(Des)Humanos

Ela corria.

Para onde, não sabia. Apenas seguia em frente, tentando escapar das criaturas nefastas que a perseguiam. Tinha, às vezes, o desejo de olhar para trás e verificar se alcançara uma distância segura, desejosa de acalmar seu acelerado coração com a certeza de que conseguiria escapar. Mas não se atrevia, pois um pequeno descuido faria a diferença entre a vida e a morte.

Lembrava de todas as histórias que ouvira acerca deste tipo de situação e sempre imaginara que se acontecesse algo do tipo estaria preparada. Mas não estava. A insanidade os tornava ágeis e sua força e velocidade eram muito superiores às de um ser humano normal.

À frente, viu surgir uma pequena floresta. Acelerou o passo, acreditando que as árvores poderiam lhe dar alguma vantagem estratégica. Era também pequena e ágil e nos tempos de escola praticara atletismo. Assim, adentrou o arvoredo e saiu à procura de um local que lhe servisse de abrigo.

Mas não lhe ocorrera que a mesma floresta que poderia protegê-la em suas sombras, seria também o abrigo perfeito para aqueles que a perseguiam. Tão logo começou a subir nos galhos, seu pé foi agarrado. Gritou desesperada enquanto tentava em vão escalar, suas unhas se fincando no tronco de uma frondosa árvore.

Quando a derrubaram, sua cabeça atingiu com força o chão. Sentiu-se tonta e sua vista escureceu por um momento. Quando pôde ver algo além da escuridão, notou vários vultos que se inclinavam, prontos para devorá-la. Sentiu seu coração parar de terror e, mais uma vez, gritou.

Sentou-se assustada na cama, sentindo o coração bater fortemente contra o peito. Fora um sonho. Estava de volta à segurança do mundo real, onde aquele tipo de situação aterrorizante jamais aconteceria.

Ou ao menos era o que ela pensava.