Destino

Capítulo 5 - Companhia


Nessa noite sonhei com a cena do acidente. Porém, diferente das outras vezes, havia um garotinho ruivo e solitário assistindo a cena.

Acordei calma. Já fazia um bom tempo desde que eu me acostumara com o sonho. Nas primeiras vezes, acordei gritando, fazendo todos correrem para meu quarto; mas, depois de um tempo, ninguém mais veio, até que parei de gritar e apenas esperava ansiosamente o final da terrível lembrança. Mas hoje aquele garotinho ruivo que observava a mãe morta me atormentou.

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Depois de me levantar, fui direto para a cozinha. Renji deu tapinhas na cadeira ao seu lado, indicando que eu me sentasse. Ikkaku estava com alguns hematomas e um olho roxo. Segurei a risada e perguntei-lhes formalmente:

- Onde está o Ichigo?

- Na cobertura. Só ele pode ir lá. Quando as coisas ficam difíceis, ou quando ele se lembra do passado, foge para lá. Esfriar a cabeça, sabe.

Passado... Eu tornei as coisas mais difíceis para ele...

Sentei na frente do laptop e, antes que Renji pudesse sair, fiz a pergunta que estivera me distraindo desde ontem à noite.

- Renji... Depois que a mãe do Ichigo morreu, o que aconteceu?

Ele pareceu se assustar com a pergunta, mas acabou se recompondo.

- Minha mãe o adotou. Mas ele sempre foi meio estranho. Todas as garotas eram caidinhas por ele, porém ele nunca namorou nenhuma. Ichigo apenas queria vingar o assassinato do pai.

- Assassinato? – ele me disse que o pai havia morrido e não que o pai havia sido morto!

- Sim. O inimigo do Ichigo tinha 18 anos na época em que matou Isshin, e ele o perseguiu ate o dia em que foi assassinado. E agora? Persegue o outro maluco.

- Ah...

Eu sabia de coisas importantes, mas não queria contar...

Por quê?

- Ichigo fez até o segundo colegial. Mas esse ano ele não quis ir à escola apenas para matar o cara... Bom, chega de papo! Faça seu trabalho, pois só vai pra casa quando resolver o caso – ele disse amigavelmente. As palavras causaram algo indescritível dentro de mim.

Continuei pesquisando. Gin tinha um filho chamado Hitsugaya e sua esposa se chamava Matsumoto. Observei a janela, tendo uma bela vista para o mar. Já estava entardecendo. Será que o Byakuya está preocupado? Já faz quantos dias? Três? O vento suave parecia tocar uma harmoniosa melodia, fazendo as copas das arvores, o mar e alguns grãos de areia menos tímidos dançarem uma linda coreografia.

Retirei-me da sala e fui até meu aposento; peguei uma muda de roupas colocada anteriormente em minha cama e tomei um bom banho, tirando toda a poeira do labirinto, o suor e algumas lágrimas secas.

Voltei ao quarto e encontrei Ichigo sentado em minha cama.

- Rukia! Descobriu alguma coisa?

Eu mentiria de novo? Algo me impedia de contar... Mas o que era?

- Não...

- Entendo. Então, boa noite.

- Para você também - esperei que ele passasse pela porta, criando coragem no último segundo – E obrigada por não me culpar pelo acidente!

Ele simplesmente sorriu e saiu.

Não sonhei com o acidente esta noite; na verdade sonhei com girafas voadoras e pingüins de tutus rosas. Demorei alguns segundos para entrar em completa consciência. Levantei e vi uma garota ruiva, muito linda por sinal! Longos fios caídos até o final de suas costas, um corpo bem avantajado, um rosto delicado; as roupas indicavam que ela tinha dinheiro, muito dinheiro. Inicialmente eu pensei que eles haviam a seqüestrado apenas para as necessidades do Ikkaku, mas depois a reconheci; em todos os concursos eu ficava em primeiro lugar, e ela, Inoue Orihime, ficava sempre em segundo, por uma pequena diferença na nota. A segunda garota mais inteligente do país. Ela abriu os olhos castanhos e me encarou assustada; as mãos dela estavam presas para trás, provavelmente fazendo-a se sentir desconfortável.

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- Ichigo! A garota acordou!

Eu a ajudei a se levantar enquanto a acalmava. Ikkaku entrou no quarto; me coloquei na frente dela e o encarei com as sobrancelhas unidas. Ele gargalhou e agarrou a gola da minha blusa.

- Eu sei que você sabe muita coisa sobre aquele imbecil... E não quer nos contar – ouvimos passos no corredor; ele me soltou e se afastou.

- Inoue, siga-me; vou te explicar o que queremos de você. Enquanto isso, Rukia, café da manha e mãos à obra! – ela pareceu se assustar com o Ichigo. Eu o obedeci, irritada pela presença da garota ruiva. Eles acham que eu não daria conta sozinha? Não... Não era isso que me incomodava... Então o que era? Em minutos, Inoue já estava ao meu lado em outro laptop.

- Kuro... Kurosaki-kun... – sua voz era angelical.

- Sim, Inoue?

- Eu descobri... O homem se chama Ichimaru Gin. Ele matou seu inimigo provavelmente por ter sido baleado em um protesto contra as drogas; o que é meio irônico, pois ele trafica drogas.

Eu me levantei estressada e fui ate o quarto; Inoue me seguiu, mas eu estava estressada demais e acabei explodindo com ela.

- Você descobriu isso em um dia... E abriu a boca! Eu fiquei até hoje escondendo isso e você abriu essa maldita boca? Pronto! Agora a gente vai para casa mais cedo!

Me assustei com minhas próprias palavras; então era isso... Eu não queria ir para casa. Mas por quê? Sentei na cama olhando ausente para o chão.

- Você gosta do Kurosaki-kun não é?

Amor... Era isso o que eu sentia por ele? Amor? Então não era raiva por terem achado que eu não conseguiria sozinha... Era ciúmes... Eu nunca me apaixonei antes, eu não sei o que fazer! Na superfície terrestre há muito mais do que milhões de homens e eu tenho que me apaixonar pelo homem que me seqüestrou?

- Eu não sei. O que você sente quando esta apaixonada? – eu corei ao perguntar.

- Quando você olha para a pessoa, seu coração acelera, seus sentidos se confundem; você cora só de olhar para ele e fica sem graça quando ele fala seu nome; nem que você quisesse poderia contrariá-lo. Você suspira o dia todo; você sonha acordada quando ele esta perto, ou até quando não está. Seu coração para toda vez que ele sorri; você não pode dar um fora nele, mesmo que a resposta esteja na ponta da língua; ele controla seu humor. Você não consegue se manter longe dessa pessoa, e seus olhos insistem em segui-lo; você faria qualquer coisa que ele mandasse. Ele te deixa vulnerável sem ao menos te tocar e o principal... Ele te faz amá-lo cada vez mais... – ela fazia desenhos com a poeira do chão, escrevendo Ichigo nele.

- Você... Também gosta do Ichigo...

Meu primeiro amor e eu tenho que competir com a deusa da beleza...

- Sinto muito; eu sou perdidamente apaixonada por ele desde a sexta série, desde quando ele entrou na escola. Mas parece que ele gosta de você... Ele tinha acabado de perder a mãe e tinha que aguentar aquelas crianças malvadas dizendo coisas horríveis! Todos os dias ele ia embora junto com o Renji, enquanto via as outras mães abraçando seus filhos. Porém, conforme o tempo, ele ficou agressivo; quando os meninos maus iam mexer com ele, a briga começava. E sempre eram injustas... Cinco ou seis contra ele. Mas o Kurosaki-kun sempre vencia.

“Lembro-me que, na sétima serie, ele faltou um único dia; quando eu perguntei ao Renji o que havia acontecido, ele me disse que fazia um ano que a mãe dele havia morrido. Fiquei tão triste que quase chorei... No dia seguinte, ele voltou e se comportou normalmente... Ele é realmente forte. E foi a mesma coisa nos outros anos. Até que pararam de atormentá-lo. Eu sempre o admirei, mas duvido que ele saiba que estudou na minha escola...”

Ela sabia bastante dele, ela já gostava dele antes; o correto seria deixa-lo para ela, mas doía só de pensar nisso.

- Mas, Inoue! – ikkaku abriu a porta e eu me calei instantaneamente.

- Voltem ao trabalho! – eu a encarei, e ela assentiu.

- Desculpe – sussurramos juntas. No caminho até a sala pedi para que ela não contasse as descobertas. Eu não queria ir embora.

- Pode deixar! – durante o resto do dia, pensei sobre o que ela havia dito. “Mas parece que ele gosta de você...”. Seria verdade? Durante o banho, percebi que, gostasse ele de mim ou não, isso nunca daria certo. Ele era um seqüestrador... O meu seqüestrador! E eu? Apenas a seqüestrada.

Um grito agudo me tirou dos meus pensamentos. Inoue! Coloquei a roupa sem me enxugar e corri até nosso quarto; estava vazio.

- Rukia! Você esta bem?! – Ichigo colocou as mãos em meu rosto.

- Não fui eu! Foi a Inoue!

Ele me encarou assustado por dois segundos inteiros. E depois deduziu:

- Ikkaku não a trouxe aqui para te ajudar!