. - ela deu de ombros. - Um pensamento meio tolo. Não é nada, Cait deixou o seu remédio por aqui em algum lugar. - Íris se levantou vasculhando a casa com o olhar. – Em algum lugar.

Emma observou Íris sair em busca do bendito remédio. Suspirou, havia cometido um pequeno deslize, mas se continuasse assim poderia falar além da conta. Já bastava seus pais saberem, ela ainda torcia para que o futuro não fosse alterado por completo.

A aproximação de Caitlin e Barry foi meio brutal e inesperada, mesmo que eles já se conhecessem a mais quase dois anos, ainda teriam um longo caminho pela frente, que agora tinha sido encurtado por Emma e sua boca grande.

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—Íris estou com fome. - informou virando o troco e encarando a madrinha.

—Caitlin deixou uma gororoba aqui, mas tenho quase certeza que não é comestível. - a West fez uma careta para a panela em cima do fogão, então acrescentou entusiasmada. - Vamos ao Jitters.

Se tinha uma coisa que ela mais amava em Íris era a sua espontaneidade, sua madrinha era um pouco maluquinha, por isso se davam tão bem.

O Jitters estava lotado como sempre, Emma se perguntou se não existia nenhuma outra cafeteria na cidade, porque todos pareciam ter preferência por aquele lugar. Mas ela sabia que um dos motivos de todos estarem ali era por causa do aquecedor, estava quentinho lá dentro diferente do tempo quase glacial que pairava sobre a cidade, o outono havia dado as caras em menos de uma semana depois do fim da primavera, logo chegaria o inverno. A sua época favorita do ano.

Íris havia entrado na fila e ela estava sentada em uma das únicas mesas vagas do lugar, fungou, o nariz entupido pela friagem que tinha pegado pelo pequeno caminho que havia feito entre o carro e a cafeteria, colocou a mão sobre a boca abafando o acesso de tosse.

—Merda. - resmungou fanhosa.

—Parece que alguém acordou de mau humor. – alguém comentou.

—Parece que alguém acordou com uma vontade extrema de levar um soco. – retrucou sarcasticamente sem nem olhar para cima.

Outch, essa doeu sweet.

Sorriu ao reconhecer a voz.

—Bom dia Cory.

—Bom dia Em.- ele sorriu, revelando a covinha no queixo.- Está sumida.

—Tive uma semana agitada. - sussurrou, não via Cory desde a prisão, se sentia uma pouco culpada por não ter pedido a Oliver para tira-lo de lá, mas não era sua culpa se Tommy havia feito a sua melhor cara de coitadinho e irritado tanto Oliver ao ponto de ele quase esquecer que ela existia. E além disso, para piorar a situação Cory e seus amigos haviam descoberto sem querer que ela não havia perdido completamente a memória e que estava mentido para a polícia durante todo esse tempo.

—Eu sei, vi na tv. - Ele se sentou à sua frente. - Guerra de tinta? Sério?

Deu de ombros.

—O que eu posso fazer? A oportunidade surgiu. - tossiu. - Merda.

—Mamãe também está gripada. - Cory comentou. Se isso era uma tentativa de faze-la se sentir melhor, ele estava falhando miseravelmente.

—Melhoras para ela.

Colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha, então olhou para a fila, Íris já estava sendo atendida, agradeceu por isso. A figura cabelos ruivos e olhos de um azul expressivo se aproximou, usava um casaco pink que doía nos olhos e óculos de aro redondo com uma flor de cada lado. Arqueou a sobrancelha.

—Holly. - chamou Cory, a ruiva correu até eles nos seus saltos pretos com bolinhas. - Quero te apresentar uma pessoa. Essa é Emma.

—Oi. - acenou sorrindo, Holly retribuiu o sorriso.

—Oi, você é tão linda quanto Cory falou. Não me admira que ele esteja caidinho por você. - Emma sentiu suas bochechas corarem, mas não se sentiu envergonhada ao contrário de Cory que parecia preste a cavar um buraco e meter a cara lá dentro. – Ai Deus! Falei demais, sinto muito. - Holle parecia desconcertada. - Às vezes falo demais e perco a noção.

—Não se preocupe, está tudo bem. - a tranquilizou. Já estava acostumada com pessoas assim, Allison havia herdado esse pequeno tique de Felicity e Camille do tempo de convivência com Jenny.

—Não, não está. - Holly sussurrou mais para si mesma, ela parecia nervosa e um pouco avoada.

— O que houve Holiday? - Cory perguntou, Emma arqueou a sobrancelha para o apelido peculiar.

—Não é nada. É que eu estou saindo com um cara, que eu conhece a alguns dias, e eu acho que isso tem futuro. – explicou com um sorriso tão grande que Emma achava que era impossível.

—E qual é o problema?

—O problema é a ex-namorada dele. – suspirou desesperada. - Ela trabalha com ele vinte e quatro horas por dia, acho que ela sente algo por ele. Estou no meio do fogo cruzado!

—Olha, sei que pode parecer difícil, mas se você gosta mesmo dele não deveria deixar ele escapar. - Emma aconselhou. - O futuro é sempre incerto, duvidoso, assombroso, mas, ás vezes, ele guarda surpresas peculiares e encantadoras. Você só não tem que ter medo dele.

—Obrigada pelo conselho. - Holly sorriu e puxou o irmão pela mão. - Vamos, ainda temos que comprar as coisas para mamãe. Tchau Emma, foi um prezar te conhecer.

—O prazer foi meu. - acenou para Cory, mas enquanto eles saiam ela ainda pode ouvir Holly falar:

—Não deixa ela escapar.

Emma não podia deixar de sorrir. Holly era uma figura tão encantadora e confusa, até lembrava um pouco Felicity. E por falar na sua tia, se suas contagens estiverem certas -e com certezas estão- algo estava preste a acontecer, algo grande, bem grande.

—Parece que alguém viu um passarinho verde. - Íris cantarolou a trazendo de volta à terra firme.

—Não é nada. - desconversou, pegando o latte de chocolate e os cookies.

—Claro. - sua madrinha deu de ombros, mordeu o cupcake de morango então a encarou profundamente. - Desembucha.

Fez uma careta para Íris antes de falar sobre Cory e como se conheceram, contou sobre a noite na varanda, sobre o encontro na delegacia e sobre a tarde no cinema, contou sobre o beijo de Tommy e sobre a prisão. Íris ouvia atentamente, comentava alguma coisa, fazia perguntas e riu quando ela contou sobre o como ela e Tommy acabaram na guerra de tinta, então ela percebeu que o foco da conversa havia mudado e que Cory já havia sido esquecido, agora era só Tommy e Íris pareceu notar isso.

Saíram do Jitters por volta da uma da tarde, seguiram para o apartamento de Caitlin e como havia prometido a doutora, Íris ficaria até ela chegar.

Emma estava agachada dentro closet do quarto de Caitlin, ela vasculhava as caixas procurando algo para se entreter. Havia achado um álbum de fotos antigas, algumas roupas de Ronnie, um fichário com algumas montagens bem estranhas -deveria perguntar a Caitlin depois-, uma camisa do S.T.A.R.S Labs que continha um perfume familiar, uma caixa retangular com um vestido branco envolto em papel de seda e, finalmente, escondido lá no fundo, um ukulele.

Emma morria por um ukulele, era um dos únicos instrumentos que ela sabia tocar, além do piano. Ele era tão fofinho e marrom, não fazia ideia de como aquilo tinha ido parar nas mãos de sua mãe.

I don’t know my name. I don’t play by the rules of the game. - arriscou as primeiras notas, forçando a memória para lembrar da letra e do ritmo da música. – So you say i’m just trying. Just trying¹.

Tivera aula de piano dos sete aos doze anos, e o ukulele havia sido um extra para os momentos em que a professora faltava e ela escapava para sala ao lado onde o professor era bonzinho e deixava que participasse, mesmo sem ter se inscrito.

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—I'm lost. Trying to get found. In the ocean of people. Please don't ask me any questions.

Estava tão entretida que nem percebeu quando a porta foi aberta e que Íris e Caitlin a observavam. Quando tocava era somente ela e ela, não notava ninguém ao seu redor, não escutava ou via nada.

—Emma. - Caitlin a abraçou por trás. - Você toca bem.

—Obrigada. De quem é esse ukulele?

—Meu pai me deu de presente.

—Você sabe tocar? - perguntou Íris se sentando ao lado delas.

A doutora fez uma careta e negou com a cabeça, Emma riu. As três conversaram por horas, até Íris anunciar que precisava voltar para o jornal, mas antes Caitlin fez um pedido que quase matou Emma de felicidade.

—Será que você pode cuidar de Emma está noite?

—Claro, amei ficar com ela. Mas por que?

Caitlin mordeu o lábio inferior.

—Vou jantar com uma pessoa.

—Com quem? - Íris perguntou com os olhos brilhando de curiosidade.

—Barry.

Emma não soube dizer se havia sido o seu grito ou o de Íris que soou mais alto, Caitlin teve que tampar os ouvidos.

—Finalmente! - exclamou, acompanhando Íris que gritava:

—Milagres existem!

-Não exagerem. - pediu Caitlin. - É apenas um jantar.

Revirou os olhos, como já dizia o quinto fator Allen:

Se duas pessoas saem para jantar ou almoçar

sozinhas, sim isso é um encontro.

¹ Grace VanderWall - I don't know my name