Capítulo 06 – ANTi.

Três meses depois

Todd terminava de moldar o seu moicano na frente do espelho do quarto quando Chloe entrou já devidamente vestida para mais um dia de aula. A menina sentou-se na cama do irmão, cruzou as pernas magras esperando ouvir uma palavra qualquer de Todd. O garoto problema sabia o que a irmã queria, mas não se deu nem ao trabalho de cumprimentar-lhe com um bom dia. Continuou em silêncio e concentrado em pentear o seu cabelo.

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— É hoje que você tem aula com o professor gostoso? – Chloe sabe muito bem que as aulas de Ethan sempre acontecem nas tardes de terça e sexta-feira, mas perguntou para puxar assunto.

— Não precisa me lembrar que serei obrigado a passar o dia inteiro no colégio. – Todd respondeu mal humorado enquanto procurava um vidro de perfume no armário.

— Como se fosse um grande e terrível sacrifício ficar na companhia do seu lindo professor. – Chloe disse e riu.

— Ele pode ser legal, mas nada muda o fato de que eu ainda preciso perder o meu tempo com essas aulas inúteis. – Todd borrifou um pouco de perfume no pescoço e nos pulsos. O aroma cítrico invadiu o ambiente.

— Todd Green está admitindo que o professor Ethan Jones é legal?! – Chloe falou como se estivesse surpresa com a intenção de irritar o irmão. — O mundo vai acabar hoje! – ela riu outra vez.

— Por que você não vai pra escola com o seu namorado? – Todd sugeriu ríspido. Não estava com paciência para os gracejos de Chloe naquela manhã.

— Credo, Todd! O que te deu? – Chloe perguntou levantando-se e Todd virou-se sério e respirou fundo antes de dar uma resposta.

— Por favor, Chloe. Se eu pudesse não colocar os pés na rua seria ótimo, mas como sou obrigado a ir para a escola, não quero ouvir graçinhas nem conversar sobre assunto algum com ninguém.

— Tudo bem. Vou mandar uma mensagem para o Luke e você pode ir sozinho com a sua consciência e pode ser que nem ele te aguente hoje. – ela disse e saiu andando rapidamente.

Obrigado. – Todd disse debochado e procurou pelo seu par de tênis.

No final daquele dia Todd tinha um encontro marcado com o professor Ethan Jones e apesar de admitir que gosta da companhia do professor, Todd sabe que o homem está apenas fazendo o seu trabalho e que ele não é especial. O garoto passava pelo imenso gramado dos fundos do colégio quando viu Ethan estacionando a sua moto e logo depois atendendo ao celular que tocava. Curioso, Todd tirou os fones de ouvido para tentar ouvir alguma coisa sobre a conversa de Ethan. Falta de educação? Sim, mas a curiosidade e o recente interesse pela vida de Terrence Ethan Jones é maior do que qualquer regra de etiqueta. Alguns alunos do primeiro ano estavam reunidos no lado direito do gramado e Todd tentou se misturar a eles e colocou o seu capuz na cabeça para Ethan não o visse.

— Eu sei que eles são as melhores companhias do mundo, mas não custa nada agradar os dois. Não vejo problemas... – disse Ethan com a sua voz grave e um pouco alto demais.

“Com quem ele está falando?” Todd perguntou para si mesmo. “Será que a moça da foto é mesmo a namorada dele?” Só de imaginar essa hipótese o rapaz sentiu o sangue esquentar.

— Tudo bem, tudo bem. Eu aceito o que você decidir, certo? Acabei de chegar na escola e tenho uma aula para dar. Falo com você mais tarde, beijo. – Ethan desligou o celular e Todd colocou os fones de ouvido. Esperou um pouco até que o professor entrasse na escola e fez o seu caminho até a sala onde eles costumam se encontrar.

Todd girou a maçaneta da porta e encontrou Ethan sentado na sua cadeira já com a mesa arrumada com o inseparável caderninho de anotações e a caneta na sua frente. O professor digitava qualquer coisa no celular e não se levantou para cumprimentar Todd e isso incomodou o garoto.

— Oi, Todd! Sente-se, por favor. Estou terminando de resolver um problema aqui. – Todd não disse nada. Apenas puxou a cadeira, colocou a mochila no chão, tirou o casaco, guardou o celular e esperou sentado até que Ethan pudesse notar a sua presença ali. Fez questão de usar a camiseta do uniforme da Educação Física por baixo para tentar chamar a atenção do professor.

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— Só mais um minuto... – Ethan avisou. — E...pronto! Sabe como é final de ano. Todas as pessoas do mundo querem fazer uma ceia de Natal, outros querem viajar no Réveillon e eu preciso dispensar uns, inventar desculpas para outros e confirmar presença em apenas uma festa. – Ethan explicou e Todd assentiu enquanto mordia o canto da boca onde tem um piercing no lábio.

— Muito bem. Todd, como você está? – Ethan perguntou e abriu o caderninho. Todd tentou ler o que já estava escrito, mas a letra de Ethan é tão feia que parece um código secreto.

— Bem, eu acho. – Todd respondeu curto e direto como sempre.

— Recebi o seu boletim com as notas do último bimestre e você teve uma melhora significativa de uns meses para cá. O que você acha dessa mudança? – Ethan disse tirando uma folha de dentro de uma pasta azul que estava em cima da mesma e a encarou por um segundo.

— Eu estudei para as provas e antes eu não costumava fazer isso em todos os bimestres. Fiz todos os trabalhos que foram pedidos, algumas atividades extras e tudo mais. – Todd deu de ombros. Não queria admitir que agora ele se preocupa em ser um aluno melhor. Primeiro porque a ideia de ser reprovado mais uma vez é assustadora demais. E em segundo lugar, a única coisa que Todd não quer é que Ethan pense que ele é um idiota burro que só sabe brigar por qualquer motivo ridículo.

Ethan sorriu discretamente e fez algumas anotações.

— Você está no segundo ano e precisa de uma boa média se quiser tentar uma faculdade após o terceiro ano. Considerando o fato de que você reprovou o ano passado, pode ser mais difícil aumentar o coeficiente de rendimento.

Todd nem tentou discutir. Apesar de dizer para todos que não se importava, reprovar o segundo ano do ensino médio foi uma das piores coisas que haviam acontecido na sua vida.

— Você já pensou sobre isso? Tem alguma universidade que seja a sua favorita ou um curso que lhe desperte um interesse genuíno? – perguntou Ethan batendo com a ponta da caneta na folha do caderninho.

— Eu nunca pensei sobre isso. – Todd respondeu e era a mais pura verdade.

— Nunca?! – Ethan perguntou espantando. — Não existe um curso de graduação que seja interessante para você?

— Não. Bom, eu nunca parei para ver uma lista com todas as opções, mas posso adiantar que as profissões tradicionais não me chamam a atenção. – ele respondeu coçando o queixo.

— E quais seriam essas profissões tradicionais? – Ethan quis saber.

— Medicina, Direito, qualquer uma das Engenharias. Tenho certeza de que nada disso pode ser bom para mim.

— Entendo. Todd, você já participou da Semana das Profissões?

— O que? – Todd perguntou porque realmente não sabia do que Ethan estava falando. Ou melhor, não conseguia se lembrar exatamente qual era esse evento já que ele nunca comparecia em nenhum deles.

— A Semana das Profissões é um evento que acontece todo ano aqui no colégio onde representantes das melhores universidades do país, públicas e particulares, vem para dar palestras, apresentar as suas instituições e conversar com alguns dos melhores estudantes.

— Ah, sim. A minha irmã e o namorado dela participam desse evento desde o primeiro ano, mas eu nunca me interessei.

— E por que?

— Fala sério! É uma semana inteira de folga para os alunos que não desejam participar. Por que eu deveria acordar cedo para ouvir pessoas que nunca vi na vida falarem sobre o futuro brilhante que as instituições deles estão reservando para os nerds?

— A sua irmã e o namorado dela são nerds? – Ethan perguntou divertindo-se com a situação. Todd notou que o professor gosta de colocá-lo sem situações um tanto complicadas e adora deixá-lo sem respostas com as suas perguntas incisivas.

— Não. – Todd respondeu seco e levemente irritado.

— Então não é um evento direcionado apenas para os nerds. Todos que desejam entrar numa boa universidade podem participar e acho que seria uma oportunidade para você descobrir algo que possa te despertar o interesse. Você já tem 18 anos. Não quero te pressionar nem nada, mas está na hora de fazer algumas escolhas.

— Então essa conversa toda é para me convencer a participar do evento? – Todd perguntou e Ethan assentiu positivamente. — Não vai rolar! – o garoto rebateu.

— Não vejo motivos para você não participar do evento. E outra: se você começar a se envolver mais nas atividades do colégio, eu prometo que vou conversar com o diretor Russo para que ele encontre uma maneira de melhorar a sua média. Não sei se você sabe, mas as atividades complementares somam horas e podem aumentar as suas notas em várias disciplinas.

— Me dê um exemplo. – Todd consegue ser muito irritante quando quer.

— Biologia, Inglês e claro, Matemática. – Ethan tinha visto as notas vermelhas de Todd em Matemática.

E Todd pensou que as suas notas em Álgebra e Geometria precisam de toda e qualquer ajuda possível.

— E o que eu preciso fazer? Assim, exatamente.

— Participar desses eventos e entrar para a equipe de Maratona Acadêmica. – Ethan respondeu como se aquelas tarefas fossem muito simples.

— Ethan, você viu o meu boletim. Acredita mesmo que eu possa fazer parte da equipe de Maratona Acadêmica sem envergonhar os meus colegas? Eles estão acostumados a tirar 10,0 em todas as matérias e raramente perdem as competições. E se eu me lembro bem, eles participam de competições de conjugações de verbos em Espanhol e desafios de Matemática. Eu não sei absolutamente nada sobre esses assuntos!

— Todd, você não precisa participar de todas as competições. Escolha alguma que vá abordar assuntos que você entende e gosta. Eu vi que as suas notas são muito boas em História, Geografia e Educação Física.

— Qualquer idiota que saiba correr e jogar uma bola com força é bom em Educação Física.

— Então você é um desses? – Ethan perguntou e riu. Todd fechou as mãos em punho. Como Ethan pode ousar compará-lo aos outros idiotas daquela escola? Mesmo assim, o bonito sorriso do professor abrandou qualquer raiva que ele possa ter sentido por um mísero segundo.

— Calma, calma. Só estou brincando. Eu acho que você sabe que essa escola e os seus pais esperam o melhor de todos vocês. Não é justo, eu sei. Existe uma pressão para que todos sejam excelentes e saiam do Ensino Médio aprovados nos exames de todas as melhores faculdades do país, mas eu também sei que você não foi feito para ser um robô que faz o que os outros querem. Então Todd, você precisa trilhar o seu caminho. E eu posso te ajudar. – Ethan sorriu e continuou:

— O que acha de sairmos para tomar um café? Estou morto de fome e preciso comer alguma coisa antes que eu desmaie. Você gosta de brownies? – Ethan perguntou fechando o seu caderninho e guardando os seus pertences na mochila. — Podemos sair mais cedo hoje e o diretor Russo não precisa ficar sabendo da nossa pequena rebeldia.

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Todd sorriu de modo singelo e ficou de pé. Pegou a mochila e o casaco, mas não vestiu a peça de roupa. Colocou uma alça da mochila nos ombros e disse:

— O seu segredo está a salvo comigo. – Todd disse.

— Ótimo! Eu espero que você não tenha problemas em andar de moto. – Ethan tirou as chaves da moto do bolso e mostrou para o seu aluno problema.

— Você vai me levar na sua moto?! – Todd perguntou espantado demais e um segundo depois já estava arrependido daquela reação.

— Claro! A minha garupa tem que carregar alguém de vez em quando.

Ethan colocou a mochila nas costas e abriu a porta. Todd o seguiu. E pela primeira vez em muito tempo, Todd sentiu-se feliz.