These broken hearts
Let her go
Nem me dei conta que havia adormecido, até despertar com Bucky chacoalhando meus ombros incessantemente.
— O que é? — resmunguei.
— Imaginei que você não fosse sair daqui, então trouxe comida.
Ele segurava uma bandeja farta, com frutas e pães de aparência saborosa.
— Eu sempre soube que o Soldado era fraco. — a voz de Natasha causou calafrios que percorreram minha medula.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Ela estava suspensa no ar, as pernas engalfinhadas no trapézio. Percebi que estava usando apenas a roupa íntima, e o fato de Bucky reparar isso também me deixou um pouco desconfortável.
— Não vai conseguir me irritar, Nat. — ela riu, esticando uma das pernas em um ângulo estrambótico.
— Ela deve estar com fome. — comentei, enquanto saboreava um fruto que desconhecia. Devia ser algo exótico de Wakanda.
— Sim, estou. Que tal abrir a porta e me alimentar? — ela provocou.
— Duvido que essa seja uma boa ideia. — Bucky retrucou.
— Cavalheiros! — T’challa irrompeu pela porta. — Shuri está procurando por vocês, acredito que sejam boas notícias.
— Você vai ficar bem. — eu disse a Natasha ao me despedir.
...
— Não achei que fossem ser tão ingênuos. — T’challa riu com desdém enquanto eu e Bucky caminhávamos em seus calcanhares.
— Como é...? — antes que terminasse a frase, T’challa desembainhou uma adaga e desferiu um golpe em minha direção, que me esquivei com agilidade.
Bucky investiu contra ele, e os dois envolveram-se numa luta acirrada. Eu estava desnorteado. Por que T’challa estaria contra nós? Foi então que me ocorreu. Talvez aquele não fosse T’challa.
— Steve, vá! Eu seguro as pontas aqui! — Bucky bradou entre golpes, e eu o obedeci.
Precisava encontrar Shuri, ou alguma daquelas guerreiras, e avisar que estávamos sob ataque. Se pudesse achar o verdadeiro T’challa... Disparei em velocidade máxima pelos corredores do prédio, até enfim adentrar o laboratório.
— Você tem que aprender a não entrar nos lugares que não foi convidado. — a pequena Shuri atirou, sem tirar os olhos dos painéis a sua frente.
— Estamos. Sendo. Atacados. — arquejei.
— O quê? Como? A barreira...
— Estão disfarçados. Acione as Dora Milaje, quem for, mas termine isso.
Shuri assentiu, e logo duas guerreiras irromperam pela porta.
— Vocês duas, fiquem aqui, protejam Shuri e deixem que ela termine o plano. Eu vou atrás de Natasha.
As duas se entreolharam, e depois voltaram seus olhares céticos de sobrancelhas arqueadas para mim. Deviam estar dizendo: Não acatamos ordens suas.
— T’challa foi comprometido. Eles estão infiltrados. Preciso de vocês. Ele precisa.
Shuri segurava as lágrimas, mas seus dedos não paravam de trabalhar.
Com isso, engatilhei-me pelos vastos corredores de volta ao Calabouço. Minha mente estava um turbilhão de pensamentos, neles inclusos o medo e a mágoa, mas eu não podia hesitar agora. Se chegassem até Natasha antes de mim...
Quando alcancei a cela, suspirei de alívio ao encontrar Natasha ainda lá dentro e Sam decodificando o padrão de abertura da porta.
— Sam! Graças a Deus! Achei que já tivessem chegado aqui.
— Steve! Assim que me contaram da invasão, tive de vir correndo. Não queremos essa daqui ao lado deles de novo, não é?
— Vai amarrá-la? — indaguei, fitando, confuso, as cordas aos pés dele.
— É claro. Acha que se a libertarmos ela vai colaborar?
Os olhos de Natasha estavam pregados em mim, ilegíveis.
— Tem razão.
— Então... — Sam gesticulou para que eu digitasse o código.
— Certo, certo. — fui em frente. — Para onde vamos depois de soltá-la?
— Conheço um lugar seguro. — pelo canto do olho, espreitei Sam examinando Natasha com um olhar faminto.
— Sua perna está melhor? Foi um golpe e tanto que ela te deu. — perguntei, segurando o último algarismo da senha.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!— É... Aham. Bem melhor, diga-se de passagem. — ele deu de ombros.
Foi então que virei-me de uma vez, assentando um soco em seu queixo.
— Mas o quê...?
— Natasha feriu o Sam no braço. Quem é você? — vociferei, chutando o homem nas costelas.
Ele riu, expelindo sangue e limpando a boca com as costas da mão.
— E eu achei que o Capitão fosse tão inteligente como uma porta. Evoluiu um pouco, talvez um rato...
— Não vão encostar um dedo nela. Podem ter encontrado uma maneira de entrar aqui, mas não vão sair. Não são espertos o suficiente.
— Talvez não. Mas ela é. E está do nosso lado agora.
Virei-me de costas, para onde ele apontava, para dar de cara com a Viúva Negra, ou melhor, com seu punho.
— Como...?
— Não pode me salvar, Rogers. Poupe sua vida ao menos. Deixe-me ir. — sua voz... Eu podia sentir a doce Natasha ali, e não só a implacável Viúva. Podia sentir seu desespero, sua dor.
O homem disfarçado de Sam usou aquelas cordas para enlaçar Natasha pelo pescoço, de modo que ela tivesse mobilidade o suficiente para lutar mas não fugir. Como uma coleira. Ela não esboçava reação alguma, mas aquilo me enfureceu.
Mas quando avancei, ela colocou-se em frente ao homem, protegendo-o como um escudo humano, e em uma questão de segundos, apunhalou-me na barriga com uma adaga. Arfei, dolorido e surpreso.
Então, notei que a lâmina atingira milímetros de distância do meu pulmão. Mas a Viúva não erraria o golpe. Ela errara de propósito.
— Vá. — ela sussurrou no meu ouvido enquanto pousava meu corpo rijo no chão.
Observei sua silhueta esvanecer-se, enquanto perdia a consciência.
Pov Bucky
Caos. Era difícil saber quem estava lutando contra quem ali, pois todos estavam sob disfarces. Era difícil tarjar o verdadeiro inimigo. Sam estava do meu lado, o braço enfaixado não o impossibilitava de acabar com agentes da KGB. Mas não sabíamos onde atacar, ou quem atacar.
— Soldado... — um sibilo ressoou por meus ouvidos, eriçando meus pelos. — солдат... (Soldado).
Olhei de um lado para o outro, perscrutando a área em busca da voz misteriosa.
— солдат, пожалуйста (Soldado, por favor...) — o silvo libidinoso me recordou de uma cena. Era Natasha, estava sentada no meu colo, nua. Estava escuro, mas a luz que penetrava da janela iluminava seu busto desnudo e o rosto coberto pelos fios ruivos suados. E repetia aquilo sem parar, o tom lúbrico extasiando-me enquanto sua cintura bamboleava-se em cima da minha.
Sacudi a cabeça, afastando a memória inoportuna. Mas a voz me chamava, e vi-me seguindo com meus passos o som.
— Bucky, aonde vai? — a voz de Sam tornava-se cada vez mais distante.
Quando me dei por mim, estava entrando em uma nave. Pisquei, atônito, tentando me lembrar de como havia parado ali.
— Eu sabia! — uma voz empertigou-se. — Mesmo sem nosso controle mental, o Soldado não resistiria a nossa Viúva. — reconheci o homem, e arrepios percorreram minha espinha. Cerrei os punhos.
— Aristov. — o nome escapou pelos meus lábios como uma injúria. Aquele homem havia feito parte da equipe que me torturara por anos.
Ele era mestre em artes maciais. Treinava a mim e às garotas do Programa Viúva Negra. Era violento, inexorável.
Do outro lado da nave, estava Natasha, apenas com a roupa íntima, amordaçada, com as mãos atadas e uma corda preta apertada ao redor do pescoço. Seus olhos, manchados de preto, pareciam exaustos, e mais que isso, exibiam um suplício. Não consegui manter o olhar e o desviei.
— Como conseguiram entrar? — questionei, sabendo que lutar seria em vão. Aqueles homens deviam estar armados da cabeça aos pés. Era o fim da linha para nós.
— Tínhamos uma infiltrada. — ele cutucou Natasha com a ponta do pé, sem que a mesma se contrapusesse.
— Eles ficarão a salvo? — era isso que mais importava agora. Eu e Natasha não teríamos um final feliz, nunca tivemos, mas... Talvez Steve pudesse ter. Talvez Wakanda pudesse ter.
— Lhe dou minha palavra. É um lugar poderoso, não resistiríamos por muito tempo. A nave está pronta para decolar.
Aquiesci, segurando as lágrimas.
— É bom tê-lo de volta, Soldado.
...
— Por que não ofereceu resistência? — a voz de Natasha estava fraca quando finalmente quebrou o silêncio que pairava entre nós.
Eu não ergui os olhos para fitá-la, e continuei limpando o ferimento em seu joelho enquanto respondia.
— Não havia uma possibilidade de vencer. Assim, pelo menos, deixamos os outros a salvo.
— Acha que ele vai me odiar? — ela soluçou, carregada por um pesar árduo. — Vai se lembrar de mim com amargura?
Ele. Não precisava raciocinar para saber que ela falava de Steve. Sentada ali, no balcão, coberta de avarias pelo corpo, Natasha estava prestes a afogar-se em sua própria angústia.
— Ele sabe que você tentou. — afirmei, finalmente contemplando-a nos olhos. — Pelo que conheço de Steve, ele vai se culpar pelo resto da vida por não ter podido salvar-nos. É um grande idiota, de fato, pois não duvido que virá ao nosso resgate.
— Ele não pode. Eu disse a ele. Ele tem que nos deixar, ou vai acabar se machucando. Ou pior. — ela estava com medo. Temia pela vida do Capitão, e dera a sua mesma em seu lugar. Ela o amava, como eu nunca vira a Viúva amar a ninguém.
Eu sabia que Steve jamais obedeceria, e obstinaria-se até o fim, tentando salvar-nos. Mas não podia dizer aquilo a ela, isso a destruiria.
— Ele vai ficar bem, Natasha. — embalei-a, deixando que ensopasse minha camiseta com suas lágrimas. — Nós vamos ficar bem...
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