Y.o.u.t.h.

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Era mais uma daquelas tardes que Ethan gastava atrás das estantes, admirando a linda mulher dos cabelos grisalhos. Os olhos azuis do garoto atenciosamente observavam enquanto ela contava aos pequenos a história dos Três Porquinhos.

— O porquinho correu para dentro da casa, e o Lobo Mau... – Carol lia, quando foi interrompida pelo choro estridente de uma menininha.

A mulher ficou apreensiva, e seu cenho se franziu numa expressão terna e preocupada. Hesitou um instante antes de acalmar a pequenina dos cabelos curtos e loiros.

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— Sh... Sh... Sophia – ela dizia, acariciando o rosto da pequena – Está tudo bem, está tudo bem. O Lobo é só uma história, meu amor – mas o nome do personagem a fez gritar e chorar ainda mais escandalosamente – Um momento, crianças.

Carol se abaixou sobre um de seus joelhos em frente à menina, que devia ter uns quatro anos, e a olhou nos olhos enquanto tentava acalmá-la.

Os pais das outras crianças começaram a ficar incomodados pela cena, e a se perguntar quanto tempo mais aquilo levaria, além de esperar que os responsáveis por aquela menina se prontificassem a fazer cessar o choro.

Foi quando ocorreu a Ethan que aquela menininha com quem Carol mantinha tão especial relacionamento talvez fosse parente dela. Uma filha, quem sabe? Fosse como fosse, os adultos estavam ficando impacientes e as crianças, aborrecidas, de forma que o garoto abriu mão do anonimato o qual vinha cultivando havia tantos dias e decidiu ajudá-la. Pegou um coelho de pelúcia que achou sobre uma das estantes e se abaixou em frente à menina, ao lado de Carol.

— Oi, Sophia – ele começou, meio sem jeito, pois não costumava interagir com crianças – Gosta de coelhos, lindinha? – ele levantou o que segurava – Este aqui é o Senhor Bigodes, e ele está louco para conhecê-la.

Carol, espantada e curiosa, observava a cena ao lado dele. De onde havia surgido aquele garoto? Ela duvidou por um instante, em silêncio, se devia confiar naquele desconhecido e permitir que ele cuidasse de Sophia.

— Vá lá – ele comentou, com um sorriso no rosto e calma nos olhos, quando a menina ficou entretida com o coelho – O show deve continuar.

A mulher encarou o fundo daqueles olhos azuis e decidiu confiar no menino. Sentou-se de volta no banquinho verde de plástico e prosseguiu com a história.

Ethan brincou com a pequena Sophia o tempo todo, não apenas porque não queria deixar Carol na mão, mas porque havia, de fato, criado um carinho instantâneo por ela. A menininha, que tinha o sorriso da mãe, sendo que a única diferença era que os seus eram dentes de leite, despertava ternura em quem a visse no primeiro instante.

— E eles viveram felizes para sempre – Carol fechou o livro com um sorriso materno no rosto ao fim da história, e as crianças aplaudiram – Gostaram?

Depois de uns breves minutos de conversa, ficou combinado que a história do dia seguinte seria a do Gato de Botas, e as crianças foram embora.

Carol olhou para o jovem dos cabelos negros desgrenhados, que até agora brincava com sua filha. Guardou na estante o livro que segurava, caminhou até onde eles estavam e se abaixou ao lado dele, pondo a mão direita em seu ombro. Ethan sentiu como se o toque morno da mão dela percorresse seu corpo inteiro como um choque, o que o fez estremecer por um instante.

— Tendo muito trabalho aí, rapaz? – ela sorriu de lado, mas ele ainda não tinha a coragem suficiente para olhá-la.

— Que nada – ele sorriu, meio sem jeito – Ela é um amor – o comentário fez a mulher admirar, orgulhosa, a filha.

— Muito obrigada, viu? – agradeceu ao garoto – Teria sido um caos se eu tivesse precisado acalmá-la.

— Não tem de quê – Ethan abriu um sorriso nervoso, e finalmente observou o fundo naqueles olhos azuis claros, quase cinzentos – Foi um prazer ajudar.

— Você leva jeito com crianças – ela não pôde deixar de observar – A Sophia não é uma menina muito fácil de entreter. Não é, Sophia? – ela fez cócegas na barriga da menina, rindo com ela um instante, antes de pegá-la no colo e se levantar, sendo seguida por Ethan – Tem irmãos?

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— Um. Mas ele já está na faculdade há alguns anos, morando num trailer— ele riu sem jeito quando não recebeu resposta ao comentário.

— Bem, obrigada novamente. Nós já temos que ir – ela pôs uma bolsa sobre o ombro com sua mão livre, e estava de saída, quando Sophia a impediu.

— Eu quero ficar mais com o tio Ethan! – ela disse estendendo os bracinhos para ele, fazendo-o rir.

— Ethan? – a mulher repetiu, e ele assentiu positivamente com a cabeça, confirmando que aquele era seu nome – Bem, nós temos que ir, meu amor. Senão o papai... Hm... – ela se deteve, não terminando aquela frase, e ergueu o olhar para o relógio na parede, desviando-o para o chão em seguida – Você vem sempre aqui, Ethan?

— Eu? Er... Venho – ele disse – Venho estudar, mas claro que eu posso fazer uma pausa para brincar com essa princesinha. Certo, Sophia?

A menina, com a mão na boca, e baba escorrendo pelo braço, pareceu se contentar com aquela promessa.

— Muito obrigada novamente. Mal posso te agradecer o suficiente. Eu... – a sineta da entrada da biblioteca tocou, informando que alguém havia entrado, e a partir daí um certo barulho começou a ser gerado na entrada do local. Reconhecer aquela voz brava fez a mulher suspirar e baixar o olhar – Meu nome é Carol – foi a última coisa que disse antes de sair apressada dali.

Ela não teve tempo, entretanto, de sair da vista de Ethan como planejava, antes que o homem a alcançasse. O garoto viu tudo. Viu como aquele homem grandalhão rugiu quando avistou Carol, como a segurou com força pelo braço e a arrastou para fora do estabelecimento, causando um alvoroço, ainda que ninguém houvesse se dado ao trabalho de ajudá-la ou defendê-la. Viu também o balançar de cabeça derrotado da bibliotecária, o qual entregava que aquilo acontecia constantemente.

Quem era aquele homem? Por que ele a tratava daquela maneira? A preocupação e a inquietação que tomaram conta de seu corpo o impediram de digerir e apreciar o momento lindo que haviam acabado de compartilhar. Ele não sabia quem ele era, mas se machucava Carol, Ethan não ficaria parado. Ele não podia aceitar aquilo.