2 Temp - Ele ajudaria?

GUILHERME LACERDA

Ainda me lembro do quão irritada ela ficava quando eu roubava suas bonecas. Ainda lembro das vezes em que se espremia ao meu lado na cama, com medo da escuridão ou das trovoadas de dias chuvosos. Ainda lembro de todos os choros inocentes, das birras ou das gargalhadas. Tudo isso parece não fazer parte da nova Helena.

Sem forças para ver, desço as escadas com rapidez, desabando sobre o sofá, agora lotada de roupas e acessórios de bebê.

- Gui - Gabrielle se junta a mim, acarisciando meu ombro.

- O que esta havendo com ela? - pergunto, deixando que as lagrimas escorram pelo meu rosto.

Ela umidece os labios.

- Amor - começa. - Acha que Helena ficaria bem se fosse pra longe?

A olho.

- Longe? O que esta querendo dizer?

- Ouvi sua mãe conversar com alguem pelo telefone - se ajeita no sofá, como se estivesse desconfortavel com o assunto. - não sei se deveria dizer mas acho que ela quer manda-la para uma clinica, ou algo assim.

- Clinica? Uma clinica psiquiatrica? - ela da de ombros.

- Não sei. Foi só o que ouvi. - suspira. - Helena esta fora de controle. Acho que tudo esta, de certa forma, a pressionando. A doença, a gravidez...

- O Arthur. - completo. - Ela ainda ama aquele babaca.

Passo a mão pelo rosto, frustrado com a situação.

- Não quero que ela vá embora. - sussurra ela. - Mas tambem não quero vê-la morrendo aos poucos.

A puxo para meus braços, acarisciando seus cabelos.

- Vamos dar um jeito. Temos que dar.

- Você acha que - me olha, os olhos vermelhos. - seu pai a ajudaria?

Paro por um momento, pensando seriamente sobre essa decisão. Helena e ele sempre foram muito proximos, mesmo depois que ele foi embora. Mesmo quando eu e Gabriel diziamos o quão idiota ele era. Talvez, seja uma boa ideia. E se não for, pelo menos saberemos que aquele homem jamas forá nosso pai.