A Filha da Noite

Capítulo 33


POV Heidi

Santa Hécate, é sério que a Melanie tinha mesmo explodido uma porta? Cara, que poder. Agora não me sinto tão anormal assim: faço magia e sou invulnerável, mas minha amiga tem marcas estranhas na testa e pode fazer bolas de fogo preto ou sei lá o que com as mãos. O único problema era que ela se cansava muito com isso, me deixando sozinha com um bando de escorpiões intermináveis e uma loira chorona. Eu mereço.

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Dei as costas aos escorpiões e tentei carregar (tá, acho que arrastar seria um termo mais apropriado) Melanie por um braço, porque o outro braço dela estava ocupado com aquele escudo imenso.

— Ei, você! — Eu chamei a loira chorona após tentar inutilmente arrastar Melanie por alguns metros, mas conseguindo apenas alguns centímetros. — Seu nome?

— Summer. — Ela respondeu. Ah, que ironia. A estação mais fresca para a meio-sangue mais fresca que eu já vi. Quer dizer, para mim o verão é uma estação fresca. Toda aquela gente feliz demais indo para praias e piscinas e...

Ok, distúrbio de déficit de atenção funcionando aqui.

— Tá. Summer. Faz um favor? Vai até aquele carro — eu disse, apontando nosso carro — e acorda todo mundo nele, sem hesitar. Ou acorda ao menos o motorista. Entendeu? Agora VAI!

Summer me olhou nervosa e assentiu, e então saiu correndo para o nosso carro. Eu me virei e continuei detonando mais alguns escorpiões.

POV Summer

Ai, era só o que me faltava! Como se eu já não tivesse problemas demais, agora sou atacada por escorpiões mutantes e vejo duas garotas com praticamente a minha idade lutarem com eles com armas de verdade... E uma delas tinha umas tatuagens estranhas na cara. E soltou um raio preto com a MÃO! Me pergunto quando vão aparecer as câmeras e vão me dizer que estou numa pegadinha da TV... Tenho que dar os parabéns ao diretor pelos efeitos especiais.

Fui até os fusquinha velho que as garotas haviam me mostrado. Havia mais dois adolescentes de uns 15, 16 anos; e um cara que devia ter uns 18. Todos eles dormiam. Abri a porta do motorista e cutuquei o garoto de 15-ou-16 anos sentado ali. Ele tinha a pele meio morena, mas meio pálida (isso faz algum sentido?), estava todo de preto e usava um anel com uma caveira. Que legal, além de ser uma pegadinha, é uma pegadinha com um bando de góticos malucos.

— Ei, você. — Eu disse, receosa, cutucando o motorista. — Acorda. Vamos, acorda! Mandaram eu te acordar!

Olhei, aflita, para a loja do posto onde a gótica maluca número um continuava lutando contra escorpiões enquanto a gótica maluca número dois continuava caída no chão.

— Hmm... — O garoto resmungou, tocando meu braço. — Meeel…?

Mel? Não era assim que uma das garotas havia chamado a outra? Mel... Melanie? O que, ela era namorada desse cara ou algo assim pra ele sonhar com ela? De um jeito ou de outro, eu já sabia como acordá-lo.

— MEL ESTÁ EM PERIGO! — Gritei com minha voz mais estridente no ouvido dele. Ele me soltou e deu um pulo.

— AH! O QUE? ONDE? — Ele gritou, olhando para todos os lados. No banco atrás dele, uma gótica maluca número três com cabelos pretos repicados resmungou algo como “Nico, cala a boca” e mudou de posição no banco, enquanto o cara ao lado dela continuava dormindo e babando tranquilamente.

— Quem é você? — O cara que eu havia acordado me perguntou quando seu olhar parou em mim.

— Summer Johnson. Aquelas garotas pediram pra eu te acordar... — Eu disse, apontando para onde aquelas duas continuavam na mesma. O gótico maluco número quatro disse um palavrão muito feio e correu para elas. Fiquei alguns momentos no dilema de “será que acordo os outros ou não?” até que decidi não fazer isso e passei à minha próxima tarefa de abastecer o carro.

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POV Nico

Corri como um louco para onde Heidi chutava (literalmente) alguns escorpiões para longe de uma Melanie desmaiada. Tirei minha espada e pulei ao lado de Heidi, ajudando-a com alguns escorpiões.

— Ah, finalmente você chegou! — Ela me disse.

— De onde estão vindo tantos monstros? — Perguntei. — Geralmente eles vêm de fendas do Mundo Inferior, mas não consigo sentir nada.

— Não sei. — Ela falou com pesar, transformando uma fileira de escorpiões em pó com um só golpe. — Eu sinto a magia nisto aqui. As Fúrias... Aliás, foram elas que nos deixaram com estes agradáveis presentinhos... Devem ter feito algum encanto para encobrir a entrada deles.

As Fúrias? Fui tomado por uma onda súbita de raiva, e comecei a destroçar escorpiões com mais vigor. É, eu teria que ter uma palavrinha com meu pai depois.

— Hey, Nico! — Heidi me chamou. — Continua impedindo eles de chegarem perto da Mel, que eu vou fazer uma coisa pra descobrir de onde eles vêm!

Nem me dei ao trabalho de assentir, simplesmente continuei transformando monstros em pó com a mesma voracidade. Heidi pegou um escorpião (sim, ela pegou, mesmo) e correu a lâmina de sua espada por ele lentamente, fazendo escorrer veneno verde e sangue escuro de monstro (eu nem sabia que escorpiões tinham sangue, mas...). Ela começou a traçar um círculo com a mistura de veneno + sangue de monstro, e quando terminou, pulou no meio do círculo com o escorpião ainda meio vivo nas mãos.

— Oh Hécate, senhora da magia e das encruzilhadas, limpe a Névoa que esconde a entrada destas criaturas. Faça-me ver a fonte deste mal, e que eu tenha forçar para dar-lhe um fim! — Falou ela para o alto.

Então, foi como se uma névoa de verdade estivesse se dissipando. O ar tremulou e rodopiou à nossa volta, mas a única mudança na cena foi o enorme buraco que apareceu atrás de uma prateleira de salgadinhos, de onde ainda saíam mais alguns escorpiões. Fui até o buraco e fiz ele se fechar. Heidi e eu acabamos com os últimos escorpiões, o que não foi muito difícil.

— Belo trabalho. — Eu disse, olhando para a quantidade de pó de monstro à nossa volta. — Parabéns, bruxinha.

— Obrigada. Você também não foi nada mal.

Guardei minha espada e peguei Melanie do chão. Eu podia sentir que ela estava desmaiada de cansaço, mas não havia sido ferida. Aquilo me deixava muito mais tranqüilo. Heidi e eu andamos até o carro, que aquela garota que havia me acordado estava abastecendo.

— De onde vocês tiraram ela? — Perguntei a Heidi.

— Nós a encontramos aqui. Ela estava no posto quando as Fúrias nos deixaram com aqueles amigos super legais.

Bufei ao ouvir de novo sobre as Fúrias. Meu pai era tão psicopata às vezes. Só às vezes.

— Heidi, você poderia acordar Percy e Thalia? — Eu pedi com toda a calma que pude reunir. — Precisamos de mais espaço no banco de trás.

— Sim, senhor! — Heidi respondeu batendo continência. Eu revirei os olhos.

Heidi abriu a porta de trás do carro e se atirou por cima de Percy e de Thalia, gritando algo sobre gigantes assassinos me decapitando, e os dois acordaram assustados. Revirei os olhos mais uma vez.

— HEIDI! — Percy gritou com ela.

— O que você PENSA que está fazendo, garota? — Thalia perguntou, semicerrando os olhos e pegando Heidi por um braço. Pelo pulo que Heidi deu, Thalia deve ter lhe dado um choque. — Não estou vendo nenhum gigante assassino, e a cabeça do Nico parece estar em seu devido lugar.

— Thalia, eu não ficaria dando choques nos outros assim. Você realmente não sabe do que eu sou capaz, pára-raios. E você, Percy, vai limpar essa baba antes de vir gritar comigo.

Percy passou a mão no rosto e olhou para Heidi de um jeito triste.

— Que foi? — Ela perguntou.

— Annabeth sempre dizia que eu babava dormindo.

Tive que virar de costas para ele e me esforçar mais do que nunca para não rir. Quer dizer, eu sentia muito por Annabeth, de verdade. Mas que belo jeito de se lembrar da namorada morta, não?

— Er, será que vocês podem dar licença aí? — Perguntei. Os três se viraram para mim e viram quem eu trazia nos braços.

— O que houve? — Percy perguntou.

— Longa história. — Disse Heidi abrindo a outra porta do banco de trás e saindo de cima de Percy e Thalia.

— Ah, mas não é nada sério. — Disse Thalia, soltando o cinto de segurança. — Se fosse, o Nico estaria surtando e já teria nos expulsado daqui. Talvez já tivesse nos matado, também.

Ignorei o comentário dela e entrei no carro, sentando do lado esquerdo do banco de trás. Acomodei Melanie em meu colo, com a cabeça encostada no meu ombro.

— Quem é ela? — Ouvi Thalia perguntar. Ela devia ter visto aquela garota... Como é mesmo o nome dela?

— Ah. Povo, essa é a Summer. — Ouvi Heidi apresentá-la. — Summer, estes são Percy Jackson e Thalia...?

— Simplesmente Thalia. — Ela respondeu, mais séria.

— Er... Oi. — A voz tímida de Summer disse.

— Ela é uma de nós? — Percy perguntou.

— Creio que sim. — Respondeu Heidi. — Pelo menos tem todos os “sintomas”. E estava comigo e com Melanie quando as Fúrias vieram e mandaram trocentos escorpiões atrás de nós.

— Fúrias? — Perguntou a voz assustada de Summer.

— Summer, só pra saber... — Disse Thalia em uma voz paciente. — Você por acaso não conhece o seu pai ou a sua mãe?

— O que vocês têm a ver com isso? — Respondeu ela. Wow. Nunca pensei que aquela garotinha fosse dar uma resposta dessas.

— É. Ela não conhece. — Disse Heidi. — Terminou de abastecer?

— Sim...

— Ótimo! Então entra aí. Percy e Thalia, me ajudem aqui. Algum de vocês pode dirigir?

Eles disseram que sim, então ouvi alguns barulhos e gritos de protesto. Em seguida, Summer estava sendo jogada com violência ao meu lado no carro, e Heidi sentava ao lado dela. Percy sentou no assento do motorista e Thalia ao lado dele.

— O que é isso?! — Summer gritou. Pensei em tapar os ouvidos de Melanie, mas isso pouco adiantaria com a voz estridente daquela garota.

— Você vai entender. — Disse Percy, girando a chave na ignição do carro. — Mas não podemos falar nada até estarmos a salvo.

— Como assim “vai entender”? Como assim ”a salvo”? — Summer gritava. Ela remexeu o bolso do short jeans que usava e tirou um celular fino e amarelo de lá. — Vou ligar para o meu av...

— NEM PENSE NISSO! — Thalia gritou, tirando o celular da mão de Summer. Uma corrente elétrica passou pela mão de Thalia e desintegrou o aparelho diante de nossos olhos.

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— VOCÊ É LOUCA?! — Summer berrou, beirando o desespero. — Aliás, como você faz isso? O que vocês querem de mim? Estão me seqüestrando?!

— CALA A BOCA, GAROTA! — Thalia e Heidi gritaram ao mesmo tempo. Por Hades, aquele berreiro estava me dando dor de cabeça. Um carro minúsculo com três garotas berrando não é muito bom para quem está acostumado ao silêncio do Submundo.

— Calem a boca todas vocês. — Percy disse. Elas o ignoraram.

— POR QUE EU?! — Summer continuava gritando, agora com os olhos cheios d’água. Que vontade de mandar aquela garota para o mundo do meu pai. — POR QUE SEMPRE EU?! POR QUE NÃO ME DEIXAM EM PAZ, CARAMBA?!

Summer começou a chorar e tirou um colar de dentro da blusa azul celeste que ela usava. O colar tinha dois pingentes: um sol, muito parecido com a lua de Melanie; e um crucifixo. Ela pegou o sol entre as mãos e chorou ainda mais.

— Que eca. Tira isso daí. — Disse Heidi, apontando o crucifixo. Summer limitou-se a lançar um olhar ressentido a ela.

Acho que eu já tinha uma boa idéia de quem ela era filha.

— Ok pessoal, nós vamos acelerar agora. Apertem os cintos! —Percy avisou do assento do motorista.

Apertei Melanie em meus braços e fechei os olhos pouco antes de aquela voz soar pelo carro pedindo a humanos e semideuses que fechassem os olhos.