Proibida Pra Mim

71º Capítulo – “Garoto impulsivo”


Ele a levou.

Levou as duas e eu continuo aqui parado no meio desse galpão imundo olhando o pingente na minha mão. Ouço o barulho dos carros se afastando cada vez mais e apesar de saber que é hora de recuar, sinto meus instintos prestes a me rasgarem por inteiro para que eu vá atrás delas.

Fecho meus olhos.

Respiro fundo, prendo o pingente com força entre os dedos e juro para mim mesmo que irei trazê-las de volta. Não importa o que aconteça e nem quanto tempo leve. Eu vou trazer as duas de volta.

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Quando abro meus olhos vejo o Felipe andando de um lado para o outro com as mãos na cabeça. Coloco o cordão no pescoço e o observo por um tempo.

Lembro de todas as vezes que um novato diferente entrou em pane bem no meio da missão, sempre na hora em que a coisa ficava feia e é claro que todos os agentes da Citros tiveram aulas de como reagir quando isso acontecesse na sua equipe. Pura psicologia barata.

— Felipe. __ ele parece não me ouvir.

Respiro fundo de novo e decido acalmá-lo da única forma que sei. Ando até ele, o puxo pelo braço e o soco uma única vez. Ele desaba no chão e sua expressão é de surpresa.

— Por que você fez isso?

— Por que preciso de você sã para me ajudar a trazer as duas de volta.

Ele levanta, seca o filete de sangue que escorre da boca e me olha de forma vazia.

— Elas pediram...

— Não importa o que elas pediram. __ interrompo. — Não vou deixar as duas nas mãos dele.

Vejo a expressão dele mudar e sei que agora ele está de volta. Passo por ele e saio pela porta lateral do galpão. Demoro um tempo para me acostumar com a claridade e vejo a frente uma casa abandonada. Passo minha vista ao redor e não vejo nada além da grama alta e pedaços de caixotes jogados.

Ouço os passos do Felipe atrás de mim e me obrigo a buscar estratégias para sairmos desse fim de mundo. Começo a contornar o galpão e para minha surpresa vejo uma caminhonete parada mais adiante, por trás da construção. Me aproximo mais dela e pelas condições diria que é pouco provável que consigamos chegar na cidade mais próxima, mas precisamos tentar. Abro a porta para procurar a chave no painel, mas não a encontro. Saio da cabine e vejo o Felipe abaixado próximo ao pneu dianteiro. Ele levanta e me mostra uma chave velha.

Entramos no carro e quando giro a chave na ignição o motor engasga. Tento mais uma vez. O motor volta a engasgar e para minha surpresa, depois disso ele pega.

***

Levamos algum tempo para conseguir encontrar a estrada principal e assim que avistamos um posto de gasolina, paramos. Descobrimos que estamos a quase 300 km de Vila Rica e como com certeza não iríamos conseguir chegar lá com esse carro, roubamos outro.

Não sei para onde o Barão as levou, mas a medida que avançamos e nos aproximamos de Vila Rica, sinto como se me afasta cada vez mais dela. Não deixei o Felipe dirigir. Por que nesse momento manter minha mente focada na estrada me impede de deixar o garoto impulsivo que vive dentro de mim vir à tona.

Levamos quase quatro horas até alcançarmos a divida de Vila Rica e durante todo percurso permanecemos em silêncio. Um silêncio pesado e impotente. Pisei ainda mais fundo no acelerador e antes mesmo de entrar na cidade fiz o carro pegar o caminho do novo galpão da Citros.

Acabamos de chegar e antes mesmo de estacionar noto um carro diferente estacionado em frente ao galpão. Olho rapidamente para o Felipe e sei que ele entendeu a situação. Paro o carro ao lado do galpão, de forma que não possa ser visto facilmente, e me apresso em sair do veículo.

Observo a área ao redor e avalio todas as possiblidades reais. Esse carro pode ser do David, mas com certeza ele não o deixaria aqui. O Alex ou outro membro da Citros pode ter resolvido vir até aqui dar uma olhada nas novas instalações e se for isso, não sei o quão fodido eu estou. E existe ainda a possibilidade de que esse carro seja de alguém que não veio até aqui só conversar.

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Instintivamente ponho a mão no cós da calça e ausência da arma me lembra de que ela foi tirada de mim. O Felipe da a volta no carro e se coloca ao meu lado.

— David? __ ele pergunta.

Balanço minha cabeça em negativa, uma única vez.

— Alex? __ ele tenta de novo.

— Não sei. __ digo firme. — mas eu preciso entrar para verificar se o David está bem.

— Vamos então. __ ele dá um passo a frente e eu o impeço com o braço.

— Felipe __ fico de frente para ele — Estamos sem armas e você está fora de campo a muito tempo. Talvez seja melhor...

— Não vem com essa Gustavo. __ ele me interrompe. — Posso estar fora de campo, mas não estou fora de forma. Quero encontrar as meninas tanto quanto você e é melhor que você não ache que vou te deixar fazer tudo sozinho.

Sorrio.

Ele passa por mim e para bem na frente do portão de alumínio. Quando me aproximo, vejo que ele está encostado na fechadura, mas aberto. Me adianto e faço o portão deslizar devagar pelo trilho, sem fazer barulho. A escuridão da garagem me permite ver a van que o David costuma usar e isso com certeza descarta nossa última opção.

Meu corpo assume de forma automática uma postura cautelosa, alerta. Nos guiamos pela parede lateral e seguimos galpão adentro. Ouço o Felipe fechar o portão atrás de nós e aos poucos consigo ver o próximo cômodo. Verifico se o Felipe está por perto e quando cruzamos a soleira ouvimos algumas vozes vindo do final do corredor.

Reconheço pelo menos uma delas como sendo a do David, mas a outra, mesmo sendo levemente familiar, não me recordo. Desisto da cautela e me aproximo de forma nada cuidadosa.