A Filha da Noite

Capítulo 30


Passamos pelos Campos de Asfodelos e perto do Elísio e dos Campos de Punição, até chegarmos à frente de um enorme palácio de obsidiana com um jardim cheio de plantas coloridas e estranhas na frente. Já não éramos mais sombras, porque o perigo maior já havia passado.

Chegamos perto do palácio, e vimos que havia vários esqueletos com uniformes de soldados de várias épocas diferentes guardando a entrada. Havia soldados com armaduras gregas e espadas e soldados com roupas camufladas e armas de fogo. Toquei meu pulso, e vi que o bracelete mágico estava lá. Percebi que Thalia também levou a mão ao seu bracelete prateado que na verdade era seu escudo Aegis. Porém, conseguimos passar pelos esqueletos sem que eles fizessem nada além de nos encarar com as órbitas vazias. Quando chegamos às portas do palácio, Thalia foi abri-las sem cerimônia, mas elas se abriram sozinhas antes que ela as tocasse. Entramos em uma ampla sala escura, e vimos Hades sentado em seu trono. Em um trono menor ao seu lado estava Perséfone.

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— Hey, tio! Oi, prima! — Thalia e Percy cumprimentaram. Eu simplesmente continuei encarando Hades com uma sobrancelha levantada. Ele não me olhava, mas vi que Perséfone me lançava um sorriso afetuoso. Sorri para ela de volta.

— Senhora Perséfone. — Eu disse, fazendo uma reverência. — Gostaria de falar conosco?

— Ah. Você. — Disse Hades, me olhando com uma expressão estranha, antes que Perséfone pudesse responder. Ele falou com bastante ênfase no “você”. Quando eu digo ênfase, leia-se “desprezo extra”. Sua expressão parecia uma mistura estranha de curiosidade e desprezo.

— Amor, não precisa tratar a menina assim. — Perséfone disse com um carinho no braço do marido. Eu já havia simpatizado com ela.

— Ah, minha florzinha. Você sabe que eu já não gosto de semideuses, imagine dela!

— Oh, Deméter. — Ela exclamou, do mesmo jeito que dizemos ‘ai, meus deuses’. — Por que você tem que julgá-los tanto por quem são seus pais?

— Não estou julgando por quem é a mãe dela! — Ele exclamou com surpresa.

Naquele momento uma mulher com vestido cor de trigo e cabelos pretos iguais aos de Perséfone se materializou entre os dois tronos. Hades rolou os olhos e recebeu um olhar de desprezo em resposta.

— Mãe?! — Perséfone parecia surpresa.

— Você me chamou, não chamou? — Respondeu Deméter. — Ouvi você falar ‘Oh, Deméter’, e vim logo. Você sabe que eu estou sempre pronta para vir salvar você do seu marido psicopata.

Hades bufou. Perséfone ia dizer algo em defesa de Hades, mas Percy pigarreou. Os três deuses se voltaram para nós.

— Er... Tios, prima... Nós estamos aqui, esqueceram? E viemos por um propósito. Você sabe... Annabeth. Nico. Heidi.

— Ah, Annabeth! É aquela filha de Atena que eu resgatei, certo? — Perguntou Perséfone.

Você salvou Annabeth?! — Perguntamos nós três juntos. Hades e Deméter olharam Perséfone com as sobrancelhas arqueadas.

— Sim, sim. A propósito, era sobre isso que eu queria falar com vocês. Vocês sabem, eu ouvi suas preces, Melanie White. Como fazia muito tempo que eu não fazia uma boa ação... Além do mais, vocês são corajosos, e a coragem é uma das coisas que eu mais prezo em alguém. Graças a vocês, nosso mundo está a salvo de Tífon. Então pensei, ‘por que não tentar salvar a menina’...?

— Perséfone! — Deméter ralhou assim que ela terminou de falar. Nós três estávamos estupefatos. — Você não devia ter feito isso. Isso é antinatural. Não se deve alterar a morte das pessoas. Se as Parcas acham que seu destino é morrer, não há por que intervir.

— Em alguma coisa eu tenho que concordar com a sua mãe. — Hades resmungou.

— Ah, não fique assim comigo! Você também salvou o seu filho!

— Mas ele ainda está bem vivo! Isso quer dizer que o destino dele não era morrer agora, afinal!

— Nico! — Falei sem pensar. Os três me olharam com curiosidade. — Quer dizer... Onde ele está? — Eu estava ansiosa para vê-lo de novo. Estava morrendo de saudades dele.

Hades me olhou com divertimento e frieza. — Ah... Sim, eu tinha esquecido entre o pequeno... Lance entre você e o meu filho.

Olhei para ele com raiva.

— Vocês não querem ver sua amiga? Posso mostrá-la a vocês! — Perséfone disse alegremente, provavelmente vendo o brilho maníaco no olhar que Hades me lançava. Deméter bufou e desapareceu. Nós dissemos que adoraríamos, e já íamos seguindo a rainha do Mundo Inferior por um corredor lateral quando Hades comunicou que queria ter uma palavrinha comigo. Perséfone tentou em vão impedi-lo de ficar a sós comigo, mas não houve jeito.

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— Apenas não mate a menina, Hades. Seu filho ia ficar horrorizado com isso. — Ela disse dando de ombros, e saiu com Percy e Thalia, que me lançaram um olhar receoso.

— Então... Melanie White. — Hades se voltou para mim assim que a esposa saiu com meus amigos.

— O que você quer de mim, Hades? — Perguntei a ele com ódio. Eu havia odiado Hades tanto quanto havia gostado de Perséfone. E pensar que eu sempre o achei um dos deuses mais interessantes.

— Garota, você sabe que uma das coisas que eu mais queria no momento seria matar você, certo? — Ele disse, me encarando de um jeito estranho. — Mas não farei isso, porque tenho consideração por Nico e por Perséfone, e os dois se encantaram com você de um jeito incompreensível para mim. Então, eu irei somente aprisioná-la aqui durante alguns séculos!

— MAS O QUE...

Não pude concluir minha pergunta, pois meus braços foram agarrados por dois esqueletos gigantes com uniformes de soldados. Uma das Fúrias veio até mim e riu diabolicamente (pelo menos eu acho que aquele som era uma risada), tirando seu chicote incandescente e dando uma chicotada na queimadura que eu tinha na perna. Eu gritei. Droga. Os esqueletos começaram a me arrastar por um outro corredor, perto da porta, enquanto eu tentava em vão dar um jeito naquelas coisas e me debatia tentando fugir.

— O que você pensa que está fazendo, seu maníaco?! — Gritei com ele. A Fúria tentou me acertar de novo, mas consegui desviar a perna dessa vez.

— Eu sei que o Nico não me obedeceria se eu mandasse ele ficar longe de você. — Ele disse com uma calma impressionante. — Então, temos que fazer a coisa do jeito mais difícil. Vou aprisionar você nos meus calabouços. Checaremos você daqui a uns oitenta anos, sim?

— Você é doente! — Gritei com raiva para ele. A Fúria me acertou mais uma vez, agora no pé. Ai.

— Pai! — Ouvi a voz de Nico chamar. Hades fez uma careta. A Fúria e os esqueletos se viraram na direção da voz e vi Nico com uma cara de terror parado na entrada de outro corredor lateral. Deuses, quantos corredores tinha aquela sala?

— MELANIE! — Ele gritou. Seus olhos se voltaram para os esqueletos que me seguravam, com ódio, e os esqueletos desabaram no chão. Ele se voltou para a Fúria. — TISÍFONE! PARE!

Tisífone assentiu de má vontade e recolheu seu chicote, voando para longe. Minha perna esquerda fraquejou assim que os esqueletos me soltaram, e eu caí. Nico veio correndo até mim e me abraçou forte.

— Nico. — Ouvimos Hades dizer com uma voz dura.

— Melanie! — Ele pegou o meu rosto entre as mãos. Seus olhos estavam cheios de alívio, e ele me beijou, ignorando completamente o pai.

— NICO! — Hades berrou, e o salão inteiro tremeu, fazendo algumas estalactites caírem do teto. Nico olhou para ele, mas continuou me abraçando. Eu me agarrei a ele como se minha vida dependesse disso. Eu estava tão feliz em vê-lo de novo! Claro, teria sido melhor se nós tivéssemos privacidade apropriada para comemorar nosso reencontro. Decentemente, é claro.

— Nico. — Hades bufou, pela terceira vez. — Será que é difícil de entender, garoto? Eu não quero você perto dessa cria de noite! Estava conversando civilizadamente com ela sobre isso, agora. Aí você nos interrompeu.

— Ah, muito civilizadamente! Você ia aprisioná-la! E ela acabou até se machucando. — Nico levou a mão à queimadura na minha coxa esquerda. Doía muito. Ele encostou a mão e eu gemi. Ele afastou a mão e murmurou um “desculpa, amor” no meu ouvido. Aquelas palavras me aqueceram e me fizeram sentir imensamente melhor.

— Não importa, Nico. Mas uma coisa eu sei: quero você longe dessa menina!

— Por que, pai?! Só porque ela é filha da mulher que governava o seu reino antes?! Pelo amor dos deuses, pai! Se tivessem mandado você ficar longe da minha mãe por uma razão tão idiota quanto essa, você ficaria?

Hades ficou calado. Sua expressão tinha raiva. E derrota.

— Mas não é por... — Ele deixou a frase no ar. Sua postura ficou subitamente diferente. Muito mais sombria. — QUEM A DEIXOU ENTRAR?! — Berrou ele para ninguém específico. Ouvimos a porta do palácio se abrir e nos viramos para ver o novo visitante.

Era uma mulher alta (não digo alta para um ser humano, e sim alta para um deus, o que equivale a uns cinco metros de altura, no mínimo) e pálida. Usava um manto preto na cabeça e no corpo, mas seu manto não era simplesmente preto. Ele parecia conter estrelas, planetas, luas, cometas. Atrás dela vinham cinco seres menores, também com mantos pretos. Eu não conseguia ver seus rostos, mas já imaginava quem fossem.

— Não preciso de permissão para entrar aqui, Hades. — Disse a mulher em uma voz clara e solene. Então ela se voltou para mim. Seu rosto era absurdamente parecido com o meu, e havia uma marca de lua em sua testa, e seu rosto inteiro era adornado por tatuagens exóticas em linhas que iam descendo pelo pescoço e iam até sabe-se lá onde. Seus olhos eram pretos e tinham um brilho sábio e antigo, e também pareciam conter o céu noturno inteiro.

— Olá, Melanie. — Me disse minha mãe em uma voz acolhedora.