Admirador secreto?

Admirador secreto?


Com um sorriso no rosto Dylan Churchill assistia seu melhor amigo fazer mais uma cesta. Tinha certeza que aquele ano Elliot finalmente conseguiria entrar para o time com ele. Aliás, não sabia como ele havia ficado de fora por tanto tempo, sendo um jogador tão talentoso.

Ao seu lado, estava sentada Maritza Hidalgo, também sua amiga. Diferente de Dyl, a latina não era nada discreta em demonstrar sua empolgação cada vez que o mais baixo pontuava, ficando ainda mais perto de vencer Nathaniel.

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— Ei, Mari... – chamou-a. – Por que não quis ficar com ele?

— Com o Nate? – ele confirmou com a cabeça. – A-Ah, sabe como é... Eu só vejo como um amigo, sabe? E-E... Além disso, já gosto de outra pessoa.

O rosto da garota adquiriu um tom avermelhado e ela desviou o olhar.

Ownt, que bonitinha... – apertou as bochechas dela, rindo da forma como ela ficava ainda mais ruborizada. – A Martitza ‘tá apaixonada! Diz aí, quem é o sortudo?

— N-Ninguém! – a amiga exclamou e seria impossível deixá-la mais constrangida que naquele momento. Dylan não fazia ideia, mas o “sortudo” era, na realidade, ele.

***

Ser gay assumido em um colégio lotado de homofóbicos não era nada fácil, Dylan sabia bem disso. Portanto, preferia manter sua sexualidade em segredo, ao menos por enquanto. A única pessoa que sabia a verdade era, até então, Elliot. Os dois tinham isso em comum, afinal. Podia ter certeza que a informação não acabaria vazando de alguma maneira. Caso contrário, teria como “contra-atacar”. Não que duvidasse de alguma forma da palavra do outro. Confiava nele mais até do que em si mesmo, para ser sincero.

— Deixa de ser chata, Mari. – Elliot passou o braço pelos ombros da amiga. – Conta ‘pra gente de quem você gosta, vai...

— Já falei que não vou dizer, que saco. – se afastou dele. – Por que você não conta de quem gosta?

— Cala a boca. – ele revirou os olhos. – Eu não gosto de ninguém, beleza?

Sei... – Dylan se meteu.

— Quieto. – ordenou Elliot. – Você sabe que eu já superei, aquela pessoa, idiota.

— Uou! Espera aí! – Maritza lançou a eles um olhar descrente. – Como assim “aquela pessoa”, Elliot Chang?

— Você não me conta as coisas, eu também não conto. Simples. – o asiático “justificou”, não que precisasse.

Dylan sabia que Elliot já havia gostado de Nathaniel, mas não sabia quem era a paixão atual dele. Suspeitava que o amigo tinha uma queda por ele, mas preferia não pensar nisso. Se fosse verdade, acabaria sendo obrigado a rejeitá-lo – já que não se sentia da mesma forma – e isso não seria nada legal.

De fato, Elliot gostava dele, contudo, se esforçava para esconder. Não queria que Dyl soubesse ainda, pois estava meio que tramando o seu “plano de conquista”. Cedo ou tarde, acabaria se confessando para o amigo, mas queria, antes de tudo, saber se teria chances ou não.

Mas o quê? – murmurou Dylan, consigo mesmo, ao abrir seu armário e encontrar um pequeno envelope branco, “jogado” entre os livros.

Pegou-o e leu o que vinha logo após o espaço em que deveria estar informado o remetente: “Do seu admirador secreto.”

Ergueu ambas as sobrancelhas, curioso. Principalmente por se tratar de um garoto. Sendo discreto – não queria que os amigos vissem, para evitar piadas bobas –, guardou a carta na mochila e continuou a conversar com Elliot e Maritza. Mais tarde a leria, quando ninguém estivesse por perto.

***

Foi um longo dia para o rapaz de pele morena e cabelos quase sempre bagunçados. Sua curiosidade para ler a carta de seu suposto admirador secreto quase o estava matando e, como se não fosse o bastante, os amigos não saiam de perto nunca. Em um dia normal, aproveitaria a companhia deles, mas naquele, tudo o que queria era descobrir o que o garoto desconhecido que gostava dele tinha escrito.

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Chegar em casa nunca fora um alívio tão grande. Finalmente sanaria sua vontade de ler a tal carta.

Graças a Deus, Elliot não iria passar aquela tarde com ele, e sim com Maritza, na esperança de descobrir de quem era o rapaz que a amiga estava interessada.

Adentrou seu “santuário” – quarto – com pressa, o que, ainda bem, não foi notado pela mãe, sempre distraída. Jogou-se na própria cama, de maneira desajeitada, e abriu a mochila, retirando de lá o misterioso envelope. Abriu-o, com cuidado extremo e começou a ler:

Querido Dylan...

Há algo sobre você que não sei ao certo como explicar. Jamais imaginei que algum dia iria me abrir, te contar como me sinto, mas aqui estou eu, escrevendo para você. Por muito tempo, tentei negar – até para mim mesmo – esse sentimento. Hoje, no entanto, não há mais dúvidas: estou gostando de você.

Gostaria que isso não fosse verdade, que fosse apenas um engano, coisa da idade, sabe? Mas já passei muito tempo refletindo sobre e... É simplesmente impossível inventar mais desculpas.

Você é especial. Tem uma coisa, algo que não sei explicar. Por isso escrevi esta carta. Para dizer o quão especial você é ‘pra mim, mesmo que anonimamente.

Não posso revelar quem sou, isso de gostar de outro homem é algo novo demais na minha vida e sair do armário por uma paixão que sequer sei se será correspondida, não parece uma ideia lá muito inteligente...

Bom, espero que um dia eu tome coragem para lhe dizer tudo isso pessoalmente...

Ass: A.S”

Ao terminar de ler, Dyl sorriu. Então ele realmente tinha um admirador secreto? Será que receberia mais cartas como aquela? Não, não... Muito mais importante: quem seria?

“Será que ele é bonito?”, “O quão bem nos conhecemos?”, “É mais velho ou mais novo?” e “Está no time de basquete?” eram alguns dos pensamentos que rodeavam sua mente naquele momento.

No fim, acabou ficando ainda mais curioso que antes. E bem, um Dylan Churchill em um estágio muito forte de curiosidade, podia se tornar um verdadeiro detetive, nível Sherlock Holmes – no mínimo, um Batman.

Então, era bom que “sei-lá-quem” se preparasse, pois ele iria descobrir quem estava por trás daquela carta.