The Unnamed Feeling

Get Your Motor Runnin'


Capítulo 07 – Get Your Motor Runnin’.

Todd seguiu Ethan pelo imenso corredor vazio do colégio segurando com força a alça da mochila nos ombros. O professor estava na sua frente. Alto, imponente e destemido como o homem que é. Todd o analisou de costas e percebeu que a camisa branca marcava bem os contornos do corpo de Ethan e que as suas pernas são longas e fortes. Os cabelos louros escuros cortados bem curtos estão um pouco desalinhados e precisando de um corte nas laterais, mas nada que possa afetar a beleza de Ethan. O garoto concluiu que o professor não era um homem tão belo como aqueles modelos que fazem as propagandas da Dior, mas não existe nada de feio nele. Terrence Ethan Jones é dono de uma “coisa” que Todd classifica como um charme de estrada. Aquela espécie de homem que bebe cerveja direto da boca da garrafa, fuma o seu Marlboro despreocupadamente, pilota a sua moto pelas estradas do país e ainda consegue tempo para arrasar corações solitários e carentes como o de Todd.

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Ethan faz com que Todd sinta-se acolhido e compreendido por alguém que não tem a mesma idade que ele. Os seus pais só sabem dar ordens, gritar e esfregar todos os seus erros na cara do rapaz. Ethan é diferente. Ethan o escuta, respeita as suas opiniões e o aconselha da forma que ele acredita ser a mais conveniente sem nunca demonstrar que é superior ao mais novo e esses foram os motivos que fizeram Todd Green esperar ansiosamente por todos os encontros com Ethan. Todd não quer e não pretende admitir para ninguém que Ethan está fazendo dele uma pessoa melhor e mais responsável e por isso, o rapaz decidiu que nem mesmo Chloe e Luke ficarão sabendo dos recentes acontecimentos de agora em diante.

Perdido em seus devaneios intermináveis, Todd não escutou quando Ethan o chamou pela primeira vez.

— Todd? – Ethan chamou o aluno pela segunda vez. — Nós já chegamos. – Todd desceu da garupa de um jeito quase mecânico e Ethan mostrou-lhe a fachada do estabelecimento. — Gosto de vir aqui tomar café a tarde e eles têm o melhor brownie que existe nessa cidade.

— Parece ser um lugar legal. – Todd disse na falta de palavras melhores.

Ethan e Todd entraram no café e o professor escolheu uma mesa próxima à uma das janelas que tinham vista para a rua. Pouco tempo depois uma garçonete os atendeu e anotou os pedidos. Todd pediu café com creme de chantilly e dois brownies de chocolate com avelã; Ethan escolheu um frappuccino com canela e os mesmos brownies de chocolate amargo que sempre pedia.

— E aí, Todd? O que você achou do meu pequeno refúgio? – Ethan perguntou sorrindo e Todd desejou ter o poder de ter aqueles sorrisos só para ele.

— Ah, é legal. Mas só posso afirmar depois de provar o café e esse famoso brownie.

— Tudo bem. Sem pressão. – Ethan levantou as mãos como se estivesse se rendendo e riu outra vez.

Parece que ele faz de propósito. Todd pensou.

— Você já pensou sobre a Semana das Profissões? – Ethan perguntou puxando assunto. Olhava diretamente nos olhos de Todd.

— Nós falamos sobre isso há menos de uma hora. – Todd nem mesmo tinha voltado a pensar sobre essa porcaria de evento.

— Bom, eu acho que pode ser uma experiência interessante. Converse com a sua irmã e o seu amigo. Pode ter certeza que eles vão te incentivar.

— É mais provável que o Luke fique me provocando com as suas gracinhas. – Todd revirou os olhos e começou a mexer nos guardanapos em cima da mesa.

— E se ele disser alguma coisa? O que tem de mal nisso? – Ethan quis saber.

— Não gosto que tirem sarro da minha cara. – Todd disse o óbvio.

— Todd, Todd... você precisa aprender a ser mais tranquilo. – Todd o olhou como se Ethan estivesse dizendo um absurdo, mas no fundo ele sabia que até hoje o seu comportamento explosivo não havia lhe beneficiado em absolutamente nada.

— Escute-me quando eu digo: esse turbilhão de sentimentos, essa sensação de impotência, essa coisa de se sentir “o cara mais incompreendido e fracassado do mundo” é apenas um momento da sua vida. Acredite, aos trinta anos as suas crises serão outras e os seus problemas terão uma dimensão muito maior. Quando a gente cresce, a escola, os amigos da escola, os inimigos da escola, as broncas dos nossos pais... nada disso importa. Você nem vai mais se lembrar direito de como isso tudo era ruim.

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— Eu quero muito acreditar em você. – Todd riu sem humor algum.

— Eu te digo a verdade e somente a verdade. – Ethan disse e sorriu. Mais um daqueles sorrisos que fazem Todd sentir vontade de agarrá-lo pela camisa num canto escuro de uma rua deserta.

— Obrigado. – e dizer essa palavra foi quase como se Todd estivesse dizendo “Você é o único que me compreende”.

Os cafés após as aulas tornaram-se frequentes, as conversas saíram do campo acadêmico para o pessoal e a cada encontro, Todd queria saber mais e mais do professor Ethan Jones. Tudo o que o homem fazia lhe instigava a curiosidade e Todd queria saber até mesmo qual era a marca do delicioso perfume que o professor passou a usar em todas as aulas.

E finalmente a Semana das Profissões havia chegado. Todos os meninos do Belmont High School vestiram as suas melhores camisas sociais, os seus sapatos pretos e engraxados. As meninas prenderam os cabelos em coques respeitáveis e usaram saltos comportados em conjunto com saias-lápis pretas. Todd e Chloe foram juntos para escola como faziam todos os dias. Chloe foi escolhida para ser uma das meninas que representariam o segundo ano do Ensino Médio no stand de Ciências Humanas. Já Todd ficou responsável por servir água e sucos durante o evento e isso não agradou o rapaz nem um pouco. E Chloe comentou aos risinhos com Luke que nunca tinha visto um “garçom” tão mal humorado.

Ethan apareceu após o almoço e Todd sentiu como se todo o seu dia até ali tivesse sido um desafio e Ethan, o seu prêmio.

— Como está sendo a sua experiência? – Ethan perguntou com as mãos nos bolsos e o seu mais belo sorriso. Estava todo vestido de preto. Calça, camisa social e gravata.

— Confesso que eu esperava mais do que só servir bebidas o dia inteiro. – Todd disse num tom de reclamação com as mãos fechadas em punho em cima da mesa.

— Peça para um dos seus colegas te ajudar por pelo menos uma hora. – Ethan fez uma pausa e outro sorriso surgiu no rosto do professor. — Fale com a sua irmã ou o Luke e se um deles não quiser te ajudar, você pode os chantagear dizendo que sabe de um podre que os seus pais não ficariam felizes em saber. O que acha?

Todd riu e disse:

— Às vezes me pergunto como você pode ser o meu professor. Você tem vocação para ser o meu melhor amigo.

Ethan não demonstrou estar surpreso e decidiu entrar no jogo de Todd:

— Se quiser relaxar e curtir um pouco depois de todo esse estresse da feira, encontre-me na praça atrás do colégio às 19h. – O professor saiu sem dar uma chance para Todd responder sim ou não.

Quando o primeiro dia da feira acabou, Todd sentia-se muito cansado para pensar em ir ao encontro de Ethan. Suas pernas doíam, os braços estavam cansados, a roupa social parecia grudar cada vez mais no corpo a cada minuto que passava e ele não queria encontrar Ethan sentindo-se indisposto. Todd ajudou os colegas a desmontarem os stands de alimentos e bebidas e foi até o seu armário no segundo corredor. Procurou pelo celular na mochila e o relógio marcava quase 19h. Foi em direção ao banheiro masculino e encarou o seu reflexo cansado no espelho por um tempo que não soube calcular. Abriu a torneira da pia, lavou as mãos, passou a mão molhada na nuca e nos cabelos. Fechou a torneira, tirou a gravata, abriu três botões da camisa social e voltou a abrir a torneira. Enfiou o rosto na água corrente e deixou que boa parte da água descesse pelo moicano verde claro.

Todd saiu do banheiro com o rosto úmido, os cabelos molhados e a roupa totalmente amassada, mas tudo aquilo ainda era melhor do que o visual arrumadinho de mais cedo. Passou pelo portão do colégio e nem se preocupou em avisar para Chloe que iria demorar para chegar em casa. Ou talvez não demorasse tanto... tudo dependeria do que Ethan estava planejando. O garoto problema perdeu-se nos seus devaneios mais uma vez quando imaginou que Ethan pudesse levá-lo para jantar ou beber em algum lugar, mas concluiu que isso já seria sonhar alto demais.

Virou a esquina da rua atrás do colégio Belmont e pôde ver Ethan Jones em pé ao lado da sua moto debaixo de uma árvore escura e sombria. Não havia muita iluminação na praça e Todd não entendeu por que o professor tinha escolhido justamente aquela parte do local. Todd atravessou a rua e Ethan disse:

— Pensei que você fosse ignorar o meu convite. – Ethan apagou a tela do celular e olhou para Todd. Esses olhos...

— Estou tão atrasado assim?

— Só uns vinte minutos. E então, está pronto para espairecer um pouco? – Ethan perguntou oferecendo um capacete para Todd.

— O que exatamente nós iremos fazer? – Todd quis saber.

— Suba na moto e deixe que eu faço o restante. – Ethan disse e sorriu. Como eu seria capaz de resistir a esse sorriso?

Todd não fez uma pergunta sequer. Ele subiu na garupa da moto e Ethan arrancou pouco tempo depois. A brisa fresca da noite foi um presente para o calor que Todd sentia e a cada curva que Ethan fazia com a moto, o vento soprava mais forte e Todd podia sentir os pneus queimando sob o asfalto frio daquela noite. Todd percebeu que Ethan mantinha a sua viseira fechada e usava luvas pretas de couro para pilotar. O homem consegue ser charmoso até mesmo quando está respirando. Ele pensou quando chegaram num posto de gasolina e Ethan disse-lhe que iria comprar umas cervejas. Todd só esperou, sentindo-se um pouco estúpido com aquele capacete na cabeça, mas logo Ethan voltou com duas pequenas caixas da cerveja holandesa Heineken. O professor amarrou as duas caixas na traseira da moto atrás de Todd e deu a partida mais uma vez. Todd não prestou atenção no caminho e só se deu conta de que estava realmente longe de casa quando Ethan passou pelo portão do Parque Municipal da cidade.

— Acho que eu não venho aqui desde que era criança. – Todd disse olhando para as enormes árvores da entrada.

— Gosto de lugares calmos para pensar e beber as minhas cervejas em paz. – Ethan trancou a moto com uma corrente grossa com elos de metal e tirou as cervejas da rabeta. — Venha, vamos nos sentar debaixo de uma árvore perto da estufa de flores.

Todd o seguiu mais uma vez e os dois sentaram-se aos pés de um grande carvalho antigo e bem preso ao chão coberto por um gramado verde e úmido. Assim eles conversaram e beberam por mais de uma hora. A conversa tornou-se ainda mais interessante para Todd quando Ethan começou a falar de música e dos seus gostos musicais que eram muitíssimos parecidos com os do garoto problema.

— E Pantera? Você curte? – Todd perguntou dando mais um gole na sua garrafa.

— Muito! E não sou daqueles fãs de só uma música sabe? Aqueles que só conhecem Cowboys From Hell. – Ethan disse e riu. Todd riu também e logo ele se deu conta de que estava rindo. E como era difícil que alguém o fizesse sorrir dessa maneira.

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E num determinado momento, Ethan não tinha mais o que dizer e Todd viu-se sem um assunto que pudesse retomar a conversa de alguns minutos atrás. Quando deu por si, Ethan tinha os olhos grudados no rosto dele e Todd não soube o que fazer.

— Todd? – Ethan chamou.

— O que?

— Se eu fizer uma coisa, você promete que vai não socar a minha cara? – perguntou e riu.

— Acho que prometo. – Todd riu também.

E não mais do que de repente, os lábios de Ethan beijaram os de Todd.