Meu Milagre

Capítulo XXVII


Já faz exatos seis dias desde que Beatriz havia visto Richard – o rapaz não atende suas ligações e nem responde suas mensagens – seu coração clama pelo rapaz. Não come nada desde a manhã de sábado a jovem não come e nem sente fome, a única coisa que consegue fazer é chorar de saudade.

Seus dias de vida já estão chegando ao fim – tem apenas vinte dias – e dói saber que morrera em breve e não o veria. Beatriz sabe que o que sente por Richard é bem mais que uma paixão de adolescência e quer dizer isso antes de morrer.

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Miguel havia tentando falar com o rapaz no dia anterior, mas Richard recusou-se a ver o mais velho – na verdade ele não queria falar com ninguém – o mais velho entendia o lado do rapaz, mas o rapaz também precisava entender o lado da jovem.

Beatriz não se faz de vítima e nem gosta que os outros a vejam dessa forma, mas todos sabem que ela é uma vítima das circunstâncias da vida e isso faz com que todos tenham um carinho especial por ela. Durante esses seis dias havia sido visitada por muitas pessoas, menos Richard.

A porta do quarto é aberta, mas jovem não percebe, pois está perdida em pensamentos. Natália aproxima-se da cama da jovem e sorri aliviada em ver a mesma acordada.

— Oi, como você está? – Natália abre ainda mais o sorriso.

— Nati. – Diz animada. – Estou bem, melhor agora com você aqui comigo.

— Eu queria ter vindo antes, mas o colégio foi cheio essa semana. – Senta na ponta da cama, ao lado da jovem. – Por que não falou comigo?

— Está brava comigo? – Responde com outra pergunta.

— Não, eu entendo seu lado e no seu lugar eu faria o mesmo. – Segura a mão da cunhada. – Devia ter me contado, assim eu ajudaria você. Somos amigas.

— Estava com medo de perder você e o Richard. – Abaixa o olhar. – Não queria perder o pouco que tinha, mas acabei magoando pessoas inocentes.

— Não precisa se sentir assim. – Sorri para confortar a amiga. – Errar é humano e todos nos erramos.

— Mas o Richard me odeia. – Sua face volta a ser manchada pelas lágrimas. – Eu não queria que ele me odiasse. Como ele está?

— Chateado. – Vê a amiga derramar mais lágrimas. – O Richard acha que você quis se vingar...

— Claro que não. – Corta a amiga. – Eu nunca me vingaria dele. Eu o perdoei.

— Eu sei disso. – Diz tentando acalmar a amiga. – Mas ele não, ele acha que você ainda é apaixonada pelo Sebastian.

— Não. – Levanta exaurida. – Eu preciso ir falar com ele. – Caminha até o guarda-roupa. – Ele é muito importante para mim e não vou conseguir morrer em paz. – Pega o primeiro vestido que encontra. – Nati, o Richard é tudo para mim. – Volta seu olhar para amiga que ainda está parada no mesmo lugar. – O que houve?

— Você não pode sair. – Levanta e caminha de encontro até a amiga. – Precisa descansar. – Pega o vestido da mão da amiga. – Meu irmão não merece tanto. – Sorri brincalhona. – Você tem que pensar em você.

— Não consigo. – Pega o vestido de volta. – Por favor, me ajuda.

— Está bem. – Se dar por vencida. – Mas não posso lhe garantir que ele v+ai te receber. – Segura nos ombros da amiga e a conduz até a cama, pondo-a sentada na mesma. – Mas antes você precisa comer.

— Está bem. – Abre um pequeno sorriso.

Natália pega a escova em cima da cômoda e começa a pentear os cabelos da amiga. Sabe o quanto o irmão adora os cabelos da amiga e ajudaria a mesma ficar mais bela do que já é, só para o irmão ver o que está perdendo.

— Vou lhe deixar ainda mais bela. – Permanece com os olhos fixos na trança que está fazendo no cabelo da amiga.

— Nati, eu sinto umas coisas estranhas quando estou com o Richard. – Diz com as bochechas vermelhas. – Isso significa alguma coisa?

— Que tipo de coisas? – Termina a trança prendendo a ponto com um elástico.

— Uns formigamentos embaixo do meu ventre, uma quentura estranha. – Vira a cabeça e encara a amiga. – Às vezes dói.

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— Isso só tem uma explicação. – Sorri ao notar a vergonha estampada na cara da cunhada. – Você deseja o Richard.

— Eu...eu...eu...bem é que...eu acho que...bem... – Levanta afoita e corre para o banheiro se trancando no mesmo.

— Saiba que isso é normal. – A jovem ri ainda mais. – Melhor a gente andar logo.

Natália é mais nova que Beatriz, mas a mesma já sabe muitas coisas. Ao contrário de Beatriz que não sabe muito, ainda tem dentro de si uma criança e um lado ingênuo.

✟ ✟ ✟ ✟ ✟ ✟ ✟

Depois de uma longa caminhada as duas finalmente chegam ao local desejado. Natália ajudou Beatriz a sair de casa sem ser vista e depois de ligar para o irmão e descobrir que o mesmo havia saído sem dizer para aonde ia, as duas começaram uma busca. Foram em todos os lugares que os dois iam e não o encontraram.

Após um tempo de reflexão Beatriz se lembra do lugar aonde ambos sempre iam – a colina na saída da cidade – e com ajuda de Natália conseguiu chegar ao local. As duas tinham que ser rápida, pois em breve choveria e Natália não quer que a cunhada fique pior, mesmo sabendo que o que a cunhada tem é incurável, a jovem tem esperança de ver a cunhada livre dessa doença.

Natália dá meia volta – a jovem não quer atrapalhar o casal – e Beatriz adentra aquela trilha que tanta conhece e em passos rápidos chega ao final da trilha. Ao ver Richard sentado de costas para si, o coração da jovem falha algumas batidas.

Queria poder correr e abraçar o namorado, mas sabe que o mesmo não quer nem vê-la e isso faz seu coração doer mais ainda. Respira fundo e dá mais um passo, porém acaba pisando em um dos galhos e isso chama a atenção do rapaz.

— Vai embora, Lia. – Sua voz sai fraca. – Não quero falar sobre ela e nem saber como ela está. – A magoa é nítida em sua voz. – Eu entreguei meu coração para ela e ela o destruiu.

— Não destruí. – Diz entre lágrimas.

Ao ouvir a voz da namorada Richard levanta surpreso. O coração do rapaz bate freneticamente e um sorriso surge automaticamente em lábios. Em sua visão a jovem está ainda mais linda, mesmo estando mais pálida e mais magra.

— Nós temos que conversar. – Aproxima-se ainda mais do namorado. – Por favor.

— Não. – Diz ao acordar do pequeno transe. – Não quero ouvir suas mentiras.

— Eu nunca menti para você. – Tenta tocar a face do namorado, mas o mesmo se afasta ainda mais dela. – Quando aceitei ser sua namorada, achei que era mais uma aposta sua. Nunca quis te magoar.

— Não seja cínica. – Sorri com amargura. – Parabéns, você conseguiu. – Bate palmas. – É mais cruel do que eu imaginava.

— Eu juro por Deus que essa não foi minha intenção. – As lágrimas voltam a manchar sua face. – Deus é testemunha de que essa nunca foi minha intenção.

— Deus? – Sorri sem humor. – Deus não existe. Só existem pessoas cruéis e você é uma dessas.

Beatriz cai de joelhos no chão ao sentir uma pontada aguda em seu peito, ao ver a dor estampada na cara da jovem Richard corre para ajudá-la. Ajoelha ao lado da mesma passando o braço em volta da cintura dela.

— O que houve? – Pergunta aflita e preocupada.

— Nada. – Tira a mão do rapaz de sua cintura. – Eu vou embora. – Tenta levantar, mas perde o equilíbrio e cai novamente.

— Deixa eu te ajudar. – Segura na cintura da namorada, mas a mesma tenta se soltar. – O que houve pequena?

— Me chamou de pequena? – Um sorriso miúdo surge em seus lábios.

— Não. – Bufa irritado. – Vou levar para sua casa.

— Está bem. – Sua expressão se torna séria e seu olhar volta a ficar vazio. – Eu nunca mais vou lhe incomodar. – Afasta dele e sozinha tenta levantar.

Richard levanta e a pega pela cintura a colocando de pé. Os olhos se encontram levando ambos para outro lugar, perdendo-se um no olhar do outro, fazendo seus corações bater no mesmo ritmo.

— Nunca quis te machucar. – Diz entre lágrimas.

Richard sente-se magoado e traído, havia entregado seu coração a jovem e confio que a mesma cuidaria muito bem. Fez plano com a jovem e desejou que o futuro chegasse logo, mas viu tudo ser destruído ao saber que a namorada não viveria o suficiente para realizar todos os sonhos que planejaram juntos.

— Por que deixou eu me apaixonar por você? – Limpa a face da namorada.

Por mais que tentasse negar ele não conseguia. Beatriz não é só mais uma garota, ela é a garota e perder-la é como perder uma parte de si. A jovem fez muito mais do que pensa e ele tem medo de voltar a ser quem era quando ela partir.

— Achei que queria apenas brincar comigo de novo. – Com as pontas dos dedos faz uma leve caricia na bochecha do rapaz. – Já que não sou como as outras.

Ao aceitar o pedido de namoro Beatriz apenas pensou nas coisas que ouviu do rapaz no dia em que ele a humilhou em público e também achou que seria mais uma brincadeira maldosa dele e de seus outros colegas. Achou que viveria uma mentira e que ninguém além de si mesmo sairia machucado, mas infelizmente suas conclusões estavam erradas e havia machucado pessoas inocentes.

— Não é mesmo. – Segura a mão que a pouco lhe fazia caricias e a beija. – Você é melhor que elas e nunca brincaria novamente com seus sentimentos.

Richard havia mudado muito e sentia-se bem em ser esse novo Richard, que vê outro lado da vida e que ajuda as pessoas sem pedir nada em troca.

— Eu sei que me odeia por ter mentindo, mas não quero morrer sem seu perdão. – Leva a mão livre até a nuca do rapaz. – Poderia me perdoar?

— Você vai morrer e eu vou voltar a ser aquele garoto babaca. – Puxa a namorada para mais perto, colando seu corpo no dela. – Não quero ficar sozinho.

— Não ficara você tem sua família e amigos também. – Cola sua testa na testa do namorado. – Um dia nem se lembrara de mim, serei apenas um passado.

— Ninguém vai me olhar como você me olha. – Limpa a face da namorada. – Ninguém vai entender como você me entende. – Desencosta da testa da namorada. – E ninguém vai me completar como você me completa. – Um sorriso brota em seus lábios. – Eu nunca vou odiar você e nunca esquecerei você, sabe por quê? – Vê a namorada negar com cabeça. – Porque eu te amo.

Beatriz arregala os olhos em surpresa, nunca em sua vida achou que ouviria tais palavras. Sempre achou que morreria sozinha e sem amor nenhum, mas mais uma vez havia tirado conclusões erradas.

— Eu sei que somos jovens e tal, mas eu te amo. – Declara-se novamente. – Você é o amor da minha vida, eu tenho certeza disso.

— Não. – Fala para si mesma tentando se convencer de que ouviu errado. – Não pode ser verdade.

— Mas é eu te amo. – Segura a face da namorada com ambas as mãos. – Eu não quero perder esse amor, entende? – Limpa as lágrimas da namorada com os polegares. – Doeu tanto saber que você está morrendo e que não vou te ver nunca mais, que acabei ficando cego de raiva e ódio. – Tira as mãos da face da namora e pega as mãos da mesma. – Não quero te perder.

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— Eu sei como se sente. – Sorri entre as lágrimas que cai por sua face. – Quando quis terminar com você foi para poder te proteger. – Olha para cima tentando impedir as lágrimas de caírem, mas volta a olhar nos olhos do namorado. – Richard, eu te amo.

Sem pensar duas vezes o rapaz a puxa para mais perto de si e a beija, mas não qualquer beijo, um beijo repleto de amor, saudade, dor, magoa e felicidade – estão felizes por estarem juntos de novo – haviam se declarado, deixando claro que nem a morte pode separá-los.

— Perdão por ter sido um teimoso e orgulhoso. – Diz ao termino do beijo. – O que iremos fazer agora? Já que eu não vou lhe deixar.

— Eu entendo seu lado. – Limpa as poucas lágrimas que caem pela face do namorado. – Eu não sei o que quer fazer?

— Vou cuidar de você e lhe dar os melhores dias da sua vida. – Dá um selinho rápido na namorada. – Acho melhor irmos. – Diz ao olhar para o céu.

— Quero ficar mais um pouco aqui. – Abraça o namorado com força. – Eu fugi.

— Eu devo ser muito importante mesmo para você fazer uma coisas dessa. – Cheira os cabelos da namorada. – Estava morrendo de saudade.

— Também estava morrendo de saudade. – Levanta a cabeça e olha nos olhos do namorado se perdendo naquele lindo oceano que são os olhos do mesmo. – Está ainda mais lindo que antes.

Richard sorri com a declaração da namorada e a beija novamente e nesse momento começa a cair uma chuva fina molhando ambos. Sem se importar os dois se entregam ainda mais ao beijo – mas agora o beijo também carrega um desejo oculto de ambas às partes – só queriam se sentir felizes.

O amor havia nascido junto com a morte, trazendo a felicidade que nenhum dos dois tinha e sonhos que nunca tiveram e agora o amor está mais forte e mais solido, mas a morte está mais perto e pronta para destruir tudo.