Universo

the stars look very different today


Quando vi a garota de jaqueta roxa, soube que ela tinha algo de esquisito.

Ela era nova na escola, e não fez esforços para tentar se aproximar de ninguém. Apenas se sentou no fundo da sala, ora lendo um livro, ora tirando o esmalte preto da sua unha, mas sempre desinteressada.

“Quem é ela?” Cochichei para Cyborg aquele dia, indicando com a cabeça — o que eu esperava ser discretamente — para onde a garota sentada.

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“Sei lá,” ele deu de ombros. “Bumblebee me disse que o nome dela é Raven. Deve ser mais uma garota metida à gótica.”

Olhei à garota. Raven. Agora ela encarava a mesa entediada, com seu cabelo curto caindo sobre os olhos e coturno com tachinhas.

Ela me olhou de volta. Seu olhar era vazio.

Voltei minha atenção ao quadro, dando de ombros. Deveria ser o que Cyborg falou mesmo.

+

Não era só isso.

Tive essa certeza ao vê-la andando pelos corredores da escola de braços dados com Kori, ou Starfire como Robin gostava de chamá-la para não deixar tão na cara a queda que tinha por ela.

Raven e Kori não tinham nada em comum.

Mas conforme as duas passaram por mim e eu ouvi apenas um pedaço do monólogo animado de Kori, notei um brilho no olhar de Raven que não estava lá quando ela me olhou.

Por algum motivo, desejei que um dia ela me olhasse dessa forma também.

+

Quando matei aula na biblioteca para professor nenhum me achar e vi Raven lá, achei que era algum tipo de perseguição. Dela, dos meus pensamentos. No fim dava no mesmo.

Ela estava sentada na mesa mais afastada; perto da janela, lendo com seus fones no volume máximo.

Como ela conseguia se concentrar era um mistério para mim.

Peguei um quadrinho aleatório do Homem-Aranha e me sentei na sua frente.

Ela não se preocupou em me olhar, mas percebi sua música ficar mais baixa.

“Poe, huh?” Não resisti ao comentário quando li a capa negra do livro da garota, o que fez Raven arrancar um fone da orelha e me olhar com uma sobrancelha arqueada.

“Homem-Aranha, huh?” Ela respondeu, mas mais parecia um deboche.

Sorri com isso. Era o mais perto de uma emoção que a vi expressar longe de Kori.

“Você realmente tem toda essa vibe meio gótica, não?” Resolvi implicar. Ela me olhou friamente. Não era à toa que Cyborg dizia que no fundo eu era suicida. “Ouve Nirvana também?”

“Bem, você tem toda essa vibe meio babaca, com comentários desnecessários, não? Mata aula e irrita os professores com piadinhas no meio da aula também?” Ela retrucou, com um brilho divertido no olhar. “E Nirvana é grunge, idiota.”

Eu não pude deixar de rir.

+

Raven era de um planeta completamente diferente.

Quando lentamente invadi sua vida e ela deixou, ficou bem claro.

Eu via isso nas suas roupas, nas suas palavras, na forma que seu corpo se movimentava.

Porém, eu não vi quando me apaixonei por ela. Mas quando percebi, me senti um satélite, atraído pela sua gravidade.

+

Quando vi a garota de jaqueta roxa, soube que ela tinha algo de esquisito. Mas nunca imaginei que ela me faria sentir coisas esquisitas.

Ela me deixava esquisito.

Seu cabelo escuro me lembrava de todas as partes desconhecidas do universo.

Seus olhos negros, sempre tão sem emoção, brilhavam como estrelas quando ela achava que ninguém estava vendo.

E quando a beijei pela primeira vez, atrás da estante da biblioteca da escola quando discutíamos sobre quadrinhos e literatura clássica, ela roubou minha respiração como um buraco negro.

Raven não era só de um planeta completamente diferente. Ela era um universo desconhecido.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.