Irmão mais velho

Capítulo Único


Dean estava preocupado. Sempre que Sam fechava os olhos, tinha pesadelos com a morte de Jess. Não sabia exatamente como ajudar o irmão, mas precisava fazer isso.

Batucou a caneta que tinha em mãos contra a mesa.

Não eram só os pesadelos que o incomodavam. Ainda se lembrava das palavras dele: Você não sabe tudo. Eu não te contei tudo. Bastardo, queria matá-lo de preocupação? E por que precisava dizer isso logo antes de enfrentarem a maldita bloody Mary? Não podia ter dito antes, quando Dean não sentia o peito apertar de medo?

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Quando aquela mulher saiu do espelho e avançou pra cima deles… Suspirou. Se acreditava que ele próprio teria pesadelos naquela noite, o que esperar de Sam?

Bagunçou os cabelos e observou o irmão. Na cama de um motel barato, Sam mexia no seu celular sobre a cama. Os olhos dele se fechavam por alguns segundos e então se abriam de novo, como se isso pudesse espantar o sono.

— Ok, já chega.

— O quê?

— Nós vamos dormir.

Sam piscou confuso ao perceber o irmão se deitar ao seu lado. Mas que merda era aquela?

— Cara, cê tem sua própria cama.

— Yeah, mas eu vou fazer um serviço de utilidade pública.

— Do que você tá falando?

Dean acomodou-se melhor; retirou os tênis e a jaqueta, cruzou os braços atrás da cabeça e se deitou bem perto de Sam.

— Lembra quando a gente era criança?

— Yeah?

— Você tinha pesadelos o tempo inteiro, principalmente depois que descobriu o diário do pai. Lembra o que fazia quando tinha pesadelos?

Sam riu e também se jogou para trás. Acomodou-se quase da mesma maneira que o irmão.

— Eu corria pra cama do pai e me escondia debaixo dos cobertores dele.

— E quando fez uns oito e resolveu que não queria mais que o papai soubesse que você tinha medo do escuro?

Sam riu e revirou os olhos antes de olhar para Dean, que mantinha um sorriso irônico.

— Eu dormia com você.

— Exato.

Ainda sem acreditar naquilo, Sam balançou a cabeça de um lado para o outro.

— Não sou mais criança, Dean.

— Bom, você não tá mais conseguindo dormir. Eu estou aqui pra te ajudar, Bitch.

Jerk.

Ficaram em silêncio por um tempo. Dean mantinha os lábios repuxados para cima, como se tivesse ganhado a discussão e fosse o portador de todo o conhecimento.

— Vai pra sua cama, Dean.

— Não, Sammy. Irmão mais velho ao seu dispor. Vamos lá, me abraça.

Sam virou-se de costas para ele.

— Faça como quiser. Mas não me chuta.

Dizer aquilo era quase como obrigar a perna de Dean a bater na sua. Irritado, Sam o chutou de volta.

— Qual é, Dean, seja um adulto!

— Você que tá com frescura. Anda, me abraça.

— Não tenho mais nove anos!

— Mas ainda é meu irmãozinho. E eu tô aqui pra ti.

A brincadeira passara. Sam voltou a encará-lo. Dean devolvia o olhar.

— Eu sei que tá.

No homo*.

— Isso não vai funcionar. Eu vou ter pesadelos igual. Melhor só não dormir.

Sam foi para a beirada da cama, mas Dean o puxou com força, fazendo cabeça do mais novo se apoiar no peito dele.

— Cala a boca e dorme, Sammy.

— Não vai funcionar.

— Cala a boca.

Por alguns segundos, Sam ainda pensou em se afastar e recomeçar a briga, mas estava cansado demais. Há dois anos vinha dormindo no mínimo cinco (normalmente seis) horas por noite. Nesses últimos dias, não chegara nem a duas. Queria muito fechar os olhos e se deixar levar, entretanto temia reencontrar Jess em seus sonhos. Não aguentava mais reviver e se culpabilizar pela morte dela. Só não contava a verdade ao irmão porque tinha medo de que ele também começasse a acreditar que Sam era uma aberração.

Não pôde deixar de sorrir ao sentir o carinho em seus cabelos. Era como na infância de novo, mas, dessa vez, seus medos eram muito mais reais do que antes. Dormiu depois de pouco tempo, assim como Dean.

Naquela noite, nenhum dos dois sonhou.

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*”No homo” é uma expressão utilizada nos EUA agora para dizer, tipo “sem homossexualidade”. Como, por exemplo, quando dois amigos se abraçam. Eles dizem “no homo” para indicar que é um abraço totalmente másculo, sem quaisquer outras intenções. Muitos vem usado como ironia (tem até uma tirinha muito legal em que dois caras se beijam e dizem “no homo”, aí no casamento falam a mesma coisa e depois quando adotam um bebê).

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.