Maldito Gosto

Capítulo Único


Eu estava de joelhos na frente do altar da igreja. Rezava com fervor, pedia perdão a Deus pelos meus pensamentos e pelo ato pecaminoso ocorrido entre mim e o padre Miguel. Um padre não poderia jamais pensar o que eu pensava ou fazer o que eu havia feito.

— Deus, por favor, me perdoe nunca mais pensarei ou farei esse tipo de coisa. Sei que é pecado, mas... — sussurrei baixinho.

De repente senti um toque em meu ombro. Ao virar-me dei de cara com o padre Miguel.

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— Por favor, me deixe em paz — pedi enquanto levantava-me.

— Nós dois precisamos conversar — declarou.

A presença dele me perturbava. Eu não queria nem ao menos ouvir a voz dele. O som da sua doce voz trazia-me lembranças, lembranças que eu preferia esquecer.

— Não temos nada para falar — disse me afastando dele.

— Não se faça de desentendido — bradou segurando o meu braço.

Calei-me e o olhei nos olhos. Ah, aqueles olhos negros eram tão bonitos, tão profundos... Eles combinavam perfeitamente com a sua pele negra.

— Paulo... — Fez uma pequena pausa antes de continuar — Eu não consigo esquecer o que aconteceu entre nós dois. Quando fecho os olhos posso sentir o gosto da tua boca na minha.

— Cale a boca, Miguel! Você não percebe que o que fizemos é errado?!

— Eu sei, mas...

— Não tem mais, nem menos. Agora precisamos rezar, rezar para Deus nos perdoar.

A sua mão, que estava em meu braço, subiu para o meu rosto, e com enorme delicadeza Miguel acariciou a minha face.

— Eu gosto de você desde o tempo do seminário — confessou.

Mantive-me em silêncio e com o olhar fixo para o chão, se levantasse o rosto, acabaria beijando Miguel mais uma vez.

Havíamos deixado o seminário há poucos anos e não foram raras as vezes, que durante a nossa estada lá eu desejei Miguel e o imaginei junto a mim, porém não imaginava ser esse um desejo recíproco.

Toda a minha paixão por Miguel parecia ser uma espécie de praga do meu irmão mais velho, para ele eu me tornar padre era um erro. Eu acabaria me envolvendo com uma freira ou até mesmo com outro padre. Tudo aquilo parecia não ter lógica nenhuma, até eu conhecer Miguel... Desde a primeira vez que o vi, senti-me balançado, pensei que havia sentido admiração, mas não, não era. O que senti ao ver Miguel pela primeira vez foi atração física, uma enorme atração física.

— Por que não olha para mim? Tem medo de acabar me beijando? — interrogou.

Afastei-me dele e ajoelhei-me novamente, voltando para as minhas orações. Eu me sentia ainda mais pecador, por ter lembrado que a minha atração por Miguel não era tão recente assim.

Sentia-me culpado por não ter cortado aquilo no começo. Aquela atração não deveria ter se arrastado por mais tempo. Eu deveria ter feito algo a respeito, deveria ter tentado frear os meus desejos, mas não. Eu acabei me deixando dominar pelo rosto bonito e pela conversa agradável de Miguel. Aquele homem parecia ter me enfeitiçado.

— Deus, por favor, tire esse homem daqui. Não me permita pecar, não me permita, Senhor — sussurrei.

— Vamos esquecer tudo isso, Paulo. O sacerdócio não é para nós, vamos ser felizes juntos — sugeriu Miguel.

— Não! É isso que satanás quer. Ele quer nos corromper, padre. O senhor não percebe?

— Paulo, deixe de dizer besteiras. Não é satanás que quer ou deixa de querer algo. Somos nós dois que nos queremos. Pare de resistir ao nosso amor.

— Isso é errado — sentenciei levantando-me novamente.

— Olhe para mim — disse segurando os meus ombros — O que você sente quando me olha?

O que eu sentia? Sentia uma vontade louca de beijar aquela boca... Não, a minha vontade não se limitava apenas à boca de Miguel. Eu queria percorrer todo aquele corpo com a minha boca... Ah, como queria. Ah, como desejava poder ter o corpo de Miguel à minha disposição para que eu lhe desse quantos beijos a minha vontade permitisse.

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— Eu não sinto nada — menti.

— Não minta. Você me olha com desejo.

— Nós dois vamos queimar no inferno — bradei.

— Ao menos estaremos juntos — disse segurando as minhas mãos.

— Não diga sandices — respondi secamente, soltando as minhas mãos das dele.

— Não são sandices, são verdades. A cada dia, o que sinto por você aumenta ainda mais. Desde que aquele beijo aconteceu, o meu maior desejo é poder lhe beijar novamente...

Eu tinha o mesmo desejo, mas ao contrário do padre Miguel eu me importava em ir para o inferno. Eu havia sido um homem relativamente bom durante toda a minha vida, claro que eu tinha pecados, porém buscava corrigi-los, entregando a minha vida a Deus. E o que menos queria, era arder no fogo do inferno por toda a eternidade por causa de uma paixão, uma paixão incontrolável que parecia queimar o meu peito.

Não sei como as minhas mãos foram parar no rosto dele. Por um momento desliguei os meus pensamentos e acabei cedendo aos meus desejos. Beijei Miguel, o beijei com toda a paixão que tinha dentro do meu ser.

Durante o beijo não pensei em nada, era como se nada mais importasse. O meu coração batia em descompasso, as minhas mãos suavam frio...

As mãos dele acariciavam o meu pescoço e a minha nuca, fazendo eu me arrepiar. Ah, como aquele arrepio que percorria todo o meu corpo era bom...

A cada momento eu me sentia mais dele e menos meu. Era como se com aquele beijo a minha alma e o meu corpo estivessem sendo entregues a ele.

Quando o beijo acabou Miguel ficou me encarando. O seu semblante era o mais apaixonado possível.

— Vá embora — pedi.

— Quando você vai parar de negar o que sente? — questionou, deixando a igreja.

Miguel foi embora, todavia deixou o gosto de seu beijo em minha boca. Um maldito gosto, de um maldito beijo que por mais que eu tentasse, seria impossível esquecer.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.