01: TRIDENT.

Era mais um daqueles dias irritantes em que Espírito Santo passaria horas no aeroporto. A reunião dos estados brasileiros havia sido em Brasília aquela vez, e justo naquele dia não havia qualquer avião que pudesse pegar diretamente para Vitória, o que o havia obrigado a fazer escala no Rio de Janeiro. Claro que tinha a casa de seu pai, Brasil, onde ele e seus irmãos passavam grande parte de seu tempo; mas ele tinha coisas importantes para fazer em seu estado, então a doce ideia foi por água a baixo; restava rezar para que o tempo passasse rápido, porque ele já não agüentava mais aturar Rio de Janeiro cantarolando “Cidade Maravilhosa” no seu ouvido.

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— Aff mas você poderia calar a boca, sabe?. – Comentou, no tom mas amargo que conseguiu no momento.

O carioca balançou a cabeça.

— Credo, Santo. – Disse, em um tom de falsa indignação. – Eu nem to incomodando.

— Está sim. – Respondeu de imediato, levantando do assento em que estava sentado enquanto esperava a hora de embarcar para o Rio. – Agora vigia meu assento que vou caçar algum lugar onde eu possa comprar café.

O carioca assentiu, sem antes tirar uma nota de vinte do bolso e estendê-la ao irmão. – Já que você está indo, trás pra mim também. Aproveita e compra algum chiclete pra mascar no avião, porque se bem te conheço você vai precisar, e digamos que eu também. Acho que mais de vinte não deve ficar...

— E se ficar?. – Foi a pergunta sacana do irmão, que aceitou a nota. Sabia que apenas uma xícara de café ali ficaria uns dez reais, e como sabia bem que Rio não mascava outro chiclete senão Trident, pelo visto não sobraria troco para o carioca. O próprio capixaba já estava triste de pagar um café para si.

O carioca deu um sorriso cruel.

— Se ficar... – Falou, dando uma pausa de suspense. – É só colocar na conta que o Brasília tem aqui...

O capixaba assentiu, e se mandou dali, rindo enquanto sussurrava para si o quanto seu irmão era problemático.

Rio esperou uns dez minutos até que avistou os inconfundíveis cabelos loiros sempre penteados da mesma forma que os de Itália do Norte.

— Aqui está. – Disse o capixaba, quando chegou no local. Este estendeu a xícara para o irmão, que a pegou com um “obrigado” carregado de sotaque carioca. Espírito Santo sentou-se, bebericando seu próprio café.

...

O loiro quase dormia recostado ao encosto macio do assento onde estava. Ao seu lado, Rio de Janeiro olhava pela janela do avião, enquanto com as mãos pressionava os ouvidos. Quando percebeu isso, o capixaba logo lembrou-se do chiclete que havia comprado no aeroporto, e que distraidamente havia posto no bolso de sua jaqueta. Retirou o pequeno pacote de Trident e estendeu um chiclete para o outro.

- Valeu, Santo. – Disse, enquanto pegava o doce e o jogava na boca com papel e tudo.

- Fala sério que você não desembrulhou o chiclete!. – Exclamou o espírito-santense.

— Mas é comestível. – Fez o outro, enquanto uma careta de desgosto tomava conta de seu rosto. – Só que é horrível...

O capixaba deu com a mão na testa.

— Ninguém merece. – Suspirou ele, enquanto desviava o olhar, e aos poucos adormecia.