Jon havia ficado no escuro, via a silhueta de Sansa sumir na escuridão enquanto ela se afastava cada vez mais dele. Os pensamentos borbulhavam em sua mente, tentando assimilar o que acabara de acontecer. Sua boca ainda formigava pelo contato com a de Sansa. Algo lhe dizia que aquela sensação não passaria com muita facilidade. Ela o havia marcado, sentia aquilo em cada fibra de seu ser. No entanto, era sua irmã. O mesmo sangue que corria em suas veias corria também nas dela. Perguntava-se o que seu pai diria se soubesse. Com certeza não ficaria feliz. Não conseguia retornar ao ponto exato no qual passou a ter vontade de tomar a garota para si, mas sabia que o sentimento estava lá há algum tempo. Não era recente e tampouco ínfimo. Sentia que estava sendo consumido aos poucos por Sansa Stark. Ela o devorava com o olhar, tomando conta de seus sentidos. Seu toque o inebriava, misturado ao perfume fresco que sempre sentia quando ela balançava seus cabelos. Olhou para o chão e viu Fantasma o encarando. Os olhos vermelhos o perfuravam. Estava deitado sobre o casaco de Sansa e Jon se agachou para apanhá-lo. Afagou os pelos do lobo e lhe agradeceu silenciosamente por ter interrompido, não sabia se seria capaz de controlar seus desejos por Sansa. A via como uma mulher agora e aquilo havia se tornado perigoso.

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Viu que não lhe faria nenhum bem permanecer ali. Caminhou com passos lentos para fora da Cripta, sendo açoitado pelos ventos gélidos que uivavam na noite. Voltou para o Grande Salão e percebeu que a maioria dos homens havia se retirado, alguns estavam desmaiados sobre as mesas, muito bêbados para encontrar o caminho de volta para a Vila de Inverno. O Inverno havia chegado e logo estaria tomada pela plebe do norte, no meio tempo, Sansa cedera o lugar para os exércitos das casas vassalas. Não viu sinal da irmã, ela deveria ter ido direto para seu quarto. Ele fez o mesmo, se arrastando até seus aposentos. O cômodo era grande demais para Jon. Sentia-se solitário durante as noites e isso alimentava seus pensamentos indevidos a respeito de Sansa. Colocou o casaco dela sobre uma cadeira de madeira mal equilibrada no canto e sentou-se em sua cama. Tirou suas botas e então deixou que seu corpo caísse sobre o colchão macio. Levou as mãos até a face, puxando seus cabelos e tirando os fios que caíam sobre seus olhos, então os fechou e reviveu o beijo. Sentiu tudo novamente. Todas as sensações conflitantes, todos os seus sentidos aguçados. Seu corpo esquentou e ele fez uma reclamação para si mesmo. Teria que se livrar daquelas fantasias. Sansa jamais seria sua. Logo encontraria um marido que governaria o Norte ao seu lado. No passado decidira ir para a Muralha, pois seu futuro em Winterfell nada mostrava. Agora não poderia fugir. Agora estava preso ao seu dever de protegê-la e não entendia como poderia se teria que se manter afastado. O cérebro de Jon trabalhava tão rápido com as possibilidades que logo se viu muito cansado. Suas pálpebras pesavam sobre seus olhos e então dormiu. Sonhou com ela como em todas as noites anteriores.

***

O dia amanhecera mórbido em Winterfell. O tempo era fechado e aquele era o dia mais frio desde que começara o Inverno. Nem mesmo o aquecimento do Castelo e a lareira eram capazes de manter o calor dentro do corpo de Jon. Fez o que tinha fazer para sua higiene e rotina da manhã. Pegou o casaco de Sansa e pensou em ir devolvê-lo, mas sentiu que deveria lhe dar tempo. Tentou imaginar como ela passaria a reagir, se o ignoraria, se sentia o mesmo que ele. Balançou a cabeça tentando afastar aqueles pensamentos e ouviu batidas leves em sua porta.

— Entre — disse firme. Sor Davos apareceu diante dele e lhe cumprimentou.

— Bom dia, Jon Snow. Vejo que já está de pé, ótimo. Lady Sansa o chama. — Jon não foi capaz de controlar o modo como seu coração passou a pulsar irregular quando ouviu o nome da garota. Ele se apressou para ir de encontro a ela não conseguindo reprimir a ponta de esperança que surgia em seu íntimo.

***

Sansa acordara muito cedo naquela manhã. Haviam coisas a serem feitas sobre a administração do castelo e ela não poderia perder muito tempo. Não dormira quase nada na noite anterior, no entanto. Seus pensamentos não a deixaram em paz por um segundo e Jon não desaparecia de sua mente. Tentava fechar os olhos para afastá-lo, mas ele sempre estava lá. Sentia-se manchada pelo beijo que trocaram e não conseguia evitar pensar que todos sabiam. Notava as pessoas a olhando, mas elas estavam muito preocupadas com as próprias vidas e Sansa alimentava uma paranoia. Concluiu que o único modo de evitar que aqueles pensamentos a perturbassem mais seria trabalhando. Brienne já estava do lado de fora de seus aposentos. Resolvera pular o desjejum e caminhou com a mulher até sua sala de reuniões. Podrick surgiu alguns momentos depois, acompanhado de Meera Reed. Sansa sorriu para a garota e a cumprimentou.

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— Sente-se, por favor. Sobre o que gostaria de tratar? — perguntou sentando-se também.

— Agora que estou de volta acredito que devo ir de encontro ao meu pai o quanto antes. Poderia lhe mandar uma carta, no entanto poucos corvos chegam até o Gargalo. Gostaria de ir até ele, se não precisar mais de mim por aqui. — Sansa franziu o cenho.

— Pensei que gostaria de ficar com Bran, vocês parecem muito próximos.

— Gostaria. Mas meu pai ainda não sabe sobre a morte de Jojen e acredito que lhe contar pessoalmente seja mais sensato. Voltarei se me permitir, minha Senhora.

— Winterfell sempre terá seus portões abertos para você, Meera. Diga ao senhor seu pai que aguardo ansiosa a presença dele em nosso castelo. Entendo que sua presença no Gargalo é de grande valia, mas a presença dos Senhores também me é importante. Há coisas a serem discutidas.

Sor Davos irrompeu no cômodo naquele momento. O homem parecia cansado, mas sua face ainda era agradável aos olhos de Sansa.

— Bom dia, Milady. Senhoras, Podrick — o homem cumprimentou todos na sala. — Sobre o que discutem?

— Meera quer ir até Atalaia da Água Cinzenta encontrar seu pai. Acredito que podemos separar alguns homens para escoltá-la.

— Claro. Não será um problema. — disse prestativo.

— Sor Davos, poderia chamar Jon para mim, por favor? — Sansa pediu.

Davos assentiu e saiu ligeiro do local.

— Se não precisar mais de mim, irei me retirar. Ainda não vi Bran esta manhã e tenho que lhe contar a novidade — a menina abriu um sorriso que era ao mesmo tempo de felicidade e tristeza. Sansa retribuiu o gesto e Meera saiu.

Esperou em silêncio enquanto Davos trazia Jon. Não tivera muito tempo para pensar a respeito, mas a decisão de mandá-lo com Meera era a única solução para mantê-lo afastado. O Cavaleiro das Cebolas surgiu alguns momentos depois, sendo seguido por Jon. A imagem do bastardo desconcertou Sansa, mas ela não deixou transparecer, mantendo sua expressão indecifrável. Ele sentou de frente para ela e a encarou. O silêncio passou a se tornar desconfortável enquanto eles se olhavam. Os presentes podiam sentir a tensão que pairava no ar, quase palpável.

— Lady Sansa? — Brienne chamou quando percebeu que sua senhora não falava nada.

Sansa respirou fundo antes de falar. Sabia que seria difícil convencê-lo. Mas ela era sua rainha e ele lhe devia fidelidade.

— Conversei com Meera agora a pouco e ela compartilhou seu desejo de ver o pai. Espero conseguir alguns homens para acompanhá-la e Sor Davos tomará conta disso, mas quero que vá junto.

Jon a olhou confuso. Entendia que queria que ele ficasse afastado, mas mandá-lo para o Gargalo era muito extremo.

— Sansa... Isso não faz sentido nenhum.

— Devo concordar com Lorde Snow, minha Senhora. Temos uma guerra se aproximando e Jon precisa estar aqui.

— Não quero questionamentos. Minha decisão foi tomada e não voltarei atrás. Partirá com Meera para o Gargalo quando tudo estiver pronto. Pode se retirar agora. — o olhar frio de Sansa o perfurou, não parecia a mesma que tinha o beijado com tanto vigor.

Sansa não deu margem para Jon reclamar. Se o deixasse falar, com certeza mudaria de ideia. Se permanecesse mais tempo ao seu lado, não sabia se conseguiria mandá-lo para longe. Sentia dentro de si que aquilo deveria ser feito. Deveria esfriar os sentimentos que nutria por ele o quanto antes. Ele se retirou contrariado.

— Algumas cartas chegaram, Lady Sansa. — Podrick anunciara enquanto colocava alguns pergaminhos diante dela. Sansa suspirou e começou a lê-los.

Alguns selos eram familiares. Começou pelo que continha uma truta. Era o símbolo Tully, casa de sua mãe.

— Meu tio Edmure manda notícias de Correrio. — anunciou enquanto Davos a fitava. — Lorde Frey está morto. — aquela notícia lhe aqueceu o coração. Walder Frey era responsável pela morte de Robb e sua mãe. — Parece que após tomarem o castelo os Lannister o deixaram em poder dos Frey. Quando Lorde Walder apareceu morto, uma revolta foi causada e o exército Tully conseguia tomar o castelo de volta — ela sorriu.

— Essa é uma ótima notícia — Brienne lhe disse. — Acredito que Sor Brynden esteja vivo, então?

— Ele está morto — falou triste. — No entanto, tomar de volta Correrio é mais do que esperávamos em nossos planos — ela olhou para Davos.

— Ele disse como estão as Gêmeas? — o cavaleiro perguntou.

— Disse que o que restou dos Frey fugiu para lá. Pede nosso apoio para tomar as torres.

— Ainda acha uma boa ideia manter Jon no Gargalo? — Davos a olhou de forma sugestiva. — Seu irmão poderia liderar o exército para as Gêmeas.

Sansa pareceu refletir sobre aquela informação, de todo o modo ele ainda estaria longe por um bom tempo. Concluiu que era uma boa ideia.

— Parece que não tenho escolha. Avise-o de que preciso dele em outro lugar. Mas peça para que escolha alguns homens de confiança para acompanhar Meera.

Sor Davos concordou e saiu da sala. Sansa se voltou para os outros pergaminhos. Viu a rosa Tyrell desenhada de forma delicada sobre a tinta verde. Abriu pensando quanto tempo fazia desde que havia visto Margaery pela última vez. Parecia outra vida. O baque veio quando leu que a Rainha estava morta. Sentiu seu coração se encher de ódio quando descobriu que Cersei havia sido responsável. A Lannister mãe já havia lhe tirado o bastante.

— Sobre o que fala? — Brienne perguntou curiosa. Convivera com os soldados Tyrell quando estava ao lado de Renly.

— Lady Margaery e seu irmão estão mortos — Sansa anunciou, a voz falhou por alguns minutos. — Sinto muito.

— Como? O que aconteceu? — Brienne perguntou aflita.

Sansa lhe entregou a primeira parte da carta para que a mulher lesse com os próprios olhos e continuou a ler o que Lady Olenna Tyrell lhe escrevera. Era demais para associar. Brienne pediu licença para se retirar e Sansa não interveio. Entendia que ela precisava de um tempo para assimilar.

— Não a deixe sozinha. — disse a Podrick que saiu da sala a deixando.

Foi então que leu a última parte da carta. Por um instante não se sentia parte daquele mundo. Embora seu coração fosse contra o que estava sendo sugerido, sua razão lhe lembrava de que o mais sensato seria concordar com a proposta. Jon entrou de repente no cômodo. Ele parecia com raiva, sua expressão era de angústia.

— Você não pode me mandar de um lado para o outro como um cachorro, Sansa. Meu lugar é aqui, ao seu lado, como prometi... — ele viu que ela estava muito pálida, então se aproximou. — O que houve?

Sansa encarou o meio-irmão. Como poderia dar aquela notícia a ele? Talvez o melhor fosse contar de uma vez. Um golpe certeiro no coração doeria menos do que um golpe no estômago, que o faria definhar por dias.

— Vou me casar com Willas Tyrell.

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