Para Além da Beleza

Capítulo 18


Os dois amigos estavam no apartamento de Christian, bebiam uma garrafa de vodka enquanto conversavam sentados, a apreciar a imensa vista lá em baixo.

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— Não leve a mal o que vou dizer, mas um filho sempre é filho. Ninguém sabe o seu futuro amanhã com a Darcelle para poder hipotecar algo tão sensível. Essa decisão não é fácil, com tudo lutar com Joanne pode ser pior para o Giovani. Devo confessar que a vaca deu um golpe baixo. Estás em saias justas. O melhor a fazer é falar com sua namorada — aconselhou, embora soubesse que o amigo não precisasse de ser dito aquilo. Estava claro. — A criança não conhece nenhuma família para além da mãe, se de alguma forma pensar que você quer o mal da pessoa que mais ama, pode criar uma aversão a sua pessoa.

— Eu não quero mal de Joanne, muito pelo contrário. Não sei a razão de ela estar a dificultar tudo! — bufou, a raiva estava patente na sua voz.

— Isso eu sei. A verdade é que, essa mulher passou muito tempo acreditando que o culpado da sua infelicidade era você, e não quer assistir sua alegria enquanto ela mesmo continua na amargura.

— Estou de mãos atadas, não sei o que fazer. Por um lado o desejo de conhecer o meu filho é maior que tudo. Toma conta de mim. E por outro não posso fazer isso magoando a mulher que amo.

— Ama?

— Eu disse isso?

— Disse.

Damien bebeu o seu copo, sentindo o ardor lhe correr a garganta, ainda assim nem o sabor forte da bebida parecia se igualar ao sufoco do coração. Quando é que tudo tinha mudado? Passara de um infeliz isolado a um homem com duas possibilidades gigantes de estar em paz e satisfeito.

— E como vai ficar a sua história com Jamie? — Trocou de assunto, não só para se permitir estar alguns segundos longe do problema, como para dar espaço para o administrador da sua empresa se abrir.

— Mulher complicada, até parece que todas decidiram se juntar para encher o nosso saco. Repare, eu quero assumir essa criança, dar tudo e acompanhar os dois para sempre. — Os cabelos bagunçados de Christian voavam com o leve vento da janela aberta, pela primeira vez, os olhos verdes não pareciam zombeteiros.

— Parece que estamos na mesma situação. Experimentando a paternidade juntos.

— É, mas seu filho já nasceu.

— Por que não fica com ela? Não precisam se casar, mas assume uma relação e cuida dos dois, talvez seja só isso que Jamie precise. Um porto seguro. Você não gosta dela?

— Gosto sim. Gosto de Jamie, gosto de você, gosto de chocolate e gosto de estar solteiro. Não quero ninguém a controlar as horas que chego a casa. — Encheu mais o copo, revelando toda sua frustração.

— Então talvez não estejas preparado para ser pai. Seu filho se nascer vai tomar mais conta da sua solteirice, do que uma namorada.

— Mas não vai controlar com quem faço sexo ou não. — Rebateu com a voz alterada, parecia ter chegado a algum ponto sensível que não queria ser ultrapassado. Viu os olhos azuis fixarem seu rosto e logo de antemão soube o que Beauchamp ia dizer. Mordeu a língua.

— Lola traiu você. Não implica que todas farão o mesmo. Algum dia vais ter que acreditar em relações novamente.

— Isso fala o homem que já teve mais noivas do que a idade permite. Quem te viu e quem te vê! — Estava ácido como nunca, irritado com ele mesmo. — Onde foi o Damien mal-humorado? Parece que a Sininho te deitou algum pó de fada nessa cabeça.

— Você sempre me deu conselhos, e confesso ter aprendido muito com Darcelle, então permita-me dizer uma coisa. — Estava ainda mais sério que quando chegara ao apartamento do celibatário. — Um dia um homem com mais coragem vai chegar na médica e lhe dar todo o conforto, segurança e amor. O lar e família que necessita para abandonar os traumas do próprio pai. Vai ama-la e querer acordar com ela todas manhãs.

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— Onde queres chegar com isso?

— Saber se conseguirás suportar ver outro a dar tudo o que poderias ter-lhe dado.

Dash se levantou num salto, o corpo atlético sem camisa revelava a excelente forma física, o completo oposto daquela que carregava um filho seu.

— Acho que os dois temos problemas o suficiente para resolver. — Chris se esquivou, algo que não estava habituado a fazer, mas pela primeira vez na vida estava num sentimento dúbio e sem certezas do que esperar para o seu futuro. — É melhor ir atrás da sua namorada.

— Eu vou! — Damien deixou o copo vazio em cima da mesa, e se levantou, olhando para o amigo com um olhar perdido para o horizonte. — Fica bem, Chris.

O murmúrio em resposta foi o suficiente para ter a certeza das suas palavras terem afetado o psicólogo. Deixou o apartamento decidido em seguir para casa de Johnson, e pelo caminho comprou um buquê de rosas vermelhas bem grande e bonito.

Ao chegar no pequeno prédio velho, parou para pensar como a companheira nunca tinha pedido nada, e que tinha vontade de lhe dar tudo. Queria tira-la daquele bairro e fazer dela a mulher que merecia ser. Tocou a campainha ainda a ouvir risos, e ficou encabulado ao ver Amabel abrir a porta nos seus trajes simples.

— Boa noite — cumprimentou, sentindo-se ser avaliado mais uma vez, e então a senhora sorriu para ele.

— Entre. Vou já buscar um vaso — disse num tom neutro, mas não de amargura como da última vez.

Na sala Tony assistia a um jogo de futebol, enquanto Darcelle fazia biscoitos de leite, todos bem enrolados e estendidos numa travessa coberta de farinha.

— São para você.

— Obrigada. — O recebeu com um beijo inesperado, e tal ato só contribuiu para a dor no peito coberto de cicatrizes.

— Aqui está o jarro! — A senhora Johnson entrou outra vez, toda bem arranjada e a arrastar uns chinelos tão pequenos que pareciam pertencer a uma criança. — Sabia que minha filha nunca soube cozinhar? Sempre tentou, mas nunca deu certo.

— Só pode sair ao pai. — Tony decidiu comentar em puro deleite. — Só sei preparar chá.

— Pai! — A filha reclamou envergonhada, e olhou para o tabuleiro em busca de aprovação. Beauchamp ia dizer que teriam três cozinheiros mas o sorriso empolgado da namorada lhe fez permanecer calado. — Decidi aprender a cozinhar. Quero entrar para uma escola de culinária.

— Por sua vez, Jamie pega num ovo e faz parecer que é lasanha. Mão de fada tem aquela menina — comentou a mãe, concentrada em colocar as maravilhosas rosas dentro da água.

— Será que eu poderia roubar a vossa filha? — Pediu quase sem jeito, ansioso por estar a sós com a amada.

— Já roubou faz tempo não é, não sei se nossa autorização conta muito! — Mais uma vez o pai decidiu brincar, arrancando risos de todos.

Darcelle o encaminhou até ao quarto, era todo branco com uma cama de solteiro e um pequeno guarda-roupa. Bem ao lado, um saco cama estava dobrado, e alguns sapatos estavam organizados no chão.

— Meus pais têm ficado no quarto de Jamie, tem uma cama maior. Nós ficamos aqui, e aquela safada ainda ronca. Pobre Chris! — Por uns segundos se sentiu mal, pelo olhar surpreso que Beauchamp pareceu dar ao lugar. — Quer ver minhas fotografias? Fui chefe de torcida, enquanto Jamie ganhava o primeiro lugar do concurso de ciência!

— Sua prima parece ter uma grande necessidade de sempre estar a provar algo — declarou, e se sentou na cama que rangeu com o peso. Assistiu Darcelle tirar uma caixa grande e algumas fotografias dos tempos de aula.

— Não quer ser um fracasso como julga que os pais foram. Sempre foi a melhor em tudo — justificou e passou a mostrar as imagens da sua adolescência sempre do lado da prima. Riram de algumas coisas, e debateram sobre outras.

Quando terminaram estavam os dois deitados na cama pequena, tão perto um do outro, que pareciam poder se juntar em um só.

— Por quê? — A voz rouca e masculina se fez ouvir.

— O quê?

— Eu sou rico, posso dar o que quiseres. Não precisas estar neste quarto.

— Você é rico, Damien. Eu não sou. Esta é a minha realidade, e tenho muito orgulho de pagar para que seja meu.

— Não é isso.

— O que é então? — A respiração funda da jovem mostrou certa indignação.

Não respondeu, deixou o barulho da rua lá em baixo falar por si. Dos gritos dos vizinhos, dos carros com volume alto, das crianças a brincarem no meio da rua.

— Falei com Joanne. Ela concorda em não dificultar o processo, desde que você nunca chegue perto de Giovani.

Desta vez foi Darcelle quem ficou calada, a ouvir a agitação do mundo lá fora, quando seu coração se desfazia em pedaços.

— Eu escolhi seguir o caminho mais difícil. O menino agora é uma criança mas algum dia vai ser homem o suficiente para compreender tudo o que a mãe fez.

— Não.

Os dois se levantaram ao mesmo tempo, a escuridão começava a tomar conta do lugar, e se olharam como estranhos.

— Não quero ser a razão de um dia o seu filho te acusar de o ter preterido.

— Isso são possibilidades. Não temos como saber se...

— Damien! — Johnson pareceu chateada. — Se podes ir pelo mais fácil, não faz sentido seguir o caminho contrário. É seu filho, sangue do seu sangue.

— Mas eu não te quero perder, Darci.

— Não fale em perder, quando vai ganhar. O amor incondicional de uma criança que lhe chamará de pai, que deve ser a sua prioridade. Giovanni não tem culpa da mãe que tem, não seja outro parente que não valha a pena.

— Então o que faremos? Você aceitará esperar enquanto eu conquisto o menino? Eu nunca a deixarei sentir que está sendo posta de lado, eu juro. Podemos estar juntos enquanto arranjo uma solução para o bem de todos.

— Damien... — Segurou o rosto num gesto suave, acariciando as cicatrizes e os lábios, e por um momento sentiu uma dor tão forte que pensou ter morrido. — Não posso aceitar estar com um homem cujo filho não poderei chegar perto. Eu quero fazer parte dessa nova etapa da sua vida, aprender a ama-lo, conhecer essa criança tal como aprendi a conhecer você.

— Não percebo...

— Mas também — continuou. — Não posso continuar com você sabendo que posso estar a hipotecar a possibilidade de escolher o caminho que é melhor para o Giovani. Os pais sem entrarem em confusões, exporem o menino a situações desgastantes. Eu não posso.

— Não percebes que é isso que Joanne, exatamente quer? Separar-nos para que eu sinta a dor de estar longe da pessoa que eu amo, tal como aconteceu com ela? Vamos deixar ela vencer?

Damien a agarrou em seus braços com tanta força como se a pudesse partir ao meio, não queria deixa-la escapar, não conseguiria.

— Eu amo você, Darcelle. Vou lutar sempre por nós dois.

As lágrimas corriam límpidas pelo rosto negro. Um problema maior do que os dois poderiam comportar.

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— O que faremos? — A voz chorosa perguntou.