Hope sabia que, assim que chegasse em casa, teria alguém feliz por vê-la. Parecia quase impossível ficar acordada por mais tempo do que o necessário, mas só de ouvir aquela voz ela viraria a noite conversando. Era o mesmo apartamento que ela passou a vida inteira, o mesmo em que Bryan, Sky e Balthazar dormiram e causaram problemas anos atrás. Deixou a moto na garagem e subiu as escadas. Girou as chaves na maçaneta, evitando qualquer ruído que pudesse acordar alguém.

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Nada adiantou, pois o primeiro passo do apartamento acordou King. Os latidos tiraram Cainã da cama. O segundo não ofereceu lambidas a Hope, ele a abraçou. Ficou surpreso, ela costumava visitar ele aos finais de semana, quando tirava folga do trabalho. Hope explicou que queria ver como ele estava e decidiu dormir em casa.

— Tudo bem, vou preparar o quarto para você, ou prefere dormir comigo? – o adolescente parecia criança no dia do aniversário.

— Vou ficar no meu quarto, obrigada. Não precisa se preocupar comigo, estou bem. Vai dormir que você tem aula amanhã. Eu te levo, inclusive.

— Bem desnecessário, já to acostumado a ir andando, não quero te atrapalhar para ir pro trabalho. Foi tudo bem?

— Foi sim, recebemos mais duas pessoas, tudo tranquilo. Quer ir conhecer lá? Acho que você já ta grandinho o suficiente para ir me visitar.

— Sério? Tem certeza? – Cainã não convivia muito com Hope, não sabia o que ela fazia. Para ele, ela trabalhava numa hospedaria, por isso dormia fora e conhecia tantas pessoas.

— Sim, posso te pegar depois da escola. Almoça comigo? Aposto que todo mundo vai te adorar lá. São maravilhosos, incríveis.

— Nossa, nem posso acreditar que você vai me levar para conhecer todo mundo. Ouvi tia Sky falar sobre isso tantas vezes. Acho que nem consigo mais dormir agora.

— Vai dormir, amanhã tem coisa para fazer, vai ser foda de aguentar. E Sky é exagerada, muito exagerada. Amanhã a gente se diverte.

— Tá bom, tá bom. Boa noite, mãe – o garoto a beijou na bochecha e saiu da cozinha.

— Boa noite campeão. Vem King, vamos dormir – o cão pulou atrás dela com a mesma felicidade que o menino havia feito.

Cainã era seu segredo. Muito maior e profundo do que sua linha familiar dentro da máfia da mãe. Não importava se descobrisse que Atlas era seu pai, que Victor era seu tio, que ela havia matado seus primos ou que Caled fosse seu filho. Cainã era seu maior e mais obscuro segredo. Poderiam levar seus prodígios e Bryan antes que tocassem em Cainã.

Apesar de ser mais velho que Caled, Cainã não conhecia o mundo em que a mãe convivia. A figura materna mais próxima sempre havia sido a tia Sky, por toda a vida. Ainda assim, ele sabia que a mãe se matava para conseguir bancar tudo o que ele tinha. Os finais de semana com ela e os encontros casuais como aquele, mantinham a relação esquisita que ele tinha com ela.

Sabia se virar desde que completou doze anos. Vivia sozinho em casa, com King. Ia para a escola, voltava para a casa. Suas saídas e escapadas eram reguladas e controladas, pela mãe, pela tia, pelos próprios amigos. Tinha uma vida feliz e normal. Não reclamava, apesar de querer que ela fosse mais parecida com a dos colegas de classe, ele tinha algo que muitos não tinham, uma vida normal. Algo pelo qual, Caled morreria para conseguir.