Maudit

Réflexions


Réflexions

Lordbug, um dos donos da noite parisiense, descansava na tranqüilidade do alto do próprio telhado. Era um bom lugar para pensar, deixando que o vento frio fustigasse os cabelos azulados e curtos, mesmo sendo tarde, mesmo depois da vigília pesada que tivera com seu companheiro, irritante, mas bom companheiro. Chat Noir. O gato preto lhe deixara com um movimento não tão estranho, afinal ele flertava com o herói de uniforme vermelho quase toda noite, mas instigante, no mínimo. Foi a primeira vez em que ele fez nenhuma graça, só pegou sua mão e beijou delicadamente os dedos. Podia jurar que viu uma centelha de melancolia nas fendas verdes da máscara.

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Isso era meio que novidade, pensamentos postos na noite. Chat Noir nunca parecera parar de brincar, de implicar, nunca lhe ocorreu um sentimento de desgraça para aquele herói em negro. Marian, ainda em trajes de Lordbug, sentado no telhado, deliberou pela primeira vez em como deve ser solitário, se esconder debaixo de uma máscara, e não estava falando da tira de látex preta que escondia sua identidade civil. Uma máscara de, talvez, impulsos de liberdade. Imaginava, voando com pensamentos, como seria a vida normal do chaton. Era até tragicômico como ele próprio o apelidara. Gatinho, sempre o diminuindo. Era injusto, parando para analisar. Mordeu o lábio, talvez estivesse sendo realmente injusto em o provocar, o diminuir.

Passou a mão pelos cabelos de seda, suspirando. Ele estava mesmo no humor para deliberar sobre o companheiro, então que pensasse mais. Analisou todas as cantadas, os flertes. E se fosse verdade, toda a brincadeira? Uma pontada no coração do herói se fez sentir e ele se sentiu verdadeiro ao admitir que gostaria que não fosse só piada. Era difícil achar que alguém iria gostar de lutar lado a lado e, ao mesmo tempo, demonstrar sentimentos. Mas e se essa fosse o único jeito de compartilhar o que sentia?

Sua mente se voltou a Adrien, o menino na escola, seu crush quase que desde que ele entrou no instituto. Era bem diferente de Chat Noir, o loiro. Não em aparência, e pensando bem, ele tinha o mesmo biótipo do gato preto irritante, mas em como o jeito descontraído, mas leve e animado com doçura contrastava. Mordeu com mais força o lábio, sangrando um pouquinho, o gosto férreo dando uma divisória em seu coração. Poderia gostar de duas pessoas ao mesmo tempo? ARGH, isso era errado. Isso não cabia, gostava de Adrien! Pegou o ioiô e ficou jogando, no escuro da noite. Mas por que pequenas lágrimas de frustração marejavam os olhos azuis? Frustração da indecisão. O loiro do colégio nunca havia feito nenhum avanço. Chat havia, constantemente. Pegou a arma e abraçou, curvando as costas. Por que não dar uma chance? Por que permanecer sozinho? As noites eram frias, as vigílias, cansativas, os braços delgados, convidativos.

Deixou sair um pequeno choramingo, deixando as lágrimas rolarem pelo rosto. A decisão de dar corda para o herói em preto era difícil, mas era possível. Marian não tinha nenhuma chance com Adrien. Ele era bem resolvido, modelo, exemplar e doce. Todas suas tentativas de aproximação causavam-lhe desastres de vergonha. Agora, Lordbug tinha chances com Chat Noir. Estremeceu de frio e de animação surpresa ao pensar nisso. Ao pensar em pegar aquela mão com garras e retribuir o beijo. E beijo. Talvez os lábios do chaton sejam doces, como as palavras-piadinhas dele eram.

Se levantou, deixando o corpo, ágil e preparado, cair na rua, com um salto. Entrou pela janela, se destransformando. Engoliu em seco e se trocou por um pijama quente. Queria um chocolate, mas não tinha forças emocionais para ir pé ante pé na cozinha preparar um. Se enfiou nos cobertores e tentou afastar os pensamentos. Sabia que, se desse corda, iria madrugar e parecer um zumbi na escola.

Fechou os olhos e a última imagem, de Chat Noir saltando do alto do prédio em uma habilidade excepcional, ficou gravado em suas retinas, mas tudo era para amanhã. A noite de amanhã/hoje prometia, se fosse agir como decidira agir. Deu boa noite pra sua kwami e apagou o abajour da escrivaninha. Se cobriu e desejou boa noite a si mesmo, embalando-se em látex preto e sorrisinhos maliciosos.

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