Aprendendo a Mentir

Capítulo 01 — "Sombra do Albus".


Capítulo 01

"Sombra do Albus".

Scorpius

— Ela está perdida. Muito, muito perdida.

Albus soltou uma risada maligna e alta. Havia passado os últimos minutos falando de cinco anos atrás, quando Rose Weasley o dedurou ao pai sobre ter fingido uma semana de dor de barriga para escapulir das provas. James que ensinou a técnica, dizendo que as segundas aplicações eram mais fáceis. McGonagall acabou pegando o Potter mais novo e pondo os dois de detenção: por matar as provas e por ser um exemplo ruim. As segundas aplicações foram péssimas... para os dois.

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Scorpius balançou a cabeça negativamente repetidas vezes para os sonhos de Albus, ajeitando o próprio casaco. Por ser um rapaz alto e magro demais, andava depressa de forma desengonçada nos seus amontoados de agasalhos. Não que precisasse deles, era noite, mas ainda estava quentinho. Scorpius era um dos poucos que ficava com as vestes engomadas e abarrotadas de perfume o dia inteiro.

Mesmo assim, o Potter não desistiu com facilidade.

— Pensa comigo! — berrou, apoiando-se em uma das pilastras do corredor do térreo. — A sabichona vai ficar louca quando eu ameaçar contar ao meu tio.

Scorpius parou por um instante, piscando violentamente.

— Cara, não vai dar certo. Se você se lembra bem, ela também nos viu — falou, retorcendo-se pela memória de Rose Weasley encarando os dois na sala do Professor Binns na noite anterior. Saíram correndo e planejaram evitar qualquer outro tipo de contato.

Albus o ignorou. Afilou a própria boca e disse para si mesmo:

— Talvez peça que ela faça minhas lições de Herbologia pelo resto do ano.

Faltava praticamente o ano inteiro. Ainda era Outubro, o que provavelmente não acabaria bem para a Weasley se Albus levasse o plano adiante. Para ser bem sincero consigo mesmo, Scorpius sabia que não acabaria bem para nenhum dos três.

— Ninguém vai acreditar quando suas notas de Herbologia subirem. — Então, olhou para cima e suspirou, vendo o teto rústico do corredor. — Ninguém vai acreditar em você, para falar a verdade. Weasley é primeiro lugar em todas as matérias e é adorada pelos professores por causa dos pais.

— Mas eu sou filho de Harry Potter e não sou adorado!

Scorpius acabou rindo ironicamente empurrando o ombro do amigo.

— Ah, lógico! Como se o sobrenome não tivesse efeito nenhum sobre você. Ou sobre James Sirius ser colocado num pedestal mesmo sendo um babaca.

Eles caminhavam rápidos pelos corredores pelo atraso que tiveram. O jantar provavelmente já havia sido servido (e para uma boa quantidade de alunos). Não que aquilo tivesse lá muita importância para os dois, pois o costume de armazenar guloseimas debaixo das camas era particularmente uma tradição.

— E a carta? — Albus retomou o assunto responsável pelo atraso. Havia passado trinta minutos tentando arrancar Scorpius do quarto após ele receber uma coruja de seu pai. — O que ela dizia?

Rapidamente, o Malfoy retirou de seu bolso um pedaço de papel amassado com um selo de vela já rompido, tentando organizá-lo na mão enquanto caminhava.

— “Com a recém promoção de sua mãe como chefe da Central de Obliviação do Ministério, nossa presença na festa de Ano Novo do Ministro é imprescindível” — ditou e imediatamente jogou o pedaço de papel no ar, vendo-o ser catado por Albus. — Como eu vou aparecer ali se eu não sou "o todo poderoso e cheio de amigos, Scorpius Malfoy"?

“Esbarramos com Finnigan recentemente e descobrimos que ele não leciona mais na escola por conta de um acidente que explodiu a torre de adivinhação durante as férias. Tente dar mais notícias. Sua mãe fica extremamente magoada quando escuta de sua vida pelos outros”. — Albus soltou uma risada de hiena e devolveu a carta. — Você não contou para eles que Teddy é o novo professor de DCAT? Ao menos seus pais não curtem berrantes. Ia ser um desastre se essa carta saísse gritando atrás de você.

O loiro levou as mãos para os cabelos, ilustrando ainda mais o desespero que o consumia.

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— Estou frito, Albus. Um terço de toda Hogwarts tem pais que trabalham no Ministério — resmungou, passando mentalmente quem conhecia: Parkinson, Belldoor, Scrout, Thomas, Weasley... Só a quantidade de Weasleys em Hogwarts era capaz de encher metade do hall de entrada. — Meus pais nunca iam para esses eventos, e agora vão descobrir que eu sou um “zero à esquerda”. Porcaria de promoção, porcaria de festa, porcaria...

— Eu até zoaria você, mas essa festa vai dar conta do recado.

Enquanto Albus Severus Potter ria, Scorpius suspirava. Desde o primeiro ano, Draco Malfoy disse-lhe que procurasse ter amigos e estudar bastante, pois ele deveria fazer o novo rosto da família e não se prender ao que os antepassados fizeram. Astoria era o maior apoio quanto a isso, ela mesma estava encarregada da Central de Obliviação! Uma tarefa que as antigas gerações de sua família desprezariam.

Entretanto, o rapaz foi marcado por um sobrenome.

Ao contrário de Albus, que seguia os passos do pai, Scorp se fechava toda vez que o olhavam atravessado, até o momento que deixaram de olhar. Mas, para os pais, ele tinha amigos mais do que poderia levar para casa nas férias, e o Potter fazia o favor de escrever em julho e em agosto com nomes diferentes.

— Como é que eu vou conseguir amigos em menos de três meses?!

— Realmente vai ser difícil —–ponderou o Potter. — A gente se conhece há seis anos, e você não me considera um amigo! Imagina em três meses.

O relógio badalou, enquanto Scorpius resmungava que não era levado a sério com algumas palavras extensas demais.

— Você entendeu o que eu quis dizer. Ao contrário de você, minha existência não é propensa a criar amizades.

Eis que duas garotas da Grifinória vinham na direção oposta a deles, conversando entre si. Uma era Jolene Moore, mas a outra Scorpius não soube identificar. Ao vê-las, o rapaz ficou cabisbaixo e mais quieto, deixando seus risinhos ecoarem até que cruzassem com os sonserinos.

— Oi, Albus — falaram ao mesmo tempo.

Albus acenou para elas, sorrindo com a cena.

— Viu o que eu quis dizer? — Scorpius cutucou o ombro dele, apontando para as garotas discretamente. — Você tem o gene do carisma da sua mãe e o sobrenome do seu pai, e eu sou um poste com quem ninguém fala.

Subitamente, Albus segurou o cotovelo do amigo e o virou de frente para as grifinórias, assobiando para chamar a atenção de ambas, que moveram as cabeças para ouvi-lo dizer:

— Ei, garotas! O que acham de dar um “oi” para o meu amigo Scorpius?

Elas se entreolharam desconfiadas.

— É o “Sombra do Albus”. — Uma cochichou para a outra e riu baixinho.

As duas acenaram com os dedos e voltaram para seu caminho, provavelmente pensando que eles não ouviram o comentário.

Dez pontos para a Grifinória! — Albus gritou com graça. Foi, porém, fuzilado pelos olhos semi cerrados do loiro. — Que foi? É o meu bordão, não posso evitar.

A boa ação deu um tiro pela culatra.

“Sombra do Albus”... Antes as pessoas tinham medo de mim. Agora, eu sou um tipo de obra de caridade sua.

— Vai ser hilário quando o seu pai entender que você mentiu por seis anos — disse o moreno, como se aquilo fosse realmente engraçado. Scorpius sacudiu a cabeça e voltou a andar. — Você sabe, né? Não tem três meses. Eu diria que tem um mês para conseguir mais amigos e dois para estabelecer vínculos e criar histórias para contar para os seus pais no recesso.

Scorpius juntou as sobrancelhas e desejou rir da própria desgraça.

— Ou eu posso te forçar beber poção polissuco quatro vezes numa só noite.

— Não invente.

Chegaram ao salão, entrando com pressa e se alojando na mesa da Sonserina. Como imaginaram, muitos alunos já haviam jantado. Sem surpresa, Dake Zabini afastou dois garotos do terceiro ano pelas golas de suas camisas para dar espaço a Albus e ao seu bromance. Por mais que seus pais fossem amigos, Dake e Scorpius fizeram um favor a si mesmos e passaram 6 anos acenando um para o outro. Se tivessem trocado 10 frases por ano para algo além dos estudos, era muito.

— Disseram que um Potter estava na detenção. Achei que fosse o James. — Dake declarou no momento em que dois se sentaram.

— Provavelmente foi ele — concluiu Albus, apontando para o Malfoy. — Eu estava numa missão impossível de acalmar esse aqui.

Zabini sorriu para Scorpius, que retribuiu a ação calmamente.

Aquele tipo de atitude irritava Albus. Desde o primeiro ano, o Malfoy se enfiou na biblioteca, e, quando percebeu, os grupinhos já haviam sido formados. Com exceção clara do “Potter negro da família”. Albus Severus só virou alguém depois do primeiro jogo da Sonserina contra a Lufa-Lufa no seu segundo ano. Pegou o pomo de ouro e levou sua casa à vitória, nada além do esperado de um Potter apanhador — como Harry.

Os dois eram bons alunos (descontando, claramente, Herbologia) e acabaram formando uma aliança contra James Sirius Potter e sua mania de atormentar qualquer pessoa incapaz de revidar aos gracejos. Albus ascendeu socialmente com sua genealogia simpática. Lily Luna entrou para a escola, e o trio Potter se tornou formidável! James tinha como aliadas a Grifinória e a detenção, Albus era o garoto engraçado e irado da Sonserina, e Lily ganhava a todos com sua gentileza única. Na humilde opinião de Scorpius, Harry Potter melhorava a cada filho que fazia.

— Ei! — exclamou, cutucando Albus. — O que acha de convencer a sua irmã a ser minha namorada de mentira?

— Eihn?! — Soluçou, engasgando logo em seguida com a própria saliva.

Scorpius começou a bater nas costas do amigo devagar, enquanto se virava para a mesa da Grifinória e apontava para Lily Luna. A garota ria descontraidamente com sua prima ao lado, era quase a visão de um anjo. Os cabelos ruivos balançavam de um lado para o outro. Seu rosto era alegre, e o sorriso evidenciava as sardas abaixo dos olhos.

— Pensa comigo. Ela é legal, todos acham que ela é a garota mais bonita da escola... e até simpatiza comigo. Se é para ser caridade dos Potter, posso ganhar algo, não acha?

— Nem... Pense nisso...

Scorpius quase riu do desespero enciumado dele. Não achou que aquilo fosse realmente dar certo. Tornou a olhar para Lily, vendo-a se divertir com Dominique Weasley. Não precisava que todos a achassem a garota mais bonita, ela simplesmente era.

Entretanto, a visão do rapaz foi atordoada quando, de repente, um pedaço de pastelão de rins voou na direção dos seus olhos, esparramando-se pelo seu rosto. Ninguém pareceu notar por instante algum. Ele rapidamente se limpou com a manga da capa e olhou ao redor para entender o que havia acontecido.

Na mesa da Grifinória, James Potter e Fred Weasley riam alto e batiam as mãos, encarando Scorpius com rapidez.

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— Vai olhar a irmã dos outros, oh grande cobra branca! — berrou James, gargalhando cruelmente.

Scorpius bufou. Perdera o apetite e recostou a cabeça no punho. Contava os meses para o sétimo ano chegar e finalmente poder se livrar do irmão de Albus. Não havia muito que fazer por enquanto. O jeito era se conformar. Ele sabia que o pai ficaria decepcionado, especialmente por terem sido quase seis anos inteiros de mentiras esfarrapadas. Nunca quis seguir a ruína dos Malfoy, e achou que os estudos seriam a melhor forma de mudar isso. Até seriam, se alguém além de Albus – e McGonagall, mas ela nem contava tanto assim – confiasse nele.

— Ei, Scorpius...

— Agora não, Potter — rosnou e recebeu várias cotoveladas rápidas no antebraço. Estava entretido com seus pensamentos fúnebres. Com certeza, o amigo queria falar alguma besteira. Revirou os olhos e encarou o outro sem falar absolutamente nada.

Albus praticamente impôs sua mão cerrada para o Malfoy, claramente pedindo que ele desse um “soquinho”. Porém, Scorpius se recusava a isso. Comprimiu os lábios e deixou que sua expressão de desagrado falasse por si só.

— Eu tenho a solução para os seus problemas — cantarolou e foi mais incisivo com a mão. — Basta você me acompanhar.

— Cara... Eu não vou fazer isso. É coisa de trouxa.

Conformado, Albus deu de ombros e se apoiou no amigo, apontando para da mesa da Grifinória, pouco ao lado de James Sirius. Inicialmente, não dava para entender o que ele queria, até a visão ruiva tomar forma no que o garoto insistia em mostrar.

— Ela vai resolver o seu dilema.

— Rose Weasley? — Sua voz saiu incrédula.

A Weasley estava conversando com outros companheiros de casa animadamente, especialmente com Samuel Thomas, Priya Patil e Roxanne Weasley. Todos riam com uma história que ela contava, gesticulando bastante. Lily Luna e Dominique aproximaram-se do grupo, prestando atenção em Rose.

Ela era o centro de olhares e da conversa. Scorpius ficou imaginando se alguém saberia que ela havia roubado a prova. O que diriam se soubessem?

— Você quer popularidade e amigos para apresentar no ano novo? Rose é a sua garota — falou o Potter, mas o Malfoy não acompanhou seu raciocínio. — Minha prima é primeiro lugar em praticamente tudo. Ela é uma garota bonita, é da Grifinória, você sabe como isso conta pontos, é filha de heróis da Segunda Guerra e é, por acaso, uma ladra que nos deve um favor.

A visão de Scorpius ziguezagueou de Rose para Albus e de Albus para Rose repetidas vezes, até voltar a encarar o amigo e esboçar uma careta.

— Uma Weasley? Ela é ruiva demais. E, caso não tenha percebido, tem um ódio inexplicável por mim. Rose Weasley nunca aceitaria ser minha namorada de mentira.

Albus abriu a boca para responder, mas nada disse. Ele tinha razão, ela jamais aceitaria.

— E se não fosse namoro? E se fosse apenas ajuda para conseguir aliados?

— Você diz como uma instrutora de carisma? — O outro assentiu com um movimento de cabeça. Até parecia algo viável. A Weasley possuía um comboio ruivo ao seu favor, além dos grifinórios. Tinha realmente as melhores armas para o momento. – É... Podemos combinar isso com a imagem de “redenção do Malfoy” para mim.

— Todo mundo adora um drama em que o “malvado” vira bonzinho.

Ambos concordaram, visualizando no futuro os dois passeando pelos corredores e sendo cumprimentados por todos os alunos da escola, abraçando garotas da Lufa-Lufa e comemorando a Taça das Casas no Salão Comunal, enquanto o Barão Sangrento assustava os pirralhos do primeiro ano. Esse era o sonho.

— Rose Weasley será a solução, então — anunciou Scorpius, oferecendo seu suco de abóbora para cima.

— Vai ser um mês engraçado. — Brindou Albus.

— Podem contar comigo.

Nem o Potter e nem o Malfoy falaram a terceira frase, o que fez ambos congelarem quase que instantaneamente. A espinha do loiro, em especial, retorceu quando viu, ao lado de Albus, Dake Zabini sorrindo para eles, como se ele estivesse no assunto desde o seu início. Como se ele fosse realmente ajudar. Como se ele... Scorpius ficou vermelho, muito mais do que sua pele quase albina permitia. Dake Zabini escutou tudo.