The Unnamed Feeling

Conte-me Sobre Você


Capítulo 04 – Conte-me Sobre Você.

Naquela tarde de terça-feira, Ethan chegou antes de Todd e arrumou a sua mesa colocando o caderninho onde fazia as suas anotações e a caneta um ao lado do outro e desligou o celular. Não queria ser incomodado por ninguém que não fosse da escola. Desde o primeiro dia ele havia decidido que Todd teria toda a sua atenção e dedicação, então nada mais justo do que começar mostrando-se disponível para ajudar o rapaz com os seus problemas. Ethan não sabia exatamente como Todd havia chegado naquele ponto, mas queria ajudá-lo a ser uma pessoa melhor.

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Todd chegou com os fones de ouvido no volume máximo e Ethan reconheceu a música que o rapaz ouvia. O garoto jogou a mochila no chão ao lado da sua cadeira e tirou o celular do bolso para desligá-lo.

— Stone Sour? – Ethan perguntou tentando uma aproximação com o garoto.

— Isso. Você gosta? – Todd perguntou surpreso. Ele não conhecia nenhum adulto que gostasse das bandas que ele ouvia desde os 10 anos de idade.

— Muito! Gosto também do Slipknot.

— Slipknot é uma de minhas bandas favoritas.

— Muito bom saber. Espero que possamos conversar sobre música também. – disse Ethan abrindo o seu caderninho.

— É, pode ser. – Todd desligou o celular, tirou os fones de ouvido e colocou o aparelho em cima da mesa de Ethan.

— Acho que podemos começar. Como foi o seu final de semana? – Ethan perguntou.

Todd se ajeitou na cadeira e pensou um pouco antes de responder.

— É...eu não tinha dinheiro para sair com os meus amigos. Então fiquei em casa com a minha irmã e o meu melhor amigo. Assistimos dois filmes, fizemos uma maratona de um seriado no domingo e comemos porcarias o tempo todo.

— Então os seus dias foram mais tranquilos. E os seus pais? Eles perguntaram sobre a nossa primeira aula?

— Sim, perguntaram. – Todd respondeu olhando mais uma vez para o canto vazio da sala perto da porta.

— E o que você respondeu? – Ethan quis saber. Ele já estava com a ponta da caneta pronta para começar a anotar o depoimento de Todd.

— Nada. Não gosto de falar da minha vida com eles. – E nesse momento Ethan percebeu que Todd realmente tem dificuldades para conversar sobre os seus sentimentos e esse pode ser um dos motivos que o fazem reprimir tanta raiva dentro de si.

— Por que você não gosta de conversar com eles?

— Não é um pouco óbvio? – Todd retrucou levantando uma sobrancelha.

— Não. – Ethan respondeu simplesmente. — Eu não conheço os seus pais e não sei como é a relação de vocês.

— A pior possível. – Todd disse olhando para o chão.

— Por que? – Ethan insistiu.

— Eles não me entendem. Eles... querem... eles querem que eu seja algo que não sou, alguém que nunca fui e nunca poderei ser.

— Como assim, Todd? – Ethan começou a fazer as suas anotações.

— É sério, por que você quer saber? Não tenho a obrigação de falar da minha vida particular para um estranho.

— É verdade, você não tem. Mas o seu diretor impôs que você fizesse essa aula, caso contrário não poderá concluir o ensino médio. É isso que você quer? Ficar preso numa escola cheia de adolescentes depois dos 20 anos de idade?

— Não. – Todd parecia vencido e um pouco cansado de tentar resistir.

— Então conte-me sobre você. É mais fácil do que parece e melhor do que ser obrigado a ficar mais três anos nesse colégio.

— Como posso começar? – Todd perguntou para si mesmo em voz alta olhando para o teto. — Não sou o filho que os meus pais desejam. Não gosto de estudar, não quero ir para a faculdade e mesmo que eu fosse, seria obrigado a isso já que não me identifico com nenhum curso. É como se eu tentasse mostrar para eles que não fui feito para ser um cara perfeito com um futuro brilhante.

— É por isso que você fuma, bebe e briga com as pessoas?

— Eu bebo porque gosto de sentir o gosto do álcool, fumo porque a fumaça é agradável e brigo porque sinto como se estivesse descarregando toda a minha raiva e frustração nos socos que dou na cara de alguém.

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Todd é intenso e Ethan percebeu isso. Ele fazia o que fazia por prazer e também para chamar a atenção dos outros.

— E por que você sempre briga na escola? Para que os seus pais fiquem sabendo?

Todd riu levemente e respondeu:

— Eu não sou idiota. Sei muito bem quem são os garotos dessa escola, mas não conheço os caras da rua. Posso ser morto por socar a cara de um desconhecido perigoso.

— É, você tem razão. É melhor lidar com pessoas que já conhecemos.

Todd quis sorrir. Ethan realmente parece ser um cara legal e não apenas um “educador” que o julgaria superficialmente. Quem sabe Chloe e Luke não tenham sucesso no seu plano de fazê-lo ficar com o professor Ethan?

Ethan observou Todd por um minuto, parou de escrever e olhou dentro dos olhos do rapaz com as duas mãos juntas em cima da mesa.

— Todd, eu quero que você entenda uma coisa. – Ethan fez uma pausa e Todd o encarou sério.

— As pessoas sempre vão te julgar, sempre vão querer que você seja mais e faça muito mais do que o necessário. Não importa quantas coisas você conquiste, o quanto você seja bom ou ruim em alguma coisa. Todos sempre apontarão os seus defeitos, desmerecerão os seus méritos, dirão que a sua tristeza é frescura, que a sua ansiedade é um estresse temporário. E sabe por que? Porque os nossos sentimentos não são importantes para os outros. Eles não sabem como aconselhar, não entendem como podem nos ajudar sem tentar diminuir o que sentimos. Eles não nos dão o devido valor e até mesmo os nossos pais que sempre estiveram preocupados conosco agirão dessa forma um dia. Pode não ser de propósito, mas vai ser assim. As pessoas vão exigir mudanças e comportamentos absurdos. Eles vão te cobrar coisas que nem mesmo eles são capazes de fazer.

E pela primeira vez em todos os seus 18 anos de vida, Todd Green não tinha uma resposta afiada na ponta da língua.