Comecei a rir, imaginando a cara da Lili toda vermelha.

Foi difícil não começar a rir, sabe. — Lili disse rindo.

— Imagino. Ainda mais a mãe dele que é toda cheia de energia.

Pois é. No começo eu tava já temendo, porque ela me perguntou se eu já tinha namorado… Só faltava perguntar se eu sabia como colocar uma camisinha.

Eu ri. — Meu Deus. Tô imaginando a cara do Júlio. O James ficou só rindo, né?

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Ficou. Não que tivesse outra coisa pra fazer.

— Isso é. E depois?

Depois terminamos de limpar e o Júlio foi testar o jogo novo dele. Depois vimos uns filmes, e de noite dormimos no sofá.

— Igual aquele dia?

É, só que o James tava abraçado com uma almofada ao invés de você. — Riu.

Ficamos conversando mais um tempo, principalmente sobre o Bernardo, e depois desliguei o telefone.

Engraçado, se eu tivesse na casa dela, estaríamos voltando pra escola essa hora.

Bateu uma saudadezinha. Parece que amanhã estarei tomando café no refeitório com o pessoal…

Para vai, não fica pensando nisso. Aproveita suas férias.

Os dias vão passar voando.

***

No outro dia, de tarde, resolvi arrumar meu guarda roupa. Arrumei as roupas, mudei de lugar os cosméticos, joguei fora coisas velhas…

Tudo o que ia pro lixo, eu deixava no chão, então logo toda aquela parte estava cheia de papeis e embalagens vazias.

Ouvi a campainha, mas sabia que a minha mãe atenderia.

Peguei a sacola que tinha separado e comecei a pegar as tralhas e jogar ali dentro.

— Eita, que zona.

Olhei pra porta e vi Bebê.

— Fala não que seu quarto não tava muito diferente — acusei.

Ele riu. — Tá, né. — Entrou e eu vi que eke estava com uma caixinha de papel pardo na mão. — Quer ajuda?

— Não, eu só tenho que jogar isso tudo fora.

Bebê deixou a caixa em cima da cômoda e pegou um pote vazio de creme, e jogou na sacola que estava no chão. — Então vai ser rápido.

— E essa caixa?

— Depois mostro.

Demoramos alguns minutos pra nos livrarmos de tudo, e enchemos duas sacolas. As deixamos perto da porta e ele voltou a pegar a caixa.

— Eu quero jogar um jogo com você — falou numa voz grossa.

— Eu hein, sai fora. — Ri.

— Relaxa, não vai ser tortura física. — Sentou no tapete, perto da cadeira da mesa e deixou a caixa na sua frente. — Senta aí.

Estranhei, mas sentei na frente dele.

— Eu estava pensando hoje cedo que não nos conhecemos tão bem, então eu lembrei desse jogo que fiz com uns amigos ano passado. — Abriu a caixa e deixou a tampa do lado dela. — É um jogo de perguntas. Nós bolamos várias perguntas para uma aula de filosofia e acabou virando uma brincadeira nossa.

— Que tipo de perguntas?

— Várias. Deve ter umas cinquenta ou mais. É legal, você vai ver. Quem começar, tira um papel e faz a pergunta pro outro. Os dois respondem. — Levantou a mão em punho. — Pedra, papel e tesoura.

Okay…

Levantei e joguei pedra. Ele, papel.

Bebê pegou um papel dobrado, o abriu e leu. — Qual sua palavra favorita?

— Hm… sabe que eu nunca pensei nisso?

— Pensa agora. — Dobrou o papel e o deixou na tampa da caixa.

Yan conta como palavra?

Tá, eu sei.

Hmm...

— Organização. E você?

— Eita. — Quê? — Você pode falar eita pra tudo — explicou. — Vai.

Então tá.

Tirei um papel. — De qual hábito pessoa você tem orgulho? — Dobrei o papel e deixei na tampa. O olhei.

— Hm… Eu tenho orgulho do meu hábito de acordar, levantar e lavar a cara depois de mijar.

— Por quê? — Estranhei.

— Sei lá. Eu gosto. — Deu de ombros. — E você?

— Hm… Eu me orgulho de sempre planejar minhas coisas.

Ele riu e pegou outro papel. — Você coloca só o tempero do miojo ou coloca outras coisas nele?

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— Que tipo de pergunta é essa? — Eu ri.

— Eu disse. O tema é variado.

— Hm, bom, eu só coloco o tempero mesmo.

— Eu coloco o tempero e o que for comestível que tiver por perto.

Ri. — Okay… — Tirei outro. — Quantas vezes você já se apaixonou?

— Pelo que me lembro, duas vezes.

Fiquei meio corada. — Três vezes.

Uma sobrancelha dele levantou e segurou riso. — O que você gostaria de perguntar pra alguém do sexo oposto mas não tem coragem? E faça essa pergunta a alguém.

Ahn… sei lá. — Não sei.

— Não? Nada? — Ficou inconformado.

— Não. Não consigo pensar em nada. E você?

Ele balançou a cabeça. — Acho que é melhor eu nem falar. Vamos pular essa.

— Por quê?

— Você não tem cara de quem ia saber me responder. Vai. — Me apressou.

Ué…

— O que você faria se um amigo(a) se declarasse pra você?

Eita Deus.

— Dependendo do caso, eu poderia aceitar.

— Você ficaria com uma amiga mesmo sendo amiga? — Levantei as sobrancelhas.

— Eu falei que ia depender do caso. Se eu gostasse o suficiente, por que não tentar?

— Mas… e se não desse certo?

— Se não desse, paciência. Pelo menos bons momentos teríamos.

— Hm… — Como não lembrar do James? Bom… Talvez eu tivesse aceitado. — É, eu também, dependendo do caso, claro.

— Acredita em amor à primeira vista?

— Sim — respondi rápido.

— Não. Não em amor, mas acredito em interesse à primeira vista.

É, até que faz sentido. — No que você não é bom?

— Não sou bom em falar sobre sentimentos e nem em lidar com sentimentos alheios.

Nossa, ele fala tão… seguro. Ele deve se conhecer muito bem.

— Eu… não sou boa em… enfrentar meus problemas.

— Te dou umas aulas depois… Quando foi a última vez que você gritou?

Quando eu gritei…? Não lembro de ter… Ah, pera. Eu gritei no travesseiro quando…

— Ah… segunda passada. — Corei.

— Ontem de noite… Tenho outra. Você realmente fica com vergonha em noventa por cento das perguntas?

Mas hein… — Qual o problema?

— Você é mais tímida do que eu pensei. — Riu.

Ignorei e li a próxima. — O que você faria se seu melhor amigo espalhasse um segredo seu?

Bebê olhou pra baixo, como se pensasse. — Eu daria umas boas porradas nele.

— Sério?

— Sim. Até a cara sangrar — disse sério.

Nossa… — Ah… eu pararia de falar com esse “amigo”.

Ele abriu a boca pra falar, mas riu. — Com quem foi seu primeiro beijo?

Isso vai me perseguir agora, né? — Não dá pra pular essa? Já sabemos a resposta.

— Tá, vamos mudar então. Com quem foi seu primeiro beijo de língua?

Ai Jesus… — Com… um menino da minha escola.

— O sujeito Yan. — Sorriu, malicioso. Afirmei, com a cara em chamas. — O meu foi com uma amiga.

— Amiga?

— É. Ela reclamava que ainda não tinha beijado ninguém, com quatorze anos, e eu também não tinha ainda. Então eu a beijei.

— Ela não... ficou brava?

— Não, eu perguntei se ela queria, né. Não ia sair beijando sem saber se ela queria.

— Ah, sei lá, né… Mas você quis mesmo? Tudo bem que eu não acho que você tem cara de quem se importa com quem foi seu primeiro beijo, mas…

— Quem disse que eu não me importo? — Me cortou. — Eu quis beijar ela justamente porque eu me importava, na época. Eu queria beijar alguém que eu gostasse, mas não tinha ninguém que merecesse. Ela também pensava assim, e a gente se gostava, como amigo, claro, mas né… Acabou que foi legal.

Uau… eu nunca teria pensado dessa forma. — Legal… Você ainda fala com ela?

— Não.

— Por acaso ela faz parte do bando de “cuidiotas” dos seus amigos? — Dei uma risadinha.

Consegui tirar um sorriso dele. — Sim, faz.

Deu pra perceber que ele parecia meio triste quando falava deles.

Eu queria saber o que tinha acontecido, mas sei lá… Não parecia que ele ia querer responder.

Peguei a próxima pergunta. — Esporte preferido.

— Karatê.

— Sério? — perguntei impressionada. — Você luta?

— Sim, sou faixa roxa — respondeu orgulhoso.

— E o que isso quer dizer?

— Que eu estou num nível avançado, mas falta muito pra chegar “no topo”... E o seu esporte?

— Vôlei. Esse ano teve um campeonato na escola e minha sala ganhou. Mas perdemos na primeira partida do regional.

— Pelo menos chegaram longe… O que você odeia numa pessoa?

— Hm… eu odeio quando a pessoa é escandalosa e gosta de chamar atenção.

— Eu odeio pessoas que são mentirosas e que machucam outras pessoas por diversão.

— Isso eu também… Se você tivesse dinheiro pra comprar qualquer coisa, o que compraria?

— Uma chácara ou sítio imenso, pra eu adotar milhões de animais abandonados ou maltratados.

Que lindo… Agora qualquer coisa que eu disser vai parecer egoísta. — Acho que… eu compraria o que me desse na telha na hora. Não sei exatamente o quê… O que você faria se sua mãe/pai te pegasse fazendo algo errado?

Bebê começou a rir. — Depende do nível de errado, né? Mas acho que não teria muito o que fazer. Nunca fiz nada realmente errado, só coisas vergonhosas que não tinha muito o que falar.

— Tipo o quê?

Ele olhou pra minha cara, meio rindo, meio em dúvida. — Melhor eu não falar. Fala o que você faria.

— Que chato você é — reclamei fazendo bico. — Eu também nunca fiz nada errado, mas sei lá, eu pediria desculpa.

— Duvido mesmo que você já tenha feito coisa errada. — Riu.

— Não vai me falar?

— Não quero ser responsável por acabar com sua inocência — falou já pegando outro papel. — Vou deixar isso pro sujeito Yan… Qual foi o nome do seu primeiro Sim?

Como é que é?!

— Vai, responde — apressou, rindo da minha cara.

Tentei esquecer aquilo. — Primeiro Sim? Como assim?

— No The Sims. Nunca jogou?

— Não.

— Não acredito. — Arregalou os olhos. — Temos que mudar isso agora. — Pegou a tampa e jogou todos os papeis dentro da caixa, a fechando em seguida. — Ah, meu primeiro Sim se chamava Josley Escaldante. — Levantou.

Que diabo de nome é esse? — Ainda não entendi. Onde você vai?

— Levanta daí. Vamos lá pra casa que eu vou te mostrar o jogo.

— Ah não… — resmunguei, com preguiça.

— Vai, garota. — Me puxou pelo braço. — Juro que você não vai se arrepender.

Suspirei e me deixei levantar.

Que escolha eu tenho, né?