Velho-novo Mundo

Ninguém Está Chegando


Apesar dos meus esforços pra criar uma espécie de barricada com poltronas e mesinhas de centro, ao ouvir o som da porta sendo forçada, não pensei em mais nada senão esconder-me debaixo da cama de um dos cômodos da casa em que eu estava chamando de lar havia algumas semanas.

Esconderijo claramente clichê, porém o único que pairou em minha mente.

A casa não tinha dois andares, então, alguém logo chegaria ao cômodo que eu estava. Pelos sons que os “intrusos” faziam, subentendi que se tratava de um grupo.

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— Parece que alguém tentou bloquear a porta – uma voz masculina falou de um modo calmo

— Recentemente? – uma voz feminina, agora

— Pela falta de pó nos móveis, sim – a mesma voz masculina de antes respondera – Fiquem atentos

Ao ouvir a voz feminina dei graças aos céus, pois, mulheres geralmente eram menos violentas que os homens nesse velho-novo mundo. A voz masculina parecia pertencer a um homem calmo. Mas eu não tinha informação alguma quanto ao resto das pessoas que pareciam caminhar pela casa.

Era difícil conter a respiração ofegante trazida pelo medo e eu tinha a nítida impressão de que as batidas do meu coração podiam ser ouvidas a quilômetros de distância.

Palavras como “vasculhar”, “cozinha”, “suprimento”, “munição” eram faladas em sussurros enquanto eu estava envolta de pó e, provavelmente, ácaros, debaixo daquela cama.

Vi uma sombra se aproximando, lentamente. Os pés adentraram o quarto em que eu estava, vestiam botas de combate. A pessoa andava devagar. Vasculhava todos os cantos. Todos. De forma demorada. Minha hora de ser descoberta estava chegando e tudo que eu tinha era uma mísera faca de açougueiro. Digo mísera pois caso essas pessoas tenham armas, estou em desvantagem. Só consigo atacar de perto. Armas não necessitam contato físico: elas me aterrorizam.

Eu sentia o cabo da faca apertar-se contra minha panturrilha – eu a colocava em minha bota enquanto estava dentro da casa. Enquanto tudo isso passava pela minha mente, quando pus a olhar-me para frente deparei-me com um par de olhos claros, miúdos, cobertos por uma franja descuidada.

— Coloque toda e qualquer arma que tiver pra longe de você e então saia daí. Devagar. – o dono do par de olhos (e, consequentemente, das botas de combate) ordenou.

Pensei seriamente em dizer que eu nada tinha e tentar atacá-lo, mas ele não parecia irritado e sim cauteloso. Não sei por que, mas não senti que ele fosse uma ameaça. Pelo menos não naquele momento.

Com certo esforço e contorcionismo (obrigada mãe por me obrigar a freqüentar aulas de ballet na infância) consegui alcançar minha faca e joguei-a pra longe. O par de olhos miúdos a pegou e fui saindo devagar debaixo da cama.

— Ok. Oi. – eu disse levantando os braços como sinal de rendição, finalmente me colocando de pé e encarando o homem. Ele apontava uma besta gigantesca bem pro meio da minha fuça. Ele estava perto demais, inclusive.

— Você está sozinha? – ele disse sem mudar a expressão gélida de seu rosto

— Sim. Estou sozinha aqui

— Tem alguém chegando...vindo te encontrar..? Quem é você?

— Não tem ninguém chegando. Ninguém vai vir me encontrar. Meu nome é Ellie. Você poderia, por favor, baixar sua arma eu to quase mijando nas calças, cara. – eu não quis ser engraçada, era apenas a verdade. Aquele olhar dele, coberto pelo cabelo desgrenhado, aquela besta apontada pra minha cara não era o melhor cenário de minha vida.

— RICK! – o homem gritou, sem tirar os olhos de mim. Era como se ele nem tivesse me escutado.

Ouvi passos chegando ao quarto. Minhas mãos ainda pra cima, indicando paz. Meus olhos estavam quase saltando das órbitas: eles ficavam olhando para todos os lados. Depois que vi minha faca na cintura do homem meus olhos se aquietaram. É como se eles estivessem procurando pela minha faca sem nem ao menos eu me dar conta. Não tinha como eu me defender ali. Os outros estavam chegando e eu não fazia a mínima ideia de como me recepcionariam.

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Três pessoas entraram no quarto. Dois homens e uma mulher. O homem que ficou à frente parecia ser o tal de Rick.

— Achei essa garota debaixo da cama – o homem apontou pra mim com sua besta – disse estar completamente sozinha.

— Meu nome é Ellie – eu disse hesitante, olhando para quem parecia ser o Rick.

— Ellie, sou Rick. Você está mesmo sozinha? – Rick me perguntou semicerrando os olhos, como se estivesse me estudando. Ele foi se aproximando de mim, passando, assim, na frente do homem dos olhos miúdos e fazendo um sinal para que ele baixasse sua besta. As duas outras pessoas mantinham suas armas em alerta, bem como Rick, que claramente a segurava em sua cintura enquanto chegava mais perto.

— Estou sim. Olha, eu não quero me meter em encrenca. Eu tive semanas horríveis. Não que tenha como piorar esse mundo que a gente ta vivendo, mas... ai alguém cala a minha boca – tomei fôlego - Peguem o que quiserem mas vão embora e não me machuquem, por favor – as palavras saíam rapidamente de meus lábios e eu estava com medo de ter ofendido alguém ou falado alguma besteira.

— Quantos zumbis você já matou? – Rick questionou-me

— Algumas dezenas... sou boa com a faca que seu amigo ali pegou de mim – fui baixando meus braços, ficando intrigada pela pergunta.

— Eu não acredito que ele ta fazendo isso... Rick não podemos. – o homem da besta sussurrou

— Quantas pessoas você já matou? – Rick continuou o questionário sem dar a mínima atenção ao comentário do homrm.

— Hein? – eu indaguei.

— Responda

— Além de minha irmã... dois caras idiotas que acabaram trombando comigo na floresta.

— Porquê?

— Eu não sei porque você está perguntando tudo isso... mas... bom, suponho que nesse mundo não exista mais crimes e muito menos segredos, então... Minha irmã porque ela foi mordida e, bom, não tive escolha. E os dois caras, porque eles eram babacas e em vez de se preocuparem em sobreviver ficaram muito interessados em mim, se é que você me entende – finalizei com cara de nojo.

Nesse momento todos pareceram relaxar suas armas e olharem intrigados para mim. Eu sentei-me na cama, sentindo-me extremamente cansada psicologicamente.

— Olha, peguem o que quiserem.

— Ellie, temos muros – Rick disse

Meus olhos brilharam.