Solicitação de Amizade

Capítulo Único


Uma nova solicitação…

Tiago clicou no ícone do facebook, curioso. A solicitação estava sob o nome de Giovanna Alves, na rede social a menos de um ano, cinco amigos em comum e cinquenta ao todo. O rapaz mordiscou o canto do lábio, curioso, já que não conhecia tal garota, mas, como podia ter esquecido sua fisionomia, aceitou o pedido e fechou a janela, levantou-se da cadeira e passou para o corredor, parando rente ao espelho e ajeitando seu cabelo vermelho-escuro e contando para ver se haviam mais espinhas sobre sua pele branca que o costume.

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─ Droga, ─ ele resmungou ─ uma a mais que ontem… depois, atrapalhou seus cabelos, bocejou e foi-se para a cozinha. Beijou a mãe, pegou a mochila e uma maçã, foi para a saída e caminhou para o ponto de ônibus.

Já no ponto, após cinco minutos de caminhada, encontrou com outro rapaz, que afundava seus olhos castanhos-mel sobre um livro de física. Tiago não deu muita atenção a sua presença, continuou a comer sua maçã e aguardar pelo ônibus, que chegou dez minutos após.

O rapaz concentrado tomou a frente e entrou, percebendo que quase todos os bancos estavam vazios, menos um par deles a esquerda. Ele foi e se sentou no lado da janela, alisando seus cachos negros e voltando a se concentrar no livro. Tiago veio atrás, perdendo sua animação ao ver que só havia um lugar livre. Suspirou, pelo menos não era um dos atletas que só falam de si mesmos ou os garotos que não gostavam de tomar banho. Foi-se e sentou. O outro rapaz ergueu os olhos a sombra de sua curiosidade, levou os dedos a boca e roeu as unhas.

─ Eaí ─ Tiago disse, tentando ser educado. O coração do rapaz acelerou.

─ Olá ─ respondeu sem tirar os olhos das equações. Tiago ergueu as sobrancelhas e tirou os fones do bolso, colocou nos ouvidos e deu play no celular. Descaradamente, o rapaz olhou assiduamente para o telefone do outro, lendo o nome da música que ele ouvia: OctaHate, Ryn Weaver. Uma borda de sorriso nada sútil surgiu no rosto de Tiago, que cortou a curiosidade do rapaz desligando a tela.

Entre falas típicas e bobas, como “O tempo esta ruim”’ ou “Espero que a professora falte” o ônibus chegou ao colégio. Dessa vez Tiago saiu na frente, saltou pela porta e parou no portão do colégio, enquanto o outro rapaz desceu e foi direto para dentro da escola.

Uma nova mensagem

O celular de Tiago vibrou em seu bolso. Ele retirou e percebeu uma mensagem nova, de Giovanna Alves: Oi. Estava próximo a responder, quando tocou o sinal e ele precisou desligar o aparelho. Desligou, suspirou e entrou.

─ Da para acreditar que a Susana oito na prova de matemática? ─ questionou um rapaz de alta estatura, cabelos curtos e aparência medíocre, á Tiago, que rabiscava na carteira um esboço de uma moça de cabelos longos.

─ Ela estuda, Dan, você queria o que? Que ela se afundasse? ─ proclamou Tiago, sorridente. Dan meteu os olhos em seu desenho e ergueu as sobrancelhas, após bufar com a resposta do amigo.

─ Bem gostosa. É alguma mina que tu pegou? ─ Tiago queria poder dizer que sim e então, felizmente, deixaria de ouvir comentários bobos dos amigos quanto seus relacionamentos, mas ele nunca foi bom em mentir.

─ É só um desenho ─ respondeu. Dan fingiu estar convencido, jogou as pernas sobre a mesa e se inclinou na cadeira. O rapaz do ônibus entrou na sala com olhar de poucos amigos, passou pela fileira ao lado, acompanhado de risadas.

─ Fiu fiu ─ Dan assoviou, debochado. Todos da sala riram e o rapaz lançou um olhar de ódio sobre ele, mas, a presença de Tiago tomou a atenção de seus olhos. Ele bufou e se sentou, de cara amarrada.

─ Porque você tem que implicar tanto o cara? ─ questionou Tiago, irritado. Dan deu uma risada e tirou os pés da mesa com a entrada da professora, uma moça de cabelo chanel, bumbum largo e nariz arrebitado, que segurava seus óculos na frente dos olhos.

─ Good morning ─ ela disse, carismática.

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─ Bom dia ─ responderam seus alunos, com tamanha preguiça de repetir em inglês. A professora entrou, jogou seus livros sobre a mesa e sentou-se na cadeira giratória ao lado do quadro negro. Percorreu seus olhos por toda a classe e ajeitou o óculos.

─ Bom, começaremos hoje um dos meus assuntos favoritos: Filmes ─ ela comentou empolgada. Todos da sala vibraram com a ideia de uma unidade de estudo tão interessante. Tiago se inclinou na cadeira e aproveitou a discussão inicial do capítulo para dar uma olhada em seu perfil e, tamanha sua surpresa ao perceber que haviam mais de dez mensagens não lidas ─ Como eu ia dizendo, Tiago, ─ seu coração acelerou com o medo de perder o celular, que ele enfiou de uma vez no bolso e voltou a ter atenção na professora ─ meus filmes favoritos são os que tem o Antonio Banderas. Inclusive, tenho em casa uma coleção de filmes dele. E quanto a você? Qual seu ator ou atriz favorito?

Todos da sala olharam para Tiago com curiosidade. Ele sabia seu ator favorito, inclusive tinha na ponta da língua, mas ele sabia que cada um dali aguardava o nome de uma atriz que ele achasse “gostosa”, não por ser fã de verdade, apenas por brincadeira de hétero. Então, uniu o útil ao agradável, mesmo que essa não fosse sua opção favorita.

─ Gosto muito da Nicole Kidman ─ ele respondeu sem animação. Quem realmente conhecesse veria a mentira estampada em seus olhos. Não que ele não gostasse da Nicole, afinal ele realmente era fã dela, mas seu ator favorito era outro. Dan murmurou “Hum…” bem audível e fez uma expressão maliciosa.

─ Agora sabemos para quem você faz suas rezas no banheiro ─ ele disse irônico. Tiago deu-lhe um leve empurrão, rindo forçadamente da piada do amigo.

─ É, muito engraçada a intimidade de vocês. Mas, agora, o assunto é Filme ─ ela despejou em Dan um olhar de raiva ─ E nem ouse fazer a piadinha de pornografia ─ ela repreendeu e voltou a olhar pela sala, procurando por alguém ─ Samuel, ─ ela chamou. Era o rapaz do ônibus, que estava distraído, enfiado em outro livro. Dan gargalhou.

─ Desse daí todo mundo sabe a intimidade, né não? ─ e todos da sala riram. A professora olhou para Dan com ódio.

─ Vocês dois ─ e sobrou até para Tiago, que em momento algum riu da piada maldosa de Dan ─ Diretoria. Comigo. Agora ─ ela se levantou, abriu a porta e saiu. Os alunos vaiaram os dois que foram junto, mas continuaram a rir da piada. Samuel, irritado, simplesmente juntou suas coisas e foi-se embora.

Do lado de fora da diretoria, quando metade da aula já tinha passado, Tiago resolveu finalmente ler as mensagens recentes. Pegou o celular, logou no perfil e, quando clicou em mensagens, se surpreendeu ao ver que era de uma desconhecida: Giovanna Alves. Abriu e começou a ler.

Oi.

Sei que você não me conhece ─ até porque essa é a intenção ─, mas é óbvio que sou fake, porém a pessoa que escreve por mim te conhece muito bem.

Ela sempre te amou. Foram-se dias na sombra, te vendo, te desejando, te amando, mas sem sequer uma migalha de atenção.

─ A, Joana! ─ exclamou Dan, saindo da diretoria acompanhado da professora ─ Foi só uma brincadeira!

─ Não, não foi só uma brincadeira. Você está tocando numa ferida que é muito dolorosa para ele… ─ ela repreendeu. Tiago se levantou com a pulga atras da orelha e guardou o celular.

─ Do que vocês estão falando? ─ ele questionou, por fora do assunto. Joana esboçou preocupação.

─ Você é novato aqui, querido, é normal que não esteja entendendo ─ ela respondeu convicta. Depois, sentou-se no banco ali perto, retirou seus óculos e coçou os olhos ─ O Samuel foi violentado ─ ela disse. Tiago escancarou a boca, assustado.

─ Meu deus… ─ ele disse, surpreso. Dan aproveitou a situação de distração e saiu de fininho. Joana engoliu seco.

─ Foi a uns três anos atras… Samuel era um rapaz tão bacana, sabe? Daqueles que nunca dão trabalho e só tiram boa nota. Ele só tinha treze anos quando foi encurralado em um beco por três alunos veteranos, que estavam drogados. Eles eram muito fortes e… Você sabe ─ uma lágrima escorreu de seu olho. Tiago estava com o estômago revirando com tamanha covardia. Estava prestes a chorar também. Seu celular vibrou no bolso, mas ele ignorou ─ E, para aumentar mais ainda a dor do rapaz, eles gravaram e vazaram em sites pornográficos. O Samuel ficou um ano sem vir a aula e hoje ele pode até vir, mas com muito medo. Isso traumatizou muito o coitado e têm gente que gosta de ver ele sofrer com isso.

Tiago fechou o punho, com ódio de Dan por fazer uma piada com algo tão sério. Se ele visse o amigo, bom, eles não seriam amigos mais e, o rosto de Dan não seria mais branco com sardas, seria roxo de quem levou um soco.

─ Eu… Eu… ─ gaguejou Tiago, sem palavras na boca.

─ Não sabe o que dizer… Entendo ─ Joana cruzou as pernas e olhou para Tiago com um sorriso de esperança ─ Sabe, eu converso muito com o Samuel e quando você chegou no começo do ano ele me contou que, talvez, ele finalmente poderia ter um amigo… Mas acabou que você se aproximou do Dan, que faz muitas maldades com o coitado… E ele continuou sozinho ─ o peso de mil elefantes caiu sobre a consciência de Tiago.

─ Mas… Ele nunca tentou conversar comigo! ─ ele respondeu.

─ Ele tem medo... ─ respondeu a professora, se pondo de pé ─ De que você só queira tirar sarro dele… ─ ela rangeu os dentes e enrugou a testa ─ E, se isso acontecer, você vai se ver comigo! ─ ela disse, brava. Tiago olhou para professora com um nó na garganta. Ele não era do tipo que zomba das mazelas alheias.

─ Pode ficar tranquila, Jô. Não sou quem você pensa ─ ele respondeu, convicto.

─ Acho bom ─ ela disse ríspida, dando as costas e caminhando pelo corredor.

Tiago voltou a sala e percebeu que Samuel e Dan não estavam presentes. Sentou-se na carteira e ficou durante toda a manhã pensando no que Joana havia dito. Era realmente revoltante que zombassem da dor de alguém. A única certeza que tinha era que ia se afastar de Dan o mais rápido possível. Não queria como amigo alguém tão maldoso.

Seus pensamentos sobre Samuel o fizeram esquecer-se das mensagens que recebia de Giovanna Alves, pelo menos até a hora do intervalo, quando ele foi ao banheiro e sentiu o celular vibrar no bolso. Ele se escorou na pia, pegou o aparelho e abriu a caixa de mensagens.

Por favor, não me ignore.

Eu sei que você leu.

Tiago coçou o queixo com sua barba ruiva, abriu um sorrisinho de lado e começou a digitar:

─ Desculpa, estava meio ocupado ─ e clicou em enviar. Simultaneamente, a mensagem foi marcada como visualizada. Tiago ficou curioso ─ Quem é você? ─ ele questionou. Ela visualizou e começou a digitar.

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Não posso dizer.

Tiago ficou levemente irritado, mas a curiosidade falou mais alto.

─ Se não diz quem é, como vou te ajudar? ─ ele questionou.

Deixando de ser tão apaixonante, talvez.

Tiago deu uma risadinha e, próximo a enviar outra mensagem a porta do banheiro se abriu. Logo ele, Dan, entrou. Com um semblante despreocupado e um petulante sorriso no rosto. Ele guardou o celular no bolso e fechou a cara.

─ Da pra acreditar naquela professora? ─ ele questionou aos risos. Depois, foi a pia ao lado de Tiago, abriu a torneira e começou a lavar as mãos ─ Ela acha mesmo que outra advertência vai me fazer parar de tirar sarro com o viadinho do Samuel! ─ ele disse. Tiago fechou os pulsos com ódio, se contendo.

─ Você zomba dele ter sido estuprado? ─ perguntou o rapaz, com ódio. Dan deu uma risada e fechou a torneira.

─ Vai defender o coleguinha, é? ─ ele perguntou, se encostando na pia ─ Pra mim e pra metade do colégio essa história de estupro foi invenção dele. Ele quis dar e deu no que deu ─ Dan tirou do bolso um cigarro, colocou na boca e acendeu ─ Quem mandou ser via… ─ e, antes que pudesse terminar sua fala, Tiago acertou um soco pesado no meio de seu rosto, o fazendo engolir o cigarro e cair para trás como uma árvore cortada. Seu nariz escorreu sangue, enquanto ele estava desnorteado no chão.

Tiago colocou o capuz, voltou pra sala e assistiu todas as aulas em silêncio. Quando o sinal bateu, foi direto para o ponto sem falar com ninguém e com a cara de poucos amigos, com esperança de encontrar Samuel e poder se desculpar, mas, para sua tristeza ele não apareceu e então pegou sozinho o ônibus e voltou para casa.

Trocou poucas palavras com a mãe durante o almoço, terminou de ler o livro A Arma Escarlate, dormiu pela tarde, a noite logou em seu perfil no facebook. Giovanna estava online e, aparentemente, esperava que ele começasse a conversa novamente.

─ Podia pelo menos me dar uma dica… ─ ele suplicou. Giovanna visualizou e começou a digitar…

Sem você as emoções de hoje seriam apenas uma pele morta das emoções do passado.

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain

Após citar a frase, Giovanna se desconectou, deixando um grande ponto de interrogação nos pensamentos de Tiago, que de imediato jogou no google o que ela havia citado. Curioso. Era um filme.

Tiago leu e releu a página do Wikipédia sobre o filme no mínimo três vezes. A sinopse era interessante.

Já passavam das onze horas. Tiago entrou na netflix e procurou pelo filme. Encontrou, deu play e começou a assistir, vidrado.

Duas horas depois, quando eram uma da manhã, o filme acabou, com uma emocionante cena de fim, com a apaixonante La Valse d'Amélie de trilha sonora. Tiago foi dormir contente, pensando em cada cena que vira. Quando se deu por conta já estava no sétimo sono.

Amanheceu e o despertador tocou. Tiago se espreguiçou com um sorriso no rosto. Aquele filme da noite passada lhe mostrou uma nova perspectiva: A de que cada problema, não importa o tamanho ou dificuldade, podia ser resolvido com uma boa dose de alegria. Ele queria ser a Amélie de alguém e ele sabia exatamente de quem.

Sorriu. Escovou os dentes, tomou um banho, agarrou a mochila, beijou a mãe e se foi para o ponto de ônibus e lá estava ele. Debruçado sobre um livro de aritmética. Tiago ajeitou a roupa e se aproximou de Samuel, que lhe lançou um tímido olhar.

─ Bom dia! ─ Tiago exclamou, eufórico. Samuel tremeu por dentro e lhe olhou com receio.

─ Bo-bom dia ─ ele gaguejou. Tiago sorriu de orelha a orelha e sentou-se no banco do ponto. Depois, deslizou levemente para a esquerda, tentando ficar mais perto de Samuel, que achou tudo estranho, mas não fez nada.

Antes que Tiago pudesse dizer outra coisa, o ônibus chegou. Samuel rapidamente se levantou do banco do ponto e correu para o ônibus, se alegrando ao ver que ele estava vazio. Por fim, escolheu um assento perto da janela e encostou seu rosto no vidro. Tamanha sua surpresa quando ele olhou para o lado e viu que, mesmo com o ônibus vazio, alguém decidiu sentar a seu lado. Tiago, sorridente como sempre.

─ Espero que não se importe com a minha companhia ─ disse Tiago, com um sorriso de orelha a orelha. Samuel engoliu seco e disse que não com a cabeça. O ruivo saltou sobre o banco, contente, e olhou para o outro ─ Então… Na aula passada você ia dizer seu ator favorito… Acabei ficando curioso sobre quem era! ─ disse Tiago. Samuel fechou o livro receoso ─ Claro, não deve ser alguém mais bonito que eu… ─ ele disse em tom ironico. O garoto deu uma risadinha envergonhada.

Tiago finalmente olhou para Samuel com outros olhos: os seus próprios. Ele não o via mais como o nerd tímido da turma, como todos diziam, mas sim como o rapaz de olhos castanhos tristes, lábios vermelhos que suplicavam por um beijo, cabelos cacheados maravilhosos, um rosto perfeitamente desenhado e uma índole verdadeiramente boa. Era o tipo de pessoa que ele tomaria como amigo… Ou até algo a mais.

─ Tautou ─ e essa palavra cortou Tiago de suas fantasias. Ele já tinha ouvido isso, mas não se lembrava onde ─ Audrey Tautou ─ completou. E foi aí que suas ideias se clarearam ─ De O…

─ Fabuloso Destino de Amélie Poulain… ─ Tiago cortou incrédulo. Era ele. Samuel abriu um carismático e tímido sorriso.

─ Eu sei o que você fez por mim… Obrigado, mas não quero que perca sua amizade... ─ ele comentou, com as bochechas coradas. Tiago quase não prestava atenção nas palavras. Seus pensamentos estavam borboleteando, seu estomago revirava e ele só tinha olhos para as pupilas castanhas de Samuel. Sua boca estava escancarada com suas teorias.

─ Eu… ─ e novamente ele se pegou sem palavras. Respirou fundo, contou de zero a dez e se encorajou a falar ─ Algo me diz que eu já perdi… Mas isso não importa. O Dan é um idiota ─ ele comentou convicto. Samuel riu, ainda tremulo. Tiago não conseguiu tirar os olhos de sua boca, parecia tão macia… ─ E eu sei sobre seu sentimento por mim… ─ e ele despejou tudo para fora. Samuel perdeu o sorriso e olhou para o rapaz com medo.

─ Do-do que v-você esta falando? ─ ele gaguejou, tentando disfarçar.

Tiago abriu um sorriso de orelha a orelha, quando percebeu, suas mãos se enrolavam na nuca de Samuel e aproximavam seus dois rostos corados. Os lábios do primeiro envolveram-se com os do segundo. Como ele imaginou, aquele vermelho remetia a sua maciez, era como beijar as nuvens.

O beijo permaneceu intenso e duradouro. Tiago nunca se sentiu tão bem como naquele momento. Samuel lhe remetia felicidade, conforto, paixão. E então, a maldita natureza os obrigou a dar um tempo para respirar. Eles se soltaram e esboçaram de modos divergentes suas emoções: Tiago voltou a sorrir e ajeitou seu cabelo, enquanto Samuel se encolheu envergonhado.

─ Co-como você soube? ─ gaguejou o rapaz.

─ Estava meio que na cara depois que você disse sua atriz favorita ─ ele respondeu convicto. O ônibus parou na porta da escola. Tiago ficou de pé e estendeu a mão para Samuel ─ Vem, quero que você entre na escola de cabeça erguida. Não precisa ter medo. Eu vou te defender ─ e abriu um enorme e confiante sorriso. Samuel fez o mesmo e segurou firme na mão do rapaz.

De mãos dadas eles deixaram o ônibus e entraram na escola, onde os olhares vorazes de centenas de alunos os fuzilaram. Todos estavam confusos com esse enredo e, para esclarecer todas as dúvidas, Samuel e Tiago se beijaram novamente. Todos ao redor vibraram e os receberam com uma salva de palmas, inclusive Dan, com a cara roxa e uma lição na alma.

Dias depois eles resolveram tornar o namoro oficial e, após uma troca de alianças durante o almoço da familia, se trancaram no quarto, onde Tiago escrevia um pequeno texto em seu perfil:

Entre eu e ele existia Giovanna.

Bem, tecnicamente ela nunca existiu, mas as consequências de sua rápida passagem nos deixaram unidos. Para sempre.

─ E foi! ─ exclamou Tiago, clicando no enter e postando sua mensagem no perfil. Samuel surgiu por trás, leu a frase e esboçou confusão.

─ Afinal de contas, quem é Giovanna? ─ ele perguntou avoado. Tiago gargalhou, achando que era brincadeira ─ Ei, estou falando sério! Você sempre falava dela… Eu achei que era algum alter ego ou algo assim…

Tiago ficou assustado. Ele conhecia o namorado o suficiente para saber que ele realmente não fazia ideia sobre quem era Giovanna.

─ Se não é você… Quem é? ─ ele questionou. Samuel esboçou que não sabia. Eles se entreolharam surpresos e deixaram o assunto de lado, se jogaram na cama e se olharam olho a olho.

─ Eu te amo… ─ disseram simultaneamente um ao outro. Depois, se beijaram e se abraçaram apaixonadamente.

Dentro das imediações do colégio, alguém navegava no facebok pelo celular. Entrou no perfil de Tiago, viu o post sobre o namoro, deixou sua curtida e clicou no botão de logoff.

Você deseja mesmo sair Giovanna Alves?

A pessoa clicou no sim e jogou o celular sobre a mesa. Ela espreguiçou e se levantou, levando consigo o aparelho. Passou pelo corredor e chegou ao pátio, onde Dan estava. Ele, ao observar a sua aproximação, corre na direção da pessoa com um sorriso esperançoso.

─ Deu certo? ─ ele perguntou. Ela riu, revelando ser a professora de quadris largos.

─ Melhor que eu imaginava ─ respondeu Joana, sorridente.

─ Tá, agora pode devolver meu celular? ─ ele suplicou. Joana gargalhou e deu as costas, voltando para o corredor.

─ Sabe que eu to gostando dessa vida na internet? Vou devolver mais não… ─ ela disse, caminhando pelo corredor. Dan foi atras, entristecido.

─ Coé, mãe...



Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.