Vazios

Rassvet


Rassvet

"Aurora"

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Wanda não escondia de ninguém a tristeza e a confusão que sentia devido aos acontecimentos recentes, mas não havia muito o que falar sobre a situação. Ninguém sabia realmente como ela poderia ser filha de Magneto, embora parecesse tão certo. Ele também não era dado à mentiras, sendo então improvável que fosse um blefe. O fato é que a abordagem ao assunto era delicada e a jovem Vingadora não se sentia tão à vontade para tocar no assunto de primeira, não quando seus amigos estavam preocupados também com o resto do mundo.

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O Projeto Sentinela, segundo as notícias, foi finalmente suspenso. Ficou claro que representou uma ameaça às pessoas, como as imagens tiradas do Congresso em Zurique mostravam. Os protagonistas daquela história eram os Vingadores Secretos, foragidos pelo Acordo de Sokovia, e o corpo docente do Instituto Xavier, além do Mata-Capas encaminhados para o mesmo episódio. Silver Sable havia se desfiliado da ONU, alegando más explicações sobre as missões em questão e corrupção. Alguém sabia ainda sobre Arnim Zola e alguém sabia sobre os planos dos Sentinelas. Isso pôs um questionamento forte o suficiente para que não levassem o Projeto para frente como um acordo internacional tipo a Lei do Registro, ainda que alguns Estados concordassem com a vigilância da população mutante.

Isso deu tempo para que o grupo de Steve afinal respirasse mais aliviado. Magneto estava a salvo, a alma de ninguém tinha sido usurpada e ninguém morreu naquela noite, mesmo que Zola tenha escapado. Steve agradeceu muito à Wanda o seu desempenho para proteger os soldados Mata-Capas quando o helicóptero explodiu e também quando ergueu a muralha. Ele estava orgulhoso dela. E preocupado.

Sam tentou puxar assunto com ela. Ele costumava dar bons conselhos para veteranos de guerra que tinham problemas ao voltar para casa, era quase um terapeuta e lia expressões com muita perspicácia. Wanda estava perdida e não queria ter uma nova consulta com Njeri, evitando de forma branda o assunto, desviando sempre o tópico da conversa. Usava aquele sorriso falso de novo, aquele mesmo que aparecia em seu rosto quando ela tinha alguma ideia na cabeça que poderia dar errado, como lutar contra as Dora Milaje para aliviar a tensão. O que o intrigou é que nada disso aconteceu. Ela não aparecia com hematomas no rosto, nem era encontrada no caminho para a Ala Médica depois de uma surra. Não parou de comer e não andava pelos corredores à noite, como costumava fazer em seus momentos de crise. T’Challa até mesmo chegou a comentar tal fato e isso era algo notável.

Já Natasha não entrava na questão com a jovem. Sabia que existiam coisas que não deveriam ser conversadas quando as feridas eram recentes demais, ainda abertas. Conversava sobre coisas inúteis, bebiam a noite e ensaiavam alongamentos de ballet pela manhã na sacada do quarto quando Wanda não saía para caminhar. A russa entendia que talvez aquilo não fosses melhor maneira de lidar com o trauma, mas não queria cobrar de sua amiga tantas coisas, pois o mundo já pesava demais em suas costas. Ao invés disso, perguntou mais uma vez se descoloria o cabelo ou não para um novo disfarce. Não tinha mais como voltar para o Congresso como se nada tivesse acontecido, não depois de aparecer na televisão para o mundo inteiro ajudando Steve Rogers. Wanda, novamente, expressou todo o seu luto pela cor vermelha das madeixas da Viúva Negra.

A Feiticeira apreciava as tentativas de seus amigos de fazê-la se sentir melhor. Era nítido que Sam queria poupar sua dor quando a convidava para caminhar de manhã, ou quando Steve aparecia na porta do seu quarto bem no momento em que ela ligava a televisão para ver os noticiários, a maioria com teorias sobre a árvore genealógica de Wanda e o passado bizarro de seu pai. Seus amigos estavam atarefados com os últimos acontecimentos e preparavam o lançamento de Outer Heaven nos céus, conferindo os últimos retoques e dormitórios personalizados de cada um. Shuri também se envolveu com os aprimoramentos tecnológicos, mesmo com a perna quebrada ainda em recuperação e um tanto introspectiva pela viagem astral. Pôs no quarto da Viúva Negra uma série de lâminas e aparelhos que davam choque, as preferidas da russa, também instalou barras de ballet e espelhos. Inclusive pediu conselhos de estética para Ororo, numa espécie de trégua, e não era raro ver as duas debatendo sobre estilos musicais com Sam Wilson.

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Wanda assistia seus amigos em suas tarefas diárias com carinho, mesmo que a preocupação deles por vezes fosse exorbitante. Ainda assim, guardava a verdade inteira para si. Suas pesquisas sobre o ocorrido em Zurique e os noticiários que assistia à noite não eram passatempos mórbidos de uma jovem cansada. Seu silêncio até mesmo poderia ser um tanto triste, mas era resignação e cálculo. Ela não iria mais deixar o medo influenciar suas decisões ou impedir que tomasse tais decisões. Só estava aproveitando o tempo para poder planejar melhor sua partida, traçando rotas no mapa enquanto coletava fragmentos desse passado perdido. Tudo era anotado naquele livro de capa roxa vazio, que buscou junto a Ebony e Bucky.

Magda era uma romani sinti e, pelo pouco que descobriu através de uma cópia de certidão de casamento somada a uma breve menção nos arquivos de um campo de concentração, viveu na Polônia. Era algo que poderia lhe orientar na viagem à casa de Agatha Harkness, que Wanda acreditava se situar mais num lugar astral do que físico. Quando estivesse pronta, a casa apareceria, entretanto, Wanda só sentiria-se finalmente pronta quando desvendasse certos mistérios. E também havia o fato de que Magda, bem como Natalya Maximoff, haviam desaparecido ao sopé da Montanha Wundagore, em uma região remota de Sokovia que antigamente se chamava Trãnsia. Seria uma longa jornada pelo Leste Europeu.

Ela iria descobrir mais sobre si. Esperava chegar a casa da mestre logo, mas iria aproveitar a viagem. Apesar de ser romani, vivia com Django e Marya Maximoff - seus pais até então - num bairro periférico de Novi Grad e não viajavam com a frequência costumeira de um romani. Seu pai parecia sempre esperar alguém. Agora Wanda entendia que ele esperava sua irmã chegar, Natalya. Mas ela nunca veio.

Wanda deixou a poeira baixar, secretamente com uma decisão no peito e uma moeda de prata nas mãos. Não queria deixá-los preocupados e fez o seu melhor para ser participativa nas conversas de fim de tarde. Só não pôde se entusiasmar muito quando viu seu quarto em Outer Heaven, sabendo que não iria usá-lo.

A data para o lançamento de Outer Heaven seria no dia seguinte. E seria o dia em que ela também iria embora.

Ela queria se despedir sem que os outros soubessem que era uma despedida, ou ao menos até que estivesse longe o bastante para não enfrentar reações tristes ou opiniões contrárias. Nesse quesito admitia ser covarde, e deixaria apenas uma carta para cada um. Travou conversas amenas com os funcionários que encontrava nos corredores do palácio, incluindo o bibliotecário e Njeri, embora não tivesse oportunidade de agradecer melhor o rei de Wakanda, que estava sempre na companhia de Ororo - e os dois juntos geralmente significava diálogos delicados, romance. Wanda ficava feliz pelos dois.

Também conseguiu um tempo a sós com Steve após o almoço. Ele estava cansado, preocupado, mas derreteu-se quando Wanda pediu para que desenhassem um pouco, juntos. Ela dissera que era um pedido justo depois de saber que ele foi professor de Artes por um dia no Instituto Xavier, mas nem precisaria desse argumento para convencê-lo.

— É claro, Wan. — O Capitão América riu, agora mais um menino do Brooklyn que herói, até que Wanda percebeu que essa impressão era falsa. Ele sempre ia ser o meninote revoltado do bairro, de bom coração. — Sente-se aí, vamos fazer o seguinte: eu desenho você e você me desenha. Que tal?

Concordou.

Nenhuma tinta do mundo seria do tom intenso e ao mesmo delicado da aura azul de Steve Rogers. Talvez, e somente talvez, o azul da Prússia de aquarela, porém Wanda não a tinha ali de qualquer modo, muito menos teria habilidade para pintar. Ela fez o máximo que pôde para captar o riso de lado do homem loiro a sua frente com lápis azuis, num retrato monocromático não muito convincente. O retrato que Steve entregou dela, como esperado, era praticamente uma cópia perfeita e a Feiticeira Escarlate sentiu seu coração inundar ao ver que seu rosto não era aquele marcado por olheiras roxas. Era uma expressão silenciosa, mas esperta. Talvez fosse uma das únicas representações de si mesma com qual se identificasse.

Ele gostou do desenho dele, nem criticou o nariz pequeno ou o queixo um pouco anguloso demais. Colocou-o entre as folhas do caderno de bolso que ganhou de Natal dela, mas o mais importante é que tinha guardado aquele momento no coração. Wanda sabia, pois também sentira.

E então ela foi de encontro com Sam. Ele estava de fones de ouvido nos jardins de Wakanda, naquele seu costume engraçado de conversar com pássaros. Tinha até dado nomes a alguns e geralmente eram de artistas famosos de jazz.

Eles riram de piadas inocentes. Sam comentou que Wanda deveria ter desenhado um golden retriever para retratar Steve, pois esse foi a cara dele quando apareceu em sua casa em 2014, junto a Natasha.

Wanda pediu indicações de músicas ou álbuns. Sam lhe deu seu iPod antigo, alegando que T’Challa havia lhe oferecido um novo aparelho de som portátil wakandano e faltava apenas transferir as músicas.

— Aqui. — Disse ele ao entregar o dispositivo com os fones enrolados. —A primeira música é “So What”, do Miles Davis. É como ouvir luz.

Wanda não retrucou, pois ele entendia mais de música do que ela. No entanto, duvidava da afirmação, já que ouvir luz era rir com ele.

Era final da tarde. Wanda chegou atrasada ao lab de Shuri, pois organizou sua a mochila em segredo para partir de madrugada. A princesa havia combinado algumas últimas sessões com Bucky Barnes, já que o código inserido pela HYDRA parecia deveras controlado. Segundo também as palavras anotadas pela Feiticeira Escarlate, nas visões que ela tivera do passado dele e a lavagem cerebral sofrida, faltava pouco para que o cérebro do soldado estivesse completamente destravado. Ele ainda iria para Outer Heaven junto com Steve, seu melhor amigo, e de forma remota e dosada continuaria seu tratamento com a princesa wakandana. Ficaria bem. Melhoraria.

Wanda repetia isso toda vez que pensava que iria deixá-lo. Seu coração se apertava em imaginar ver sua expressão perdida e doce uma última vez, em nunca mais segurar suas mãos ou ouvir “boneca” Ela sabia que aquilo era um sentimento não-dito, fruto de não-conversas. Mas não iria acorrentá-lo a tristeza. Bucky merecia mais e mais e mais, um mundo colorido e com o sabor de seu milkshake favorito.

Wanda era apenas escarlate, mas…

Sim. Ela o amava.

Lá estava ela, seus passos tímidos ao entrar no laboratório pulsante de Shuri. Ela e Bucky conversavam de forma amena, riam de um vídeo gravado pela própria princesa. Foi possível ouvir a voz de T’Challa no áudio, gritando “Delete esse vídeo!” para a irmã que ria. Ao fundo tocava música.

— Aí está nossa bruxa favorita! — Shuri a saudou com um riso debochado. — Wanda, estávamos falando sobre manter Outer Heaven acima da Casa Branca. O que acha?

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— Seria mais fácil para Steve perder o controle e cometer um homicídio contra o presidente.

— Exato! Foi o que eu disse para o Bucky, mas ele não achou uma boa ideia.

— Sem mais assassinatos, Shuri. — Ele riu, o quadril encostado na bancada e os braços cruzados. — Já é difícil o suficiente manter Steve longe de encrenca.

Wanda e Bucky se encararam por um instante. Não era como se o silêncio entre eles fosse um problema, porém a Feiticeira não podia deixar de se sentir um tanto hesitante. Não estava acostumada a esconder as coisas dele, mesmo as mais terríveis. Ela divagava se o soldado suspeitava ou não de sua fuga, embora não tivesse coragem de tentar descobrir por conta própria, através de seus poderes escarlates. Emoldurou um sorriso acanhado, uma mão carregando o caderno de anotações e a outra brincando com a barra da saia.

— Bom, eu… — Ela molhou os lábios, olhou para baixo de forma rápida. — Trouxe o caderno de novo, sabe. Do que eu anotei naquelas, hm, visões.

— Isso é ótimo, Wanda. — Shuri pegou o caderno e o folheou, mesmo contra um protesto engasgado da amiga. Existiam alguns desenhos estranhos até que achou uma lista com a caligrafia pequena dela. Franziu a testa. — Mas eu não falo sokoviano.

— Eu sei, eu… Fiz uma outra lista pra te dar. — Tirou outra folha do final. — Aqui.

— Oh. Útil. E antes que eu possa me esquecer, aqui está a sua joia kimoyo. Eu tive que fazer uma nova para você e para mim, já que Mística fez questão de roubar as duas. Faltam ainda ativar algumas funções para funcionar bem fora de Wakanda, então passe aqui no Lab antes de decolar em Outer Heaven.

— Claro. — Wanda mentiu com um sorriso. Até a decolagem, teria ido embora. De qualquer forma, soube ser grata e pegou a pulseira personalizada. Era menor que a anterior e sua cor era vermelha, mas se ainda faltavam certas coisas para operar normalmente, talvez servisse apenas como uma pulseira mesmo. Uma pulseira da amizade, pensou consigo mesma. — E… aquela guerreira, Ayo?

— Foi encontrada e está bem. Só alguns ossos quebrados e orgulho ferido, nada grave. E todo mundo quer um pedaço daquela mutante, aparentemente. — Deu de ombros. — Bom, vocês dois podem se sentar aí enquanto dou uma olhada no material que tenho.

Eles assentiram, caminhando para o centro do cômodo que havia sido preparado para aquela última sessão de testes. Os bancos eram brancos, minimalistas, um de frente para o outro enquanto havia um painel acima deles, cintilando em roxo. Nenhum deles entendia ao certo a função daquilo, mas podiam supor que era algum tipo de ferramenta capaz de medir a atividade cerebral de ambos sem que tivessem que usar capacetes.

Bucky inclinou-se para frente, dizendo baixo e em russo, língua que ela podia entender pela familiaridade com sokoviano:

Você vai contar a ela?

— O que?

— Sobre o círculo mágico. A viagem… Astral. E Ebony.

— Não, não. Não se trata sobre mim. Eu era uma pedra no caminho dela, que a fez tropeçar e notar o caminho certo.

Silêncio.

— Eu não te acho uma pedra.

— Bom, pode-se dizer que eu sou um meteoro.

Ela riu da própria piada, meio triste. Já ele riu um porque Wanda riu, mas não achava que o que ela dizia era verdade. Era um jeito depreciativo de ver o tanto que ela tinha feito pelos outros sem levar crédito, mas Bucky não sabia formas muito boas para lidar com a situação além de frases galantes do seu eu dos anos 30.

Então você é uma estrela cadente? Daquelas que que realizam desejos?

Wanda se permitiu ficar sem palavras por um momento. Bucky travou a mandíbula. Shuri voltou, terminando aquele instante incerto.

— Certo, — Riscou algo na prancheta. — Pelas anotações da Wanda, falta bem pouco para te deixarmos novo em folha. Eu não vou repetir as palavras-chave para testar se o modo Soldado Invernal desapareceu, por enquanto. Ainda é cedo.

Bucky concordou, aprumando-se no banco. Ele confiava nas instruções da princesa e parecia acostumado com seus cuidados, seguindo tudo com cautela. Sentou-se reto. Wanda, no entanto, observou um pouco de nervosismo nele, nas suas mãos ansiosas apertando as bordas do assento. Quis poupá-lo daquela emoção.

— E eu, Shuri? O que devo fazer?

— A ideia é que você conduza a experiência para a palavra que anotou, para que então eu possa entender o processo mental dele e recriá-lo de forma indolor e mais rápida para o restante. Não posso dizer que vou criar pílulas milagrosas, mas é bem melhor que expor vocês dois a episódios traumáticos.

— Tenho que concordar. — Bucky suspirou.

A princesa se voltou a Feiticeira.

— Não vai ficar desamparada. Nem você, Sargento Barnes. Estarei monitorando tudo. Só peço, Wanda, que não… Não tente entrar na realidade de uma memória como fez antes. Voltem se encontrarem dificuldades.

Wanda confirmou com a cabeça. Tinha uma marca na palma para se lembrar disso e uma memória bem terrível de Pierce torturando Bucky. Não queria mesmo saltar para um episódio daqueles.

— Tudo bem, Shuri. Não vou mais me perder, acredite.

— E… Existe algo que pode te ajudar. Fiz uma breve pesquisa com Jean Grey e Professor Xavier, e os dois me confirmaram que alguns itens podem auxiliar telepatas.

A princesa tirou algo vermelho detrás da prancheta. Era a tiara que Magneto moldara para ela, enquanto contava sua história. Wanda pegou o objeto com delicadeza, sentindo as bordas mais lisas da superfície escarlate.

— Barnes a trouxe para mim. Não fiz muitas alterações, só suavizei as pontas para não irritar seu rosto. Não… Não precisa usar se não quiser. Sei que as coisas estão confusas e…

— Tudo bem. Digo, se você acha que vai ajudar. — Deu de ombros, embora o gesto fosse um pouco falso. Suas mãos tremeram. Ela ajeitou o adereço em sua cabeça, sentindo os olhos fisgarem rubros pela emoção. Lembrava-se de seu irmão, de Magneto, da bagunça que era sua vida. E que iria embora, afinal. — Eu estou pronta.

Shuri já tinha se afastado, restando apenas Bucky e Wanda de frente para o outro. Ela já sabia a palavra da sessão do dia, Rassvet. Significava “aurora”, “amanhecer”. Não fazia ideia de como exatamente a HYDRA tinha usado aquilo para envenenar James Barnes, mas seguiria sua intuição de buscar a memória através do sentimento, assim como ela antes havia feito de forma inconsciente com as outras palavras. Quando ele fechou as pálpebras, num sorriso acanhado como quem diz “até mais”, Wanda não conteve um último pedido:

James?

Ele abriu os olhos.

— Sim, boneca?

— Poderia, hm, me dar as suas mãos? Eu acho que ficaria mais fácil assim. Se quiser.

— Oh. Tudo bem.

Ele fechou os dedos delicadamente em torno dos dela, névoa escarlate envolvendo os dois. Apesar da hesitação do momento, a jovem segurou com firmeza o metal que compunha a mão esquerda de Bucky, a superfície fria. Também fechou as pálpebras.

Wanda buscou pelo sentimento dentro de si que se assemelhasse ao código da HYDRA e ao que ele possivelmente sentira na ocasião. Era algo traiçoeiro e ela mal se considerava preparada como da última vez, em que justamente descobriu todas as palavras de ativação do Soldado Invernal; quando descobriu como ele tinha sido moldado numa fornalha, 'Pech. Mas o que seria a aurora? E como isso seria relacionado ao que ele sentiu? Ela meditou sobre a palavra por alguns minutos, sorvendo seu gosto na ponta da língua. O sabor era agridoce, um pouco amargo.

As manhãs eram pálidas. Wanda as assistia de maneira frequente porque não conseguia mais dormir. As estrelas desvaneciam e sobravam apenas a escuridão de suas olheiras, a dor de cabeça que se seguia durante o dia. Tudo causado por pesadelos, tudo causado por sua realidade e pelo o que faltava. Quem faltava. As manhãs eram um lembrete doente de que havia mais por vir, por suportar, até que um dia não suportasse mais. A cor vermelha se condensou no ar, porém a consciência de Wanda se dissipou para uma dimensão mais sutil.

Fragmentos de sol cortaram sua visão.

O Soldado numa manhã em Odessa. O Soldado no fim da madrugada, marchando para a Sibéria. O Soldado contra a luz esquálida do amanhecer em Xangai, suas mãos no pescoço de alguém. Sempre coberto de pó, cinzas, sangue, pólvora. Sujo, sujo. O Soldado tomava uma ducha fria ao chegar na base, um mero procedimento para mantê-lo funcionando. Limpo, depois conservado na criogenia, para ser despertado em uma nova manhã. Descongelar. Despertar. Executar missão. Limpar. Eletrocutar.

Repetir. Repetir. Repetir.

Pois estava pronto para cooperar.

A pele arrepiava, estática. Os ossos tremiam, esperando. A cabeça latejava, lembrando. Gritos, ordens. Obediência. Mesmo assim, choques.

Wanda ganiu com dor, sentindo as mãos de Bucky pressionarem mais as suas. Ele tremia. Ele se recordava. Já a Feiticeira Escarlate se surpreendeu por estar mais desperta, só não sabia se era pela experiência ou pela tiara em sua cabeça. Quem sabe a combinação de ambos.

Entendia o sofrimento do começo do dia e agora assistia aos episódios terríveis de Bucky ainda cativo da HYDRA. No entanto, não era capaz de se desenlaçar de tais lembranças e deixá-lo assim, marcado e assustado. Não, também não tinha sido isso o que fez nas vezes anteriores. No começo, era somente uma observadora. Depois, tocou-o em sua psiquê e tentava resgatá-lo, assim como Agatha fisgava Shuri no plano astral. Para subverter o significado que a HYDRA havia dado a aurora do dia, Wanda resgatou as outras manhãs que existiram em sua vida, aquelas com a luz que de fato se imagina ao pensar no raiar de um novo dia.

Caminhadas com Sam. Café com Barton. Vodka com Natasha. Brigas tolas com Shuri. Desenhos com Steve. Wanda sorriu, uma lágrima descendo sua face. Houve manhãs, ela sabia, que eram resumidas a doces que Pietro trazia e risos estúpidos, tão preciosos. Manhãs ainda mais antigas, com sua pai lhe mostrando bonecos de madeira e sua mãe lhe dando chá. Manhãs que transbordavam seu coração e ela desejava que Bucky sentisse isso também. Se lembrasse também.

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Então memórias fugazes coloriram que ela enxergava, porém não eram memórias suas.

Manhãs ouvindo o rádio sofrer interferências num jogo de baseball. Manhãs acompanhando Steve, ainda raquítico, a procurar um bom prédio pra treinar desenho em perspectiva. Outras manhãs, salvando Steve de brigas desnecessárias. Anos depois, quando estava na Romênia e uma senhora o ajudou comprar frutas no mercado. Quando ouviu Wanda e Natasha rindo e cantando Kalinka no quarto ao lado, cheiro de álcool.

Wanda riu do que Bucky se lembrava, feliz por certas coisas serem trazidas à tona para dissipar o código da HYDRA, até que uma memória dele a pegou de surpresa. Era a manhã seguinte do dia em que viajaram escondidos para o cemitério de Sokovia. A Feiticeira tinha gravado em seu coração aquela noite que, ao voltarem para o chalé de Belova, havia afinal notado algo diferente em suas não-conversas. Ela permaneceu ao lado dele na sala até dormir. Só não sabia que James Barnes também tinha guardado com carinho a manhã em que despertaram, Wanda apoiada em seu ombro e ele inteiro sonolento. A memória acabava com Sam entrando na sala, exclamando para que afastasse dela.

— Oh. — Ela disse, um pouco envergonhada. Não se lembrava de ter quase babado no ombro dele, jogada sobre seu torso com a boca meio aberta.

— É, hm. — Bucky respondeu. Estavam de frente um para outro, mas não estavam no laboratório de Shuri. Estavam mais uma vez dentro da psiquê dele, no bairro movimentado do Brooklyn, sem as bandeiras nazistas que Wanda viu na primeira vez. As pessoas transitavam sem ligar para os dois, entre as lojas com anúncios vintage, postes típicos dos anos 40 e… Luz. Somente alguns cantos, becos, pareciam dar caminho para armadilhas da HYDRA, de resto tudo parecia bem, na medida do possível. Bucky estava igualmente chocado com a transformação do ambiente, embora ainda acanhado pela memória anterior. — Então estamos de volta.

— Estamos. E você está completamente consciente. Isso é um bom sinal.

— O quê é aqui? Digo, sei que estamos no Brooklyn. No Brooklyn que eu conheci, mas… Eu não entendo.

A Feiticeira comprimiu os lábios, pensando em como compartilhar aquele conhecimento. Nem compreendia exatamente se era conhecimento, já que se tratava de intuição.

— Suponho que aqui é o cerne de sua psique, James. A matriz do que é, onde guarda as coisas mais sagradas. Estava envenenado pela HYDRA e por isso via nazistas aqui. Talvez não esteja inteiramente livre, mas… Está bem melhor. E está amanhecendo.

— É. E tem você.

Ela riu.

— Ah, James. — Soltou um suspiro, deu dois passos para frente. Ajeitou a mecha de cabelo dele, que tampava um pouco sua visão. Ele fechou os olhos. — Eu achei que, quando chegássemos aqui novamente e se chegássemos, você estaria de cabelo curto. Tipo aquelas fotos suas antigas, sabe?

— Você andou vendo as minhas fotos antigas?

— O que quero dizer é que… Você não é a mesma pessoa que era antes, mas é bom te ver bem. Você se sente bem?

— Sim.

— Então eu posso ir.

— Wanda, você não é uma pedra no meu caminho que me fez pegar outro rumo. Você é uma pessoa. Quando… Quando te vi naquela outra vez aqui, disse que era uma amiga tentando ajudar. E me ajudou.

— Eu sei, é que… Não posso dizer que foi algo totalmente altruísta. Você me salvou também.

— Então você me deve um milkshake?

Eles riram, mas a risada se desfez aos poucos. Bucky a encarou sério, seu rosto com aquele ar esperto e silencioso. Ele sabia quando Wanda estava escondendo alguma coisa, só não sabia o que era. Foi pela alternativa mais fácil de supor que a jovem estava ainda triste pelas revelações recentes:

— Ei, boneca. Você está encrencada com alguma coisa?

— Pode-se dizer que eu tô sempre encrencada com alguma coisa.

— Mas você não está sozinha.

O sorriso dela foi triste, seus olhos arderam. Ela sentiu seus ossos querendo desmontar sobre o próprio eixo, fracos demais para manter um segredo. Desejou contar a ele que iria embora e que precisava ir embora, por mais que não quisesse deixá-lo de fato. Doía abandonar todos eles, em especial James Barnes. Não teria forças para dizer adeus, não na vida real. Iria chorar. Abraçou-o forte.

— Tchau, James.

O lugar desapareceu em luz escarlate.

Precisou piscar várias vezes para enfim voltar a enxergar o laboratório, suas mãos ainda entrelaçadas com as dele. Não houve muito tempo para conversa, porém. Shuri retornou ao cômodo, aquele brilho de idéias fervilhando em sua aura. Mostrou taxas de atividades cerebral subindo e descendo em gráficos, nomeou diversas estruturas do sistema nervoso que Wanda não conseguiria repetir. Bucky, apesar de um pouco confuso, tentava acompanhar as explicações com interesse.

A Feiticeira, a distância, observava bem as figuras de seus amigos para guardá-los bem na memória. Em silêncio, dizia adeus.

Wanda voltou para o quarto, um pouco triste e brincando com a própria pulseira. Com a outra mão carregava a tiara, e a colocou na mochila. Era o último item de seus tesouros recentemente adquiridos: um desenho de Steve, iPod de Sam, pulseira de Shuri, a moeda recuperada por James e finalmente a tiara de seu… Pai. Tentou não pensar muito naquilo, pois do contrário sua cabeça iria explodir. Eram preciosidades de sua vida estranha e ela somou tudo à pequena foto dela e de seu irmão com os pais. Faltava apenas uma pessoa para se despedir: A Viúva Negra.

— Nat? — Ela bateu na porta, sem resposta num primeiro momento. Bateu uma segunda vez e ouviu a voz da amiga, falando algo muito ao fundo. Aquilo era o barulho de um secador de cabelo? — Natasha, eu vou entrar.

Com um gesto simples, a Feiticeira destrancou a porta do dormitório com seus poderes e adentrou o recinto. Viu também as malas feitas pela russa, mas não eram muitas coisas que ela iria levar para Outer Heaven, já que não costumava carregar tantos objetos consigo. Natasha simplesmente se adaptava. Wanda divagou um pouco sobre aquela habilidade da outra, embora tenha se preocupado mais com a desculpa que daria para estar ali. Não que necessitasse de algo premeditado para visitá-la, mas a espiã farejava mentiras à quilômetros de distância. A desculpa que queria celebrar a ida para a base voadora dos Vingadores Secretos parecia convincente em sua cabeça e Natasha não recusaria uma dose de vodka para fechar a noite.

O som de secador de cabelo parou no banheiro e a porta foi aberta.

— Ah, Nat!

Wanda tampou a boca com as duas mãos, os olhos arregalados. A espiã se aproximou, vestida com uma simples roupa preta e balançando os próprios cabelos com as mãos, que já não eram mais ruivos. Eram loiros.

— E você cortou também!

— É só um cabelo, Wanda. E ninguém espera que eu tenha feito isso, então é um bom disfarce. Sem falar que a tecnologia wakandana é incrível em cosméticos, não ressecou nadinha. Estou levando mais dois potes de hidratante daqui.

Ela tocou nas pontas macias das madeixas loiras da amiga. Ela poderia ter escolhido preto, castanho. Se questionou se teria algo a ver com Belova ou não. Ao invés disso, levantou uma garrafa e perguntou:

— Uma última dose para a última noite em Wakanda?

— Você está ficando ousada, Maximoff. Te criei bem. Agora passe essa garrafa pra cá.

Elas cantarolaram canções folclóricas e fizeram sotaque eslavo forçado, esteriotipado, enquanto contavam piadas sujas em meio ao álcool. Elas não ficaram bêbadas, porém. Era só a euforia do momento. Natasha tirou fotos das duas com uma Polaroid, selfies engraçadas com Wanda tentando bloquear a câmera com a mão e Nat fazendo o sinal da paz, gesto aprendido com Tony Stark.

— Você vai queimar? — A Feiticeira perguntou, mencionando o costume da outra reduzir memórias à cinzas.

— Não. Uma foto pra você e uma para mim. É hora de mudar as coisas, não? Nada dura para sempre.

Wanda sorriu, concordando.

Eram quatro da manhã quando saiu do quarto da amiga. Não estava cansada, apesar de tomada por súbita calma. Natasha tinha dormido, e ela esperava que o restante de seus amigos estivesse tomado pelo sono. O cochilo de algumas horas no quarto da amiga restaurou suas forças para afinal por em prática a sua partida.

O planejamento tinha sido feito com antecipação e, mesmo que necessitasse de um pouco de sorte, Wanda aprendia cada vez mais virar as probabilidades ao seu favor. Sairia em um dos vagões automatizados de Wakanda, criados recentemente para transportar bens a países do continente africano em ajuda humanitária. Burlar a segurança de um deles não seria nada difícil com seus poderes escarlates, sem falar que chegaria muito mais rápido do que com outro veículo disponível. Só não queria depender tanto de seu teletransporte. Depois, pegaria um um avião no aeroporto local, para a Polônia ou o mais próximo disso. Esperava que tivessem uma escala direta para lá, pois não se sentiria a vontade manipulando telepaticamente todos ao seu redor por tanto tempo, para não a reconhecerem, nem pedirem seus documentos.

Cogitou deixar uma carta de despedida para cada um deles, mas não era boa em se estender muito no papel sem ser abstrata, talvez até dramática. Steve entenderia, no entanto. De qualquer modo, não tinha tanto tempo assim de sobra para pegar o vagão. Ao invés de um recado para cada um, Wanda escreveu uma única carta:

Eu estou bem. Vou descobrir mais sobre mim, minha família e… Vocês sabem. Meu pai. Por favor, não fiquem bravos comigo. Prometo mandar notícias. Amo vocês.

Me perdoem.

Wanda Maximoff (?)”

Era sucinto e um tanto deplorável, assim como a verdade que contava. A interrogação era símbolo o suficiente para entender que Wanda já não sabia mais se deveria usar aquele sobrenome ou Lehnsherr. Dobrou o papel, colocou a mochila nos ombros e foi para o hall dos dormitórios, para deixar a carta sobre a mesa da sala, lugar onde ela dormiu na noite de Hanukkah. Memórias dançaram dentro de seus olhos e ela quase deu meia volta. Quase.

O que realmente a fez parar foi ver a silhueta de Bucky Barnes parada, iluminado por trás com a luz que vinha das janelas. Ele deu dois passos para frente, depois mais três. Estava de frente para ela, a distância de um braço.

— Você está partindo. — Não era uma pergunta.

Wanda teve a impressão de ouvir um coração quebrar, só não tinha certeza se era o dele ou o dela. Os segundos seguintes em silêncio fizeram a mente da jovem disparar para todas as direções de maneira frenética, insensata. Não encontrava mais sua voz na garganta, mas as lágrimas encontraram escapatória pelos olhos. Fez força para responder:

— Sim.

Ela se recordou de Visão, do momento em que… Ele não a deixou partir. Seus lábios tremeram. Não era pela segurança dela, era dos outros. Os outros ficavam em perigo na sua presença. Se fizer isso, ele disse, jamais vão parar de temer você. Wanda Maximoff era um monstro, uma bomba prestes a explodir e matar quem estivesse perto. Tudo o que vinha superando há meses pareceu ter sido despejado com um choque em sua cabeça. Não suportava mais. Não aguentaria que lhe prendessem de novo.

— Por favor, — Implorou. — Não diga não. É só que… Não existe mais espaço para mim aqui. Agora.

— Você está errada. Eu… — Bucky sacudiu a cabeça, sibilando um maldizer. Sua voz era baixa, suave, e ao mesmo tempo muito firme. — Nós precisamos de você.

— Sei que… Eu deveria terminar seu tratamento. Eu prometi isso. Mas…

— Não é por isso. — Sacudiu a cabeça mais uma vez. Wanda podia ver que ele estava tropeçando nas próprias palavras assim como ela. Não parecia ser capaz de dizer a verdade inteira. — Não é pelo tratamento.

— É pelo o quê?

Silêncio.

— Por favor, — Wanda repetiu. — Não me impeça.

— Wanda, — Disse com carinho e urgência. — Eu não quero te impedir, eu só quero… Você não consegue ver?

Ela via, enxergava. Sabia. Wanda o amava e, pelo visto… Ele a amava também. Isso apenas fez com que chorasse mais.

— Eu tenho que ir. Eu preciso sair daqui, pra depois voltar. — Tomou fôlego. — Eu vou voltar.

— Me leve com você.

— Ah, James… — Riu sem humor, tamanha a doçura. — Você tem uma vida com Steve, Sam, Nat…

— Por favor…

Foi a vez dele pedir, mas estava decidido. Ela iria embora. Bucky tinha os olhos perdidos, a mandíbula travada.

— Então por que… Por que nem ia ao menos se despedir de mim?

Wanda quase desmontou com a imensa tristeza na voz dele.

— Por causa disso. — Gesticulou, mostrando sua face molhada pelo choro e seu estado terrível. — Porque eu não conseguiria dizer adeus.

Bucky puxou-a gentil para um abraço apertado. Wanda chorou por minutos inteiros, silenciosamente, enterrando sua face no tórax morno dele e seu perfume suave. Ela se lembrou de todas as não-conversas, cores e situações estranhas. Os últimos meses foram doloridos, mas… Doces também. Agridoces. Ela foi se acalmando aos poucos, parou de chorar. Segurava bem a nuca dele com uma mão e a outra apertava a carta, enquanto James acariciava seus cabelos.

Vermelho e preto. Eram os tons daquele abraço.

Wanda fechou as pálpebras, irradiando breve névoa escarlate. Tremia. Seus poderes o alcançaram.

— Não se vá, boneca. — Ele murmurou.

— Me perdoa, James.

Eram seis da manhã. A luz já alcançava as janelas de vidro e tocava todos os objetos com a cor clara da manhã. Tocava, inclusive, Bucky Barnes, deitado no sofá. Ele não se lembrava de ter deitado ali ou ter pegado no sono, mas soube apreciar o calor gostoso da aurora do dia enquanto esfregava os olhos. Parecia ter saído de um sonho. Notou que em uma das mãos havia uma carta e, por alguma razão que ele não sabia ao certo, sentiu um arrepio na coluna. Nesse meio tempo, Steve saiu do seu quarto e o cumprimentou, indo para a cozinha para tomar um gole de café.

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— Hoje é o grande dia. É quase como ir na Feira de Ciências. Lembra disso, Buck?

Sem resposta, Steve então se virou franzindo os cenhos, com a caneca na mão:

— O que é essa carta?

Bucky lembrava-se da Feira de Ciências e se lembrava de tudo. Seus devaneios temerosos se tornaram realidade: Wanda tinha escorrido pelos seus dedos, desvaneceu-se no ar. Uma aparição escarlate, um mero sonho. Demorou para responder ao amigo e, quando o fez, sua voz era vazia:

— Wanda foi embora.

Outer Heaven foi lançado ao céu. Sua estrutura imensa alcançou altitude entre as nuvens, o sol da manhã refletido nos vidros e metal. Wanda conseguiu ver de longe, ainda dentro de um vagão. Estava apoiada em caixas e com o queixo apoiado nos braços, observando a aurora do dia através da diminuta janela. Seu coração estava triste, mas deu um sorriso. Também encostou a palma da sua mão na superfície lisa da janela, dando adeus.

Em um segundo, Outer Heaven desapareceu completamente. Era a tecnologia wakandana de camuflagem, que nem mesmo deixou a sombra da base se projetar no chão. Wanda divagou que todos eles bem mereciam o paraíso, enquanto ela ainda estava muito ancorada à terra.