Regar com sangue

II — Suor


— Arquimestra. Trago seu chá, arquimestra.

Ao ouvir a voz cândida do servo, a velha elfa abriu seus olhos cansados e empertigou-se na cadeira. Vento quente soprava da janela aberta à sua frente, trazendo os aromas do grande jardim abaixo. A visão das flores que seu falecido marido cultivara com tanto empenho costumava acalmá-la; quando suas aflições atacavam com força, porém, aquela vista só servia para encher-lhe o coração de saudade.

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— Obrigada, Canário. — A elfa conseguiu um esboço de sorriso nos lábios azulados, apesar de seu estado de espírito. Serve a esta casa desde sua primeira primavera e mesmo assim não consigo fazê-lo me chamar pelo nome — Tomarei aqui.

Canário pousou a prataria sobre o parapeito da janela e encheu uma xícara de cristal com o chá gelado. Entregou-a à elfa, evitando contato visual.

Bactra Anwar riu-se, encarando a ironia cruel de sua existência. Anos e anos militando pela paz com os humanos e o fim da escravidão, desde que ocupara o assento de seu marido no Conselho. Sequer conseguira fazer com que um humano que nascera sob seu teto tivesse coragem de fitar-lhe nos olhos.

Seu progresso? Noites em claro e inimigos poderosos.

Canário agora escovava os cabelos da mestra, em terrível estado após horas passadas no Conselho. As horas desperdiçadas. Bactra podia sentir o fracasso iminente. Não tinha os votos de que precisava para evitar o desastre.

— Marcharemos contra a humanidade novamente, Canário. Tantos arquimestres desejam... — murmurou, efetivamente falando sozinha. Não havia diálogos com o humano desde que ele percebera o significado da coleira em seu pescoço. — Tudo que posso fazer é ganhar tempo.

Não obteve resposta, é claro. O silêncio continuou a imperar naquele aposento, quebrado apenas pelo farfalhar das folhas.

Após tomar o último gole de chá, Bactra percebeu que ninguém mais lhe escovava os cabelos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.