04: A GUIA DA AMNÉSIA

— Napoliiiiiiiiiiiiiiiii!!!. – Alguém me chamou na porta do meu quarto. Desviei os olhos do notebook a fim de encarar quem me chamava; mas não é como se eu precisasse fazer isso para saber quem era. Séculos convivendo com certas pessoas te fazem reconhecer suas vozes em qualquer lugar e circunstância que fosse, mesmo que essas pessoas inalassem enormes quantidades de gás hélio, o suficiente para deixar a voz igual à voz daquele esquilo americano irritante que eu não sei o nome. Ou seja, eu não precisava olhar para saber que era Calábria quem estava parado na porta, com uma mão apoiada na parede e a outra arrumando distraidamente os cabelos castanhos, mechados de loiro e ruivo.

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- O que foi, fratello?. Questionei, ainda com as mãos pousadas no teclado.

Notei que ele começara a tamborilar os dedos na porta, gesto que eu aprendi com o tempo que significava nervosismo; e não, isso não combinava com a calma habitual do calabrês. Notei que seus olhos estavam fechados, outro gesto bem conhecido. Agora só faltava ele começar a roer as unhas!.

— Eu queria... – Começou, em um tom quase inaudível. – Queria te pedir uma coisa...

Assenti com a cabeça, incentivando-o a prosseguir.

— É que... – Seguiu ele. – Eu preciso de um artigo para apresentar no encontro internacional que vai acontecer semana que vem, mas...

— Mas...?

— Mas o artigo que me enviaram está todo em espanhol, e eu não estou entendendo direito, e... – Ele parou, abrindo os olhos de um tom verde água, e focando-os em mim para ver minha reação. Não consegui evitar uma pequena risada involuntária que escapou de meus lábios. Não era novidade para ninguém que eu sabia espanhol fluentemente. Mas também não era novidade para ninguém que eu odiava o bastardo do Espanha!. Mas não era como se eu odiasse a língua espanhola por isso.

— Qual é o nome do artigo?. – Perguntei, apenas para receber um olhar confuso como resposta.

— O que?. – Perguntou ele, meio atordoado.

— Qual o nome do artigo?. – Repeti, dando ênfase em cada palavra. – Vou traduzi-lo para você.

— Você vai?. – Fez ele, ainda com cara de tonto.

Assenti com a cabeça.

— É isso que você quer, não é?. – Perguntei retoricamente. – Então sim, eu vou. Só que mais tarde...

— Você está ocupado?. – Perguntou ele.

Olhei para a tela do notebook, onde mostrava a página inicial do Facebook.

— Sim. – Menti, e ele suspirou. Sério, era muito fácil enrolá-lo às vezes.

— Tudo bem. – Disse ele, me estendendo um papel com algo anotado. – Esse é o nome do artigo. E muito obrigado, fratello.

Peguei o papel e coloquei no bolso da calça, respondendo um “de nada”, enquanto ele desaparecia das minhas vistas. Voltei minha atenção para a rede social a qual eu estava olhando antes, me deparando com um post de Calábria no início do feed de notícias.

Post.

Giancarlo Calabrese

Por que meu espanhol é tão ruim?. TT.TT.

Nem preciso dizer que o remorso de deixar o Gianni esperando foi mais forte que eu, e logo me vi abrindo outra guia na internet, com o Mozilla Firefox, por que eu não tenho paciência pra usar o Explorer. Mas então...

O que eu ia procurar mesmo?.