Bela

Sobre viver num mundo bem mais amplo


Isabela Artois tinha consciência de quão incrível Hogwarts era.

Dos portões ornamentados com javalis alados até qualquer um de seus limites de extensão, aquele castelo era a síntese do mundo bem mais amplo com o qual sempre havia sonhado.

Mesmo cursando o sétimo ano, de vez em quando ainda sentia o coração saltar uma batida quando descobria um quadro novo ou quando se perdia olhando a paisagem pela torre da Corvinal. Mas o que realmente lhe tirava o fôlego, o lugar ao qual ela devotava todas as suas horas livres de bom grado, independente de todos os outros espaços incríveis onde poderia estar, era a biblioteca.

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A primeira vez que ela entrara nela, ainda aos onze anos, sabia que estava perdida. Passara os últimos cinco anos num vilarejo trouxa enfadonho onde a única distração era ser assistente de produção das constantes engenhocas do pai inventor. Ela o amava o suficiente para nunca reclamar com ele sobre quão péssima havia sido a ideia da mudança, mas sentia falta de tudo da antiga cidade, especialmente da mãe que nunca retornaria.

A biblioteca parecia então uma recompensa incrível por todo o tédio vivido em silêncio e sem resmungos.

Bela tornou uma espécie de desafio pessoal ler o máximo de livros possíveis que o lugar comportava. Ela vinha trabalhando com afinco para cumprir o objetivo e estava satisfeita com o resultado.

Tanto o livreiro que vinha reabastecer as estantes quanto Madame Samovar - a bibliotecária - a conheciam pelo nome e a amavam como uma neta. Se existisse algum tipo de prêmio por tempo curvada com o nariz em um livro, Bela seria campeã invicta. Ler era seu maior hobby e paixão e passar o tempo entre obras empoeiradas era o melhor jeito de se sentir confortável.

Também havia o bônus formidável de que a biblioteca funcionava como um repelente natural para o estúpido do Gaston, que nos últimos tempos vinha assumindo uma postura perturbadora em relação à obsessão que nutria por ela.

Não que Bela precisasse de fato temer por algo. Se as coisas chegassem a um nível assustador, ela estava disposta a reportar o comportamento do grifinório para a direção. E ela era ótima em feitiços. Além disso, havia Adam e a mania irritante - porém gentil - de escoltá-la.

Agora já fazia três anos desde que haviam se tornado amigos e ela ainda não conseguia entender como isso era possível. Por culpa dele, ela fora injustiçada e obrigada a passar uma semana cumprindo uma detenção na ala oeste.

Á época dos fatos, Adam era uma pessoa egoísta, com algum senso de crueldade e péssimo temperamento. No entanto, ficar trancafiada durante sete tardes limpando armários sujos com o descendente da imponente família Beauchamps, surpreendentemente fez com que ela sentisse compaixão. A vida dele era no mínimo miserável e Bela entendeu que Adam era uma pessoa tão solitária quanto ela.

Por fim, havia todo aquele negócio de ser um lobisomem e das pessoas serem malvadas ou pelo menos inadequadas com ele. Bela só não conseguia evitar. Ela tinha uma alma boa. E talvez tivesse um fraco por caras problemáticos.

Desde que escutara aquele comentário particularmente doentio sobre ela e Adam e algo como zoofilia, ela fazia questão de deixar ressaltado o quanto ela realmente se importava com ele.

Havia uma infinidade de coisas perturbadoras que Adam tinha sido obrigado a escutar durante toda a vida e Bela não se importava em dividir um pouco do peso com ele.

Formavam uma equipe meio torta e complicada por conta dos temperamentos fortes de ambos os componentes, mas que funcionava bem. Quando o ano acabasse, ela sentiria falta dele, das muitas guerrinhas de neve e das tardes em que eles faziam deveres de casa nos jardins perto de Philip (o testrálio que Bela cuidava e o qual Adam conseguia ver também porque, assim como Bela tinha presenciado a morte da mãe, ele tinha encarado a morte quando fora quase devorado com quatro anos) tanto quanto sentiria falta da biblioteca e dos livros.

Era um sentimento agridoce, e embora ela fosse uma garota inteligente, não estava certa sobre o que significava.

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Apesar disso, estava feliz em alimentá-lo. Quando era mais nova, seu livro favorito era um sobre lugares distantes, duelos de espadas e príncipes disfarçados.

Com as devidas ressalvas, Hogwarts havia lhe dado toda a fantasia e aventura que ela apreciava naquelas páginas e muito mais. Independente do que acontecesse a seguir, ela sabia que tinha memórias boas o suficiente para conjurar patronos por uma vida inteira.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.