San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1)

Além de Lindo é Artista + Lili Em Cima do Muro


Fiquei um pouco nervosa pela reação dele, mas abri o caderno. A primeira página estava em branco. Era aqueles cadernos comuns, mas sem linhas.

Passei para a segunda folha e meu queixo caiu.

Era uma rosa, bem realista, apensar de ser “só” um esboço, como ele mesmo falou. Ela era toda rabiscada, com traços claros, e os traços do desenho em si eram mais fortes.

Passei o próximo. Era uma vasilha de frutas. Havia luz, sombra, e tons de cinza diferentes. Naquele desenho havia uma data no canto inferior direito. Marcava três de janeiro.

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— Comecei esse caderno no começo do ano. — Ele falou, passando os dedos na mesa, olhando para baixo. — Eu tenho o costume de trocar de caderno todo ano, mas todos os cadernos acabam antes do ano acabar. — Sorriu levemente.

Passei para o próximo. Uma árvore com um balanço.

— Essa árvore fica na casa da minha vó. E o próximo desenho também é lá.

Passei a folha. Era uma janela com cortinas que pareciam balançar com o vento.

— Você desenha muito bem... Então todos os desenhos que você faz são de algum lugar? Ou objeto?

— Não, eu também faço criações.

O próximo era uma sala. Havia um sofá e alguém dormindo nele, todo largado. Era quase uma foto.

— É meu pai. — Deu risada. — Depois de um almoço de família, todos estavam no quintal e ele foi dormir.

Datava nove de janeiro. Passei para os outros. Um vaso com flores, um quarto, um gato dormindo, o rosto de alguém — que Yan disse que era sua prima, mas não tinha ficado parecido.

O próximo datava quinze de janeiro. Era uma porta entalhada. O próximo datava dia seis de fevereiro. Era o refeitório, visto de uma das mesas próximas da cantina. Algumas mesas a frente havia uma garota sentada de costas.

Pera, sou eu? Ou seria me achar demais, achar que sou eu?

Olhei para Yan. Ele parecia...ansioso?

— Descobriu quem é? — Ele perguntou.

— Hmm... Parece comigo... — falei envergonhada.

Ele riu. — Mas é você.

Continuei olhando o desenho, sentindo-me corar. — Por quê?

— Eu não te conhecia ainda, mas a cena toda estava bonita. Você de costas, a luz que entrava pela porta do jardim. Sei lá.

Calma, não é porque sou eu. Ele não me conhecia.

Passei o próximo. Mateus e Gabriel fazendo caretas. Sorri e passei. O próximo era a visão dele do dormitório feminino. Tive a pequena esperança de estar ali, mas não estava.

O próximo era o palco vazio do teatro, visto do centro da primeira fileira. O próximo era uma árvore, com alguém ajoelhado no chão, parecendo se esconder atrás dela, espiando o que estava acontecendo.

Sorri. Agora era certeza que era eu.

— Achei engraçado esse dia. — Yan riu.

— Mas você nem estava com o caderno. Como conseguiu desenhar?

— Acho que eu tenho memória fotográfica. Consigo lembrar de muitos detalhes de alguma coisa. Assim que fui pro quarto, desenhei.

— Uau, incrível.

Passei a folha. A visão de uma mesa do fundo na sala de aula. O próximo era a visão de uma escada — aparentemente do prédio dois — e alguns livros caídos pelos degraus. Marcava dia onze.

O outro tinha a mesma data. Era uma mulher, com um vestido longo e arredondado, que parecia pesado. Seu braço direito estava apertado contra o peito, parecendo querer se proteger de algo. Ela tinha cabelos longos, mas não tinha rosto. Havia o número um escrito no canto superior direito.

O próximo reconheci na hora. Éramos nós dois, de costas, dançando no “King of Dance”, no Playland.

— Esse aí fiz com a ajuda do vídeo do Mateus.

— Nossa, tinha até esquecido desse vídeo. Ele ainda tem?

— Sim, e faz questão de me lembrar disso com frequência.

Sorri e passei a folha. Mais coisas aleatórias. Parecia que algumas folhas tinham sido arrancadas. Um desenho da quadra com a rede de vôlei. O próximo também era a quadra, de outro angulo, mas havia uma pessoa nela, olhando para cima, para uma bola no ar.

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— O dia que você e a bola me assustaram — falei.

Ele riu. — Sim.

Depois, era um desenho de um tabuleiro de xadrez, depois era uma quadra com alguém jogando uma bola de basquete no ar, depois era a visão dele do seu braço sangrando. O próximo era um casal sentado na grama, ao longe. Parecia uma clareira.

— É a cena do livro?

— Sim.

Já estou boa em decifrar os desenhos.

Outra folha que foi arrancada, depois a visão dele de uma das mesas do jardim e sobre ela um livro. O próximo eram suas pernas, uma dobrada e a outra esticada, e do seu lado outro par de pernas, cruzadas. O outro era uma sala de aula novamente, mas de outro ângulo, e alguém estava de pé falando com a professora. O próximo era uma boneca, que parecia aquelas antigas de porcelana. O outro era um casal de costas, de braços dados.

Pera aí! — Ei, James e Lili? — perguntei e o olhei.

Ele sorriu. — Sim.

O próximo eram duas mãos segurando outra mão entre elas. O outro desenho me fez ficar surpresa.

Era Lili e eu, no banco do ônibus de viagem, encostada uma na outra e dormindo. Ambas vestindo casacos maiores que o próprio corpo.

— Posso mostrar isso pra Lili?

Yan ficou envergonhado. — Um dia você mostra.

Passei a folha. Um relógio de ponteiro — daqueles antigos — e uma pilha de livros. Canetas, lápis e borracha espalhados pela mesa. Passei. Um casal se beijando, visto quase de costas, meio de lado. Mas a maior parte do desenho era o céu, escuro e com vários pontinhos brancos. O próximo era o jardim, visto de um dos caminhos principais, também de noite. O outro era uma garota com headfones, aparentemente dançando. Não estava terminado, ela não tinha rosto e parecia flutuar.

— Esse você criou?

— Em partes, sim, criei. — Sorriu.

Passei a folha, mas não tinha mais nada. Dei uma olhada no restante, passando todas as folhas.

Algo chamou minha atenção. Eram algumas folhas dobradas. Talvez as que tinham sido arrancadas. As pequei.

— Não... — Yan colocou a mão sobre elas, encostando no caderno de volta. — Esses... Esses ficaram feios.

O olhei. — Acho meio impossível você fazer um desenho feio.

— Eles não ficaram legais mesmo. — Ele parecia meio tenso, mas não tirou as folhas de mim.

— Tudo bem. — Sorri e deixei as folhas no mesmo lugar, fechando o caderno e empurrando de volta para ele.

— Obrigado. — Yan sorriu, pegando o caderno.

— Obrigada por me deixar ver. São incríveis. Um dia chego lá.

Yan riu. Nos olhamos, e eu não sabia mais o que falar.

— Vamos subir? — perguntei. — Você ainda tem uma noite em claro lendo.

— E você uma noite sem sono. — Ele riu, levantando.

— Tipo isso. — Peguei minha bandeja.

As levamos e saímos. Paramos alguns passos à frente da entrada do refeitório.

— Tenha uma boa leitura.

— Vou ter graças a você.

— Como assim graças a mim? — Comecei a corar.

— Se não fosse por você eu nem estaria com esse livro.

— Hm... Isso é — falei, sem graça.

Ele sorriu, deixando sua covinha mais a mostra. — Vou ficar te devendo.

— Ah, vai nada.

— Vou sim. Um dia acho algo para retribuir.

Yan levantou a mão esquerda. Achei que ele ia segurar meio rosto — e eu gelei —, mas ele colocou uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Se aproximou e deixou a mão sobre a lateral do meu rosto, e dei um beijo em minha têmpora.

Minha boca secou de um jeito bizarro.

Ele me olhou, de perto. — Obrigado de novo — disse baixo.

Apenas consegui dar um pequeno sorriso. Meu rosto parecia petrificado pela vermelhidão.

Levemente passou o dedão sobre minha maçã do rosto e se afastou.

Quando ele estava um pouco distante, soltei todo o ar que eu tinha segurado sem perceber.

Para de tentar rasar meu peito, coração.

Como se eu fosse quebrar com um movimento brusco, me virei devagar e tomei rumo ao dormitório.

Aquele momento não ia sair da minha cabeça tão cedo.

Enquanto subia as escadas, deixei minha mão onde ele havia deixado a dele.

Entrei, fechando a porta. Ascendi a luz e me joguei na cama, pegando o travesseiro e o abraçando.

Eu não sentia sono, mas sabia que a noite não ia demorar pra passar. Porque eu ia repassar o dia várias e várias vezes.

***

Foi como eu pensei. A noite passou rápido depois que tomei banho, apaguei a luz e deitei. Acho que fui dormir depois das quatro. Antes de pegar no sono, vi que a luz do quarto de Yan ainda estava acesa.

Virei na cama, lembrando — de novo — do dia anterior e sorri. Nunca cansaria de rever todos os momentos com ele. Parecia um tipo de droga. Era viciante e tão bom...eu acho.

Quando fui almoçar, não vi sinal de Yan. Quando voltei para o quarto, liguei para minha mãe e contei sobre a semana. Ficamos muito tempo conversando, tanto que nem vi o tempo passar.

Só fui me tocar quando ouvi alguém entrando no quarto. Me virei e vi Lili.

— Opa, depois volto.

— Não! — falei antes dela sair. — Não, mãe, minha amiga chegou... É, a Lili. — Sorri. — Tá bom, beijos. — Desliguei.

— Não precisava desligar. — Lili disse entrando de volta.

— Precisava sim, se deixar minha mãe fala o dia todo.

Ela riu. — Tudo bem? — Me olhou. — Espera, nem precisa falar. Só pela sua cara já sei que sim.

Dei risada e sentei na cama. — Que tipo de bruxa é você?

— Das boazinhas, mas que fazem poção do amor se você quiser. — Sentou na minha frente, cruzando as pernas. — Pode começar.

Comecei a falar desde pouco depois que ela foi embora. E falei, falei, e ela fazia perguntas, e eu respondia e continuava.

— Jéssica?! Meu Deus. — Lili bateu de leve na testa.

— Pois é, na hora não fui com a cara dela, mas você nem sabe...

E continuei. A Lili era uma boa ouvinte. Tinha as melhores reações e sempre ríamos.

— QUÊ?! Ele deu sorvete na sua boca?! — E caiu na gargalhada. — Gente, como assim! E você vem me falar que ele não gosta de você!

— Lili... Você faria isso com qualquer um que estivesse confortável com você.

— Não vem com essa! Não é a mesma coisa. Tá, continua.

Blá, blá, blá.

— Desenho seu? Desenho nosso? Preciso ver isso!

— Acho que ele ia ficar sem graça. Ele ficou quando perguntei se podia te mostrar.

— Poxa. — Fez bico. — Quando vocês começarem a namorar, você pega e me mostra.

— Namorar? — Ri.

— Isso vai acontecer, tenho certeza. O que mais aconteceu?

Terminei falando do jeito que Yan se despediu de mim.

Lili ficou boquiaberta — ... depois disso não preciso falar mais nada! — Levantou as mãos.

Dei risada. — E você? Como foi? Viktor ficou em cima?

— Quase aconteceu alguns desastres... — Colocou a mão na cara.

— Conta logo!

Ela riu. — No sábado, meus pais saíram, e fiquei com o Alex. Ele queria ver filme, então coloquei uma animação para vermos. Aí Viktor chegou e sentou do lado do Alex. E meu irmão ficou nos separando. Mas como ele é insistente, ficou com o braço no encosto do sofá e mexendo no meu cabelo. Bom, o Alex me abandonou, porque dormiu no meu colo. Só fui vendo o Viktor ficando cada vez mais perto. Mas eu estava com sono. Mexer no meu cabeço é pedir para eu desmaiar. Quando percebi, estava com a cabeça no encosto, meio de lado, e ele estava bem perto. Ele ficou me olhando, chegando perto aos poucos... Aí ele beijou minha testa, depois minha têmpora, minha bochecha, e o canto da minha boca, e a boca.

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— E o que você fez?

— Eu estava meio desligada, parecia que eu estava sonhando. Eu... beijei ele de volta, mas foi só um selinho. Depois eu acordei mesmo e acordei o Alex.

— E ele?

— Não olhei pra ele. Só levei Alex pra cozinha pra fazer o lanche da tarde. Não queria que ele visse minha cara de quem gostou e não queria admitir. E aconteceu quase a mesma coisa no domingo, mas eu estava bem acordada e jogando com o Alex. Viktor viu que eu não sabia e sentou do meu lado, e segurou minhas mãos com o controle. E enquanto ele jogava, dava beijos no meu rosto. Eu quase virei. Quase. Fui firme. Larguei o controle com ele e sai do quarto.

— Eita... O que eu falo numa hora dessas?

Lili riu. — Nem eu sei... É complicado.

— Você fala tanto do Yan, mas o Viktor está igual. Quer dizer, está vários níveis acima, mas está aí.

— Eu sei, mas é difícil.

— Se o Júlio fizesse esse tipo de coisa, você ia deixar?

— Ele nunca faria isso...

— Faz de conta que sim. — A cortei. — Ia? Sem pensar?

Lili me olhou pensando, fazendo cara de sofrimento. — Acho que sim... Mas talvez eu ficasse me xingando depois.

— Por quê?

— Porque ia ficar me torturando pensando que ele ia só querer me dar uns beijos e depois não ia querer mais. Ou que ele iria se arrepender.

— E se ele gostasse? E se ele te pedisse em namoro?

Ela riu, achando aquilo impossível. — Bom, eu daria uma chance, mesmo sabendo que poderia não dar certo. E se não desse certo, eu corria para o Viktor. — Riu.

— AI, Lili. — Ri com ela.