Proibida Pra Mim

70º Capítulo – “Mas é o único jeito.”


Dois deles destravam as armas e o silêncio se estende dentro do galpão. Olho para o Gustavo e tenho ainda mais certeza que não vou conseguir suportar o que está prestes a acontecer. As lágrimas borram minha visão e a imagem a minha frente se torna ainda mais desesperadora. O Barão se aproximar de vagar dos dois, coloca as mãos no bolso e olha de mim para a Paloma.

— Sei que o Ben e esses dois ajudaram vocês. __ ele parece calmo. — Mas isso acabou. Agora nós estamos juntos de novo e eu sou tudo o que vocês precisam.

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— Por favor.... __ a voz da Paloma sai carregada de desespero — não.

— Tudo bem, Paloma. __ o Felipe está tentando nos acalmar. — Só fechem os olhos.

— Não ... __ prendo os soluços e respiro fundo. — Não faça isso.

— Eles não são importantes. __ ele diz.

— A gente vai com você __ digo em um rompante de terror. — Deixa os dois irem embora e nós vamos para onde você quiser.

O Barão me olha e eu o conheço o suficiente para notar que ele parece avaliar o que eu digo. Nesse momento uma ideia insana surge dentro de mim e eu me agarro a ela com todas as minhas forças.

— Não. __ o Gustavo diz firme e eu olho em pânico. — Eu não vou deixar vocês saírem daqui com esse louco.

Quando ele fecha a boca leva uma coronhada e se curva.

— Não posso correr o risco de ser atrapalhado por esses dois pirralhos idiotas.

— Eles não vão atrapalhar. __ Paloma está tão desesperada quanto eu.

Respiro fundo e busco dentro de mim um falso controle para transparecer uma calma inexistente.

— Pai. __ chamo a atenção dele para mim. — Você está certo.

Vejo de canto de olho os meninos me olharem exasperados.

— Você voltou e nós queremos ficar com você. __ meu coração bate forte e eu preciso me esforçar ainda mais para segurar as lágrimas. — Mas eles nos protegeram, quando você não podia estar com a gente.

— Tio Ricardo, nós vamos com você. __ a Paloma parece ter entendido o plano. — Só.... deixe eles irem.

— Alice não....

— Por favor, pai. __ interrompo o Gustavo antes que ele diga mais alguma coisa. — Deixa a gente conversar com eles. Mandar eles embora e nós ficaremos juntos.

Ele me olha de novo e eu tenho certeza de que não o convenci. Minha garganta queima pelos soluços que estou segurando e eu sinto uma dor leve em cima da costela que quebrei. Sei que os olhos do Gustavo estão em mim e eu me concentro com todas as forças para não o olhar, porque se eu fizer isso vou me entregar ao medo que estou sentindo.

Um sorriso contigo surge nos lábios do Barão e eu não sei como reagir a ele.

— Eu sabia. __ ele se aproxima de nós duas. — Vocês ainda são as minhas meninas.

Não respondo.

Ele toca meu rosto e tudo o que mais quero é empurrá-lo para longe de mim. Os braços ao meu redor se afrouxam e então eu estou livre. Olho firme o azul esverdeado dos olhos do homem na minha frente e tudo que eu achei saber sobre ele um dia, desaparece. Forço um sorriso contigo e deixo que ele me abrace.

Não esboço reação e pouco depois ele se afasta

—Eu sempre fiz seus gostos, não é pequena Alice? __ ele sorri fraterno e eu me arrepio. — Sua mãe sempre me dizia que isso não era certo.

Sorrio.

— Vamos fazer do jeito que vocês querem. __ ele puxa minha prima para mais perto e diminui o volume da voz. — Vou dar 10 minutos para conversarem. Mas se eles voltarem, eu mato os dois.

Ele se afasta e com um gesto todos os homens o seguem. Observo inerte ele sair novamente pela porta lateral e nos deixar sozinhos. Ouço os soluços escaparem da minha prima e quando olho para o Gustavo o vejo parado na minha frente, com a mesma expressão que vi em meu quarto.

— Eu não vou sair daqui sem vocês. __ ele está nervoso.

— Gustavo... __ começo, mas ele me interrompe

— Não. __ ele se aproxima e eu me afasto.

— Para. __ digo baixo e o vejo estancar. — Não tem outro jeito.

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Sinto as lágrimas molharem meus meu rosto e o encaro firme.

— Eu não vou assistir enquanto vocês morrem. __ olho para o Felipe e o vejo inerte. — Nós vamos ficar bem.

— Você sabe que isso é mentira. __ olho para o Gustavo e sinto minhas forças sumirem.

— Não. __ é a vez do Felipe falar.

Ele tenta se aproximar da Paloma, mas ela também recua.

— Sim, Felipe. __ ela diz vacilante. — Não tem outro jeito.

O silêncio entre nós é doloroso e eu sei que essa pode ser a última vez que eu os vejo. Baixo meu rosto e deixo as lágrimas transbordarem. Respiro fundo várias vezes e me aproximo de vagar do Gustavo. Quando paro na frente dele o olho e vejo a dor estampada em seu rosto.

— Não me pede isso. __ coloco a mão no peito dele e sinto seu coração acelerado. — Não.

— Por favor. __ quase não ouço minha voz. — Eu não posso ver.... não posso perder você também.

Ele sorri amargo e me olha ainda mais firme.

— E eu posso, não é? __ ele segura meu pulso. — Esse homem não é o pai que você acha que conheceu, Alice.

Não respondo e ele continua.

— Ele é perigoso.

— Eu sei. __ digo baixinho. — Mas é o único jeito.

Tiro minha mão do peito dele e toco a pingente pendurado no meu pescoço. Passo o cordão pela cabeça e lembro do quanto eu amava tê-lo perto de mim para lembrar dele. Me aproximo um pouco mais do Gustavo e pego sua mão.

— Ele era importante por que me lembrava um pai que não existiu. __ não o olho. — Hoje ele me lembra você.

— Alice, não. __ ele tenta se afastar.

— Você precisa me prometer que não vai vir atrás da gente. __ isso dói em mim, mas parece doer mais nele.

Ele não responde.

— Ogro, você precisa...

Ele coloca as mãos no meu rosto e me beija de forma desesperada.

Meus soluços interrompem o beijo e ele me abraça forte. Me concentro em inalar o máximo que consigo do cheiro dele e me afasto bruscamente quando ouço a porta se abrir. Deixo meus olhos captarem uma última imagem deles dois, antes que os homens do Barão nos levem para longe dali.