Crônicas de um Opressor

Gloria (ou quase)



Crônicas de um Opressor
Gloria (ou quase)

Eu estava andando pela rua onde trabalho. Era mais um fim de expediente, em que eu saio todo desgovernado rumo a minha cama (existe coisa que emocione e importe mais que isso?!) e seria outra caminhada típica se eu não a tivesse encontrado no caminho.

A frente, a moça parecia distraída procurando algo em seus bolsos, mas bastou eu diminuir nossa distância de cinco metros pra ela me notar e demonstrar, pelo reflexo cristalino das suas emoções (vulgarmente chamado de "rosto"), um leve pavor crescente.

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Logo que eu percebi a situação, puxei pela memória aquelas listas típicas de o que fazer para a menina não achar que você é uma ameaça que não fosse "passe na frente dela" (por motivos óbvios, eu não ia conseguir superar os cinco metros de distância sem sair correndo e parecer mais um assaltante ou louco maníaco) e a primeira coisa que me veio a cabeça foi cantar alguma coisa.

"OK, Felipe, você não tem um chuveiro pra deixar sua voz linda, perfeita e maravilhosa, mas você consegue," eu pensei.

A primeira letra que encontrei no meu super portfólio de três músicas decoradas foi "I Will Survive" (bem viada, mesmo). Limpei a garganta e, bem, comecei a cantar, fazer o quê:


At first I was afraid,
I was petrified
Kept thinking I could never
leave without you by my side

Ela me olhou de canto, então imaginei que eu estivesse indo mais ou menos bem. Continuei cantando e comecei a me distanciar dela (pra ela não achar, novamente, que eu fosse um maníaco qualquer).

Chegamos num cruzamento. Pus meu fone de ouvido, adiantei a música pro refrão e comecei a acompanhar a (deosa, linda, amor da minha vida, maravilhosa da) Gloria Gaynor:


Oh no, not I! I will survive!
Oh, as long as I know how to love,
I know I'll stay alive!

À minha maneira, quase profetizava aos meus arredores que seria um sobrevivente àquele momento tortuoso para nós dois. O farol, pouco depois de ter acabado o clímax da música, deu passagem para ambos e ela retardou o passo.

"Acho que ela não conhece a Gloria," pensei. "Droga!"

Ultrapassei-a, ciente da minha posição de péssimo cantor e opressor que se achara inocente.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.