O sábado foi unicamente usado para fazer o restante das lições e algumas atividades para entregar durante a semana. Fiz algumas visitas para a biblioteca, aproveitando para esticar as pernas por ficar tempo demais sentada na cadeira, curvada sobre a mesa, e algumas pausas foram para comer, afinal saco vazio não para em pé e muito menos presta atenção no que está fazendo.

Só sei que terminei tudo lá para as dez da noite, e não me restou muito a fazer além de tomar banho e ir dormir. Minha cabeça parecia prestes a explodir com tanta informação.

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Mas tinha uma coisa boa. Domingo estava completamente livre!

Não que eu tenha muito pra fazer sozinha.

Troquei o pijama por uma roupa mais usável socialmente e desci para almoçar. Peguei minha comida e me sentei em uma mesa próxima à cantina. Haviam umas cinco pessoas solitárias comendo, cada uma em um canto do lugar.

De repente, a porta que dava para o prédio dois foi aberta. Todos viraram suas cabeças para ver, devido ao barulho, e uma menina entrou, parecendo bem entretida com suas duas malas rosas de rodinha, que eram metade do corpo dela. Passou uma mala para a frente da porta, e depois outra e ajeitou a alça da mochila, nas costas.

Ela parecia ser um pouco mais baixa que eu e seu cabelo era curto, na altura do queixo, repicado e loiro, quase branco. Vestia uma jardineira jeans azul claro e tênis amarelos.

Isso que é mudança.

A menina atravessou o refeitório, observando tudo o que havia para ser observado, puxando as malas até a outra porta, e logo saiu para o jardim.

Enrolei bastante ali, sabendo que nada me esperaria no quarto, e quando estava ficando entediada levei minha bandeja e voltei ao dormitório. Subi a primeira leva de escadas e escutei alguém descendo.

Olhei para cima e vi uma cabeça platinada.

— Ei. — Ela parou no último degrau, na minha frente. — Onde fica a biblioteca?

Ela é realmente mais baixa que eu. Uns quatro dedos, talvez. Não reclamo mais da minha altura.

— No prédio dois, no segundo andar.

— Antes do refeitório, né? — perguntou. Sua voz era fina e delicada, o tipo de voz que eu esperaria sair de uma pessoa fofinha assim.

— Isso.

— Ah, ok. Obrigada. — Sorriu e passou por mim.

— Por nada.

Ela parece um pouco doidinha, mas discreta ao mesmo tempo.

Se eu tentasse cortar o cabelo chanel e franja... Senhor, Deus me livre. Eu ia ficar com cara daquela bolacha lá.

Entrei no quarto, ainda pensativa sobre minha aparência e parei na frente da cama. Estava tudo arrumado e não tinha mais o que fazer. E se eu mudasse meu cabelo? Ele sempre foi assim, castanho, ondulado e abaixo do ombro. Nunca tive coragem de cortar, pintar ou fazer qualquer coisa que mudasse ele. O máximo que fiz foi cortar essa franjinha, e eu só uso ela de lado.

Preciso pedir a opinião da Lili, vai que ela tem alguma ideia boa sem ser exagerada.

Andei até a sacada e olhei para o jardim, notando mais uma vez como era estranho ver aquele lugar vazio. Virando o rosto para o outro lado, vi as quadras esportivas. Será que estão abertas? Talvez eu consiga arranjar uma bola e treinar minha coordenação. Não custa tentar.

Novamente, saí do quarto, fechando a porta, e desci. Caminhei tranquilamente para o fundo do jardim, sem querer chamar atenção, mas também dando a chance de, se algum funcionário me visse, conseguisse gritar e avisar que eu não podia ficar lá.

O portão estava destrancado, apenas com o trinco fechado.

O vestiário, que ficava do lado direito das quadras, ao lado do auditório, estava fechado, mas a sala de equipamentos não estava. Entrei na salinha bem organizada e procurei uma bola de vôlei. Estavam expostas em prateleiras altas.

Peguei uma, abri o portãozinho do guarda-corpo de ferro e entrei na quadra, que parecia maior ainda vazia daquele jeito.

Comecei a jogar a bola para o alto, com os braços esticados, como se fosse dar uma manchete, e tentava me manter no mesmo lugar e jogar a bola cada vez mais alto. Pelo menos eu conseguia me manter no mesmo lugar. Até que eu era boa nisso.

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Acho que vou conseguir fazer bem no campeonato, afinal.

Só acordei dos meus pensamentos quando a bola bateu no teto da quadra, provocando um barulho super alto, me fazendo pular de susto. De repente, ouvi uma gargalhada e eu me virei, assustada, já achando que a escola era assombrada.

Yan estava apoiado na grade em frente ao portão de entrada. — Você nem percebeu o que tava fazendo, né?

Minhas bochechas começaram a queimar de vergonha. — Pior que não mesmo... — confessei, sem graça. — Tá fazendo o que aqui?

— Eu quis vir mais cedo... Eu quis vir mais cedo — repetiu, como se não quisesse terminar a frase.

— E como você me descobriu?

— Eu tinha acabado de chegar e tava na varanda e te vi entrando aqui. Quis saber o que você tava aprontando — brincou, abrindo um sorriso.

Pode falar, você estava com saudade de mim... Até parece.

Procurei a bola pela quadra e a encontrei a alguns passos de distância. Quando a peguei, voltei a olhar para ele. — Quer jogar?

Seu sorriso aumentou. — Claro. — Andou até a entrada da quadra e se aproximou, fazendo sinal para jogar a bola.

Ele estava vestindo uma calça jeans escura e uma camiseta cinza com vários desenhos pretos que não fazia sentido algum.

Você fica lindo de cinza... Mas você fica bem com qualquer cor.

Joguei a bola para ele, que defendeu com uma manchete, jogando a bola para o alto e a rebateu para mim. Naquele movimento, percebi que ele estava com alguns arranhões na parte de fora do braço esquerdo, próximo aos cotovelos, onde a manga da camiseta não chegava.

— Então... — Ele começou, olhando para a bola. — Como foi o seu meio final de semana?

— Hm... Foi tedioso. Ontem fiquei o dia todo fazendo lição.

— Nossa. Eu também tive que fazer lição ontem, mas não fiquei o dia todo nisso.

— E o que você fez?

— Mateus me levou num clube de esporte. Jogamos basquete.

— Jogaram só por diversão?

— Mais ou menos. Os amigos do Mateus ficaram bem sérios quando a partida começou. — Deu risada.

Joguei a bola de volta, mas ele a pegou, começando a quicá-la no chão. — Eles eram rápidos, eu tinha que correr muito... — Se aproximou de mim, ainda quicando a bola. — Mas ainda assim, eu consegui fazer alguns pontos. — Ele girou, passando por mim, e correu até a ponta da quadra, jogando a bola no aro e acertando.

Yan me lançou um olhar rápido, divertido, com um sorriso enorme estampado no rosto, e pegou a bola do chão.

Não tinha como não sorrir com o sorriso dele.

Ele olhou para o chão, parecendo sem graça, e voltou a quicar a bola no chão. Voltou a me olhar. — Quer tentar tirar a bola de mim?

Ri, nervosa. — Eu não vou conseguir.

— Você nem tentou.

Tá. Posso tentar.

Fui para cima, mas ele virou as costas, rindo, sem parar de bater a bola no chão. Com um braço tentava me bloquear, mas eu tentava mudar de lado, e ele acompanhava. Yan andou de novo e fez outra cesta. Dessa vez passou a bola para mim, parecendo se divertir à beça.

Comecei a bater a bola no chão, rindo, sabendo que não ia conseguir fazer muita coisa. Ele viria para cima de mim a qualquer momento. Dei alguns passos para trás e para os lados, tentando confundi-lo. Dei um passo para a esquerda, e assim que ele se mexeu junto, corri para a direita.

No mesmo momento que passei por ele, senti seus braços me rodeando e me impedindo de continuar. Mesmo assim joguei a bola, que passou perto do aro.

Senti o perfume de Yan no mesmo instante em que ele me pegou. Meu coração já estava acelerado antes, agora então ia sair do peito e ele mesmo fazer uma cesta.

— Isso não vale! — gaguejei, sentindo a cara ferver.

Ele riu e se afastou. — Claro que vale... Você foi esperta. Quase conseguiu passar por mim.

— Não é justo. Duvido que você fez isso com os amigos do Mateus.

— Bom, nem dava, eles eram do meu tamanho, até maiores. Era meio que impossível. — Passou a mão pelo cabelo, sorrindo. Me derreti só um pouquinho com aquela visão.

Fui atrás da bola e a joguei para o alto, fazendo um levantamento com as pontas dos dedos, e passei para Yan.

Continuamos jogando por um tempo, sem mais mudanças para basquete.

Estava silencioso tirando o som da bola sendo jogada de uma mão para a outra, ecoando no teto alto da quadra, e o som das nossas risadas ocasionais quando um de nós jogava a bola de um jeito torto demais.

Quem diria que estaríamos jogando assim, sozinhos. Eu nunca imaginaria isso.

— Yan...? — comecei, lembrando de algo importante que eu queria perguntar.

— Sim?

— Você vai participar da equipe da sua sala pro campeonato?

— Arrã. Você vai, né?

— Sim.

— Ah! Eu sabia! — falou animado. Parecia até que tinha acertado o bingo.

Sorri com a empolgação dele. — Sabia como?

— Eu imaginei. Você é boa nisso. Pelo menos pelo que tô vendo agora. Por isso vim aqui, pra ver suas habilidades.

Corei com o elogio, mas fiquei confusa. — Mas pra que você ia querer ver minhas habilidades?

Ele deu um sorriso de lado. — Ué, somos adversários agora. Preciso ver seus pontos fracos.

Gelei. Ele usaria isso conta mim...?

Yan começou a rir. — Ei, eu tô brincando. Eu não faria isso com você.

Ele deve ter visto o desespero da minha cara. Eu estava segurando a bola e comecei a girá-la nos dedos. Olhei para ele, dando um sorriso envergonhado de quem foi pego numa pegadinha e comecei a andar na direção dele, indo até o portão e para a sala de equipamentos.

Escutei ele correndo e parando no meio da sala atrás de mim. — Bruna, você tá brava...? E-eu juro que era brincadeira...

Fiquei na ponta dos pés e coloquei a bola de volta na prateleira. — Se você tá vendo meus pontos fracos... eu não posso bobear, certo? — Dei um sorriso brincalhão para ele.

Eu sei que ele estava brincando. Só queria ver a reação dele.

Yan respirou, parecendo aliviado. Passou a mão na lateral do cabelo e sorriu. — Talvez.

A sala estava levemente escura, e isso não era bom para o meu coração.

Passei por ele, indo para a porta. — Talvez também seja bom pra você. Eu também fiquei de olho nos seus pontos fracos.

Vi de relance sua expressão preocupada e acabei rindo. Ouvi ele andando atrás de mim, rindo junto comigo, sabendo que eu também estava brincando.

Saímos da quadra.

— Acho que podemos fazer algo que não tenha a ver com o campeonato. — Ele andou do meu lado.

— Tipo o quê?

Ele pensou. — Pior que não sei. Não tem muitas opções pra se fazer nessa escola sem ser estudar ou ficar parado olhando o céu. Ou o teto do quarto... — Ele parou e me olhou. — Sabe jogar xadrez?

— Hm... — Eu sou péssima nisso, não pode ser damas? — Não muito, na verdade. Faz muito tempo que tentei aprender, já esqueci tudo.

— E você quer voltar a aprender?

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Se for com você, sem dúvida alguma. — Ah, pode ser. Mas onde podemos jogar xadrez aqui?

— Na biblioteca tem algumas mesas de tabuleiro. Vamos lá?

— Vamos.

Depois daquele sábado tedioso, nunca achei que passaria o domingo tão bem.

Atravessamos o refeitório e fomos para o prédio dois. Subimos o primeiro andar.

— Você não acha estranho? — Parei, olhando para o corredor. — É tão vazio. Não tem barulho, não tem ninguém. É um pouco solitário.

— Eu também acho. Imagina isso aqui a noite? Deve ser bizarro. Se o dormitório já fica sinistro, imagina isso aqui. Uma bela cena de filme de terror.

Concordei.

Subimos para o segundo andar e andamos até a entrada da biblioteca.